Costumo dizer por brincadeira que os sinais de trânsito, tal como as leis, são meros referenciais que servem para orientar mas que raramente são cumpridos. Quantas vezes já passámos semáforos cujo vermelho já caiu há muito? Quantos estacionamentos fizemos à margem do que é permitido, confiando na sorte de não ser passada a devida coima?
Mas essas leis e esses sinais de trânsito existem e, na maior parte dos casos, são perfeitamente justificados.
Hoje dou-vos conta do que se conhece como o sinal de trânsito mais antigo da cidade de Lisboa e que pouca gente fará ideia. Está "plantado" na Rua do Salvador, no coração de Alfama. Trata-se de uma placa que foi mandada afixar, em 1686, por El-Rei D. Pedro II para orientar os coches que passavam por esta rua estreita. E diz assim:
"Ano de 1686. Sua Majestade ordena que os coches, seges e liteiras que
vierem da portaria do Salvador recuem para a mesma parte. Ou seja, o
coche que vem de cima perde prioridade em relação ao coche que vem de
baixo.
Esta rua, que foi muito importante há quatro séculos, quando ligava as
portas do Castelo de São Jorge à Baixa, hoje em dia é uma pequena
travessa cheia de prédios arruinados entre a Rua das Escolas Gerais e
a Rua de São Tomé. A meio da pequena subida há um edifício fora do
alinhamento dos restantes que a estrangula. No tempo de D. Pedro II
este estreitamento era causa de muitas discórdias entre os carroceiros
que subiam ou desciam a rua. Se dois se encontrassem a meio, nenhum
cedia passagem, uma vez que era tarefa difícil fazer recuar os
animais. Muitas foram as lutas e duelos, com feridos e mortos.
Para evitar a discórdia, foi publicado então um édito real e criado este "sinal de trânsito" para estabelecer a prioridade em tal situação.