Nada melhor para começar um novo ano do que dar lugar – e com um certo destaque - a uma boa dose de optimismo (pelo menos ao optimismo possível) e esquecer, por uns momentos que seja, as enormes dificuldades que todos nós vamos sentindo. Sabemos que o dia-a-dia não é nada fácil e que o garrote fiscal e o aumento das taxas de juro apertam cada vez mais, deixando sufocadas a maioria das famílias portuguesas.
Contudo, e apesar de tudo, peço-vos que tentemos esquecer a montanha de problemas que se abatem sobre os nossos ombros e vamos pensar positivo nem que seja só pelo dia de hoje.
Aliás, e se repararem bem, nem tudo é mau neste nosso país e ainda há muita coisa capaz de nos deixar orgulhosos. Em suma, continuamos a acreditar nas potencialidades do país e dos portugueses e de que Portugal vale a pena.
Desde há muito que se discute a questão da falta de produtividade das nossas empresas e, consequentemente, de quem é a culpa, se do modelo de organização das empresas se da falta de empenho e de preparação dos trabalhadores.
Nós próprios, já abordámos este assunto por diversas vezes neste espaço e opinei, então, que o baixo nível de produtividade deve-se, sobretudo, ao fraco nível de planeamento e organização das empresas e à sua insuficiente gestão operacional. Mas deve-se, também, à falta de liderança e de supervisão e aos sistemas de controlo que, muitas vezes, são desadequados. Haverá também, certamente, alguma falta de motivação dos nossos trabalhadores mas a realidade é que os conhecidos casos de sucesso de pequenas e médias empresas vão-se alastrando e a nossa conhecida postura de cepticismo vai-se dissipando, a pouco e pouco e acreditando que o nosso país tem condições para produzir mais e melhor e tornar-se credível por esse mundo fora.
Aliás, em artigos publicados em vários jornais e revistas, o conhecido economista Nicolau Santos lembrava alguns desses sucessos que nos deviam deixar orgulhosos. Vejam só:
- Portugal tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.
- Quando necessitam de “software” de gestão ferroviário, o metro de Londres e os caminhos-de-ferro da Holanda, Noruega, Finlândia e Dinamarca, procuram empresas portuguesas;
- Em situações críticas dos respectivos sistemas, a Nasa e a Agência Espacial recorrem frequentamente à tecnologia portuguesa;
- Empresas como a Sansonite, a Nokia, a Mercedes Benz e a Porches procuram o “design” e a engenharia da indústria portuguesa de moldes;
- Há 26 milhóes de americanos que dormem em lençois portugueses;
- Portugal lidera as exportações europeias de têxteis-lar e é o terceiro maior exportador do mundo;
- Criamos e exportamos para vários países, fatos inteligentes para bombeiros, que retardam a acção do fogo ou que são anti-bactérias, ou que desenvolvem propriedades terapêuticas e hidratantes;
- Portugal lidera a tecnologia do calçado e é o terceiro exportador europeu. Noventa milhões de pessoas em todo o mundo calçam sapatos portugueses;
- Foram técnicos portugueses que inventaram e desenvolveram os cartões pré-pagos para telemóveis;
- O nosso país lidera a oferta de tecnologia para “call centers”;
- Somos o país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores;
- Somos também o país que é líder mundial na produção de feltros para chapéus. Robert De Niro, por exemplo, usa chapéus portugueses;
- Na criação e gestão de centros comerciais também somos o líder europeu.
A lista de sucessos é tão exaustiva que temo maçar-vos com tantas áreas em que as nossas empresas são realmente boas a nível europeu e mundial. Mas porque estamos habituados a sermos um povo demasiado deprimido, porque estatisticamente temos sempre os piores indicadores da Europa em todas as áreas, porque nos queixamos que vivemos num país que não acompanha o progresso e que em cada ano se atrasa mais em relação à Europa, ainda lhes quero dar conta de mais umas quantas actividades em que somos igualmente bons.
Dominamos 75% do mercado mundial de identificação pessoal; temos empresas que estão classificadas entre dos dez maiores grupos mundiais de louças de porcelana; estamos na primeira linha dos países que trabalham no campo da saúde, quer na luta contra doenças para as quais não se conhece ainda a cura, quer na preservação de células estaminais para a medicina regenerativa; temos dos melhores vinhos mundiais; temos uma máquina de emissão de passaportes electrónicos única no mundo, que lê nove pontos da pessoa em 90 segundos, tira a foto em positivo e até acerta pormenores como o desvio do olhar; personalidades mundiais vestem-se e calçam-se com produtos feitos em Portugal; inventamos jogos para telemóveis e vendemo-los para mais de meia centena de mercados; inventámos um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais; temos um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha ou na Inglaterra; estamos avançadíssimos na investigação da produção de energia através das ondas do mar; temos uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.
Para terminar, recordar-lhes, ainda, que inventámos e desenvolvemos um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas, que vamos lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial, que somos líder mundial na produção de rolhas de cortiça e que se está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.
Então, o que me dizem? Para um país, onde nós portugueses, andamos a queixarmo-no de tudo e de todos, que temos medo dos chineses e dos espanhois, que tememos que possamos desaparecer do mapa, o panorama não parece ser tão mau como isso.
Tanto mais que, tudo o que leu acima, foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Já para não falar nas grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, nos países de origem.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito, e não só no que diz respeito à actividade futebolística, de nos orgulharmos com isso e de nos sentirmos motivados para novas iniciativas de sucesso. De, enfim, mostrar ao mundo que somos um país moderno, líderes de uma série de actividades vencedoras, de bons trabalhadores e não, como é hábito, de exibir o que não corre bem, acompanhado, invariavelmente, por fotografias de um povo envelhecido, triste e incapaz.
Para os portugueses, 2006 foi um ano duro e 2007 não o será menos. Vamos continuar a sentir imensas dificuldades por mais alguns anos, seguramente. Mas acredito que com exemplos de sucesso como aqueles que referimos, e outros que se seguirão, Portugal e os portugueses poderão ter um porvir mais risonho num futuro não muito distante.
Esta a mensagem de optimismo que vos quiz expressar, neste começo do novo ano de 2007. E se, mesmo assim, não conseguirem ter uma atitude optimista, então, pelo menos, e como disse, nem que seja só pelo dia de hoje, vejam se conseguem ser, ao menos “optimistas cépticos”, como diz a canção.