Eu sei que o escândalo de corrupção que rebentou em cima do Primeiro-Ministro espanhol Mariano Rajoy não passa, por enquanto, disso mesmo, de um escândalo. Mas confirmando-se, ou não, essas suspeitas o certo é que são muitos os políticos que entram (ou que se põem a jeito) em certos esquemas e, daí, acreditar-se cada vez menos em quem entregamos a condução dos nossos destinos.
Por isso, quando há uns tempos li no El Mundo um artigo sobre José “Pepe” Mujica, de 77 anos e Presidente do Uruguai, onde se considerava que era o Presidente mais pobre do mundo, torci o nariz cheio de dúvidas. Logo num país de uma região onde os níveis de corrupção tomam proporções gigantescas? Mas não quis tirar conclusões precipitadas e “googlei” (como agora se diz) para tirar isso a limpo.
De facto o Presidente do Uruguai parece ser uma excepção. Vai para o trabalho todos os dias a guiar o seu modesto automóvel de 1300 c.c. de cilindrada (que vale mil dólares), fazendo o trajecto desde a sua pequena habitação (o seu único património para além do carro), localizada nos arredores de Montevideu, onde vive com a mulher. Recebe um salário de 12,5 mil dólares como Presidente, fica apenas 1,25 mil para os seus gastos e doa o restante, cerca de 90%, a pequenas empresas e a Organizações Não-Governamentais. E isso dá-lhe para viver? “Este dinheiro chega-me, tem que chegar porque há outros uruguaios que vivem com menos – costuma dizer”. De referir, ainda, que a sua mulher, senadora da República, também doa uma boa parte do seu salário.
Apesar de ser Presidente de um dos países mais importantes da América do Sul, José “Pepe” Mujica e a esposa levam uma vida espantosamente simples. Aliás, ele é um homem simples. Nunca usa gravata (sempre casaco e camisa branca), convive com os amigos de sempre e não tem contas bancárias nem dívidas. Um homem de sólida formação, de convicções fortes, que lutou pela democracia contra a ditadura, foi preso e é hoje presidente eleito do país.
A sua residência presidencial, o Palácio Suarez Reyes, onde se realizam as reuniões do Governo, já deu guarida a pessoas sem-abrigo e a residência de Verão do Governo, em Punta del Este, foi vendida ao Banco Estatal que o transformará em escritórios e espaço de cultura. O dinheiro da venda será, por decisão de Mujica, integralmente aplicado na construção de moradias populares e de uma escola agrária.
Costuma dizer-se que “ao serem eleitos, os Presidentes fazem uma espécie de renúncia pública da sua liberdade”. No caso de Mujica isso não aconteceu. Embora sujeito a fanatismos ou ódios políticos, continua a andar sem segurança. Também por isso, admiro a sua coragem e as suas convicções. Afinal, ele lutou toda a vida e sempre arriscou a sua segurança e a da própria família por elas. Porquê mudar agora?
São pessoas como esta que nos transmitem alguma esperança no futuro. E certamente que o mundo seria um lugar bem melhor se outros políticos tivessem a grandeza e a seriedade de José “Pepe”Mujica.