terça-feira, dezembro 21, 2010

Boas Festas

Cumprimento todos os que nos têm feito companhia ao longo do tempo e, nesta época de festas, desejo que tenham

SAÚDE

PAZ e

AMOR

E que 2011 vos traga tudo de bom

BOAS FESTAS!
BOM ANO NOVO!

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Do que eu falaria hoje se não estivéssemos no Natal


Estou já tão imbuído do espírito natalício que não me sentiria bem se hoje me pusesse a comentar “certas coisas” que andam por aí. Estamos na época em que os corações estão mais sensíveis e são palavras como saúde, paz, amor, compreensão e fraternidade que mais gostamos de dizer e de ouvir.

Não fosse assim e certamente especularia sobre a forma peculiar como Cavaco Silva tem promulgado uma série de leis. Isto é, não gosta delas, nunca as faria, acha que os seus efeitos irão ser nefastos mas, ainda assim, assina-as. Dá-lhes, portanto, o seu aval muito embora faça questão de justificar que não está de acordo com elas. Insólito, no mínimo. O normal seria estar de acordo e vamos a isso ou não gosto e devolvo.

Não fosse o Natal e provavelmente estaria aqui a meditar sobre o ano que se aproxima e sobre as dificuldades que vamos sentir. 2011 para além das penalizações salariais das famílias trar-nos-á o aumento significativo dos bens essenciais como o pão (12%), os transportes (3,5 a 4,5%) e a electricidade (3,8%) para além do IVA, claro. Mas a época desaconselha-me a tal.

Não fosse a enorme dose de generosidade própria da época e dissertaria sobre os países onde o nosso Governo anda à procura de financiamentos mais em conta do que aqueles que conseguimos nos chamados “mercados”. Na China, na Líbia, no Brasil ou nos Emiratos onde, certamente, vamos obter os empréstimos que necessitamos com taxas mais baixas mas com contrapartidas ainda desconhecidas. Sim, por que alguns desses “países amigos” não são propriamente democracias e vão querer que estejamos do seu lado em certas votações. Mas, como se costuma dizer, “em tempo de guerra não se limpam armas”.

Não fosse esta quadra, comentaria certamente os 500 milhões de euros (mais 500 milhões) que o Estado vai injectar no BPN.

Mas é Natal e o melhor será falar-vos em esperança. É uma coisa que, por enquanto, não paga imposto e, de certa forma, aconchega-nos a alma. É bom termos esperança e é muito bom acreditar no futuro. Como o nosso Manuel de Oliveira que aos 102 anos continua a realizar filmes e a receber prémios e o de uma senhora inglesa com 103 anos que é a mais velha utilizadora do Facebook. Exemplos que, sem dúvida, nos devem inspirar. Bom Natal!

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Emprego e Desemprego do Poeta

Do Poeta e ensaísta português Ruy Belo (1933 – 1978)

“Emprego e Desemprego do Poeta”


Deixai que em suas mãos cresça o poema
como o som do avião no céu sem nuvens
ou no surdo verão as manhãs de domingo
Não lhe digais que é mão-de-obra a mais
que o tempo não está para a poesia

Publicar versos em jornais que tiram milhares
talvez até alguns milhões de exemplares
haverá coisa que se lhe compare?
Grandes mulheres como semiramis
públia hortênsia de castro ou vitória colonna
todas aquelas que mais íntimo morreram
não fizeram tanto por se imortalizar

Oh que agradável não é ver um poeta em exercício
chegar mesmo a fazer versos a pedido
versos que ao lê-los o mais arguto crítico em vão procuraria
quem evitasse a guerra maiúsculas-minúsculas melhor
Bem mais do que a harmonia entre os irmãos
o poeta em exercício é como azeite precioso derramado
na cabeça e na barba de aarão

Chorai profissionais da caridade
pelo pobre poeta aposentado
que já nem sabe onde ir buscar os versos
Abandonado pela poesia
oh como são compridos para ele os dias
nem mesmo sabe aonde pôr as mãos

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Tive sorte


A rua era larga e de passeios largos. O trânsito diminuto. Parei o carro em cima do passeio (largo) para ir à loja que ficava em frente. Questão de minutos, pensava eu. Ainda assim, com a preocupação de que pudesse causar algum incómodo aos transeuntes, assomava constantemente à porta para verificar que não havia problema.

Numa das vezes, não teriam passado mais de dez minutos, vi que me tinham bloqueado o carro e, para o tornar ainda mais bonito, tinham-lhe colocado uma fita multicor ao seu redor. Percebi que a multa já cá cantava.

A carrinha da Polícia Municipal estava a cerca de 20 metros. Tudo se tinha passado num ápice. Corri até eles. Para ser sincero nem sequer tive vontade de justificar a minha infracção, achei que não valia a pena. Só lhes disse, em tom de desabafo (ainda que com ironia), “foram eficazes”.

Explicaram-me que incorria em três “crimes”: estacionamento em cima do passeio, impedimento de passagem de peões e de cadeiras de rodas ou carrinhos de bebés e obstrução à saída dos veículos estacionados. Tudo junto eram 90 euros para resolver a situação. Porém, como se aperceberam (!!!) que eu tinha aparecido umas quantas vezes à porta da loja, só me penalizaram pelas duas primeiras infracções. Assim, “apenas” paguei 30 euros de coima e mais 30 por me bloquearem/desbloquearem o carro.

Tive sorte, apesar de tudo. “Poupei” os 30 euros da multa que me perdoaram e “poupei” o telefonema para virem desbloquear o automóvel. Ah, e ainda tive a sorte de ter pela frente um polícia simpático e conversador que fez questão de me dar todas as explicações.

Depois de ter apertado a mão ao polícia, entrei no carro (já sem a tal fitinha) e saí dali com o sentimento que o Natal é uma época de paz e compreensão.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

A saúde em Portugal – bem, mal ou nem por isso?

Sou acérrimo defensor de uma total transparência na vida pública. Afinal o Estado somos todos nós e temos o direito de saber se a coisa pública está, ou não, a ser bem administrada. Só que a avaliação poderá ficar distorcida se as sucessivas notícias do que corre mal não tiverem como contrapartida tudo aquilo que se faz bem (sim, por que há também muitas coisas que são boas). E isso pode gerar um sentimento negativo nos cidadãos, o qual assenta, muitas vezes, no puro desconhecimento do que realmente acontece.

No caso da saúde, por exemplo, diz-se amiudadamente que é um sector que não funciona, é desorganizado e onde não podemos confiar. Mas será que é mesmo assim?

Pois a confiar no estudo levado a cabo pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) que conclui que o Serviço Nacional de Saúde está degradado e é insustentável, somos capazes de admitir que o fim se aproxima e que aquilo que os portugueses julgavam ser uma conquista e um direito para sempre, está à beira de acabar.

Só que, desta vez, existe a tal contrapartida de que falávamos. Através de um outro estudo, este da OCDE, ficámos a saber que Portugal é dos mais eficientes (entre os 29 países mais desenvolvidos) na despesa que faz com a saúde. Ou seja, no nosso país a despesa pública com a saúde não tem grandes desperdícios e será difícil ser muito mais eficiente. E, para os ganhos em saúde da população, os gastos até nem dispararam. O relatório nada diz quanto à sustentabilidade do sistema mas um
facto que parece relevante é o de 76,9% dos portugueses estarem insatisfeitos com o SNS.

Face à aparente divergência dos resultados obtidos nestes dois estudos, é legítima a interrogação: será que os portugueses que se manifestaram descontentes com o Serviço Nacional de Saúde foram exactamente os mesmos que acharam que, entre todos os operadores de transportes de Lisboa, o Metro é aquele que tem melhor ar condicionado? É que o Metropolitano de Lisboa não tem qualquer sistema de ar condicionado e apenas utiliza ventilação sem refrigeração...

terça-feira, dezembro 14, 2010

E o elogio não deveria fazer parte da prática política?



Independentemente da cor política do partido que está no poder, o que tenho assistido ao longo dos anos dentro e fora do Parlamento é um contínuo bota abaixo das oposições a respeito de tudo. Pelo que se faz, pelo que se deixa de fazer ou pelo que se faz mal. De qualquer jeito, o mote é “vocês erraram” e “prontos”! E isso irrita-me solenemente. É que alguma coisa de certo os governos farão.

Daí que tenha ouvido com agrado as palavras do líder parlamentar do PSD que elogiou as medidas apresentadas pelo Primeiro-Ministro para a educação, nomeadamente, o reforço de programas para o sucesso escolar, o estudo acompanhado da matemática, português e ciências no ensino básico e a criação de uma "tutoria digital" para estas disciplinas.

Miguel Macedo considerou ainda que "o país está numa direcção certa" em matéria de educação, destacando a melhoria de resultados dos alunos portugueses observados no relatório PISA da OCDE.

Até que enfim. Considero que numa democracia a sério tem que haver regras básicas. Nomeadamente que haja discussão de ideias, exercício da crítica profunda e rigorosa e reconhecimento do que se faz bem. Isto, a acontecer, só engrandeceria os políticos e enriqueceria a própria democracia.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Como se pode ficar insensível ao que se passa?

Muito se fala nas desigualdades que colocam Portugal no pódio dos países onde existem maiores diferenças entre os que mais ganham e os que menos recebem. Falamos mas a maior parte das vezes nem nos apercebemos bem da verdadeira dimensão dessas assimetrias. Os exemplos, porém, ajudam-nos a entendê-las um pouco melhor.

Com um desemprego que estará na casa dos 11,7% da população activa (cerca de 650 mil pessoas), em que 22% dos que têm emprego estão com contratos a prazo, com uma remuneração média que andará pelos 800 euros e com a maioria pensões que têm valores idênticos ao salário mínimo (475,00 €), não podemos ficar indiferentes quando constatamos que muitos gestores não executivos, aqueles que não têm funções de gestão, chegam a ganhar 7 400 euros por reunião.

Sem demagogias e sem pretender atacar pessoalmente quem quer que seja, dou-vos um exemplo (e poderia dar-vos bastantes mais) desses gestores de topo que são pagos principescamente. Não está em causa se o merecem ou não nem, tão-pouco, se pretende avaliar as suas capacidades e experiências. O que parece relevante sublinhar é o exagero do que alguns recebem, sobretudo quando enquadrados num país como o nosso onde há fome e a maioria das pessoas sentem grandes dificuldades para sobreviver.

E o exemplo que quero dar é o do Dr. Daniel Proença de Carvalho, por quem tenho o maior respeito, que é um dos responsáveis com mais cargos entre os administradores não executivos das empresas cotadas no PSI-20 e também o mais bem pago. É Presidente do Conselho de Administração da ZON, membro da comissão de remunerações do BES, Vice-Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da CGD, Presidente da Mesa da GALP Energia e desempenha funções semelhantes em mais 30 empresas. Recebeu em 2009 (só nas empresas cotadas em Bolsa) 252 mil euros por ter participado em 16 reuniões, ou seja, 15,8 mil euros por reunião.

Não acham escandaloso? Por muito e magnífico trabalho que tenha desenvolvido (e não tenho dúvidas que o fez) na preparação dessas reuniões, durante as mesmas e até mesmo depois, e ainda que tenha pago todos os impostos devidos, não acham excessivo que só nas tais 16 reuniões uma pessoa receba 252 mil euros, ou seja, o correspondente a 18 mil euros por mês, catorze meses por ano?

É chocante, não é? E isto passa-se em Portugal, precisamente o país que ainda esta semana foi noticiado como tendo o segundo valor mais alto no índice de desigualdade social da União Europeia.Como se pode ficar insensível a isto?

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Banda desenhada no Facebook? Boa!...

Para que a vida não se torne demasiada monótona, inventam-se de tempos a tempos novas modas. Desde há algumas semanas as pessoas que frequentam o Facebook lembraram-se de substituir as suas fotografias (que lá estavam escarrapachadas para melhor serem reconhecidas) por figuras de banda desenhada.

Pergunto, tinham vergonha de mostrarem as vossas caras larocas ou o intuito foi a mera segurança e privacidade de cada um? Eu acho que o que originou isto foi um movimento lançado no próprio Face mas olhem que esse já era e saiu tão rapidamente como entrou. E ainda que eu prefira os bonequinhos de BD aos “vultos” que não identificam nem distinguem a quem pertencem, como poderei continuar a “encontrar-me” convosco sem ter a certeza se estou de facto perante um de vós ou simplesmente a olhar para o Mickey?

É uma fase? Muito bem, esperarei que ela passe. Depois, e uma vez terminada a exposição das crianças que têm dentro de vós e todas essas recordações de tempos idos, por favor voltem às fotos com expressão, àquelas que nos deixam olhar nos olhos e saber que vocês estão desse lado.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

O apelo de Eric Cantona

Os amantes de futebol recordam-se certamente de Cantona - Eric Cantona - o francês que brilhou nos relvados ao serviço da selecção francesa e do Manchester United na década de noventa. Cantona foi um jogador de um talento indiscutível e foi mesmo considerado o melhor jogador da história do Manchester.

Mas, reconheçamos, o génio do jogador ultrapassava as quatro linhas do campo e dava corpo a atitudes que assumia fora dos relvados, muitas delas excêntricas, quando não reprováveis.

Pois Cantona, o agora actor, fotógrafo, dinamizador de causas sociais e seleccionador francês de futebol de praia, voltou à ribalta para apelar, através da internet, a que as pessoas corram aos bancos para levantar o dinheiro que lá têm. "Se 20 milhões de pessoas forem ao banco levantar o dinheiro, o sistema afunda-se e a revolução faz-se sem armas nem sangue, é tudo muito simples", dizia Cantona no vídeo, onde acrescentava que esta era a melhor maneira de se ver a revolta popular. “Depois, as pessoas vão ouvir-nos”, concluiu.

Claro que esta “finta” do antigo futebolista, apesar de ter já uns largos milhares de apoiantes no espaço cibernético, não vai ter acolhimento por aí além e, se tivesse, seria perigoso. Todos sabemos que uma corrida em massa aos bancos, por destruir a confiança que as pessoas têm no sistema bancário poderia pôr em causa o seu funcionamento por falta de liquidez.

Aliás, a criação dos Bancos Centrais e dos Fundos de Garantia aconteceu exactamente para responder aos cenários de pânico e corridas aos bancos que aconteceram no início do século passado.

Uma coisa é estar danado com os banqueiros e com a forma como conseguem pagar menos impostos do que as outras empresas e, nesse sentido, percebe-se a animosidade popular contra a banca. Outra é desejar a falência do sector bancário, o que, creio, ninguém quer.

Como aqui tenho referido por diversas vezes, uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa. Quanto ao Eric Cantona, eu sempre o considerei genial como … futebolista.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Os Açores e as compensações salariais



É curioso como tantas vezes se gastam energias a discutir coisas … pelo lado errado. Então em política isso é muito comum, questionam-se as minudências e esquecem-se do que é verdadeiramente importante.

Tal como está a acontecer agora com as tão badaladas (e politizadas) compensações salariais dos funcionários públicos dos Açores. Na verdade, pouco interessa se essas compensações são ou não inconstitucionais ou se é mais significativo que estes funcionários continuem a receber o seu salário por inteiro ou que os muitos milhares de outros funcionários vejam reduzido o seu vencimento.

O que para mim está em causa é tão-somente uma questão de justiça. Se se pedem sacrifícios aos portugueses, é justo que todos contribuam para esse sacrifício. E medidas que ludibriem este princípio são moralmente condenáveis, ainda que sejam legais.

Políticas à parte, as declarações críticas do Presidente/Candidato Cavaco Silva, embora mal aceites pelo partido que apoia o governo e pelo seu candidato presidencial, têm toda a razão de ser. Ou seja, dentro dos mesmos níveis salariais, os cortes devem ser aplicados a todos de igual forma. Se não, digam-me como acham que se sentem os trabalhadores que são vítimas desta discriminação?

Se estes privilégios – sim, por que é disso que se trata – forem considerados inconstitucionais tanto melhor. Mas sejam ou não, o facto é que estamos perante uma questão de ética e de equidade. E não me venham dizer que 5% sobre 1 750,00 euros é diferente em Vila Nova de Poiares ou em Angra do Heroísmo, porque, de facto, não é.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Até o Eleven mandaram às ortigas …

Posso até entender que a debilidade da nossa economia preocupe tremendamente quem nos empresta dinheiro. A prova é que as taxas de juro não param de aumentar.

Mas já não percebo que esse facto determine e justifique que o famoso Guia Michelin tenha tirado a estrelinha a uma das catedrais da nova burguesia, o Restaurante Eleven, em Lisboa.

A coisa está a ficar feia, meus Amigos. Eu sei que ainda nos resta um restaurante com duas estrelas Michelin (o Vila Joya, em Albufeira) e mais dez com uma estrela, mas não me conformo – eu que até nem frequento o Eleven - que um dos melhores restaurantes da capital e do país, onde os produtos de excelência, a arte e a criatividade eram (e continuam a ser, ao que consta) uma referência tenham sido, pura e simplesmente, esquecidos e mandados às ortigas.

Como diria o Calimero: “É uma injustiça, não é?”

terça-feira, novembro 30, 2010

Eu que me comovo por tudo e por nada



A campanha do Banco Alimentar Contra a Fome que decorreu no último fim-de-semana em muitos supers e hipermercados do país recolheu 3 260 toneladas de alimentos. Um aumento de 30% face ao período homólogo do ano passado. Um balanço que superou em muito as melhores expectativas.

Foi um verdadeiro festival de solidariedade em que muitos milhares de pessoas indiferentes à crise económica (ou exactamente por causa dela) acorreram prontamente à chamada para colaborar com aqueles que mais necessitam. Durante estes dois dias tive a ocasião de observar a forma generosa como quiseram contribuir, chegando mesmo a deslocarem-se propositadamente aos locais só para comprar alimentos destinados à campanha. Pessoas de todas as idades e de condições sociais distintas que, dentro das possibilidades de cada um, se mostraram disponíveis para colaborar E a muitas delas, depois de entregarem os seus sacos de compras, ouvi-as dizer: “Bem hajam pelo vosso trabalho, que Deus vos ajude pelo bem que fazem” ou, simplesmente, “Obrigado”. Tocante, na verdade.

Mas não quero deixar de partilhar duas situações (a que assisti) que achei enternecedoras.
A primeira, a de uma criança dos seus seis anitos que fez questão de oferecer um produto que ela achou ser extremamente importante. Num saco do BA entregou (convicta e orgulhosamente) … uma embalagem de Sugus.

A segunda história foi a de um caixa de supermercado de uma grande superfície que aproveitando a presença de uma voluntária do BA entregou – disfarçadamente - 4 euros para que ela comprasse alguns produtos com que ele pretendia contribuir. A voluntária ainda lhe perguntou por que razão não o fazia directamente mas ele respondeu, como que envergonhado, que não queria dar nas vistas.

É perante casos como estes (e juro que vos podia contar muitas dezenas de outros mais) que me comovo e me curvo. “Eu que me comovo por tudo e por nada”, como dizia o Vitorino.

sexta-feira, novembro 26, 2010

Neste fim-de-semana lá estaremos


A próxima Campanha de Recolha de Alimentos em supermercados e superfícies comerciais, levada a efeito pelo Banco Alimentar, realiza-se no próximo fim-de-semana, dias 27 e 28 de Novembro de 2010.

Milhares de pessoas carenciadas contam consigo!

Participe. Alimente esta ideia.

terça-feira, novembro 23, 2010

Afinal o Governo quer diminuir a despesa


Os comentários políticos e económicos que são feitos em toda a comunicação social, embora dissecados por analistas e peritos muito conhecedores e respeitáveis, pecam muitas vezes por falta de rigor e por não serem inteiramente justos.

Quantas vezes ouviram falar nos últimos tempos que é necessário pôr fim ao despesismo do Estado? Pois bem, se é verdade que a despesa do Estado continua a aumentar, por uma questão de justiça devemos reconhecer que têm sido feitos alguns esforços para se gastar menos.

Como se pôde comprovar, aliás, na semana passada no Congresso das Comunicações, organizado pela APDC, quando o Ministro das Obras Públicas, António Mendonça, e o seu subordinado, o Secretário de Estado Adjunto, Paulo Campos, leram discursos praticamente iguais. Frases, ideias e intenções ditas por um e repetidas mais tarde pelo outro.

E não me venham com a teoria, de resto adiantada pelo Governo, que os discursos “de tão parecidos” mostram como o Ministro e o seu Secretário de Estado comungam das políticas definidas pelo Governo. Bullshit! Tretas!

Para mim, o lapso aconteceu porque, para pouparem umas massas, mandaram embora alguns assessores e os que lá ficaram, por falta de tempo, rabiscaram um único discurso que desse para os dois. A não ser que, e essa explicação também é plausível, que já não haja coordenação no Ministério e eles andem de cabeça completamente perdida. Será?

segunda-feira, novembro 22, 2010

NATO ou OTAN? Decidam-se …

A semana que agora terminou correu bem a Portugal. Depois da cabazada que demos aos espanhóis no encontro das selecções de futebol tivemos a cimeira da NATO que juntou em Lisboa grandes líderes mundiais e que, ao que dizem, foi histórica porque … porque … ora, leiam os jornais e saibam porquê.

Quanto ao futebol estamos falados (e orgulhosos) por sabermos que, pelo menos nos jogos a feijões, aqueles que não contam para os títulos, somos fantásticos.

No que diz respeito à cimeira, gostava de destacar dois aspectos. O primeiro é que apesar de sermos mestres do desenrasca, especialistas em resolver as coisas à última hora, demonstrámos mais uma vez que somos mesmo bons quando nos pomos a organizar qualquer evento. Tudo correu bem e nada falhou. A outra é que embora se temesse violentas situações de conflito, como aconteceu noutras partes do mundo onde se realizaram outras cimeiras, demonstrámos que somos um povo pacífico e que nem mesmo a presença de activistas porventura mais nervosos foi suficientemente mobilizadora para gerar um chinfrim de montras partidas, carros incendiados e lojas vandalizadas. Tudo foi pacífico, mesmo a manifestação Anti-Nato que não teve distúrbios dignos desse nome.

Ainda sobre manifestações, gostaria de dizer que seria desejável que as pessoas só desfilassem quando soubessem minimamente o que estão a protestar e quais os destinatários que pretendem atingir. É que ouvi em várias reportagens televisivas manifestantes dizerem que estavam ali para protestar contra a NATO. Mas quando lhes perguntavam (com ironia mal disfarçada), então e relativamente à OTAN? Respondiam com um vago sentimento revolucionário “Ah, e contra a OTAN também. Abaixo o capitalismo, a NATO e a OTAN”.

É uma pena que nem todos saibam que a Organização do Tratado do Atlântico Norte, também chamada Aliança Atlântica, é uma organização internacional de colaboração militar que responde pelos nomes de

em inglês, NATO – North Atlantic Treaty Organization, e

em francês, OTAN – Organisation du Traité de L’Atlantique Nord

É o mínimo que se exige a quem se manifesta. E como temos uma greve geral à porta, espero bem que todos saibam os motivos da sua indignação. É que as manifestações não são propriamente centros de dia nem passeatas de socialização entre quem se sente só. Há muito mais em jogo para além disso.


sexta-feira, novembro 19, 2010

O amor é lindo

Eu que sou um eterno romântico, sempre achei que o amor, o amor verdadeiro, é uma coisa maravilhosa. Continuo a olhar enternecido para aqueles casais que, tal como as pilhas de uma certa marca, duram, duram, duram.

Mas hoje dou-vos conta de um casal fora do comum. Mark Duffield-Thomas, britânico, e Denise, australiana, já deram o nó 83 vezes. Nem mais. E um com o outro, sublinhe-se.

Já casaram em luxuosos resorts, em praias e piscinas, em cavernas, lagoas e até em masmorras, em países como Inglaterra, Indonésia, Tailândia, Espanha ou Ilhas Maurícias. Sem repetições e sempre com a vontade de surpreender. Mas não só, claro. O casal pretende chegar às 100 cerimónias de casamento e querem (e estão quase a consegui-lo) bater o recorde do Guiness. Isto, claro está (e não menos importante), para além de estarem a promover uma empresa irlandesa de organização de casamentos.

Mas é importante que saibam que Mark e Denise só casaram (pela primeira vez) o ano passado. É que, à velocidade com que renovam os votos, a excentricidade pode tornar-se uma enorme rotina. E aí, ninguém poderá prever se daqui a 17 cerimónias, quando fizerem as cem, essa venha a constituir a antevisão da cerimónia final … a do divórcio.


quinta-feira, novembro 18, 2010

A crise, qual crise?

Há poucas horas assistimos à goleada (4 a 0) imposta pela selecção portuguesa de futebol à sua congénere espanhola. E fê-lo de uma forma alegre, simples e dominadora, jogando com uma determinação a que já nos desabituara. Vencer a Espanha – a actual campeã da Europa e do Mundo - ainda que num encontro particular, faz-nos bem à alma. Somos “hermanos”, é verdade, mas a rivalidade é mais que muita e ninguém gosta de perder nem a feijões.

Foi um jogo frenético e a equipa de todos nós, a mesma (ou quase a mesma) que ainda há meses parecia ter perdido a qualidade que todos sabíamos existir, emergiu poderosa para uma partida de futebol muito bem jogada.

Quatro a zero à Espanha. A resposta (a vingança) à eliminação que a mesma Espanha nos tinha infligido nos oitavos de final do Mundial de Futebol de 2010, há escassos meses na África do Sul.

Perante este banho de futebol, a nossa auto-estima subiu. Pelo menos por umas horas esquecemo-nos dos nossos problemas e da crise. Crise, qual crise?


terça-feira, novembro 16, 2010

Como acreditar?



Há anos que os Governos não se cansam de pedir sacrifícios aos portugueses. Em nome das crises, dos deficits, dos endividamentos externos, da continuação do estado social, das ou dos quaisquer pretextos, a palavra de ordem para o Zé-povinho é “vamos ter que apertar o cinto”. E a receita é sempre a mesma, o aumento da carga fiscal que, invariavelmente, penaliza sobretudo aqueles que menos têm.

Perante aquilo que parece ser uma inevitabilidade, o que se podia esperar em troca era que os sacrifícios também fossem assumidos pelo Estado. Dir-me-ão que falar no Estado assim desta maneira é um bocado vago e que os seus funcionários já vão ter cortes nos salários e aumentos no IRS (para além do IVA que, esse, é para todos). Certo, mas não era aos funcionários que eu me referia. O que estava a pensar era nas contratações que estão agora a ser feitas, de 45 novos funcionários por semana para cargos no Governo e na administração directa e indirecta do Estado, já depois de terem sido anunciadas as medidas de austeridade.
Apesar do último PEC apontar para a contenção da despesa pública, assistimos não ao emagrecimento do Estado mas à sua engorda com o inerente aumento de encargos com o pessoal. Eu sei que o Governo já veio justificar que os que estão a entrar vão substituir os que saem e, muitos deles, já transitam de outros lugares do Estado. Será? Temos bons motivos para desconfiar.

E o que pensar sobre o que veio noticiado na imprensa de ontem sobre as mudanças na tributação, propostas no Orçamento para 2011, que deixam de fora os principais milionários da Bolsa portuguesa? A ser verdade, que explicação haverá?

Mas poderia dar muito mais exemplos. Ainda há dias vi passar um administrador (que eu conheço) de uma empresa pública (que todos conhecemos) num carro topo de gama de uma marca conhecida (e muito cara), acabadinho de sair do stand. Não me contaram, eu vi!

Assim sendo, como aceitar os sucessivos apelos de quem nos governa? E como corresponder a eles, perante o que vamos assistindo? Já quase não conseguimos apertar o cinto … por falta de furos.

Como dizia o outro, “Já basta de realidades queremos promessas”.

segunda-feira, novembro 15, 2010

Os habilidosos


Embora as estatísticas vão alternando de semana para semana ao sabor do número de empresas que vão fechando, as últimas que foram divulgadas dão conta que o Distrito de Portalegre é onde se regista maior carência alimentar e o concelho de Mesão Frio onde há mais desemprego.

Para o comum dos cidadãos parece que uma coisa deveria ser a consequência da outra mas, ao que parece, nem sempre é assim.

Mas o que hoje chamou a minha particular atenção foi o desemprego em Mesão Frio, onde existem 400 desempregados no concelho, cerca de 12,2% da população. Mas será que há, de facto, desemprego ou os desempregados, pura e simplesmente, não querem trabalhar?

Fiquei boquiaberto ao assistir ao programa “Linha da Frente” exibido na última semana na RTP, quando uma psicóloga do Gabinete de Inserção Profissional afirmava sem papas na língua:
“Uma cláusula que fazem logo na primeira entrevista é que não querem trabalhar ao fim-de-semana e, se for um trabalho que englobe umas horas nocturnas, tipo dez da noite, nove e meia ou por turnos, não querem. Se for longe de casa é impensável. As pessoas quando se vêm inscrever o que pedem são cursos de formação profissional, em que a bolsa seja considerável e perto de casa. Se for um curso um bocadinho longe já não querem… As mulheres inscritas não procuram nem esperam trabalho. Sabem que por aqui têm acesso a um curso de formação profissional que não requer esforço físico, que pode durar um ou dois anos e com bolsas entre os 200 e 500 euros, não raras vezes acima de um ordenado mínimo nacional. E podem acabar um e começar outro”.

Palavras para quê? Mais claro do que isto é impossível. Afirmações que, de certo modo, vêm dar razão às teorias que um certo líder de um partido da oposição faz questão de repetir até à exaustão. Demagogias à parte, acabamos por ter que lhe dar razão nesta matéria.

Mas cuidado. É perigoso generalizar e o que se passa em Mesão Frio pode não corresponder ao que acontece noutras zonas do país. É absolutamente necessário que haja rigor na análise das situações e que se actue caso a caso. Podemos até perceber que haja razões para que as pessoas não aceitem certos trabalhos mas não devemos condescender com o laxismo que se instalou na nossa sociedade. E, sobretudo, não podemos confundir os habilidosos, os “falsos desempregados”, com os muitos milhares de cidadãos que procuram desesperadamente uma ocupação, perto ou longe de casa, com horários certinhos ou não, fora ou dentro das habilitações académicas e da preparação profissional que possuem.

sexta-feira, novembro 12, 2010

O “senhor do adeus”




Com 80 anos morreu o homem que diariamente acenava e enviava beijos às pessoas e aos carros que passavam aqui em Lisboa nas zonas do Restelo (à tarde) e do Saldanha (à noite). Chamavam-lhe o “senhor do adeus”, embora ele afirmasse que era tão-somente o “senhor do olá”.

João Manuel Serra apresentava-se sempre impecavelmente vestido e tinha um sorriso permanente estampado na cara. Era um homem fino, filho de gente abastada, que ”nunca trabalhou nem entrou numa cozinha ou tirou a carta embora gostasse muito de automóveis”, mas que conhecia toda a Europa. Uma pessoa com uma educação acima da média e um apaixonado por cinema. Transportava quase sempre um saco de plástico mas poucos sabiam que lá dentro havia queijo suíço e chocolates de marca.

Quando o destino levou os familiares com quem vivia, João arranjou uma forma de combater a solidão, “essa senhora é uma malvada que me persegue por entre as paredes vazias da casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente”, disse um dia numa entrevista. Uma maneira diferente de fazer as pessoas felizes e de se sentir, também ele, mais feliz.

Muitas das pessoas que estavam habituadas ao cumprimento de João Manuel Serra vão sentir a sua ausência. Morreu um “Homem de Lisboa” e a cidade vai sentir a sua falta.

quinta-feira, novembro 11, 2010

E a decisão é …

Há pessoas que têm alguma dificuldade em decidir. Quando chega a hora de resolver, bloqueiam e entram em parafuso. O “não sei … o que é que achas?”, ou coisas do género, são ouvidas frequentemente. Se bem que esse tipo de hesitações não trazem consequências de maior. Para além da ansiedade das próprias pessoas, a maioria das vezes fica-se pela pura perda de tempo ou de oportunidades que não voltam mais.

Mas há, de facto, indecisões cujos resultados são inacreditáveis. Como aquele caso de um cidadão britânico, Sam Hashimi, um bem sucedido homem de negócios, divorciado e com dois filhos que, em 1997, decidiu mudar de sexo. Gastou 116 mil euros nas operações necessárias (que resultaram em pleno) e “nasceu” a senhora Samantha Kane, designer de interiores.
Em 2004, apenas sete anos depois, a Samantha deu-lhe uma coisinha, achou que a mudança de sexo era capaz de não ter sido lá grande ideia e pensou com os seus botões que estava já farta das hormonas femininas e do desencanto de ter sexo com homens e decidiu que tinha que voltar a ser homem. Lá gastou mais 29 mil euros, recuperou o que tinha que recuperar e a Samantha tornou-se no senhor Charles.

Vejam o que pode acontecer a quem não sabe muito bem o que quer, alberga alguma confusão mental, é masoquista ou, pura e simplesmente é excêntrico e não sabe o que fazer ao dinheiro.

O porém, contudo, é que Sam/Samantha/Charles nunca mais deixará de exibir os traços da sua feminilidade, por muitas operações que venha a fazer. É o custo de tanta indecisão. Foi-se-lhe o dinheiro mas ficaram-lhe as marcas.

Como (quase) todas as histórias, esta também tem uma moral: É mais barato passar de mulher a homem do que fazer o sentido inverso.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Uma espiral que bem sabemos onde vai dar


A crónica de Fernando Madrinha no Expresso do último sábado começava assim:

“Um país que deve muito mais do que produz num ano inteiro e que precisa de pedir mil milhões todas as semanas para se sustentar não tem que se queixar dos credores; deve dar graças por haver ainda quem lhe compre dívida, se bem que a juros incomportáveis”…

A generalidade dos portugueses sabe que nas economias domésticas há sempre um limite para os gastos. Por exemplo, quem ganhar cem não pode gastar cento e dez. Pelo menos de forma sistemática. Mais, se ganhar cem pode gastar apenas oitenta ou noventa e com o restante deve constituir uma poupança que poderá ser útil em qualquer situação de emergência. Esta deve ser uma preocupação clara, pelo menos em relação aos chamados gastos correntes.

Ninguém (???) em seu juízo vai ao Banco pedir dinheiro para pagar a electricidade, o supermercado ou o passe dos transportes. Normalmente reservamos os empréstimos bancários para outro tipo de bens de média/longa duração e normalmente mais dispendiosos. Como acontece quando compramos casa ou carro. Isso é investimento.

E será que com o país não deveria acontecer o mesmo? Que peçam aos mercados (mau, lá estamos nós a evocar de novo os mercados) crédito para a construção de pontes ou de infra-estruturas, para apoios à criação de frotas pesqueiras ou para actividades produtivas, tudo bem, isso é investimento. Agora, estar a pedir dinheiro (colocar dívida pública, em termos técnicos) todas as semanas para pagar um imenso rol de despesas correntes como, por exemplo, ordenados e juros dos empréstimos que se vão vencendo, isso é de loucos. É uma espiral que bem sabemos onde vai dar. Quero dizer, pelo menos muitos de nós temos uma ideia.

terça-feira, novembro 09, 2010

E ninguém vai preso?

Não fiquei particularmente surpreendido ao saber que duas personagens conhecidas foram agora constituídas arguidas no processo “Operação Furacão”. A investigação e a justiça são lentas mas, às vezes e com o tempo, lá se vão conhecendo alguns dados novos.

O que verdadeiramente me chocou é que uma dessas figuras, António Mota, Presidente da Mota-Engil, fez saber através de uma fonte da empresa que “o grupo pagará o que houver para pagar. Haverá uma discussão técnica, chegar-se-á a um entendimento e paga-se”.


Só isto? Perante uma falcatrua que se descobriu (por pouca sorte do infractor), basta chegar a um acordo (“a uma discussão técnica”) e tudo se esquece? Um crime (de fuga e fraude fiscal) que está devidamente enquadrado pela lei, “esconde-se” pura e simplesmente debaixo de umas multas e ninguém responde criminalmente? Como é possível, que país é este?

segunda-feira, novembro 08, 2010

Não sejamos ingénuos



A visita de dois dias a Lisboa do Presidente chinês, Hu Jintao, poderia significar apenas a vontade de incrementar relações comerciais entre os dois países, como normalmente acontece em visitas de Estado em que Presidentes e Chefes de Governo se fazem acompanhar por uma comitiva de empresários. E, sobre isso, nada haveria a dizer, se bem que a China tenha muito mais a ganhar do que nós. Tanto mais que a valorização do euro face ao yuan favorece claramente as exportações chinesas.

O problema, porém, é que a China, como grande potência económica mundial se propõe comprar mais dívida soberana portuguesa e tornar-se um grande credor de Portugal, a exemplo do que já acontece em relação a muitos outros países (só nos Estados Unidos são credores de dois terços da sua dívida externa).

E é aqui que começa o busílis. Dir-me-ão que tanto faz devermos à China como a qualquer outro país, que neste momento todos os credores são bons, que o dinheiro não tem cor e que necessitados como estamos de mais e mais financiamento externo todo o dinheiro é bem-vindo. Pode até ser. Por um lado, eles estão cheios de dinheiro que pretendem investir, por outro, nós estamos a braços com uma grave crise de liquidez a necessitar urgentemente de um “salvador” que nos compre as emissões de dívida pública. Mas há outros riscos que, mesmo desesperados, não deveríamos correr.

Não se trata tão-só de os chineses nos comprarem – a nós, aos gregos, aos espanhóis, aos italianos, a toda a Europa e a uma boa parte das nações do mundo – dívida soberana. Na verdade, o que todos estamos a hipotecar é a possibilidade de podermos dizer não à China nos mais altos fóruns internacionais.

Não sejamos ingénuos, quando, por exemplo, estiverem em causa a violação dos direitos humanos na China, como acham que vão votar as nações que estão altamente devedoras à grande potência económica da Ásia? Há sempre um preço a pagar.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!

De António Aleixo "Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura"


Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...

Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Fui ao Jardim Zoológico


Se me prometerem que não começam com graçolas foleiras (do tipo “ah, foste lá para ver a família” ou “afinal, já sabes se a zebra tem mais listas brancas ou pretas?”) sou capaz de vos contar que fui há dias ao Jardim Zoológico de Lisboa. Não gozam com isso? Vá, então está bem …

Pois é, há muito tempo que não visitava o zoo e já tinha saudades dos tempos em que ir ao Jardim Zoológico fazia parte das “obrigações” que os pais tinham para com os filhos. Era uma época em que não havia muitas opções e, que me lembre, para além do Zoológico, havia o circo e os passeios de domingo até ao aeroporto para ver os aviões a partir ou a chegar. Pouco mais.

O Jardim está mais ou menos na mesma. É certo que tem o espectáculo com os golfinhos e leões-marinhos mas, estruturalmente, mantém-se igual ao que sempre foi. Talvez um pouco mais descuidado na limpeza e a faltar, na minha opinião, a recriação dos ambientes naturais em que a maior parte dos animais vive quando em liberdade. Dantes não dávamos conta mas hoje conhece-se outros zoológicos onde isso acontece e gostaríamos de ter em Lisboa savanas “à séria” onde os leões, tigres, elefantes e demais espécies pudessem deambular, em vez de assistirmos a animais expostos em espaços descaracterizados ou em jaulas. Enfim!

Mas houve uma coisa que, não sendo nova, continua a indignar-me. A das pessoas insistirem em dar comida aos animais. Os avisos espalham-se por todo o recinto “p.f. não dêem de comer aos animais” e são bem visíveis mas, mesmo assim, os visitantes fingem não ver ou, vendo-os, estão-se literalmente nas tintas para eles e satisfazem os seus pequenos prazeres e os das suas crianças, dando “comida” aos animais, a qual, muitas vezes, não passa de folhas de árvores que apanharam do chão.

Desrespeito pelas normas, incivilidade e maus exemplos. Acções que merecem o nosso repúdio e devem ser devidamente sancionadas pelas autoridades competentes.

Bom, agora que já desabafei, e para quem está interessado em saber se as zebras têm mais listas brancas ou pretas, sempre vos digo que, de acordo com o biólogo Guilherme Domenichelli, da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, as zebras são realmente brancas com listas pretas, e não o contrário. Satisfeitos?

quarta-feira, novembro 03, 2010

“Precisa-se clientes”

Pois é, a crise de novo. E, desta vez a "manifestar-se" num anúncio que não procura canalizadores, empregados de balcão ou pasteleiros. Apenas solicita, de forma clara, clientes que entrem (reparem na ardósia preta das sugestões, no exterior) sem hesitações.

A foto que hoje publicamos foi tirada à fachada de um restaurante nos arredores de Portimão e mostra bem o desespero a que os comerciantes chegaram para continuarem com o negócio.
Esta é a face da economia pura e dura. Onde, mais ou menos a brincar - acho eu que é menos a brincar e muito a sério - se joga o futuro de muitas famílias.






terça-feira, novembro 02, 2010

Poupanças

No último domingo comemorou-se o Dia Mundial da Poupança. Dia que se costuma aproveitar para sensibilizar as pessoas para a necessidade de poupar. Mais uma vez este ano (se calhar com razões acrescidas) fiquei na dúvida se seria legítimo falar em poupança aos portugueses. Logo a nós que andamos a contar os cêntimos.

Como referi num post aqui publicado na quarta-feira passada, a propósito de literacia financeira, em Portugal só uma percentagem diminuta da população consegue poupar. E porquê? Simplesmente porque o seu rendimento não permite. Ou seja, depois de satisfeitas (às vezes nem isso) todas as despesas do mês não resta mais dinheiro. Acabou, não há mais.

A situação, embora preocupante, tem um fait-divers curioso quando se pretende averiguar quem é que, afinal, poupa mais, se os homens ou as mulheres. E os diversos estudos rezam que são eles que, de facto, mais poupam mas elas (que muitas vezes até têm salários mais baixos) suportam uma fatia maior das despesas, nomeadamente com as roupas dos filhos, com as várias prendinhas durante o ano e com outros gastos caseiros.

Enfim, a vida não está fácil e falar de poupanças, mesmo que a propósito do Dia Mundial da Economia, também não é simples. Contudo, é muito importante que comecemos a planear devidamente o orçamento familiar. Se não para acumularmos riqueza, pelo menos para nos precavermos quanto a uma situação inesperada.


sexta-feira, outubro 29, 2010

Inovação tecnológica – teimosia ou convicção?

Embora nem sempre seja fácil, a melhor maneira de encarar as situações mais complicadas é a de tentar manter alguma serenidade e optimismo em vez do desânimo que nada resolve.


Foi o que deve ter pensado o Presidente da Junta de Freguesia do Coração de Jesus, do Concelho de Viseu que, fervoroso adepto do progresso e das novas tecnologias e ciente do objectivo governamental da modernização administrativa, decidiu comprar um equipamento sofisticado de reconhecimento por impressão digital que vai permitir controlar o cumprimento de horário dos seus funcionários.


Louve-se a iniciativa. Embora consciente da contenção orçamental que se lhe exige, o dito Presidente de Junta resolveu modernizar e assumiu que se trata de um equipamento “útil no imediato e no futuro da freguesia”, tanto mais que se prevê que o quadro de empregados possa aumentar 100%. Mas claro que tudo isto tem um custo. Durante 4 anos a Junta vai ter que pagar 108 euros mensais pelo investimento, num valor total de 5 184 euros. Coisa pouca, dirão, mas que poderá inviabilizar outros projectos, esses sim, mais úteis aos moradores locais.


Firme no seu propósito, o Sr. Presidente fez orelhas moucas às críticas dos seus adversários políticos que classificaram a obra de “absurda, desnecessária e desrespeitosa pelos habitantes da freguesia” e vai levar por diante a colocação do tal aparelho de reconhecimento por impressão digital. É um homem de grande visão, não tenhamos dúvidas.


Ah, esqueci de dizer. Neste momento, a Junta tem dois funcionários.




quinta-feira, outubro 28, 2010

Os Palhaços

Juro que não foi o resultado das conversações entre o PS e o PSD para o Orçamento Geral do Estado para 2011 que me levou a intitular o texto de hoje da maneira como o fiz. Nunca me passaria sequer pela cabeça – longe de mim tal ideia – dar qualquer epíteto a membros da classe política.

Mas já que falámos nas tais negociações, penso que, apesar de terem começado demasiado tarde e de não terem conseguido chegar a um acordo, o OE vai ser viabilizado na mesma. Porém, não aceito, e os portugueses seguir-me-ão certamente, que os dois partidos tivessem tentado ganhar (?) algumas vantagens políticas num braço de ferro inútil que se traduziu em prejuízos enorme para o Portugal. Económicos, financeiros e de imagem. Uma verdadeira irresponsabilidade (agora que tanto se fala em responsabilidade) que nos fez gastar muitos milhões de euros, quando o país está à beira do abismo.

Voltando ao título da crónica. Os palhaços que eu hoje queria mesmo recordar eram os verdadeiros palhaços do circo. Os “ricos” de cara pintada de branco e os “pobres” de sapatos enormes e de vestes largas e cabelos esquisitos que, à custa de piadas já gastas e óbvias, faziam agitar a miudagem. Palhaçadas cujas actuações terminavam com música, também ela repetidíssima ao longo de gerações, onde não faltavam o saxofone, a guitarra e até um instrumento único que algumas parelhas de palhaços apresentavam - o serrote (de carpinteiro) tocado com um arco.

Os Actores Palhaços, os “parodistas/musicais” como os anunciavam, devem sentir-se envergonhados com os maneirismos ridículos (próprios da arte do palhaço) que, agora, vêem desempenhados por outros actores, os políticos. Só que os primeiros divertiam, os outros incomodam-nos.



quarta-feira, outubro 27, 2010

Literacia financeira


Na semana passada Carlos Costa, o Governador do Banco de Portugal, deu conta dos resultados de um "Inquérito à literacia financeira da população portuguesa" realizado pelo BdP. Inquérito que pretendia avaliar o nível de conhecimentos financeiros dos portugueses.

E as conclusões a que chegaram é que a generalidade das pessoas não faz a mínima ideia do que é uma TAEG ou é pouco sensível à importância de poupar. Sabem, quando muito, o que é um spread mas, mesmo assim, de uma forma muito genérica.

Penso que ninguém ficou surpreendido com as conclusões do inquérito. Obviamente que as pessoas não têm preparação financeira de base e estão pouco preocupadas com uns quantos termos técnicos que pouco lhes dizem. Preocupam-se, isso sim, com o montante que vão ter que pagar mensalmente pelos empréstimos que pediram ao Banco para comprarem as suas casas ou quanto vão receber de juros por uns trocos que conseguiram colocar numa conta a prazo. Expressões como ”Over night” e outras que tais, deixam-nas ao cuidado dos seus gestores de conta que é para isso que eles lá estão.

Quanto à importância de poupar a questão é outra. Segundo o mesmo estudo, os inquiridos consideram importante planear o orçamento familiar, embora só cerca de metade reconheça essa necessidade e confirmem que ainda conseguem amealhar. Mas, sublinhe-se, dos que poupam, a quase totalidade fá-lo para que esse dinheiro possa, uns tempos depois, ser gasto e pouquíssimos têm a preocupação de aforrar para constituir património ou para acumular riqueza.

E percebe-se porquê. Durante décadas gerações de portugueses viveram com imensas dificuldades. A democracia trouxe melhores dias e salários mais justos. Desapertámos, enfim, o colarinho que estava demasiado estreito e começámos a viver. Os Bancos ajudaram à festa ao escancarar as portas e a conceder empréstimos sem entraves nem justificações. Tudo corria bem e os portugueses habituaram-se a isso.

Quando pensávamos que a nossa vidinha iria ser sempre daquele jeito, tiraram-nos o tapete e regressámos aos sobressaltos de antigamente. E, a toda a hora, vão-nos lembrando que dias muito difíceis estão a chegar e é necessário começar a economizar desde já. A angústia voltou a tomar conta de nós, sentimento a que ninguém consegue escapar. Nem mesmo aqueles que, estando mais preparados, não “sofrem” da literacia financeira.


terça-feira, outubro 26, 2010

Será que o mundo (ou alguém) está a ficar louco?


Não me venham outra vez com aquela história de que nas empresas bem geridas a motivação dos trabalhadores aumenta e, com ela, a produtividade. Claro que isso é verdade mas, como todos sabemos, em épocas de crise não é isso que costuma acontecer. Pelo contrário, nas horas de aperto, e a propósito das dificuldades, muitas empresas aproveitam essas mesmas (supostas) dificuldades para fechar as portas, despedir os trabalhadores ou baixar os seus salários.


E exactamente por estar demasiado habituado a esses esquemas é que fiquei “abazurdido” de todo quando soube que na Autoeuropa eles estão a “tramar” algo que não lembraria ao diabo.


Então não é que houve um acordo entre os trabalhadores e a administração para que os salários aumentassem 3,9% nos dois próximos anos, acima até do que a própria comissão de trabalhadores tinha pedido (3,8%)? Mais, a empresa compromete-se a não despedir qualquer trabalhador até 2013 e a tornar efectivos trabalhadores com contratos a prazo. Mais ainda, o subsídio de transportes vai ser aumentado de 5%. E, como se isto não fosse o bastante, os trabalhadores vão ser ainda “castigados” com melhorias no seguro de saúde, as grávidas vão ter um subsídio de 10% do salário base e os trabalhadores com filhos a iniciar o primeiro ano de escolaridade receberão da empresa kits de material escolar básico. E não acrescento mais porque tudo o que explicitei quase não dá para acreditar mas, segundo consta, existem mais incentivos e benesses a conceder.


Face ao conjunto de medidas contratualizadas na Autoeuropa, alguém é capaz de me explicar o que está a acontecer? Justamente quando em toda a Europa (com excepção da Alemanha, claro) a tendência é de crise profunda e de desemprego galopante, temos cá no cantinho da dita, uma empresa (que por acaso também é alemã) que, em contraciclo, se entende com os seus trabalhadores e lhes proporciona motivações bem fortes em que todos (empresa e trabalhadores) ficam a ganhar.


Daí a minha pergunta inicial: Será que o mundo (ou alguém) está a ficar louco?





sexta-feira, outubro 22, 2010

O coleccionador



Gerou-se “pr’á i” uma algazarra de todo o tamanho ao saber-se que o senhor Primeiro-Ministro colocou ao serviço do seu gabinete 12 motoristas. Nem mais. Porém, como ninguém sabe os porquês da medida, o falatório tem sido grande. Pura especulação, digo eu. Será que os que lá estavam colocados se reformaram por atacado ou terá havido apenas a intenção de promover postos de trabalho, no âmbito das “novas oportunidades”, para uma dúzia de motoristas encartados? O que no meio de uma crise profunda só é de louvar, convenhamos.

Para já o que se conhece – até veio publicado no Diário da República (e ainda dizem que a liberdade de expressão anda um tanto ou quanto em crise) – é que uns quantos vieram da PSP, um dos Bombeiros Voluntários de Colares (na falta de Pedro Silva Pereira dá sempre jeito ter um bombeiro à mão para apagar certos fogos), outro do ramo hoteleiro, um da Segurança Social, um da Carris e um da conhecida empresa de consultadoria Deloitte & Touche (um elemento fundamental uma vez que enquanto se deslocam Sócrates sempre pode trocar umas impressões sobre os mercados com o seu motorista).

Portanto, até aqui ainda não vi qualquer problema. A não ser que achem que ter doze motoristas num só gabinete possa parecer que não estamos a falar do Primeiro-Ministro de Portugal mas sim do sultão de um qualquer Emirato.

Mas como continuamos a especular, deixem-me sugerir duas razões para o acontecido:

- a primeira tem a ver com o facto de José Sócrates não gostar de ser comparado com os demais (vejam como ele já quis demarcar-se do PSD e do seu líder) e para que não haja confusões com o outro José (o Mourinho), o “number one”, achou que devia ser conhecido como o “number twelve” (nº 12 em tradução simultânea).

-a outra razão é ainda mais simples. É que Sócrates adora fazer colecções. De tudo, desde bonecos da bola, a selos, a moedas e a … motoristas.

Isto é o que eu penso que poderá ter acontecido. A não ser que, e dadas as dificuldades orçamentais, ele pensasse que à dúzia era mais barato.



quinta-feira, outubro 21, 2010

Cultura laboral


Quando ontem escrevia sobre os horários praticados pela Banca, referia-me, está bem de ver, aos horários das Instituições e não dos empregados. A estes, como se sabe, costuma “pedir-se” que trabalhem para além dos tempos que estão consignados nos respectivos contratos de trabalho. Por exemplo, se saem às 16h30 (oficialmente e para os que têm esse horário) exige-se-lhes que saiam apenas quando tiverem concluído os seus afazeres (o que em muitos casos pode prolongar-se umas horas para além da sua hora) e não antes. Ou no caso de trabalhadores que estejam a atender clientes e que já tenham visto passar a hora em que deviam ter ido almoçar, paciência, comerão qualquer coisa quando acabarem esses atendimentos, isto é, quando puder ser.

Mas neste, como em outros casos, existe uma “cultura laboral” que vem de há muito. “Cultura” que diverge de sector para sector.

Já experimentaram ir a uma oficina de mecânica, mesmo as das marcas mais conhecidas? Se o horário para almoço é das 13h00 às 15h00, ainda que a tarefa supostamente vá acabar uns minutos depois de ter começado a hora de almoço do trabalhador, o cliente vai mesmo ter que aguardar que a sagrada “pausa de refeição” se cumpra.

Ainda não há muito tive que esperar duas horas para me trocarem a bateria do carro porque cheguei à oficina (de uma marca) às vinte para a uma e informaram-me que já não dava tempo porque os serviços fechavam para almoço às 13h00. Um trabalho sem complexidade e que se faz em poucos minutos. E, naquele caso, nem sequer havia a desculpa de estarem todos ocupados. É que ali existe uma outra “cultura laboral”.


quarta-feira, outubro 20, 2010

O horário dos Bancos


A título excepcional, vou violar uma regra de ouro. Aliás, um princípio de que os pais jamais deveriam abdicar: os filhos nunca têm razão. Pronto, agora que a cólera de todos os filhos do mundo – a começar pelos meus, evidentemente - se abateu sobre mim, vou directo à questão de hoje.

Desta vez, Miguel, meu filho, concordo inteiramente contigo. O horário de funcionamento dos Bancos não deveria ser tão “acanhado”. Quando há uns meses perguntaste por que carga de água é que os Bancos fechavam tão cedo, respondi-te que não sabia mas a minha vontade era dizer-te “porque sempre foi assim”. Frase com que, de resto, embirro solenemente.

Na verdade, e já temos falado sobre isto, não há justificação para que os serviços (da Banca, mas não só) não estejam sempre (quase sempre, vá) abertos. A maior parte das pessoas cumprem horários semelhantes aos desses serviços e quando, finalmente, têm um tempinho para ir à sua agência, os Bancos já estão de portas fechadas. E sem dúvida que a vida se prolonga para além das três da tarde.

Claro está que hoje, com as tecnologias disponíveis e com a possibilidade de “irmos ao Banco” pela net ou pelos ATM’s, já não temos tanta necessidade de ir à agência como acontecia dantes. Mas, tens razão, ainda não se pode depositar cheques através do computador. É necessário ir mesmo lá e … a horas de se poder entrar.

Prometi-te que se um dia vier a ocupar um cargo que me permita alterar a hora de fecho ao público, fá-lo-ei sem tibiezas. Receio, porém, que esse dia não chegue. Pelo que, Miguel, terás que ter em atenção de que os Bancos fecham mesmo às 15 horas, quer gostes ou não.



terça-feira, outubro 19, 2010

Desperdício

Pouco passava das duas da tarde quando cheguei ao espaço de refeições de um centro comercial. Percebia-se pela quantidade de bandejas com pratos empilhados em cima das mesas que a “barbárie” tinha passado por ali e que a festança acabara há pouco. O aspecto era desolador. O desarrumo inaceitável.

Mas, mais do que isso, o que me chocou verdadeiramente foi a quantidade de comida que se via abandonada em muitos pratos. Pizas e fatias de carne “jaziam” ali praticamente intactas.

Ao olhar para aquela babilónia não pude deixar de pensar por que é que essa gente desperdiça tanta comida, sem pudor e sem remorso, enquanto milhares de pessoas passam fome.

Podem argumentar que os restos dos alimentos, uma vez decompostos, servem de adubo a outras culturas. Podem até alegar que comida com muito sal e demasiado tempero é razão suficiente para que a deixem de lado. Podem ainda aduzir que o tamanho das doses é exagerado e que há pessoas que não querem ou não podem (por motivos de saúde) ingerir grandes quantidades.

Ainda assim, não podemos ficar indiferentes a tanto desperdício. É altura de pensarmos em como podemos alterar a situação. E a receita parece ser simples. Por exemplo, doses mais pequenas (e menos caras), partilha de doses generosas com outra pessoa ou, ainda, a possibilidade de levar as sobras para casa (já se faz nalguns restaurantes). E para aqueles que comem muito a solução é pedir mais. De qualquer forma, é tempo de dizermos não ao desperdício, de rentabilizar os recursos e distribui-los com maior equidade. Por uma questão de humanidade e justiça.

E ainda que em contexto diferente, parece-me aplicável uma quadra de António Aleixo:

“Entre grandes e pequenos

Ficávamos quase iguais

Dando a uns um pouco menos

E a outros um pouco mais”