Há um bom par de anos estive em serviço com mais dois colegas no sul do país. Durante três semanas fazíamos cerca de cinquenta quilómetros por uma estrada sinuosa através da serra para chegar ao local de trabalho e, à tarde, voltávamos ao hotel onde estávamos instalados, pela mesmas curvas e contracurvas que já tínhamos enfrentado pela manhã.
Depois de um dia de trabalho e de ter cumprido mais de cem quilómetros a ziguezaguear pelas estradas desenhadas aos esses, sabia-nos bem chegar, tomar um banho recuperador e sair para beber algo fresco antes do jantar.
Num belo dia assentámos arraiais numa pastelaria do sotavento algarvio. Tinha sido um dia de calor forte, de muito trabalho (aqui está mais um dos que diz que se farta de trabalhar, pensarão) mas, apesar de tudo, estávamos bem dispostos.
E de tão bem disposto que estava, encomendei ao empregado que nos atendera três imperiais e um Sinatra. O pedido, confesso, foi feito com uma certa ironia, talvez, reconheço-o hoje, com um tom de ironia excessiva, a rondar o gozo.
Eu tinha pedido um Sinatra mas o que eu queria, naturalmente, era ouvir o Frank Sinatra cantar naquele fim de tarde. E, com aquele pedido estranho, no mínimo, eu esperava que o empregado ficasse pelo menos em estado de choque e com uma tremenda cara de parvo, por não fazer ideia se eu estava a pedir uma bebida exótica ou uma outra coisa qualquer.
Palermices de um lisboeta que se julgava mais esperto do que os outros.
Pois a cara de parvo foi inteiramente a minha quando, ao mesmo tempo que nos serviram as imperiais, fez-se ouvir através da instalação sonora da casa, a voz melodiosa e inconfundível do Frank Sinatra, ainda por cima cantando “My Way”, um dos meus temas preferidos.
A história não passa de uma recordação de outros tempos. Hoje lembro-a, apenas, porque ela foi importante na minha formação futura, enquanto homem.
Tantos anos depois e também no Algarve (agora para os lados do Barlavento) dou de caras com uma pastelaria que se chamava “Estrela do Mar”.
Irresistivelmente entrei, sentei-me e pedi uma bebida à empregada que me atendeu, ao mesmo tempo que lhe dizia “Sabe, o seu estabelecimento tem o nome de uma canção do Jorge Palma”.
“De quem?” perguntou a moça, completamente a leste do que eu estava a dizer. Disfarcei e não lhe respondi. Mas não pude deixar de pensar que o mínimo que eu podia esperar numa pastelaria que se chamava “Estrela do Mar”, era ouvir, em fundo, a voz do Jorge cantar uma canção tão bela e tão inspirada como a que ele compora uns anos antes, com esse mesmo título, e de que agora recordo os seus versos.
Depois de um dia de trabalho e de ter cumprido mais de cem quilómetros a ziguezaguear pelas estradas desenhadas aos esses, sabia-nos bem chegar, tomar um banho recuperador e sair para beber algo fresco antes do jantar.
Num belo dia assentámos arraiais numa pastelaria do sotavento algarvio. Tinha sido um dia de calor forte, de muito trabalho (aqui está mais um dos que diz que se farta de trabalhar, pensarão) mas, apesar de tudo, estávamos bem dispostos.
E de tão bem disposto que estava, encomendei ao empregado que nos atendera três imperiais e um Sinatra. O pedido, confesso, foi feito com uma certa ironia, talvez, reconheço-o hoje, com um tom de ironia excessiva, a rondar o gozo.
Eu tinha pedido um Sinatra mas o que eu queria, naturalmente, era ouvir o Frank Sinatra cantar naquele fim de tarde. E, com aquele pedido estranho, no mínimo, eu esperava que o empregado ficasse pelo menos em estado de choque e com uma tremenda cara de parvo, por não fazer ideia se eu estava a pedir uma bebida exótica ou uma outra coisa qualquer.
Palermices de um lisboeta que se julgava mais esperto do que os outros.
Pois a cara de parvo foi inteiramente a minha quando, ao mesmo tempo que nos serviram as imperiais, fez-se ouvir através da instalação sonora da casa, a voz melodiosa e inconfundível do Frank Sinatra, ainda por cima cantando “My Way”, um dos meus temas preferidos.
A história não passa de uma recordação de outros tempos. Hoje lembro-a, apenas, porque ela foi importante na minha formação futura, enquanto homem.
Tantos anos depois e também no Algarve (agora para os lados do Barlavento) dou de caras com uma pastelaria que se chamava “Estrela do Mar”.
Irresistivelmente entrei, sentei-me e pedi uma bebida à empregada que me atendeu, ao mesmo tempo que lhe dizia “Sabe, o seu estabelecimento tem o nome de uma canção do Jorge Palma”.
“De quem?” perguntou a moça, completamente a leste do que eu estava a dizer. Disfarcei e não lhe respondi. Mas não pude deixar de pensar que o mínimo que eu podia esperar numa pastelaria que se chamava “Estrela do Mar”, era ouvir, em fundo, a voz do Jorge cantar uma canção tão bela e tão inspirada como a que ele compora uns anos antes, com esse mesmo título, e de que agora recordo os seus versos.
“Estrela do Mar”
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“Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
e em que o sono parecia disposto a não vir
fui estender-me na praia sozinho ao relento
e ali longe do tempo acabei por dormir
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Acordei com o toque suave de um beijo
e uma cara sardenta encheu-me o olhar
ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar
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Sou a estrela do mar
só a ele obedeço, só ele me conhece
só ele sabe quem sou no princípio e no fim
só a ele sou fiel e é ele quem me protege
quando alguém quer à forçaser dono de mim
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Não sei se era maior o desejo ou o espanto
mas sei que por instantes deixei de pensar
uma chama invisível incendiou-me o peito
qualquer coisa impossível fez-me acreditar
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Em silêncio trocámos segredos e abraços
inscrevemos no espaço um novo alfabeto
já passaram mil anos sobre o nosso encontro
mas mil anos são pouco ou nada para a estrela do mar”
Mas, para que não fiquemos apenas pelos versos, convido-os a assistir a um vídeo (embora de fraca qualidade) de cerca de 4,13 m, onde podem ouvir o Jorge Palma a cantar ao vivo a “Estrela do Mar”
http://www.youtube.com/watch?v=f_GR8r9h7PQ&mode=related&search=