sexta-feira, dezembro 20, 2013

Boas Festas




                                                                       Nesta época de festas,

                                                              Desejo-vos SAÚDE, PAZ e AMOR

                                                          ... e que 2014 vos traga tudo de bom


                                                                              BOAS FESTAS!

                                                                           BOM ANO NOVO!



 

quarta-feira, dezembro 18, 2013

O Benvindo



A história do Benvindo cruza-se com a minha própria história dos tempos de infância e juventude. Conheci-o ainda miúdo na aldeia da minha mãe para onde eu ia todos os anos passar o Verão. Corríamos, jogávamos a bola, brincávamos com a despreocupação própria dos nossos tenros anos.

Benvindo era filho de uma família muito humilde. No entanto, e apesar da falta de perspectivas que, nesse tempo, era comum à maioria dos miúdos das aldeias, notava-se nele uma ambição que mal conseguia disfarçar. De facto, era notória a atitude que transparecia na forma como jogava o futebol ou nas corridas que fazíamos rua acima rua abaixo, sobretudo pela mais íngreme da terra, a Rua Direita, que por acaso era a que, de todas, mais curvas tinha.
 
Já adolescente, essa ambição fazia-se sentir ainda mais fortemente, sobretudo no modo como tentava impressionar as raparigas, quase todas estudantes na capital e que viam nele um pobre coitado, sem dinheiro e sem estudos e, que desdenhavam por ser desengonçado e de fraca beleza, pelo menos aquela que correspondia aos cânones exigidos na época.

Estivemos muitos anos sem nos vermos. Ele ficou por lá e eu andei um pouco pelo mundo, levado pelos acasos e necessidades da vida.

Quando regressei à aldeia, quis rever esses amigos da minha juventude, aqueles poucos que tinham fugido à emigração para a Europa, para a América ou para Lisboa.

Estive, então, com o Benvindo. O olhar continuava vivo, mas agora algo perdido num corpo desgastado pelas azáfamas da vida do campo. Falámos durante boa parte da noite enquanto empurrávamos a broa e os pedaços de chouriço acompanhados do vinho carrascão oriundo de um dos lagares da aldeia.

 
Benvindo fez pela vida. Sempre andou no amanho das poucas terras da família e, mais tarde, foi regedor da aldeia e presidente da junta de freguesia. Era considerado pelas pessoas da povoação e dos burgos vizinhos.

Importante, considerado e muito narcisista. A tal ponto que, levado mais pelo culto de si próprio do que pela falta de estudo, mandou colocar nas duas entradas da aldeia placas bem grandes que diziam:

“Benvindo a Santa Maria”

Quando lhe disse, meio a brincar já se vê, que tinha que mandar rectificar as tais placas, porque em português, a saudação escreve-se “bem-vindo” ele sorriu e respondeu-me de imediato:

E tu julgas que eu não sei isso? É que assim o meu nome fica para sempre na História da aldeia, percebes?"

Claro que tinha percebido. E continuámos tagarelando e petiscando alegremente.

terça-feira, dezembro 17, 2013

Afinal (e até ver) o chocolate não engorda ...



Até que enfim, uma boa notícia. Infelizmente não tem a ver com a melhoria da situação do país ou dos portugueses mas diz respeito a um alimento que, para a maioria e de alguma forma, nos consola e nos "aconchega" nos piores dias (e nos melhores também). Estou a falar do chocolate.

Mas, até agora, havia um porém. A sombra de que a ingestão de chocolate fazia engordar travava o nosso entusiasmo e, quantas vezes, o nosso desejo transformado em necessidade era imediatamente sustido. Era até costume ouvir-se que "o chocolate não engorda, quem engorda é quem o come". Até que, há pouco, ouviu-se falar de um estudo desenvolvido em adultos por cientistas da Universidade da Califórnia que concluíra que uma maior frequência no consumo de chocolate também se associa com um menor índice de massa corporal. Mas era mais estudo feito pelos americanos e, muitos de nós continuámos com dúvidas sobre se, afinal, o chocolate engorda ou não.

Pois bem, um outro estudo agora apresentado mas, desta vez, levado a cabo por investigadores da Universidade de Granada demonstra cientificamente que um alto consumo de chocolate está associado a níveis mais baixos de gordura total e abdominal. Portanto, e agora de forma científica - até ver - o chocolate não engorda.

Para aqueles que não acreditam no que vem das Américas ou que repetem que "de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos", para os que, na verdade, são cépticos em relação a tudo, sugiro - nesta época propícia a alguns excessos alimentares - o consumo moderado de chocolate e, sobretudo, chocolate preto. Vão ver que tanto o vosso corpo como o vosso espírito vão-vos agradecer.


segunda-feira, dezembro 16, 2013

Multibanco: mais uma tentativa para taxar as operações ...



A questão já é velha e remonta ao início das ATM (a rede Multibanco) em Portugal. Lembro-me bem de quando apareceram as primeiras máquinas nas agências bancárias, nos primeiros anos da década de 80 do século passado. Embora Portugal fosse um dos últimos países da Europa ocidental a instalá-las, o equipamento era o que havia de mais avançado na época. Ainda assim, e por verem nos funcionários do seu Banco os amigos em quem podiam confiar, os clientes fugiam delas a sete pés. Foi necessário formar equipas de bancários que, devidamente preparados, foram "ajudá-los" a conhecer as máquinas, a fazer as transacções que pretendessem e a evitar as malfadadas filas que, nessa altura, eram imensas.

Foi o princípio. A clientela estranhou a inovação mas a verdade é que, rapidamente, aderiu de alma e coração. Foi então que para incentivar ainda mais a utilização das máquinas, as instituições bancárias lançaram uma taxa (alta) para cobrar a quem quisesse levantar dinheiro aos balcões em vez de ir às máquinas. Percebia-se bem o interesse dos Bancos: queriam fazer dos seus clientes empregados bancários não remunerados e, por já não serem necessários tantos, reduzir os seus funcionários de Balcão. Isto é, haveria uma significativa redução de custos.

E o facto é que o sucesso da utilização era tal (praticamente toda a gente já tinha aderido ao serviço Multibanco) que, anos passados, a Banca tentou cobrar uma taxa por cada operação realizada. Não resultou porque foi muita a indignação vinda de vários sectores. De tal jeito que até se legislou para impedir a cobrança dessa nova taxa.

Agora, volvidos mais alguns anos, a Banca está de novo ao ataque, a influenciar o poder (como sempre faz) para que a lei seja revogada e que, enfim, possam obrigar os clientes a pagar para poderem mexer no seu próprio dinheiro, efectuar pagamentos e consultar as suas contas. Uma verdadeira vergonha.

Ou seja, aliciaram-nos para utilizarmos as máquinas e depois de nos habituarmos já não podemos passar sem elas. Bem podemos dizer que "primeiro estranhámos e depois entranhou-se a necessidade". E agora querem obrigar-nos a pagar todas as transacções que efectuarmos. É imoral! Tanto mais que se sabe que o sector poupa 300 milhões por ano pelo facto dos clientes utilizarem a rede ATM.

Que iremos pagar parece não haver dúvidas. Resta saber é quando?


sexta-feira, dezembro 13, 2013

E agora quem é que nos reembolsa?




O Governo de Passos Coelho sempre fez ouvidos de mercador a quem se opôs às medidas drásticas impostas pela troika e, nomeadamente, à possibilidade de renegociar os prazos de pagamento da dívida. Vários entendidos na matéria, alguns deles da cor dos próprios partidos da coligação governamental, defenderam essa renegociação do programa, afirmando que austeridade em cima de austeridade só podia ter um resultado: a economia iria definhar e, consequentemente, o desemprego subiria e a falência das empresas e das famílias seria inevitável. Mas o Governo manteve-se firme e hirto, irredutível na submissão aos mercados e à Alemanha, sem querer perceber o rumo que o país seguia.

Ainda não há muito, o FMI já tinha admitido que, se calhar, tinha errado em tantas políticas de austeridade impostas aos países com programa. Até Olli Rehn, comissário europeu para os Assuntos Económicos afirmou que Portugal já empobreceu demasiado e que não vivemos acima das nossas possibilidades. Faltava a toda poderosa Directora-Geral do FMI, Christine Lagarde, fazer o "mea culpa". Reconheceu, enfim, que o "erro" em relação aos efeitos da austeridade obrigou Portugal e Grécia a aplicarem programas de ajustamento num espaço de tempo demasiado curto.

Levou tempo a estes "iluminados" reverterem a sua posição e considerarem que "é preciso dar tempo ao tempo". E de reconhecerem, também, os seus erros, nomeadamente que alguns temas não foram suficientemente abordados e explorados a fundo.

Mas o que fazer com tanto arrependimento? Sentimento que, ao que parece, não é assumido pelos técnicos da troika que estão no nosso país a efectuar mais uma avaliação. O que nós gostaríamos mesmo de saber é de que forma vamos ser ressarcidos dos efeitos provocados pelas medidas cegas que têm destruído o tecido económico e dado cabo - a todos os níveis - dos portugueses? Quem é que nos reembolsa?


quinta-feira, dezembro 12, 2013

Para além de um jogo de futebol ...



Na última terça-feira o meu filho convidou-me a ir à "Catedral" ver um jogo do meu Glorioso para a "Champions". Há muito que não assistia ao vivo a uma partida de futebol, logo eu que em miúdo tanto ia ao velho Estádio da Luz com o meu pai e com o meu avô. Claro que não estou a contar com o último jogo europeu na Luz (com os gregos do Olympiakos) porque, nessa noite, nem sequer fiquei para a segunda parte, tanta era a chuva.

Desta vez a noite estava boa e o Benfica até ganhou, embora isso não lhe tivesse servido de muito em termos de qualificação. Mas isso são outras contas.

O que achei extraordinário é que passado tantos anos, e tendo havido uma notável melhoria na educação e na formação das sucessivas gerações, tivesse ouvido imensos palavrões (dos fortes), frases inteiras em "português vernáculo" dirigidas aos árbitros (trajados de amarelo), aos jogadores, ao treinador e, admito eu sem ter certezas, a terceiros por serem culpados de irregularidades cometidas ou adivinhadas. Longe vão os tempos em que se atacavam apenas os árbitros (estes, então, vestidos de negro) e as suas mães ou que se dizia em tom de comentário coisas como "aquele jogador não estava a carbonizar bem" quando o que realmente pretendiam expressar é que o visado ainda não estava a carburar totalmente.

Agora, porém, os impropérios vinham de bocas aparentemente insuspeitas. Por exemplo, um rapaz com bom aspecto, duas filas à minha frente, ainda o jogo não tinha começado e já tinha despejado um rol de insultos dirigido ao árbitro assistente que estava mais perto de nós. Um amigo fez-lhe notar precisamente que o jogo ainda nem começara e a resposta veio de pronto: "pois é, mas é para ele se ir habituando, o cabr.....".

Na minha fila havia uma senhora (?) que, de quando em vez, lançava, furibunda, umas quantas injúrias que fariam corar de vergonha um guarda-republicano. Uma outra, com o filho pequeno sentado ao colo, gritava igualmente chorrilhos de insultos. Tenho a certeza que o filho nem precisará de muito esforço para aprender o vocabulário da sua mamã.

Melhor estavam duas jovens sentadas mesmo na minha frente a quem o Pai Natal já lhes tinha entregue a prendinha. Certamente tinham-se portado bem durante o ano e, logo no dia 10 de Dezembro, o "Papai Noel" tinha-lhes dado um "tablet" com que se entretiveram durante todo o jogo, de que viram praticamente nada. E vai aquela gente a um estádio. Não há pachorra.

Bem podem dizer que o futebol é um jogo de emoções. Será, se bem jogado. O que não tenho dúvidas é que, para além do jogo, há todo um conjunto de emoções, muitas delas "vestidas" de um vocabulário "rico" e ordinário, com ou sem novo acordo ortográfico.

terça-feira, dezembro 10, 2013

Ai, as dívidas!



Continuam as manifestações de alegria pelo (relativo) sucesso conseguido por Portugal na "ida aos mercados" na semana passada. É certo que não se tratou propriamente de uma ida aos mercados mas Maria Luís Albuquerque, tal como já o fizera Vítor Gaspar no ano passado, conseguiu convencer uns quantos investidores em dívida pública portuguesa a só receberem em 2017 e 2018 o que deveriam receber em 2014 e 2015. Tratou-se, pois, de uma renegociação da dívida, de um empurrar das nossas responsabilidades lá mais para a frente, para termos alguma folga durante algum tempo. Fez-se, portanto, e bem, aquilo que normalmente é conhecido por gestão da dívida.

Só que as mesmas coisas ditas ou feitas por pessoas diferentes têm, muitas vezes, interpretações diversas. Como aconteceu, e eu lembro-me bem, de quando, há cerca de um ano, José Sócrates disse numa conferência em Paris que "a dívida dos Estados não é para pagar, mas para ir pagando". Caíram-lhe logo em cima, o coitado. E ele só estava a falar na tal gestão da dívida, exactamente o que foi feito agora.

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Porque continuamos a não consumir Cultura?



A pergunta é pertinente mas a resposta não é nada fácil. Porque continuamos a não consumir Cultura? É um facto que as verbas para a cultura são cada vez mais reduzidas e, por isso, quem cria tem cada vez menos possibilidades para fazer arte, mas também é verdade que os portugueses consomem muito pouca cultura. Vão pouco ao cinema e ao teatro, muito pouco aos museus e lêem quase nada. Porquê, é a grande questão. Por falta de educação ou por falta de dinheiro?

Costuma-se dizer que primeiro temos que pôr a comida na mesa e só depois se pode pensar em alimentar o espírito. Mas pode não ser bem assim. As duas "necessidades" são fundamentais para a vida e, às vezes, é uma questão de gestão dos orçamentos. Coisa que, para as famílias, vai sendo cada vez mais difícil.

Mas números são números e segundo o relatório do Eurobarómetro, os portugueses são dos cidadãos da União Europeia, ao lado de países como a Roménia ou a Bulgária, com menores taxas de participação em actividades culturais. Só 6% dos inquiridos, em Portugal, tem uma actividade cultural frequente enquanto que, por exemplo, na Suécia (43%), Dinamarca (36%) e Países Baixos (34%) os cidadãos são muito mais participativos. Mesmo os espanhóis têm uma taxa de 19%.

Mas, por outro lado, vemos e ouvimos muita televisão - é cómodo, entra pela casa adentro e podemos ver filmes e séries à-vontade. Temos muitos iPads, iPhones, Tablets e Facebook que já nos distraem bastante. Para quê gastar mais em cultura se temos tanto entretenimento à mão?

Portanto, a crise económica pode explicar grande parte dos números (embora haja uma muitos eventos culturais gratuitos, há sítios na internet que os anunciam) mas tenho a convicção que é também uma questão de educação. Desde há muito que nos habituaram ao que é mais imediato. Para quê esperar pelo final de um livro que leva tanto tempo a ler? O que nos leva à falta de estímulo no ensino cultural nas escolas. Coisa que a sociedade em geral não tem considerado um bem essencial mas que, na verdade, é um importante investimento.

E o desinvestimento na educação e na cultura verificado nestes três últimos anos estão a destruir o muito que foi feito em tempos não muito longínquos. É preocupante, é uma vergonha e vamos pagar caro por isso.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Invictus




"Invictus", o poema do britânico William Ernest Henley


que inspirou Nelson Mandela


 

Invictus


Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que existem
por minha alma indomável

Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas continua erguida

Mais além deste lugar de lágrimas e ira,
Jazem os horrores da sombra.
Mas a ameaça dos anos,
Me encontra e me encontrará, sem medo.

Não importa quão estreito o portão
Quão repleta de castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino
Eu sou o capitão de minha alma.


quinta-feira, dezembro 05, 2013

Se o Estado fosse mais solidário ...



Gostei de ouvir, como sempre gosto, Eugénio Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa, na entrevista que concedeu à SIC Notícias. É um homem inteligente, sensato e conhecedor da realidade social no nosso país.

E gostei nomeadamente quando, referindo-se à campanha deste último fim-de-semana do Banco Alimentar Contra a Fome e à solidariedade dos portugueses que doaram 2 800 toneladas de produtos alimentares, afirmou que "o Estado arrecadou milhões com a campanha do Banco Alimentar". E acrescentou "o Estado também devia ser solidário, que é preciso não esquecer que destas ajudas, destas toneladas imensas, o Estado arrecada em IVA uma percentagem desta solidariedade. Interessante seria se o Estado fosse capaz de renunciar a este IVA e possibilitar que as pessoas ainda dessem mais”. Com essa atitude, sublinha, “acrescentávamos a estas toneladas mais 23%”.

Felizmente que Eugénio Fonseca tem um tempo de antena (que eu não disponho) que lhe permite "dar recados". Ando há anos a pregar esta "ideia absurda" que o IVA sobre os bens doados não deveriam constituir uma receita fiscal mas ser reinvestido em mais bens (alimentares ou outros) que seriam entregues às pessoas que mais necessitam. Afinal, uma tarefa que é da responsabilidade do Estado mas que ele não consegue cumprir e daí a necessidade de um trabalho imenso por parte das Instituições de Solidariedade Social.

Mas defendo igualmente que uma parte do lucro auferido pelas superfícies comerciais com as vendas neste tipo de campanhas também deveria ser entregue aos promotores dessas mesmas campanhas. Ao fim e ao cabo, nestes dias, as vendas sobem exponencialmente.

Se o problema é de ordem organizacional e, neste momento, não é possível saber-se qual a parte da factura que vai para a solidariedade ou a que se destina ao consumo próprio, então mudem-se as normas e ajustem-se as aplicações informáticas. Reorganizar é possível ... se houver vontade. E se assim fosse, poderiam, com toda a propriedade, dar sentido mais amplo à chamada "Responsabilidade Social" que tanto gostam de apregoar mas que nem sempre é tão eficaz como se pretende.

Utopia? Talvez ... mas bastava querer.

terça-feira, dezembro 03, 2013

A hipocrisia de Passos Coelho



Depois de, por duas ocasiões, membros do Governo incentivarem os portugueses a emigrar - a primeira, através do Secretário de Estado da Juventude, direccionada aos jovens em geral e, a segunda, por intermédio do próprio Primeiro-Ministro, dirigida aos professores - Passos Coelho considerou há dias que, afinal, "os jovens portugueses são uma grande esperança para a transformação da economia portuguesa e que a sua qualificação será crítica para o fim da actual crise e para evitar novas crises".

Porém, Passos não disse se incluía nestes jovens de que falava agora os professores a quem ele tinha indicado a porta de saída. Limitou-se, de forma hipócrita, a afirmar que deposita a maior esperança nesta geração tão qualificada.

Só há um pequeno problema. É que têm que dar a esta rapaziada a oportunidade de trabalharem, de produzirem, de se realizarem, de não se sentirem descartáveis e indesejados no seu próprio país. É, portanto, indispensável pôr a economia a funcionar. E, em Portugal, o desemprego jovem atingiu quase os 43%. Um número assustador. Uma tremenda tragédia.

Mensagens de esperança não bastam. É preciso mais.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

À procura de emprego ...




Em vez do envio de montanhas de currículos, um casal decidiu publicar um anúncio no Expresso a pedir emprego. Um texto bem escrito, elegante e com carradas de desespero irónico.

Rezava assim:



CASEIROS

EDUCADOS, CULTOS, POLIVALENTES


Portugueses, 50 anos, sem filhos. Pré-falidos (mas sem dívidas), elegantes e com muito boa presença. Procuramos trabalho com alojamento (não fumadores). Senhora com formação musical e desportiva (podendo ajudar com as crianças), carta de marinheiro (podendo cuidar de barco ou navegar), bons conhecimentos de cozinha. Ele atleta, ex-relações públicas e empresário. Ambos com formação pré-universitária e fluentes em inglês, francês, castelhano. Ambos carta de condução. Moramos (ainda) Cascais (Bicuda). Melhor nível Moral, com elevadíssima educação e "saber estar" inquestionável. Ambos com experiência de chefia. Aceitamos deslocar qualquer parte do país (ou mesmo estrangeiro).

Nota: Apesar de possuirmos a HUMILDADE suficiente para SERVIR, queremos informar que não possuímos mais-valias rurais ou similares.

Contactar: ...........

 
Fiquei curioso. Será que este casal educado, culto e polivalente vai arranjar emprego com facilidade?


sexta-feira, novembro 29, 2013

Hungria, a "Democracia no vermelho"



Em Junho de 2012, já lá vai mais de um ano, escrevi neste espaço um texto sobre a Hungria em que dizia, entre outras coisas:


"... a Hungria, que faz parte da União Europeia desde 2004, é um país muito bonito e Budapeste, a sua capital, que se estende por ambas as margens do Rio Danúbio, possui um património cultural e histórico muito rico. Para além disso, a Hungria é um país com grande tradição musical. A sua música popular serviu de inspiração a grandes compositores, desde Liszt a Bartók.

Mas nem a música nem a grandeza das belas pontes (a mais conhecida das quais é a magnífica Ponte das Correntes), nem os edifícios como o Castelo de Buda e o Parlamento e todos os demais cartões postais da capital magiar conseguem “apagar” aquilo em que a Hungria se está a transformar. Num Estado absolutista que tem como pano de fundo uma crise e a negociação de um resgate com o FMI, e a tornar-se num país onde a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa e política, a independência judicial e os direitos das minorias estão a ser varridos. A crise e as ameaças dos credores são, como sempre acontece, um terreno fértil para o populismo de políticos como o Primeiro-Ministro e líder do Fidesz, o partido conservador de centro-direita, Viktor Orbán"
 
Aquilo que já era verdade há ano e meio piorou de tal forma que foi agora aprovado pela Comissão Europeia um relatório elaborado pelo euro deputado português Rui Tavares em que a CE suspendeu todas as negociações com a Hungria até que o país reponha o Estado de Direito.

Pela primeira vez na história da União Europeia (UE), um Estado-membro é acusado de violar os valores europeus. Na verdade, o Governo húngaro impôs limitações à liberdade de expressão, nomeadamente na Comunicação Social, afastou juízes incómodos e enfraqueceu o Tribunal Constitucional. Criminalizou os sem-abrigo, que retirou das ruas mais frequentadas da Capital Húngara, e permite que organizações de extrema direita persigam, matem e destruam bens de judeus e ciganos. Acções iguais às que tiveram lugar no tempo de Hitler, a quem a Hungria se juntou.

E os horrores desses tempos levados a cabo pelos nazis húngaros são recordados, por exemplo, no "Monumento dos Sapatos" (foto acima), localizado na margem do rio Danúbio, em homenagem às vítimas do Holocausto judeu. Os sapatos eram um bem escasso e caro, e por isso antes de assassinarem os judeus e jogá-los no rio, os seus algozes tiravam os seus sapatos. Às vezes, amarravam casais de judeus e disparavam contra um deles, fazendo que o baleado acabasse por arrastar o outro para o fundo do rio, como uma âncora.

A Hungria, os seus cidadãos e a Europa não necessitavam, nem mereciam, a actual política húngara.


quinta-feira, novembro 28, 2013

Violências ...



Quando, na semana passada, na Aula Magna, Mário Soares, sem meias palavras, pediu a demissão do Governo e do Presidente da República, ele "avisou" também que “a violência está à porta”. Foi um "Deus que me acuda", com muita gente a gritar que o homem não estava bem, que andava a incitar à violência e que este tipo de incitamento é anti democrático.

Pois bem, esta terça-feira, o Papa Francisco disse que "a exclusão e a desigualdade social provocarão a explosão da violência".

Mário Soares e o Papa Francisco disseram exactamente o mesmo: “a violência está aí”. E eu creio que tanto um como o outro não estão certamente a incitar à violência. É que o desespero dos cidadãos perante as revoltantes desigualdades sociais e o avolumar da crise que nos está a "matar", podem suscitar reacções mais perigosas.

E, como sabemos, a violência gera violência.

segunda-feira, novembro 25, 2013

Dois consultórios ...




Há uma grande diferença entre os utentes dos consultórios da província e os dos consultórios das grandes cidades.

Na província - naquilo a que eu chamo a província propriamente dita, não às grandes cidades de província - a maior parte das pessoas entra na sala de espera, faz questão de dar os bons dias, as boas tardes, ou o que seja, a quem lá se encontra e uma boa parte dos presentes responde ao cumprimento. Depois, tudo é mais familiar. As pessoas, de uma forma geral, gostam de se inteirar sobre o tipo de doença que aflige quem está sentado mais próximo e, quase de seguida, não resistem à tentação de aconselhar o que acham mais adequado para combater esses males. Todos já tiveram um familiar ou um amigo que teve uma coisa parecida e, juram, que se não fossem aquelas inalações mentoladas e/ou uns determinados comprimidos de que, em regra, não recordam o nome, a doença não se teria ido embora tão depressa.

Não está ali em causa que cada caso é um caso nem que a dosagem dos tais comprimidos provavelmente não seria a indicada para aquela situação.

A simpatia e a boa fé, a sinceridade com que dão o conselho, é tocante. Tanto que a maioria desses conselhos já serão suficientes para dispensar a própria consulta ao médico, o que, afinal, os levara até ali.

Quando chega a vez de alguém ser chamado para a consulta, a pessoa que sai da sala, invariavelmente deseja “as melhoras a todos” e todos agradecem em uníssono.

Já nos consultórios das grandes cidades toda a gente está em silêncio. Enquanto que uns vão passando os olhos pelas revistas, outros, a maioria, vai observando disfarçadamente os seus companheiros de sala, na tentativa de perceber quem são eles e que é que fazem na vida. “Aquele engravatado ali deve ser um gajo importante, tem uns sapatos bonitos e bem engraxados e o fato é dos bons. Deve ser dos que manda …”.

Para além dos pensamentos mais ou menos enviesados, ninguém se incomoda em perguntar a quem está sentado ao lado do que é que se queixa. Ainda que esse alguém tenha um ar cansado e os olhos mortiços e meio fechados, quem é que se atreve a perguntar o que é que ele tem? Quem é que se arrisca a ter como resposta “Oh homem estou cansadíssimo e cheio de sono”?

Quando alguém entra na sala, não se lhe ouve um cumprimento que seja. Talvez porque vem distraído com os seus inúmeros problemas.

Às vezes, mas só se estivermos muito atentos, ainda se ouve um murmúrio que se pode assemelhar (levemente) a uma saudação. Mas a voz sai surda, imperceptível.

E o mesmo se passa quando alguém sai do consultório. Passa na sala pelos que esperam sentados a sua vez e, nem ai nem ui, vou à minha vida que tenho mais do que fazer.

A maioria de nós já passou por estas experiências. Mas, a menos que eu ande distraído, toda aquela gente – tanto nos consultórios da província como nos das cidades - são apenas pessoas. Só que, seguramente, são pessoas diferentes ...


sexta-feira, novembro 22, 2013

Poeminha Tentando Justificar Minha Incultura



De Millor Fernandes

"Poeminha Tentando Justificar Minha Incultura"


Ler na cama
É uma difícil operação
Me viro e reviro
E não encontro posição.
Mas se, afinal,
Consigo um cómodo abandono,
Pego no sono.


 

quinta-feira, novembro 21, 2013

Compromissos ...



Quando Passos Coelho pede aos parceiros sociais um compromisso mas, ele próprio, não se quer comprometer com coisa alguma ou quando pede um acordo urgente com o Partido Socialista depois de meses a fio ter ignorado ostensivamente o principal partido da oposição, porque carga de água é que, agora, eu devia ficar admirado com o facto do PSD estar a preparar o seu próprio guião da reforma do Estado?

Não foi já apresentado um guião pelo CDS, partido da coligação que suporta o Governo, para reformar o Estado ? O que fizeram ao "papel", perdão, ao documento que foi elaborado pelo Vice-Primeiro Ministro, Paulo Portas, líder do CDS?

Diz o porta-voz dos sociais-democratas, Marco António Costa, que o PSD está a recolher contributos dos parceiros sociais para elaborar um documento próprio sobre a reforma do Estado.

Já nem os partidos de coligação conseguem chegar a acordo.

Depois de tantos compromissos jogados fora, o PSD chegou finalmente à conclusão que, agora sim, está na hora de reunir "o máximo consenso possível e fará seguramente do ano de 2014 um ano crucial no diálogo social e no diálogo inter-partidário". Será que ainda vai a tempo? Será que ainda haverá interlocutores capazes de esquecer que, num passado recente, viram rasgados compromissos assumidos?

A não ser que a língua portuguesa não seja o forte dos partidos da coligação. Depois de manifestarem total desconhecimento do que quer dizer a palavra IRREVOGÁVEL, provavelmente também não sabem o que é um COMPROMISSO.

quarta-feira, novembro 20, 2013

Vergonha é o que não falta ...




O título do texto de hoje "roubei-o" a uma crónica escrita pelo jornalista Henrique Monteiro. Mas não lhe "roubei" a indignação que ele sentiu quando soube de mais uma pantominice vinda de um membro do Governo, porque eu (e provavelmente muitos mais portugueses) ficámos igualmente varados de indignação.

Então não é que Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura, contratou um jovem do PSD para o seu gabinete a quem vai pagar, como adjunto, mais de três mil euros mensais. Logo num Departamento que vai cortar nas verbas da cultura no próximo ano e vai reduzir 15 milhões de euros em custos com o pessoal?

Porém, ao ler-se o currículo do jovem adjunto de 24 anos - João Filipe Vintém Póvoas - compreende-se logo a mais-valia que vai acrescentar à Secretaria de Estado porque a sua qualificação esmaga qualquer um: três workshops no Centro de Formação de Jornalistas (Cenjor), um de Edição de Vídeo e Áudio Digital, outro em Apresentação de Directos em Televisão e o terceiro em Atelier de Programas Televisivos. A sua experiência profissional é igualmente relevante: fez o estágio de jornalismo na Rádio Renascença onde trabalhou oito meses e foi durante cinco meses consultor de comunicação do ... PSD!
 
 
Mais do que justa - e necessária (pela qualidade atrás descrita) - esta escolha do novo adjunto que se irá juntar à equipa da Secretaria de Estado da Cultura composta por mais três adjuntos, sete técnicos especialistas, duas secretárias pessoais, chefe de gabinete, dez técnicos administrativos, três técnicos auxiliares e três motoristas. Um mar de gente para administrar uma área que irá ter uma actividade muito mais reduzida no próximo ano pela redução do orçamento.

É obra, digo eu. Escasseia o dinheiro para a cultura e há que fazer cortes. No entanto, para a rapaziada amiga, faz-se um sacrifício. O rapaz promete e só vai ganhar três mil euros por mês. Mais do que ganha um director de serviços, mais que um juiz, o mesmo que um coronel, o dobro de um professor.

Falta o dinheiro mas vergonha é o que não falta ...


terça-feira, novembro 19, 2013

Imbecilidades ... com todo o respeito



Tentei não dar qualquer importância à entrevista que João César das Neves concedeu à TSF/DN. Da mesma forma que fugi à tentação de escrever sobre Margarida Rebelo Pinto que na outra semana também se lembrou de dizer umas palermices ...

Mas César das Neves tirou-me do sério. Apeteceu-me imediatamente chamar-lhe nomes, tal como já fizeram muitos milhares de frequentadores das redes sociais. Mas, porque sou educado, vou apenas destacar dois ou três aspectos que me incomodaram mais.

Os temas que ele escolheu para o debate foram a crise demográfica, o corporativismo e a orientação económica para Portugal num mundo em mudança. E não pondo em causa as suas convicções - são apenas e só as suas convicções - o que questiono é a sua falta de sensibilidade e a crueza de algumas afirmações que mostram bem a distância enorme que existe entre a classe social a que pertence e o comum dos cidadãos.

Afirma, por exemplo, que a quebra da natalidade deriva de razões culturais e não das financeiras ou económicas. "A ignorância é muito atrevida", como dizia o meu pai. O que leva a que a maioria dos casais não tenha filhos são justamente as dificuldades económicas. A falta ou a precariedade do emprego e os baixos salários são motivos mais do que suficientes para que se pense seriamente antes de ter filhos. Se para dois não dá, para mais um - em condições mínimas de conforto e dignidade - não dá mesmo.

Quando ele diz que o Tribunal Constitucional não tem estado a funcionar em termos jurídicos, mas políticos, não percebi se quem estava a falar era o economista vestido de político ou se o político de direita conservadora disfarçado de economista.

Mas onde as suas palavras me chocaram mais foi quando afirmou que a maior parte dos pobres não são pobres e estão a fingir que são pobres (embora não se saiba qual o seu critério de pobreza), que a maior parte dos pensionistas estão a fingir que são pobres (embora se ignore se se está a referir aos que auferem pensões milionárias, e que, obviamente, não são a maioria) ou que aumentar o salário mínimo é estragar a vida aos pobres (embora também não se conheça se ele estará a pensar que a um aumento de pensão possa corresponder um aumento de mais comida, de obesidade e falta de saúde).

João César das Neves não conhece as condições de vida da maioria dos portugueses. Vê que os bons restaurantes que frequenta estão cheios, que os carros continuam a circular em grande número pelas ruas e estradas e afere o bem-estar dos cidadãos apenas pelas pessoas que "habitam" à sua volta. César das Neves só vê metas e gráficos e por eles julga (mal) a corja que se diz pobre mas que não o é, e que ganha salários que são exagerados e deviam ser reduzidos.

Insensibilidade pura. Imbecilidades ... com todo o respeito

segunda-feira, novembro 18, 2013

O direito a viver com dignidade ...


Entendo os que defendem que é impossível continuar a sustentar todos os direitos sociais que fomos "ganhando" desde 1974. Compreendo e aceito os argumentos e, se formos honestos, admitimos claramente que a riqueza que produzimos não chega para cobrir todas as despesas inerentes ao universo gigantesco daquilo a que chamamos o "Estado Social". E os argumentos nada têm de ideológico. Dou três exemplos: hoje as pessoas vivem mais tempo do que antigamente, por isso se pagam durante bastante mais anos pensões de reforma; há menos gente a trabalhar e, daí, haver menos pessoas a descontar; as empresas são cada vez em menor número, donde, também não pagam impostos. Enfim, as ideologias não cabem nesta discussão. É uma questão matemática que só diz respeito ao "deve e haver".

Claro que neste ponto da narrativa invariavelmente se olha para as PPP e para as respectivas rendas. É verdade que se podia ir muito mais longe, seria infinitamente mais justo, mas isso não altera, por aí além, a realidade dos factos. E é aqui que nos viramos para o papel fundamental que nós achamos caber ao Estado: o da correcção das injustiças e o da protecção a quem, completamente desvalido, tem o direito de viver com dignidade. E também é para isso que pagamos impostos.

As palavras de D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa, vêm ao encontro exactamente desta perspectiva da protecção do factor humano: "Precisamos que as pessoas sejam justamente remuneradas". E diz que "não concorda com a sugestão do Fundo Monetário Internacional, para se baixar salários. Na actual situação de crise, o Governo deve apostar na promoção do trabalho".

Ao que eu acrescento, o que de facto está em causa são as pessoas. E, pelo seu trabalho, a possibilidade da economia poder reanimar.


sexta-feira, novembro 15, 2013

Enfim, uma boa notícia




No meio do imenso desânimo em que nos encontramos, é bom que haja, uma vez por outra, uma noticiazinha, por insignificante que seja, que nos levante a já pouca auto-estima que alguns teimam em eliminar de todo.

Mais do que a saída da recessão (ainda que de forma tão ténue), a notícia que hoje me deixou feliz foi a de saber que, quanto ao domínio da língua inglesa, num ranking de 60 países (em que os primeiros continuam a ser os escandinavos), Portugal ficou classificado num honroso 17.º lugar, à frente da França, da Espanha e da Itália.

E mais feliz fiquei porque sendo a língua inglesa verdadeiramente universal e um instrumento de trabalho e de expressão indispensável, Portugal apesar de dominar o inglês de forma invejável, continua a promover a aprendizagem e o aperfeiçoamento do inglês, o que põe o nosso país em sexto lugar, à frente da maior parte dos países europeus.

Mas atenção, apesar da minha satisfação por dominarmos a língua inglesa ao nível dos melhores, não esqueço o que sempre tenho dito. A nossa língua materna é o português e é absolutamente necessário que a aprendamos e a usemos bem. Melhor do que a todas as outras.


quinta-feira, novembro 14, 2013

Desemprego na Suécia?



A crise anda por todo o lado, até nos países considerados mais ricos como é o caso da Suécia. Enquanto que por essa Europa fora fecham lojas e empresas e há um número crescente de desempregados, na Suécia (onde também há desemprego) os que agora correm um risco iminente de perder o emprego são os guardas prisionais. Porquê? Porque o número de prisioneiros diminuiu tão drasticamente nos últimos dois anos que as autoridades decidiram fechar quatro prisões e um centro de detenção preventiva. Em suma, não há presos que cheguem para as estruturas existentes.

Um responsável de uma prisão afirmou que houve um declínio fora do comum no número de presos (embora não se saiba bem porquê), se bem que, desde 2004, já se registava uma diminuição de 1% ao ano. Em 2011 e 2012 essa queda foi de cerca de 6%, e a expectativa é que continue assim neste ano e no próximo.

Claro que a Suécia continua a ter presos (em 2012 havia 6.364 presos, qualquer coisa como 67 pessoas em cada 100 mil habitantes, embora 30% dos prisioneiros sejam estrangeiros), mas o encerramento das quatro prisões por falta de clientes deixa-nos preocupados. O que se estará a passar?

Mas nem tudo é mau. Se atendermos às boas relações que existem entre os dois países - e aqui não estou a considerar quem é que se vai apurar para ir à fase final do Campeonato do Mundo de Futebol no Brasil (as selecções de Portugal e da Suécia resolverão isso nos próximos dias) - considero que estamos em condições de pedir aos nossos amigos suecos que nos cedam algumas das instalações agora desactivadas. Teríamos, então, espaço para alojar por lá toda a canalha que, cá no burgo, anda metida em esquemas de corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influências ou quejandos. E são muitos. Assim a nossa justiça os condenasse ...


quarta-feira, novembro 13, 2013

A ira espanhola evidenciada nas notas de euro



É grande o descontentamento dos portugueses. Por todas as razões e mais uma. Uma que poderá ter a ver com o que o Governo anda a dizer: "que tudo está a correr melhor quando para nós tudo está pior". Descontentamento e revolta que se avolumam quando se sente que os caminhos (os erros) que nos levaram à actual situação jamais serão alterados. Por ideologia, por medo ou, simplesmente, por incompetência. E de que forma manifestamos a nossa indignação? Normalmente em greves e nas ruas em manifestações que, felizmente, são pacíficas e que, ao contrário de outros países, não apelam à destruição. Só queremos ser ouvidos o que, reconheça-se, de pouco nos tem servido. Mas atenção, é bom que não confundam o nosso "bom comportamento" com aquilo que muitas vezes se diz por aí, de sermos "um povo de brandos costumes". A nossa História mostra bem que não somos nada disso.

Aqui ao lado, os nossos vizinhos espanhóis, mais temperamentais do que nós, têm mostrado nas ruas um comportamento bem diferente do nosso. Mas agora, a sua revolta contra a austeridade ganhou uma nova forma de expressão. A sua contestação, que está a tomar uma dimensão enorme através das redes sociais, está a assumir uma forma específica: escrever mensagens nas notas de 5, 10, 20 e 50 euros.

Será que a moda vai pegar em Portugal? Ver, por exemplo, numa nota de 5 euros uma frase do tipo "Passos demite Machete. Já chega!". Espero que não. A acção é meramente simbólica e escrever expressões indignadas nas notas não vai resolver o que quer que seja. O que os portugueses querem realmente é mais ... notas e políticas que nos tirem deste fosso de que parece ser quase impossível sair.


terça-feira, novembro 12, 2013

Um erro caricato




Já se sabe que os erros acontecem. "Só não acontecem a quem não trabalha", como dantes se dizia para justificar quem errava. Mas, convenhamos, há erros e erros. E, sobretudo, há erros que, com os meios informáticos disponíveis, não são de todo aceitáveis.

Como aquele em que um homem foi notificado pelo Instituto da Segurança Social para devolver 41,10 euros devido a acertos de contas. Um homem que tinha uma "gravidez de risco", segundo rezava a carta da Segurança Social. Um caso que não podia ser mais caricato.

O homem, como é óbvio, nunca esteve grávido. Não podia (claro está), tal como não podia ter acontecido que a aplicação da Segurança Social admitisse que uma pessoa do sexo masculino pudesse estar grávida. Um erro de programação perfeitamente evitável.

O Sr. Albino Ribeiro, o pacato cidadão que se viu envolvido nesta embrulhada, embora tendo a certeza de que nunca estivera grávido, decidiu pagar imediatamente a importância reclamada e ficou à espera que a situação fosse esclarecida. E foi, o ISS assumiu o lapso, os ânimos ficaram apaziguados e o Sr. Ribeiro só não conseguiu ser ressarcido dos euros pagos porque, afinal, as contas por acertar diziam respeito a um subsídio de refeição pago indevidamente.

O assunto está resolvido e as desculpas foram apresentadas. Resta saber se a aplicação em causa foi alterada de imediato.


segunda-feira, novembro 11, 2013

E se dúvidas houvesse ...



Quando soube que as grande superfícies se recusavam a pagar uma certa taxa, não pude deixar de pensar na já velha (mas verdadeira) frase da nossa esquerda mais à esquerda: "o Governo é forte com os fracos e fraco com os fortes". E porquê?

Aos reformados, por exemplo, ninguém lhes perguntou se estavam interessados em pagar a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES), que constituiu uma forte machadada nas pensões e reformas e que era para ser paga, a título extraordinário, só em 2013 mas que já se adivinha que vai ser definitiva. Os pensionistas e reformados bem protestaram (através da sua associação, a APRe, ou noutros fóruns) e continuam a manifestar-se sem que alguém lhes ligue a mínima. São cada vez mais esquecidos e desrespeitados. Paguem e pronto.

Já em relação àqueles que têm poder, a questão é bem diferente. Quando foi aprovada uma taxa de segurança alimentar que seria paga pela distribuição às organizações de produtores pecuários pelos serviços prestados na área da sanidade animal, as grandes superfícies opuseram-se. Apenas os pequenos distribuidores pagaram enquanto os grandalhões deram instruções aos seus gabinetes de advogados para se encarregarem das competentes acções judiciais. Assim, do esperado encaixe financeiro de 17 a 18 milhões de euros com o pagamento desta taxa, em 2012 e 2013, o Estado só recebeu 3 milhões de euros. As grandes superfícies disseram não à lei.

Independentemente de sabermos se mais tarde as grandes superfícies virão, ou não, a pagar, o que constatamos uma vez mais é que quem não tem poder reivindicativo paga, quanto aos outros logo se vê o que acontece, sendo que o mais certo é levarem a sua avante, isto é, não pagarem. Não é por acaso que se diz que "há justiça para ricos e justiça para pobres" ou "educação para ricos e educação para pobres". Existe, de facto, na sociedade uma descriminação entre os que são mais débeis e os que têm maior poder económico. Ou estarei a exagerar?

quinta-feira, novembro 07, 2013

O Governo vai dar automóveis ... a quem pedir factura.



Finalmente o fisco vai dar alguma coisa aos Portugueses. Pois é, já a partir de Janeiro do próximo ano, o Governo vai sortear automóveis todas as semanas. Aliás, segundo li, o Ministério das Finanças está a ponderar a hipótese de sortear um carro de gama superior e outros dois de cilindrada mais modesta. Agora é que vai ser um fartote de carros novos a rolar por aí. Para ir renovando o parque automóvel que tende a envelhecer porque os portugueses não têm cheta para trocar de carro? Não, a ideia é incentivar os consumidores a pedirem facturas e, por esta via, minimizar os efeitos da economia paralela (em Portugal, em 2012, representava 26,74% do PIB). Por outras palavras, o Governo quer prevenir a fraude e a evasão fiscal, ou seja, quer obrigar os comerciantes que ainda fogem aos impostos, a pagar o IVA e todos os outros impostos devidos ao Estado.

Para ficarmos habilitados - cientes, embora, que, uma vez mais, estamos a assumir o importantíssimo (e mui digno) papel de fiscal por conta do Estado - é só pedir facturas de tudo aquilo que se compra, (não esquecer que a factura tem de ter o número fiscal) e pronto. Depois, resta aguardar pelo resultado do sorteio.

E a brilhante ideia vai ao ponto de não excluir quem já tenha ganho um carro em lotaria anterior. Se o cidadão consumidor tiver sorte pode ganhar carros e mais carros.

A partir de 2014 vai ser uma roda viva de pedinchice de facturas: do café, do jornal, do supermercado, do gasóleo, de tudo o que for compra, zás, peço uma factura. Por ora, estou a organizar-me. Já redigi um pedido à minha Câmara Municipal para me disponibilizar um espaço amplo perto da minha casa para poder albergar tanto carro que vou ganhar. E, quem sabe, se em tal número, que poderei vir a abrir um negócio de carros de aluguer.


quarta-feira, novembro 06, 2013

Ladrão sim ... insensível não




A história até parece ser um guião de uma má novela sul-americana. No entanto, e por incrível que pareça, é verdadeira e aconteceu na Indonésia.

Cinco ladrões assaltaram uma casa, munidos de facas, catanas e armas de fogo. Juntaram os adultos da casa, amarraram-nos e começaram o saque. Só que havia um bebé na casa que começou a chorar. O que fizeram os ladrões, limitaram-se a abandonar a residência com os bens roubados? Nada disso. Um deles, antes de acompanhar os seus comparsas, perguntou à mãe do bebé o que tinha de fazer para que ele parasse de chorar. A mãe (que estava amarrada) disse-lhe que o bebé tinha fome e queria o biberão - "duas colheres de leite e água quente". O ladrão pegou no bebé ao colo e deu-lhe o leite. Pouco depois, o bebé adormeceu e ele pô-lo na cama.

"Eu tenho um filho, por isso sei como adormecer um bebé” justificou mais tarde o ladrão.
 
Moral da história: "Ladrão sim ... insensível não".
 
 

terça-feira, novembro 05, 2013

Chefe da troika reformou-se ... e voltou a ser contratado



Nada tenho contra as pessoas que se reformam por opção (e dentro das condições legais previstas) e que continuam a querer trabalhar. Na maioria dos casos acham-se com capacidades para tal e, por que não, conseguem juntar a sua pensão de reforma a um novo vencimento.

Aliás, eu tive um colega que se aposentou (os amigos fizeram-lhe até um jantar de despedida) e logo no primeiro dia de reforma apresentou-se ao serviço, na mesma empresa, no mesmo local de trabalho, para fazer exactamente o que fazia há anos. Isto porque a sua entidade patronal o contratou por achar que ele era, não digo insubstituível (porque não há disso) mas fundamental para a continuidade de um trabalho de qualidade. E ele era, de facto, um excelente profissional. E assim continuou durante uns dois anos ou mais.

No entanto, parece-me que temos que olhar com outros olhos para a situação de Jurgen Kroger, que foi representante da Comissão Europeia na troika até Julho passado, que se reformou mas foi imediatamente contratado como consultor. E porquê? Porque o ex-troika, agora "conselheiro especial" da Comissão Europeia, reformou-se, aos 61 anos e foi imediatamente contratado pela mesma instituição a que pertencia para defender, entre outras coisas, a subida da idade da reforma, nomeadamente em Portugal.

E o que eu repudio neste caso é que Jurgen Kroger, que acumulará o novo vencimento com a generosa reforma a que tem direito, vai continuar a defender que a idade da reforma no nosso país deve passar para os 67 anos, enquanto ele, funcionário público europeu, se reformou aos 61. Uma coisa que nos faz recordar aquela história dos Gato Fedorento "queres que a idade da reforma seja aos 67? SIM! Mas só vais reformar-te nessa altura? NÃOooooooooooooo!".

"Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz.."


segunda-feira, novembro 04, 2013

Finalmente, o Guião de Portas ...




Valeu a pena esperar meses a fio para conhecermos o famoso "Guião para a reforma do Estado". Cento e poucas páginas (com corpo de letra excessivo e a dois espaços, para encher) com "orientações" para se atingir um Estado melhor. Pelo menos foi o que nos foi dito pelo Vice-Primeiro-Ministro Paulo Portas, autor e apresentador do documento.

Porém, a opinião da generalidade dos analistas sobre aquilo que lá se lê - quanto aos impostos, à saúde, justiça, economia, segurança social, etc. - é que se trata de um documento vazio, cheio de banalidades e que não aponta caminhos (como fazer, quem vai ser o responsável e de que maneira se vão atingir os objectivos) para se chegar à tal reforma que toda a gente reclama como absolutamente necessária.

Dentro da vacuidade do documento, achei curioso um dos enunciados que diz respeito à cultura:


"A função do Estado na cultura tem que sair da mera dicotomia entre a preservação do património e o apoio à criação artística. O Estado tem que ser cada vez mais facilitador na relação com a referência e a experiência cultural da fruição e o acesso de cada cidadão à cultura".
 
Que naco de prosa! Bonito mas inócuo, um palavreado que diz absolutamente nada.

Estamos, então, perante um guião, um manifesto eleitoral ou simplesmente o cumprimento de uma formalidade que se anunciava há muito? Pois bem, teremos que aguardar ...


quinta-feira, outubro 31, 2013

O poder pelo poder ...



Fiquei satisfeito com o acordo celebrado entre o vencedor das últimas autárquicas no Porto, o independente Rui Moreira e o candidato do Partido Socialista Manuel Pizarro. Foi, quanto a mim, a manifestação da vontade dos dois autarcas em porem, acima de tudo, os verdadeiros interesses do Porto e dos seus cidadãos em detrimento de quaisquer outros, pessoais ou partidários. Como, aliás, aconteceu também em Loures onde a CDU (que ganhou) se coligou com o PSD. Enfim, a verdadeira missão de quem quer fazer coisas em prol das cidades e dos seus habitantes.

No caso do Porto, outro, porém, foi o entendimento da Federação Socialista do Porto que considerou esta aliança negativa para o partido "uma vez que torna o PS irrelevante nos próximos quatro anos". Ou seja, independentemente dos interesses das pessoas e das preocupações da sociedade, o que os responsáveis deste órgão partidário pensam é que daqui a quatro anos, quando houver novas eleições autárquicas, e caso tudo corra bem durante este mandato, o Partido Socialista dificilmente será o vencedor. Isto é, o PS terá poucas hipóteses de conquistar a segunda Câmara do país.

A questão, mais uma vez, é a do poder pelo poder. O resto, dane-se. E eu a pensar (por ingenuidade) que o que interessava mesmo era o desenvolvimento das cidades e o bem-estar das populações .

quarta-feira, outubro 30, 2013

Mas acham mesmo que isto é jornalismo?




Parece que o assunto que está na ordem do dia é o caso da alegada violência que envolve Bárbara Guimarães e o marido, Manuel Maria Carrilho. Certa comunicação social - jornais e televisões - exibe parangonas com os pormenores mais escabrosos que conseguem imaginar. Se ela bebe, se ele lhe bate, se o padrasto tentou violá-la aos 18 anos, quem é que tem culpa de quê? E nem sequer há o pudor de fazer certas perguntas na presença dos filhos (menores) do casal, que não têm qualquer culpa das desavenças dos pais.

Eu sei que o jornalista é o profissional da notícia. O jornalista investiga e divulga factos e informações de interesse público. Mas, caramba, onde é que está o interesse público desta história? Ou a curiosidade resulta apenas de ela ser uma conhecida apresentadora de televisão e ele um ex-ministro?

O presente caso é um excelente exemplo de um péssimo e vergonhoso jornalismo. Aquilo a que eu chamo "jornalismo de sarjeta".

terça-feira, outubro 29, 2013

Governooooooooooooooo ... já ouviram falar em controlo orçamental?




No Económico de ontem li uma notícia espantosa. "O Ministério das Finanças foi surpreendido por uma derrapagem orçamental de 135 milhões de euros este ano na despesa com pessoal de uma única entidade pública". E porquê, perguntar-se-á. Diz a mesma notícia que "os gastos deste serviço não estavam a ser reportados por dificuldades informáticas e, quando os números chegaram, foram mais negativos do que o esperado".

Boa! Uma só entidade pública, por alegadas dificuldades informáticas e por que não tinha aquilo que qualquer empresa medianamente bem organizada possui a que se costuma chamar de "segunda posição", não prestou contas a maior parte do ano. Vai daí, uma valente derrapagem de 135 milhões de euros.

E eu pergunto, nunca houve por parte de quem tem a obrigação de controlar estas despesas, a curiosidade de questionar porque é que não lhe chegavam os reportes? Estariam distraídos ou a balda já faz parte do sistema? E isto aconteceu só a uma única entidade ou também a outras?

Perante o facto, parece-me que não podemos ter qualquer confiança num Ministério que, por causa de umas falhas informáticas, tenha descurado de forma tão grosseira o controlo orçamental ... se é que ele existe. Como pode o Ministério das Finanças ter ficado tão surpreendido?




segunda-feira, outubro 28, 2013

Polícia Judiciária sem dinheiro para balas?



Já todos percebemos que os "cortes" propostos no Orçamento de Estado para 2014 são feitos um bocado a eito, às cegas e sem a devida ponderação sobre a poupança/benefício/risco que comportam.

Vejamos o caso da Polícia Judiciária. Quando necessitamos da sua intervenção será que alguém pensa que a sua acção irá ser altamente prejudicada se não tiver dinheiro para químicos de laboratório, para os combustíveis dos automóveis ou para uma coisa tão fundamental numa polícia como ter balas? Não, pois não?

Pois a proposta de OE para o próximo ano prevê um corte de 100% - cem por cento - na verba para comprar munições (cada inspector da PJ faz uma média de 300 tiros por ano, entre os treinos e as operações no terreno), um corte de 67% nos produtos químicos e farmacêuticos para os laboratórios e só atribui 426 mil euros (o Conselho de Ministros vai receber 764 mil euros) para combustíveis (menos 76%), o que vai impossibilitar a PJ de fazer investigações por todo o país.

Ou seja, os cortes podem pôr em causa todo o funcionamento da Judiciária. O que poderá significar que vai haver um aumento significativo da criminalidade.

O director nacional adjunto da Polícia Judiciária já afirmou, entretanto, que o Ministério da Justiça garantiu que vai promover a alteração e reforço da fatia do Orçamento do Estado para 2014 destinada ao funcionamento da PJ. Vamos esperar.

Mas estes cortes, a meu ver, completamente incompreensíveis, nomeadamente quanto a não haver dinheiro para as balas, fizeram-me recordar aquela história da guerra do Raul Solnado em que houve alguém que, para poupar dinheiro nas balas, sugeriu que se atasse um fio a cada bala. Disparava-se a arma e depois era só puxar o fio e a bala estava pronta a ser disparada de novo.
Graças à parte, a verdade é que estamos perante uma situação deveras preocupante. E, das duas uma, ou teremos razões para estarmos inquietos com a inoperância da nossa Polícia Judiciária por falta de meios ou, simplesmente (e como o director nacional adjunto da Polícia Judiciária deu a entender), o orçamento não é para cumprir. O que já estamos habituados ...

sexta-feira, outubro 25, 2013

Quando um assaltante exige uma indemnização ...




Todos sabemos que um Tribunal é um lugar onde se administra a justiça e que esta, mais não é (ou pretende ser) do que aquilo que é justo, que é merecido. Por isso é que não consigo entender por que é que o Tribunal de Albergaria-a-Velha recusou uma indemnização de 15 mil euros a um homem que foi agredido por três pessoas que lhe deixaram algumas mazelas: uns quantos dentes partidos, uma orelha desfigurada e dificuldades de visão. Não seria mais do que justo o homem ser ressarcido pelos danos (físicos e morais) sofridos?

Ah, já me esquecia de contar: o "desgraçado" que apanhou a tareia foi surpreendido quando tentava assaltar uma pastelaria. Ele entrou de cara tapada, ameaçou o dono do estabelecimento e deu-lhe um tiro nas pernas e disparou uma segunda vez sem acertar. Só que o proprietário ainda teve forças para juntamente com a mulher e o genro imobilizar o suspeito até chegar a GNR. Enquanto esperavam, deram-lhe uma coça das antigas, certamente porque ... tinham ficado aborrecidos. Acontece, há dias assim.

Perante o pedido do assaltante - que, "coitado", já tinha sido condenado a quatro anos de prisão efectiva pelo crime de roubo qualificado na forma tentada e ao pagamento de quase 18 mil euros de indemnização - a juíza alegou que "a conduta teve cobertura do direito de exercer a legitima defesa".

Moral da história: até para se ser bandido é preciso competência.


quarta-feira, outubro 23, 2013

Depois admiram-se das coisas não correrem bem...




Os jornais on-line dos últimos dias têm noticiado o assunto, tenho recebido resmas de e-mails sobre a mesma matéria e os comentários nas redes sociais não param. De que é que estamos a falar? De dois jovens rapazes que foram contratados pelo Gabinete do Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro (Carlos Moedas) para acompanhar a execução de medidas do memorando de entendimento com a troika.

Nada teria a comentar, não fosse exactamente a pouca experiência profissional e de vida destes "especialistas", que eu julgava necessária para um trabalho desta natureza. Mas, meus Amigos, por muito bem preparados que sejam - e serão - dois mancebos de 21 e 22 anos, respectivamente, serão as pessoas indicadas para a tarefa?

Há quem diga que os jovens recém-licenciados foram contratados por um salário à volta dos mil euros para fazer um estágio no Ministério da Economia e Emprego. Há também quem afirme que o trabalho apenas durará uns meses até a troika se ir embora. Aceitaria esses argumentos se me deixassem sossegado. Mas a verdade é que não deixam e acho que, mesmo que seja por pouco tempo, seria mais avisado colocar naquele lugar pessoas com mais experiência e que estivessem mais habilitados a analisar dossiers que até são capazes de ser complicados. E quem nos garante que aquelas contratações são provisórias? É que há já quem pense na possibilidade de um segundo resgate ou um plano cautelar de apoio.

Nada contra Tiago Ramalho e Miguel Leal, claro está. A questão é o Q.I.. Não o deles (o QI - Quociente de Inteligência dos dois jovens) mas o verdadeiro QI - o "Quem Indicou" gente tão verdinha para funções tão complexas. Depois admiram-se das coisas não correrem bem...


terça-feira, outubro 22, 2013

Será o reflexo do estado da Nação?



A Bandeira Nacional (um dos três símbolos da Pátria) representa as lutas da fundação, da independência e da restauração de Portugal e os descobrimentos marítimos. Ao longo dos tempos a bandeira teve várias versões até que, após a instauração da República, foi criada a bandeira tal como hoje a conhecemos. Os seus autores foram Columbano (o pintor), João Chagas (o político) e Abel Botelho (o diplomata e escritor).

Na sua composição, todos os detalhes foram pensados e a simbologia foi perfeita: a História do país a que se juntou uma visão do futuro a que o ardor patriótico emanado do 5 de Outubro de 1910 não foi irrelevante. Mas também as cores: a verde que representa a esperança em melhores dias de prosperidade e bem-estar e também os campos verdejantes. A vermelha que representa o valor e o sangue derramado nas conquistas, nas descobertas, na defesa e no engrandecimento da Pátria. Finalmente a Esfera Armilar (onde estão representados sete castelos) que simboliza as viagens dos navegadores portugueses pelo Mundo, nos séculos XV e XVI.

E, com tudo isto, a Bandeira Nacional tornou-se num dos símbolos da Nação, que devemos respeitar.

Porém, as coisas nem sempre são lineares. Passando por cima daquele lapso de Cavaco Silva que, precisamente no 5 de Outubro de 2012, na Câmara Municipal de Lisboa, içou a bandeira ao contrário (houve quem interpretasse o facto como a imagem de um país de pernas para o ar) e de, já em Fevereiro deste ano, termos assistido à lamentável cena de ver hasteada a nossa bandeira à entrada da sede do Conselho Europeu, em Bruxelas, não com os tradicionais castelos mas com pagodes chineses, foi a vez de, há dias, numa cerimónia oficial no México, o discurso do Primeiro-Ministro, Passos Coelho, ter sido proferido com uma bandeira portuguesa "diferente" como pano de fundo. A " tosca bandeira", provavelmente "cozinhada" no México para desenrascar, ostentava a esfera armilar assente numa superfície branca (o que não acontece na versão oficial), os sete castelos interiores não estavam na posição certa, as torres não estavam voltadas para o centro do escudo, e os escudetes eram demasiado pequenos. Enfim, uma vergonha.

Pois bem, o que gostava de saber é por que se desrespeita tanto (e começa a ser demasiado frequente para o meu gosto) um dos nossos símbolos nacionais? Será que isso é o reflexo do estado da Nação?


segunda-feira, outubro 21, 2013

"Soneto de Fidelidade"




No passado sábado, dia 19, Vinícius de Moraes teria feito 100 anos. Diplomata, dramaturgo, jornalista, grande poeta e compositor brasileiro, o "Poetinha", como carinhosamente era conhecido, foi (e continua a ser) uma referência para várias gerações. Mas, como alguém disse, Vinicius de Moraes já era eterno quando morreu.

Durante toda esta semana vamos recordá-lo no blogue "Baú"
http://www.bau-demascarenhas.blogspot.com/



Hoje, ficamos com mais um belíssimo poema de Vinícius de Moraes


"Soneto de Fidelidade"

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
 

sexta-feira, outubro 18, 2013

Para quando a erradicação da pobreza?



Ontem, quinta-feira, assinalou-se o "Dia Internacional Para a Erradicação da Pobreza". Alguém deu por isso? Alguém pensou no significado de uma data que pretende chamar a atenção para uma coisa chamada pobreza?

Os cidadãos quase que não deram pela efeméride. Quanto a quem manda no país, atrevo-me a pensar que não devem ter reparado na data porque estão muito preocupados com os números do défice e da dívida externa e com a reestruturação do Estado (seja isso o que for) de que estamos à espera desde o princípio do ano.

E não querendo cair na demagogia de dizer que esses tais números não são importantes, prefiro sublinhar que há pessoas para além do défice. Infelizmente a realidade tem-nos mostrado que não passam de números que podem dar jeito em eleições e são absolutamente necessários para pagar impostos e pouco mais.

Ainda ontem o presidente da Cáritas Portuguesa alertava "que há cada vez mais pessoas em situação de pobreza extrema em Portugal, porque lhes foi retirada a principal fonte de rendimento, o trabalho".

E a verdade é que há cada vez mais pessoas a cair na pobreza mais severa, vítimas, em grande parte, das medidas de austeridade que brutalmente têm sido aplicadas nos últimos anos.

Perante as dificuldades crescentes da população, a Cáritas, as Misericórdias e tantas outras Instituições de Solidariedade espalhadas pelo país lá vão mitigando as necessidades básicas dessas pessoas, nomeadamente alimentando-as. E hoje, para além dos carenciados tradicionais, já há casais que pertenceram a uma classe média e a uma classe média alta que têm procurado o apoio dessas instituições. Embora estas tenham uma importância fundamental, o facto é que os apoios sociais não conseguem, por si só, combater o problema da pobreza. São necessárias estratégias para que as pessoas possam voltar ao mercado de trabalho. E o objectivo de reduzir a pobreza não está a ser levado a sério.

Em comunicado, a EAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal, afirmou que "as políticas macroeconómicas têm prejudicado o consumo e têm gerado um aumento da pobreza, minando as bases do Estado social. O fosso das desigualdades está a aumentar por via do ataque aos níveis de rendimento (salários e apoios ao rendimento) e do falhanço ao nível de uma distribuição mais justa, por meio de uma tributação progressiva".

Não posso estar mais de acordo. O alerta da EAPN reflecte o problema de fundo: "está em causa a coesão social e a estabilidade". Ao que acrescento, "a pobreza e a democracia são incompatíveis".


quinta-feira, outubro 17, 2013

Sorteios, promoções e brindes é tudo o que o meu povo gosta



"Enlouqueceste?", "Passaste-te para o outro lado?", "Àquela hora em que estavas a escrever, estavas mesmo acordado?" ou "Aquilo foi escrito com ironia ... certo?" foram algumas das interrogações que recebi de Amigos que se mostraram preocupados com o que escrevi no meu post de ontem.

Sosseguem, Queridos Amigos, que eu estava bem acordado àquela hora (como poderia não estar?) e que, sim, para não entrar em profunda depressão resolvi empregar a ironia. Aliás, até ontem, eu julgava que havia três tipos de pessoas: as que gostaram das medidas severas do novo OE, as que não gostaram mesmo e as que não gostando ainda achavam que tanta austeridade, se calhar, era uma inevitabilidade. Pois bem, resolvi que eu passaria a estar integrado num outro grupo formado por pessoas que acharam as medidas tremendamente injustas (muitas delas estúpidas porque não vão passar no TC ou, se forem aplicadas, não vão resultar), e que por acreditarem que existem alternativas, podemos escolher uma das duas opções: ou atiramo-nos de uma ponte (eram uns quantos a menos a pesar nas contas do Estado) ou tentamos levar a coisa com alguma ironia (tanto quanto é possível, face às circunstâncias). Eu optei pela segunda hipótese.
Mas se ontem eu passei a ideia de estar feliz com o desastre que nos vai cair sobre as cabeças já em Janeiro próximo, hoje quero - à séria - mostrar a minha esperança por uma medida que o Governo lançou para nos fazer acreditar que nem tudo é tão ruim. De que falo? De uma notícia que foi posta a circular "Governo sorteia prémios com valor global anual até 10 milhões a quem pedir facturas". Um (novo) sorteio que abrange as pessoas que tenham pedido facturas e ajudado, com isso, a evitar a evasão fiscal.

Depois de, em 2013, o Governo (sempre a pensar no bem-estar dos cidadãos) ter criado um regime de dedução em sede de IRS, correspondente a 5% do IVA pago por cada contribuinte nas facturas de oficinas de automóveis, alojamentos, restauração e cabeleireiros e de, já em Maio deste ano, ter passado o incentivo de 5 para 15% do IVA pago (embora tenha mantido o limite máximo nos 250 euros. Convém não abusar), lançou agora este "sorteio" que, acho eu, ainda ninguém sabe em que consiste.

Diz-se que é “um sorteio específico para a atribuição de um prémio às pessoas singulares com um número de identificação fiscal associado a uma factura” que tenha sido comunicada à Autoridade Tributária. Mas, claro, que o que se percebe é que, mais uma vez, vamos ser promovidos a fiscais do Estado para tentar impedir a fraude e a evasão fiscais. Só que, como se trata de um sorteio (de que não se conhecem as regras, insisto), é preciso sorte para se ganhar o prémio. Prémio que poderá ser pago não sei se em dinheiro ou em géneros. Da minha parte, (embora agradecendo ao Governo o ter-se lembrado de mim uma vez mais ... sempre que precisa) e porque não tenho sorte ao jogo, não fico com grandes expectativas. Vamos ver. O que sei é que sorteios, promoções e brindes é tudo o que o meu povo gosta!