sexta-feira, setembro 29, 2006

Um ‘tacho’ vitalício

Sempre achei que, para além do mérito e do trabalho de cada um, a vida de um indivíduo pode ser determinada pelo facto de se estar no sítio certo à hora exacta.

Embora com a distância de muitos anos, Sequeira Braga e eu trabalhámos na mesma empresa, mas nunca nos cruzámos nem nessa empresa nem noutro sítio qualquer. Ele não faz a mínima ideia de quem eu sou e eu conheci-o através dos meios de comunicação social, onde fui sabendo dos cargos que ia ocupando, nomeadamente de Secretário de Estado dos Transportes e Comunicações (no 1º. Governo de Cavaco Silva) e, mais tarde como presidente da EPUL – Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, uma empresa que tem como única accionista a Câmara Municipal de Lisboa.

Portanto, como não nos conhecemos, era muito difícil que eu pudesse estar no sítio certo e à hora exacta quando Sequeira Braga decidiu criar 15 novos cargos para nomear 15 directores vitalícios para a EPUL, à revelia, aliás, do único accionista, de que era, então, presidente Santana Lopes e que, neste caso, parece estar completamente isento de qualquer responsabilidade.

Os tais 15 directores vitalícios custam ao erário público nada menos de 1,2 milhões de euros por ano e, como não foi definido o período pelo qual foram contratados, só podem ser demitidos ou perderem as regalias (que não devem ser poucas) se houver justa causa ou com o seu consentimento, que obviamente, eles não darão.

Seis desses quadros superiores ganham mais do que o presidente da própria empresa e um deles, o director de Planeamento, que custa à EPUL 10.700 euros por mês chega mesmo a ganhar mais do que o Primeiro Ministro e do que o Presidente da República. Uma imoralidade completa.

Agora, parece que a CML pretende moralizar e terminar com situações deste tipo. Acredito que sim mas quanto àqueles 15, o que vai acontecer? Para já, e a partir do início deste ano, a CML decidiu congelar os salários destes directores, mas não se ouviu uma palavra que fosse, quanto às intenções da Cãmara e do próprio Estado de accionar cível e criminalmente Sequeira Braga.

Uma vez mais a irresponsabilidade de alguns e a falta de controlo das contas públicas constantemente demonstrado, fazem-nos olhar para o Estado com desconfiança. Que diabo, as situações sucedem-se e nós contribuintes vamos dando conta como as Instituições Públicas continuam a desbaratar o nosso dinheiro.

quarta-feira, setembro 27, 2006

A reforma

Numa altura em que tanto se discute o modelo da Segurança Social e em que tão poucas respostas nos são dadas às inúmeras questões que se têm colocado nestes últimos anos - em parte por causa das diversas ideologias - parece-me oportuno publicar, na íntegra, um texto do Professor Carlos Pereira da Silva, professor do ISEG e publicado recentemente no Diário Económico.

"Chamo-me Álvaro Campos e Silva, tenho 43 anos, feitos em 13 de Junho de 2006. Ganho 782 euros como adjunto de guarda livros num escritório da Rua dos Douradores. A minha mulher, um ano mais nova, é empregada num comércio de tecidos da Rua dos Fanqueiros. Tenho uma filha de 18 anos, que se candidatou, este, ano à Universidade e um menino de 11 anos, que vai agora para o Secundário. Os meus pais, já velhotes, estão reformados e moram na Madragoa num 3º andar de um prédio antigo. A pensão do meu pai com 65 anos é de 347 euros e a da minha mãe com 63 anos, reformada por invalidez, é de 313 euros.

Li que estão a mudar as regras de cálculo da pensão de velhice e que há estudos que mostram que o Estado não tem capacidade financeira para garantir a promessa que me fez. É verdade que nada ficou escrito, quando em 1984, aos 21 anos, comecei a trabalhar e a descontar para o Regime Geral da Segurança Social. Mas sempre ouvi dizer que o Estado era uma pessoa de bem! Ainda me lembro bem de o Coelho, do Expediente, me ter dito que a minha pensão seria calculada com base na taxa de formação de 2% ao ano, na carreira contributiva até aos 65 anos e na média dos 5 melhores salários dos últimos dez anos. Para mim, a reforma era longe e, por isso, não fiquei impressionado quando o Costa, do Pessoal, me informou que para uma carreira de 40 anos eu iria ter uma pensão equivalente a 79% do meu último salário (com base num ganho salarial real sobre a inflação de 0,5%). Casei-me, em 1987, com 24 anos, e a Madalena, a minha filha, nasceu um ano depois. Foi nessa altura que eu e a Helena, a minha mulher, decidimos comprar um apartamento com 4 assoalhadas em Paço de Arcos. Pedimos um empréstimo ao Banco a pagar durante 25 anos.

A nossa vida, nesse período, não foi fácil. As creches públicas eram raras e as particulares caras. A prestação da casa, a água, a luz, o telefone e os transportes levavam mais de metade do meu vencimento. Com o resto pagávamos a creche da miúda e alguma roupa nova. O ordenado da minha mulher era para comida, alguma extravagância pontual e a prestação do carrito. Ao fim do mês sobrava muito pouco na conta bancária. Em 1992, o Governo alterou as regras de cálculo da pensão. A partir desse ano, em vez dos 5 melhores salários dos últimos 10 anos, passou a usar os melhores 10 salários dos últimos 15 anos. O Costa fez uma simulação da minha pensão que baixava para 78% do último salário. Mesmo assim, não era nada mau. Não fiquei muito preocupado e como tinha outras prioridades não fiz nada.

Em 2001 mudaram outra vez as regras de cálculo da pensão. Em vez de se basearem nos melhores 10 salários dos últimos 15 anos passou a considerar-se os salários de toda a carreira contributiva. Para além disso a taxa de formação da pensão passava de 2% ao ano, para um valor do intervalo entre 2.30% e 2%, consoante os múltiplos do salário mínimo nacional que compunham o salário do trabalhador. Pedi ao Antunes, do Pessoal, para me fazer a simulação da pensão (o Costa já estava reformado) e o valor provável a que chegou foi de 69% do salário final. Perdia cerca de 10 pontos percentuais em relação à previsão de 1984!

Mas aos 37 anos eu era um felizardo. Como já tinha 16 anos de contribuições efectivas, beneficiava de uma tripla opção. Quando me reformasse eu podia escolher a mais elevada das pensões: a calculada com a fórmula antiga, a resultante da fórmula nova, ou a combinação, proporcional ao tempo, da nova e da antiga fórmulas. Ou seja eu ficava com 78% do salário final com que já contava. Não fiz nada porque tinha outras prioridades. E chegamos a 2006 quando de repente o céu cai sobre a minha cabeça.

Aos 43 anos, hoje, decretam que:
1) já não há opção e a minha pensão será uma combinação de fórmula antiga e fórmula nova;
2) para além disso, como me vou reformar em 2028, serme-á aplicado um factor de redução da pensão (factor de sustentabilidade) que depende da futura esperança de vida aos 65 anos. A minha pensão, segundo o Antunes, pode chegar, com sorte e se não houver outras alterações, a 65% do último salário, ou seja menos 14 pontos percentuais em relação à promessa de 1984. Acontece que agora tenho de fazer qualquer coisa. Tenho de poupar! Mas como, se tenho ainda um empréstimo para pagar, com os juros a subirem? Mas como, se tenho .encargos com as propinas da Universidade da minha filha e os estudos do miúdo? Mas como, se tenho os velhotes que precisam de uma pessoa para cuidar deles?

Parece que a pensão dos meus filhos não será superior a 55% do salário final, como na Finlândia, país que, como se sabe, tem outras condições de vida, quer no apoio aos que nascem e aos jovens casais, quer na garantia de uma vida digna aos seus velhotes. Se eu precisar, e Deus queira que não, será que eles me poderão apoiar como eu ajudo hoje os meus pais?

Dizem que as alterações são para corrigir injustiças e para compensar o aumento da minha longevidade. Não contesto. Mas será que viver mais anos, quer dizer viver melhor? Quanto custa uma residência assistida com condições de dignidade e apoio espiritual? Mas porque é que o Estado me prometeu o que não me podia garantir?


Este artigo reflete a situação real de milhares e milhares de trabalhadores portugueses que foram ludibriados por sucessivos governos e que, de forma absolutamente unilateral, alterou por diversas vezes as regras de cálculo das reformas, frustando, deste modo, as mais legítimas expectativas de quem um dia se iria reformar.

E fizeram-no por causa da presumível falência da Segurança Social? Não creio. Acredito antes que tudo tem acontecido pela visível incompetência dos políticos que não souberam ou não quiseram respeitar a dignidade e a esperança de quem contribuiu durante tantos anos para um Estado que, pensavam, poder protegê-los. Enganaram-se completamente, restando-lhes, como ao Álvaro, a pergunta que, pelos vistos, ninguém é capaz de lhes responder: Porque é que o Estado me prometeu o que não podia garantir?"

O artigo do Professor Carlos Pereira da Silva é elucidativo. Desde 1984, quando protagonista da história começou a descontar para o Regime de Segurança Social e até ao momento presente, o Estado alterou 3 vezes as regras do jogo. Isto é, em apenas 22 anos o Estado decidiu alterar as regras anteriormente definidas, aquelas em que os trabalhadores sustentavam as suas expectativas de carreira e de reforma e, tudo isto, sem atender à circunstância do número de anos em que fizeram descontos, ou seja, sem tomar em consideração se os trabalhadores começaram a sua carreira contributiva há 20 anos, há 10 ou na semana anterior.

Podem afirmar que as sucessivas revisões das fórmulas de cálculo foram feitas a pensar na sustentabilidade da Segurança Social, mas eu pergunto se esta mesma Segurança Social terá legitimidade para empurrar trabalhadores que durante anos e anos contribuiram e ajudaram a manter o sistema para uma situação que se adivinha de pobreza extrema?

terça-feira, setembro 26, 2006

À volta da gramática

Quando eu há dias afirmei que fico aborrecido sempre que dou conta que estou a aprender coisas que, estou mesmo a ver, mais tarde ou não vão interessar para nada, ou já nem sequer vão ser assim, não conhecia, ainda, a dita “terminologia linguística” que vai ser introduzida nos ensinos básico e secundário e já consta nos manuais escolares.

Segundo o que li na imprensa, apesar da inovação já fazer parte dos respectivos programas neste ano lectivo que agora começou, nem os livros foram devidamente avaliados nem os professores estão todos preparados para leccionar esta matéria. Como costumo dizer, “isto só neste país”.

Mas, afinal, o que é isto da “Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS)? Se bem percebi, por meia dúzia de exemplos que vi no jornal, trata-se de uma alteração das regras da gramática que vigoraram toda a vida e que vai fazer de nós, dentro de pouco tempo, uns completos ignorantes. Afinal, não é só o desconhecimento das novas tecnologias que nos vai deixar nas mais profundas trevas.

Se não, vejam:

- Antes, um substantivo era concreto ou abstracto e designava-se o número (singular ou plural) e o género (feminino ou masculino). Agora, para além destes aspectos, acrescentam-se as noções de contável e não contável, humano e não humano e animado e não animado. Deixem-me fazer um aparte para dizer que estou deveras curioso para saber o que vai ser um substantivo animado.

- Antes, “testemunha” era um substantivo feminino e “cônjuge” um subtantivo masculino. A partir de agora, desigam-se os dois por “substantivos epicenos”.

- Antes, a classe dos advérbios abrangia os de lugar, de modo, de tempo, de negação, de afirmação e de dúvida. Agora o advérbio pode designar-se “modificador” e divide-se em negação, adjunto (lugar, modo e tempo), disjunto (afirmação e dúvida) e conectivo.

- Antes, designava-se sujeito indeterminado ou nulo para os verbos impessoais, tais como, “anoitecer” e “haver”. Agora passa a designar-se por “sujeito nulo expletivo”.

- Antes designava-se por “aposto” o que, entre vírgulas, acrescentava algo ao sujeito (p.e., D.Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, tem no ...). Agora designa-se por “modificador do nome apositivo” e dentro deste conceito, diferencia-se o “nome apositivo de tipo nominal”, o de “tipo adjectival”, o de “tipo preposicional” e o de “tipo frásico”.

Chega de exemplos que não quero baralhar-vos mais. Tenho consciência que uma língua viva está em constante mutação, mas será que estas alterações têm assim tanto interesse para quem ainda está a frequentar os ensinos básico e secundário? A ser importante, não deveria ser coisa para quem frequentasse linguísticas, já na Faculdade?

De uma coisa eu estou certo, a partir de agora, pais e avós vão ter muito mais dificuldade em acompanhar os miúdos na sua vida escolar.

Viva a nova gramática!

segunda-feira, setembro 25, 2006

Mistérios ...

Durante o pequeno-almoço do passado sábado, tive um daqueles desabafos que, penso, a maioria das pessoas costuma ter (não necessariamente ao pequeno-almoço), do género “este mês não sei que raio de despesas tive, que o dinheiro foi-se mais rapidamente do que o costume, e não faço sequer ideia para onde”. Apesar das sugestões avançadas pela família “não seria em ...?” ou “provavelmente gastaste no...” acabei por sair de casa sem fazer a mínima ideia de como o dinheiro foi gasto.

Eis senão quando, ao comprar o Semanário Expresso, logo na primeira página e com o devido destaque, vejo escarrapachada a notícia que os 26 maiores hospitais públicos do país não têm o registo dos laboratórios a quem pagaram 55,283 milhões de euros em medicamentos, um valor que corresponde a 11,1 por cento dos gastos totais com medicamentos no ano passado.

Espera aí, pensei, lá que eu não tenha ideia onde é que este mês gastei mais dinheiro do que contava, ainda vá. Mas relativamente aos hospitais, ainda por cima aos 26 dos maiores hospitais públicos como é que se admite que eles não saibam a quem é que pagaram os medicamentos, não, isso aí já é demais. É que estamos a falar de hospitais públicos, cujo accionista é o Estado, estamos a falar dos dinheiros dos contribuintes, instituições que deveriam ter contabilidades devidamente organizadas e actualizadas e sistematicamente auditadas. E não sabem a que laboratórios é que pagaram mais de 55 milhões de euros? Só pode ser brincadeira.

Ao que consta o estudo efectuado pelo Ministério da Saúde, indica que a informação recebida dos hospitais aponta para pagamentos efectuados "para os quais não foi possível identificar os laboratórios” mas, acrescenta, que “os valores estão todos contabilizados”.

Pudera, as verbas estarem contabilizadas é o mínimo que se poderia esperar. Mas isso não é o suficiente, com certeza de que não ficamos descansados só por esse facto.
Não sabemos, por exemplo, se esses pagamentos foram efectivamente feitos e a quem. Aos laboratórios que forneceram os medicamentos ou a terceiros que nada têm a ver com o caso? E, não havendo documentos que identifiquem esses pagamentos, não sabemos também se as verbas pagas foram as correctas ou se haverá por aí uma mãozinha marota que esteja sobre-valorizar a facturação e a respectiva contabilização e a retirar as diferenças para proveito próprio, sabe-se lá de quem.
Na verdade, não há nada mais conveniente do que fazer desaparecer documentos que impossibilitem identificar quando, a quem e por que verbas foram feitos esses pagamentos e se eles foram autorizados por alguém com poderes para tal.

E a responsabilidade, afinal, é de quem?

E estava eu tão preocupado por não me lembrar para onde é que se evaporou o meu dinheirinho...

domingo, setembro 24, 2006

Vanessa Fernandes, vencedora do circuito mundial de triatlo


É bom, é sempre agradável começar uma semana com uma boa notícia. Desta vez, a propósito de um feito notável alcançado por uma atleta nacional.

A portuguesa Vanessa Fernandes, vice-campeã mundial de triatlo, venceu este fim-de-semana a etapa chinesa da Taça do Mundo, e, não satisfeita apenas com esta proeza, conseguiu igualar o recorde de 12 vitórias consecutivas (o recorde das 12 vitórias seguidas fora estabelecido por Emma Carney entre 1993 e 1995, quando apenas cerca de três dezenas de atletas femininas disputavam a Taça do Mundo).

Com este triunfo em Pequim, Vanessa Fernandes é a virtual vencedora do circuito mundial, mesmo que não participe nas duas últimas etapas da competição.

A vitória de Vanessa Fernandes – a Vanessa que eu integraria sem hesitar na chamada “Marca Portugal” - é um motivo de orgulho para os portugueses, orgulho esse que, espero, nos transmita um pouco mais de auto estima que tem andado um pouco arredia do nosso quotidiano.

quinta-feira, setembro 21, 2006

As sete maravilhas do mundo

Todos nos lembramos de nos ensinarem na escola quais eram as “sete maravilhas do mundo” – os Jardins suspensos da Babilônia, as Pirâmides de Gizé, a Estátua de Zeus, o Templo de Ártemis, o Mausoléu de Halicarnasso, o Colosso de Rodes e o Farol de Alexandria.

Estas eram as sete maravilhas originais, as do mundo antigo,
aquelas que foram escolhidas há mais de 2000 anos e que reuniam as mais notavéis realizações da antiguidade, todas elas, curiosamente, provenientes de civilizações mediterrânicas.

De todas essas maravilhas apenas as três pirâmides de Gizé (
Keóps, Quéfren e Miquerinos) continuam a existir, tendo todas as outras desaparecido.

Sendo assim, fazia todo o sentido que se começasse a pensar noutras maravilhas, tão deslumbrantes (ou mais) como as primeiras, mas mais modernas e mais condicentes com o mundo de hoje, com a arte e as tecnologias do mundo contemporâneo. E aqui é que foi o busílis, que é como quem diz, aqui é que surgiu a grande dificuldade de se achar um consenso.


De facto, não é fácil elaborar uma lista que contemple, apenas, as 7 maravilhas do mundo, sabendo quantas e quantas maravilhas naturais, ou feitas pelo homem, existem por esse mundo. Estou-me a lembrar, por exemplo, da Grande Muralha
da China, no Taj Mahal, na Índia, de Machu Picchu, no Perú, do Grand Canyon, nos EUA, da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro e das Cataratas Vitória (Victoria Falls), entre a Zâmbia e o Zimbábue.

Há muito por onde escolher e, como sempre, os interesses associados são imensos. Por isso, já no corrente ano de 2006 a fundação New 7 Wonders deu início a um projecto que visa escolher as novas sete maravilhas do mundo contemporâneo, para o que compôs uma lista de onde sairão os sete magníficos:

O concurso acaba no fim deste ano e, até lá, todos podemos ser cúmplices na escolha dos que consideramos os melhores, desde que visitemos, para votar, o seguinte endereço www.new7wonders.com.

Como repararam, o Alhambra, em Granada é o monumento a concurso mais próximo de Portugal. Apesar de sermos um país lindíssimo, as nossas belezas não foram sequer consideradas (por acaso, e só por acaso, estava a pensar no Gerês e no Estádio da Luz, em Lisboa). No entanto, e como prémio de consolação, vamos ter a honra de organizar um mega-espectáculo onde serão anunciados as tais sete maravilhas da era moderna, espectáculo que, de resto, Lisboa ganhou ao Dubai e a várias cidades de Itália, Espanha e da Malásia.

Embora não nos dê um conforto por aí além, do mal, o menos...

quarta-feira, setembro 20, 2006

Uma leitura possível ...


A fotografia foi-me enviada com a seguinte legenda “Nazaré no seu melhor”.
Não, não pode ser, pensei, a Nazaré tem coisas bem melhores e mais interessantes para mostrar do que isto.

Vendo bem as coisas, esta imagem poderia ter sido recolhida em qualquer ponto do nosso país, porque, de facto, nada referencia a cena como sendo genuína daquela localidade.
Primeiro, porque nem à lupa se conseguem ver as sete saias típicas das mulheres da Nazaré na vendedeira que se se vê à esquerda da fotografia.

Depois, porque nas miríades de coisas que estão expostas no mostruário não se vê uma única peça genuinamente nazarena. Nem os barcos em miniatura, nem os objectos feitos com base em conchas e redes de pesca nem, sequer, os célebres carapaus secos que, como sabem, são carapaus frescos que ficam não sei quantos dias a secar ao sol em cima de armações de rede e cujo sabor acaba por resultar não do do próprio carapau mas da presença das moscas e das varejeiras que constantemente poisam nos ditos.

A terceira razão vem do facto de se saber que todas as nazarenas “oferecem” quartos, rooms, chambres e zimmers para alugar e todas elas calçam chinelas, que é, de facto, o seu calçado característico. Ora como se prova na fotografia anexa, nem a vendedeira está a tentar arrendar um quarto a um turista de última hora, nem os seus delicados pés estão enfiados em chinelas. Pelo contrário, os pés estão “desenfiados” ao abandono, quem sabe se a descansar de tantos cansaços e o que se vê ao lado são umas sandálias já gastas e, por acaso, muito masculinas.

Os tremoços, amendoins, cajús, figos secos, pinhoadas (ai, como eu gosto de pinhoadas) e a tralha “a monte” que está por baixo da bancada que nem a toalha de plástico barata tapa, os guarda-sóis do “café Torrié” e da “CocaCola”, nada disso é esclarecedor do lugar onde está instalada a venda.

Admito, porém, que a fotografia possa ter sido tirada na Nazaré, o que põe em causa tudo o que eu disse antes. Isto, se esta mesma fotografia não nos esteja a mostrar apenas, com todo a crueza, um repentino ataque de sono da vendedeira que não conseguiu aguentar mais o corpo e se atirou para trás entregando-se nos braços de Morfeu, sono a que o cão não foi insensível e procurou responder com um expressivo bocejo.

Mas poderá não ser nada disso e ter acontecido que a vendedeira poderá estar mesmo à espera de ver chegar alguém. A ser na Nazaré, o enquadramento da fotografia faz-nos admitir que aquele lugar é no “Sítio” e, se assim for, a vendedeira de certeza que estaria com toda a atenção à possível aparição, repentina por certo, e nunca observada, de D. Fuas Roupinho.

Com um pouco de atenção ao detalhe, perceberemos que a vendedeira confiou plenamente a venda dos seus produtos ao cão (nota-se claramente que o bicho acabou de fazer um pregão há pouco) mas a falta dos compradores deixou-o cabisbaixo e abatido como se vê.

Quanto à sua dona, apesar da posição incómoda em que se encontra e apesar da manhã levemente enevoada que se vê por detrás dela, igual àquela outra em que 1182 o fidalgo foi salvo pela Virgem, ela espera pacientemente pelo seu D. Fuas que, quem sabe, não tardará a chegar.

terça-feira, setembro 19, 2006

De Plutão a Plutinho


Uma coisa que me aborrece a sério é a de termos que “enfiar” montanhas de informação nas nossas cabecinhas durante uma vida inteira, tantas e tantas vezes a forçar a aprendizagem de conceitos e saberes para, uns anos depois, se verificar que a coisa não é bem assim ou que nem sequer é assim, ponto.

Durante décadas disseram-nos que as sardinhas, as sardas e outros peixes quejandos não eram uma boa alimentação e, um belo dia, deram o dito pelo não dito e proclamaram que nada fazia melhor à saúde do que comer precisamente as sardinhas e as sardas. Deveríamos, pois, usar e abusar daqueles peixes porque faziam baixar o colesterol e ainda faziam bem a uma data de coisas.

No mesmo período, nas mesmíssimas décadas em que nos falaram das sardinhas e das sardas, ensinaram-nos nas escolas, lemos nas enciclopédias que os planetas (os planetas ditos clássicos) que compunham o sistema solar eram Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Neptuno e Plutão, para agora um grupo de especialistas de 75 países reconhecerem que a classificação de Plutão (descoberto em 1930 e o mais pequeno, o mais frio, o mais distante e o único que nunca foi visitado) foi um grandessíssimo erro.

Para que um objecto espacial possa ser designado de planeta tem que obedecer a três condições: estar em órbita em volta do Sol, ter massa suficiente para que a sua própria gravidade o deixe com uma forma quase esférica e ser um objecto dominante na sua órbita. E foi precisamente esta última condição que atirou Plutão para fora do grupo onde estava instalado há muito.

Assim e por decreto dos 2500 astrónomos reunidos em Praga, Plutão baixou de divisão e deixou de ser um planeta para integrar a segunda liga, a divisão dos corpos celestes de gelo. É a vida!

Resta-nos a consolação de que, pelo menos para os que acreditam no que dizem os signos, que o facto de Plutão deixar de ser um planeta não vai afectar o signo de que é regente, o Escorpião. Isto porque, por analogia, já o signo de Caranguejo é regido pela Lua e o signo de Leão é regido pelo Sol que, como sabemos, também não fazem parte dos planetas tradicionais que compõem o sistema solar.

Pelo menos por agora, porque daqui a uns tempos já não digo nada ...

segunda-feira, setembro 18, 2006

Sardinhadas


Não que fosse absolutamente necessário, mas as férias, o calor e o mar aguçaram-me o apetite para comer umas quantas sardinhadas.

A sardinha é particularmente saborosa nesta época do ano e, ao contrário do que diz o adágio popular que “a mulher quer-se pequenina como a sardinha”, devo dizer que eu aprecio mais as de tamanho médio/grande, de belos lombos (estou, obviamente, a referir-me às sardinhas, que é o tema de que estamos a falar hoje).

A sardinha para além de fazer bem (ao que dizem) ao colesterol, continua a ser um óptimo petisco, de preferência regada por um bom azeite, acompanhada por um bom tinto ou, quando muito, por uma sangria, e comida em lugar aprazível.

Mas comer sardinhas pode, por vezes, provocar-nos algumas arrelias, para além daquelas, claro está, que têm a ver com as espinhas que engolimos por descuido. Se calhar, mais do que provocar arrelia, mais ainda do que provocar incompreensão, o que provoca mesmo é a revolta de todos nós, por sabermos que o preço da sardinha desde que é capturada até chegar ao consumidor, aumenta nada menos que 7 vezes. SETE VEZES MAIS. É obra!

Mesmo tratando-se de um peixe dito barato (pelo menos mais barato que a maioria), porque é abundante, mesmo assim, ela poderia ser vendida a um preço muito mais em conta. É bom lembrar que cada português consome em média 56,5 quilos de peixe por ano, o que faz do nosso país o maior consumidor de pescado da União Europeia e o terceiro a nível mundial, logo atrás da Islândia e do Japão. E não me parece que os tais 56,5 quilos de peixe consumidos por cada português diga respeito maioritariamente ao consumo da garoupa, do pargo legítimo ou do linguado. Estão a ver onde quero chegar?

O preço de venda da sardinha poderia ser muito mais baixo e, portanto, mais justo. Todos os consumidores agradeceriam.

domingo, setembro 17, 2006

Marta Hugon, um nome a fixar

As férias dão-nos, de uma forma geral, uma vontade acrescida de mergulhar em novas experiências e descobertas. Em todos os sentidos.
Há mais tempo, há mais disponibilidade mental, há mais vontade para “saborear” melhor os novos paladares, as novas fragrâncias, os estilos literários menos conhecidos (e os clássicos, também) e os novos sons.


Amante sem reservas do jazz, sobretudo do jazz dito clássico e dos clássicos que desde sempre o interpretaram, foi com puro deleite que descobri uma nova cantora portuguesa deste estilo musical – Marta Hugon.

Vezes sem conta percorri os 11 temas deste disco - “Tender Trap” – e deliciei-me com a voz suave, quente, insinuante e cheio de swing de Marta, que é acompanhada por um magnífico trio composto por Filipe Melo , no piano, Bernardo Moreira, no contrabaixo e André Sousa Machado na bateria.

Uma descoberta feliz de uma belíssima voz e de uns óptimos músicos. Aconselho, pois, vivamente, este CD a todos os que gostam de música em geral e de jazz em particular.

Deixem-se seduzir por temas como “In Love In Vain”, “I feel so smochie”, “Too close for confort”, a brasileira “Falsa Baiana” ou o incontornável “Manhattan”.

A não perder!

quinta-feira, setembro 14, 2006

Sei lá, pensem o que quiserem ...



Juro que que eu não inventei. Tão-pouco sonhei com tal coisa. Mas a notícia apareceu numa das últimas edições do Expresso e, ao que parece, transcreve a resposta de Pinto da Costa a uma juíza do caso “Apito Dourado”:

“Vivo do vencimento mensal de 400 euros que aufiro em virtude da minha participação de 10.000 euros na SAD. Não tenho outros rendimentos. Pago 1.000 euros de renda de casa...”

Sem palavras!

quarta-feira, setembro 13, 2006

A Lenda do Galo de Barcelos

A verdade é que neste país em que quase nada se passa e parece haver tão poucos assuntos interessantes para falar, provavelmente a única coisa que nos resta, é preocuparmo-nos com os problemas dos futebois, das invejinhas e dos “interesses pequeninos” das regiões e dos protagonismos balofos de alguns pacóvios cá da terra. Muito mais interessante, sem dúvida, e muito mais enriquecedor para a nossa cultura pessoal, do que sabermos, por exemplo, qual foi a origem do maior ex-libris da cidade de Barcelos, ainda que a história nos chegue através de uma simples lenda.

Esquecendo então, por momentos, o Gil Vicente, (o Clube de Futebol da cidade de Barcelos), o jogador brasileiro que tem estado na base de todo este imbróglio e que dá pelo nome de Mateus Galiano (e eu que julgava que tudo isto era por causa do nosso Mateus Rosé, que até é um vinho apreciado no estrangeiro) e qual a decisão dos orgãos máximos do ponta pé na bola (que não se entendem entre eles) sobre se o Gil fica ou não na primeira liga, recordemos antes essa história que está na base do aparecimento de um dos mais famosos símbolos portugueses – o Galo de Barcelos – esse sim, conhecido em todo o mundo.

Ora conta a lenda que os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime e, sobretudo, andavam preocupados porque não se tinha descoberto o criminoso que o cometera.
Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém o acreditou.
Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos.
O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:”É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”.
Risos e comentários não se fizeram esperar, mas pelo sim e pelo não, ninguém tocou no galo, e o que parecia impossível, tornou-se, porém, realidade! Quando o galego ia ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. A partir dessa altura já ninguém duvidou das afirmações de inocência do condenado. O juiz correu à forca e quando viu o pobre homem ainda de corda ao pescoço, mandou-o imediatamente soltar e ir em paz.

E, lenda ou não, o Galo de Barcelos tornou-se o maior símbolo da cidade.

terça-feira, setembro 12, 2006

O grande corredor ibérico ...


Tinha começado justamente as minhas férias, quando o país desabou de contentamento com as proezas atléticas de um nosso compatriota. Aliás, numa época em que tudo está parado e nada há para comentar, mesmo que seja só para dizer mal, as vitórias do nosso português vieram mesmo a calhar.

Claro está que em Portugal toda a gente conhece Francis Obikwelu. Para além de ser um nome tipicamente português, que anda na boca de todos os portugueses, pelas melhores razões, já se vê, o homem é um verdadeiro campeão. Independentemente de outros feitos já conseguidos, só este ano cometeu a proeza de ganhar as corridas dos 100 e dos 200 metros do Campeonato Europeu de Atletismo, que se realizou em Gotemburgo. Proeza idêntica que só fora conseguida pelo italiano Pietro Menea em 1978.

Mas para além de reconhecer que Francis é, de facto, um atleta de um enormíssimo valor, e que representou de forma digna a alma e a raça lusitana, não posso, ainda que isto vos possa parecer mal, deixar de questionar o seguinte:

Francis é nigeriano de nascimento, embora naturalizado português. Vive e treina em Espanha com treinadores espanhois. Onde é que nós, afinal, entramos na história? Onde está a nossa mais valia? Qual é o contributo português para gerar tão grande atleta? Desculpem lá, mas gostaria que me explicassem isso. É que há coisas que me custam a digerir.

A quem, também, custa digerir estas vitórias do corredor portugês é aos “nuestros hermanos” que, ainda por cima, não obtiveram lá grandes resultados nestes Europeus. Quando os principais Telediários espanhois anunciaram as vitórias de Obikwelu, ouvimo-los anunciar com o seu proverbial entusiasmo que Francis Obikwelu, o grande corredor ibérico, tinha ganho as corridas dos 100 e dos 200 metros.

“Ombre, que tios...,”

segunda-feira, setembro 11, 2006

Sem Justificação

É daquelas notícias que mesmo que eu não estivesse de férias, repararia com toda a certeza, porque é demasiadamente forte para poder passar despercebida.

Então não é que Portugal foi o único país que não compareceu à reunião da CPLP que decorreu há umas semanas em Brasília e cujo o tema era a “alfabetização”?

O facto do nosso país ter faltado já é grave, mas mais grave se torna quando o assunto em debate era exactamente o problema da “alfabetização”, precisamente aquilo que andamos a discutir há um ror de tempo, de que a língua portuguesa (que não é só de Portugal e onde até nem somos assim tantos como isso a falá-la) deve ter cada vez maior expressão em todo o mundo, por forma a sermos realmente ouvidos, e, por essa via, a ocuparmos o lugar que devemos efectivamente ter na cena internacional. Por isso, porque é urgente, URGENTÍSSIMO, andamos há tanto tempo a bater-nos por querer melhorar os níveis de alfabetização e de cultura dos povos que falam a língua portuguesa.

Pois os responsáveis pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros assim não o entenderam e chegaram até a arranjar uma desculpa esfarrapada, do género “por causa de contigências várias...”, para justificar a nossa ausência. Mas que raio de justificação foi esta, Dr. Luís Amado?

Não entendo esta atitude do MNE. Nem eu nem os responsáveis dos outros países presentes que chegaram a admitir que sendo Portugal um país do Norte não estaria interessado em participar numa reunião de cooperação Sul-Sul.

Mas não deixa de ser confrangedor que Portugal, com as suas responsabilidades históricas e a influência que tem na CPLP, se tenha alheado desta forma e tenha falhado um encontro tão importante, promovido pelo Governo Brasileiro e pela Unesco e que, ainda por cima, se dispuseram a pagar as despesas dos participantes.
Foi, no mínimo, lamentável!

domingo, setembro 10, 2006

Brindemos!

Eu não disse que voltaria no dia 11? Cá estou! Por acaso até cheguei um bocadinho mais cedo mas, o que querem, tinha tantas saudades vossas que decidi antecipar por umas horas o meu regresso. E com uma alegria redobrada porque, no passado dia 31 de Agosto, o nosso blogue fez um aninho, o seu primeiro ano de vida (parabéns a você nesta data querida, vá lá, cantem também...). Penso que é a altura de fazermos um brinde. É verdade, parece que foi ontem e já lá vai um ano. Tímido, ainda, um tanto ou quanto hesitante às vezes, mas, apesar de tudo, já vamos andando com as nossas próprias perninhas. É, pois, motivo para brindar com uma taça de ...

Pois, essa é uma boa questão. Vamos brindar com uma taça cheia de quê? É que costuma dizer-se que não se pode brindar com um qualquer líquido, sobretudo com a água, não é? Vejamos então...

Há regras que vêm, sabe-se lá desde quando e que perduram indefinidamente sem que se saiba quem as ditou e porque razão, acabando muitas delas por constituir a própria tradição.

É o caso de não se poderem fazer brindes com água. Quando toda a gente levanta o seu copo no ar e há um incauto (que até, coitado, só pode beber água, por gosto ou por doença) que levanta o copo com água lá dentro, a reacção, quase sempre histérica ou de troça, não se faz esperar: “A brindar com água, estás louco, ou quê?”. Este “ou quê” cai sempre muito bem e arruma definitivamente quem já está na “mó de baixo”.

Fazer tchim-tchim com um copo de água é coisa que não cai lá muito bem, quero dizer, não é lá muito bem visto numa qualquer reunião social. O infeliz que o faz, arrisca-se a ser posto imediatamente de lado, desprezado e desconsiderado, e arrisca-se fortemente a ser chutado sem dó para fora da sala.

Mas, o motivo mais forte, digamos, o motivo que ainda hoje reune um maior concenso para não se brindar com água, prende-se, sobretudo, com o facto de poder dar azar. Nem mais. Um dia alguém se lembrou de dizer que brindar com água dava azar e zás, todos aceitaram sem perguntarem os porquês.

Mas eu que nunca alinhei nessa treta e, ao cabo de uns anos de pesquisas aturadas, cheguei à conclusão (embora sem ter a certeza certa) de que se pode, efectivamente, fazer brindes com um copo de água. E porquê?

A história remonta à época dos descobrimentos. Como as “cascas de noz” a que os descobridores chamavam de caravelas tinham um espaço muito limitado e porque não havia estações de serviço que dessem apoio aos navegadores em alto mar, todos os produtos eram criteriosamente escolhidos porque a viagem poderia ser longa. Assim, e dado que a água potável era indispensável para matar a sede a toda a tripulação, sabe-se lá por quantos meses, as naus procuravam levar toda a água que pudessem, mas a sua gestão, era, naturalmente, rigorosa. Quase sempre com recurso ao racionamento.

Assim, e para poupar a preciosa água, os comandantes impuseram que todas as celebrações só poderiam fazer-se com rum, ou com aguardente mas nunca poderiam ser festejadas com água porque isso traria um azar imenso a quem o fizesse, argumentavam.

Ainda hoje, passados séculos, ainda se costuma ouvir que não se deve brindar com água porque dá azar. Ainda hoje, ao brindarmos com água, sem o receio de que ela nos venha a faltar e possamos morrer à sede, se faz a pergunta a quem tem tamanha ousadia “A brindar com água, estás louco?”. Aqui, e não me perguntem porquê, não utilizei, propositamente, o “ou quê”?

Brindemos, pois, sem medos, com uma taça de champanhe, de gasosa, de chá, de vinho, de leite … ou de água, por mais este ano que agora iniciamos.

Ip, ip, ip, hurra!
À nossa saúde!