terça-feira, dezembro 23, 2014

Boas Festas



Em época de festas,

Desejo-vos SAÚDE, PAZ e AMOR

... e que 2015 vos traga tudo de bom


BOAS FESTAS!

BOM ANO NOVO!


sexta-feira, dezembro 19, 2014

A primeira desilusão ...



Foram felizes os meus Natais enquanto criança. É certo que não havia muitos brinquedos e que abundava a falta de dinheiro (é verdade, minha gente, já naquela altura havia uma crise profunda) mas sentia-se o espírito da época e, diga-se de passagem, a nossa ambição também não era exagerada. Aliás, não havia, então, a febre consumista que se verificou mais tarde. E os brinquedos (poucos em quantidade e variedade) ou as prendas (que muitas vezes eram meias, camisolas ou pijamas) eram-nos dadas pelo Menino Jesus depois da meia-noite ou, às vezes, na manhã seguinte dentro do sapatinho que deixávamos (cheios de esperança) na chaminé da cozinha. O deslumbre e a ansiedade do rasgar do papel dos presentes via-se bem no olhar feliz das crianças. E isto para falar apenas nas crianças que tinham essa ventura porque muitas nem sequer sentiam o prazer de ter um presentinho de Natal deixado pelo Menino Jesus.

Jesus e não - ainda - o Pai Natal. Esse entrou muito mais tarde na vida dos portugueses depois de um "golpe de Estado" sobre o Menino Jesus. Desde então, começou a adoptar-se o Pai Natal como fonte da bondade natalícia e rapidamente o Menino Jesus foi relegado para figura (embora principal) do Presépio. A tradição portuguesa esfumou-se e o velhinho Pai Natal tomou conta do imaginário das crianças.

Isto até ao dia da descoberta - através de coleguinhas de escola ou pela explicação dos pais ou familiares - de que, afinal, o Pai Natal não existe. Toda a ilusão, toda a fantasia, que iluminavam os seus poucos aninhos acabava de forma trágica. A revolta era inevitável como inevitável eram as lágrimas por tamanha frustração. Essas crianças viram chegar ao fim o sonho em que sempre acreditaram e que, de certa forma, lhes foi incutida com a melhor das intenções pelos familiares mais próximos ou que elas próprias criaram. Uma fantasia que, apesar de tudo, continuo a considerar muito importante para o crescimento e formação dos miúdos.

Para as crianças, ao longo das diversas gerações, esta descoberta bem pode ter sido a sua primeira desilusão ...

quarta-feira, dezembro 17, 2014

Sabem o que é o "Índice de Percepção de Corrupção"?



Numa altura em que ainda se fala mais em corrupção (o que não faltam são casos mediáticos, alvo de todas as notícias), muitos questionam o que é o denominado "Índice de Percepção de Corrupção", afinal o que é que a expressão realmente significa. Para explicar, ainda que de uma forma simples, talvez seja melhor recorrer à Wikipédia que, sobre o assunto, diz o seguinte:


"O IPC - Índice de Percepção de Corrupção ordena os países do mundo de acordo com "o grau em que a corrupção é percebida existir entre os funcionários públicos e políticos" ... Os resultados mostram que sete em cada dez países (e nove em cada dez países em desenvolvimento) possuem um índice de menos de 5 pontos num total de 10, sendo que a maior pontuação significa menor (percepção de) corrupção".


E Portugal, como é que está neste índice? Digamos que sem contar com os casos recentes como os vistos gold, Duarte Lima, Sócrates ou Espírito Santo estamos em 31.º lugar. E isso é bom ou é mau? É MAU, claro está, porque a desconfiança (justificada, creio eu) na classe política, nos empresários (grandes e pequenos, dos banqueiros aos construtores civis) e nos gestores autárquicos deixa-nos em estado de sítio.

Só para terem uma ideia do que se passa relativamente aos 175 países do mundo considerados em 2014 nesta análise, Portugal, o Chipre e Porto Rico ocupam a 31ª posição. Depois de nós classificam-se países como a Espanha (37ª), a Hungria (47ª), a República Checa (53ª) e a Itália (69ª), ficando nos últimos lugares a Coreia do Norte e a Somália. A liderar a tabela estão, sem qualquer espanto, a Dinamarca, a Nova Zelândia, a Finlândia, a Suécia, a Noruega e a Suiça.

Resta-nos a (fraca) consolação de Portugal ter subido duas posições neste Índice de Percepção de Corrupção. Convenhamos, pois, que ainda há muito por fazer ...

terça-feira, dezembro 16, 2014

"Mexilhão à bulhão pato"



Juro que não me passou pela cabeça começar a dar-vos receitas culinárias. Se o tivesse tentado antes talvez hoje o "Por Linhas Tortas" fosse um dos blogues mais visitados do país. Mas não, os meus dotes culinários não são suficientemente fortes para trilhar esse caminho e as minhas habilidades gastronómicas (embora apreciadas pela família) situam-se ao nível do trivial, como se dizia dantes. O que até nem está mal de todo quando penso que há umas boas dezenas de anos quando saí da casa dos meus pais, eu de cozinha sabia nada, nem sequer fazer uns básicos ovos mexidos.

Tão-pouco pensei em sugerir-vos uma "nova tradição" para a Ceia de Natal. O que me levou a utilizar o título (gastronómico) desta crónica foi mesmo a palavra "Mexilhão", talvez a mais utilizada nas últimas semanas, em termos políticos. Foi Passos Coelho que, num seminário sobre Economia Social, considerou que "quem tinha mais tenha contribuído mais para o esforço de superação da crise, permitindo contrariar o adágio de "quem se lixa é o mexilhão"". Ou seja, pelas suas palavras, desta vez não foram apenas aqueles que costumam ser sacrificados e, portanto, "quem se lixou não foi o mexilhão".

Claro que a resposta não se fez esperar por parte da oposição que "pegaram" no mexilhão para dizerem ao Primeiro-Ministro que, de facto, quem se lixou - à séria - foi mesmo o mexilhão, isto é, os mesmos de sempre.

E seria bom que o PM tivesse bem a noção da realidade (que parece não ter) e dos números que foram anunciados por organismos oficiais. Por exemplo, segundo a OCDE, os mais ricos ganham dez vezes mais do que os mais pobres. Que 800 mil pessoas estão desempregadas (só as declaradas oficialmente) e que meio milhão de desempregados são de longa duração. Que 350 mil pessoas emigraram nos últimos três anos, que 1 em cada 4 crianças vive em situação de pobreza, que 2,8 milhões de pessoas está em risco de pobreza e que a desigualdade está cada vez mais desigual e que voltou a aumentar 1,5%.

E embora admita que muitos tenham contribuído para tentar superar a crise, a maior fatia do sacrifício voltou a ficar a cargo dos mesmos. Por outras palavras, uma vez mais se pode usar o adágio "quem se lixou foi o mexilhão".



sexta-feira, dezembro 12, 2014

"Autopsicografia" de Fernando Pessoa





"Autopsicografia" de Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Os 90 anos de Mário Soares



No pretérito dia 7 Mário Soares fez 90 Anos. Ele é uma figura marcante da democracia portuguesa, três vezes Primeiro-Ministro, duas vezes Presidente da República, Deputado Europeu e interveniente político constante até hoje. Sempre coerente, às vezes excessivo mas politicamente intuitivo. Um homem da liberdade e um homem da democracia que tanto combateu a ditadura da direita antes do 25 de Abril como a tentativa de ditadura de esquerda em 1975.

Há dias, escreveu Baptista Bastos no Jornal de Negócios: "(...) Os 90 vigorosos anos do velho leão, que nunca baixa as guardas e arreganha sempre as garras quando os factos o exigem, ainda há pouco se demonstraram, quando da visita a José Sócrates, na cadeia de Évora. Alguns palermas que por aí pululam atribuíram a tolejo de insanidade as expressões utilizadas e os comentários à justiça. O que falta de destemor, inclusive físico, a estes tristes preopinantes, é o que sobra a Soares nas suas indignações. Ele, afinal, representa o que de melhor e mais sólido o português médio possui. E é, talvez por isso, por nos representar em idiossincrasia, em improviso e em características de improviso e de brio, que os portugueses gostam dele e lhe perdoam o que, minimamente, não esquecem a outros (...)".


Quando se fala em liberdade e democracia pensa-se em Mário Soares. Quando se fala na integração de Portugal na União Europeia pensa-se também em Mário Soares. Mas tomou decisões erradas? Certamente. Mas Soares sempre teve uma intuição política muito acima da média e sempre demonstrou acreditar que é possível mudar as coisas. Para mim, ele é sem dúvida a grande figura política dos últimos 40 anos.

Depois disto, gostar ou não de Mário Soares, é outra coisa ...



terça-feira, dezembro 09, 2014

Dois pesos e duas medidas?



Apesar da OCDE reconhecer que as perspectivas de crescimento económico em Portugal aumentaram em Outubro face ao mês anterior e continuam acima da média da zona euro, apesar do Eurostat ter confirmado que a economia portuguesa cresceu 0,3% no terceiro trimestre e apesar das reiteradas afirmações da nossa Ministra das Finanças em que as reformas não abrandaram após a saída da troika e o défice previsto para 2015 vai mesmo ser cumprido, ainda assim, mantêm-se as dúvidas das instâncias europeias. Exactamente por isso realizaram-se ontem duas reuniões do Eurogrupo em que os Ministros das Finanças dos 28 discutiram os "riscos" de incumprimento das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, detectados nos Orçamentos de Estado para 2015, concretamente em sete países: Bélgica, Espanha, França, Itália, Malta, Áustria e Portugal. Por precaução, já se vê, se bem que parece haver uma grande preocupação com a Estabilidade e pouca com o Crescimento.

Porém, o que me custa aceitar é que, apesar dos sinais e das previsões acima referidas, o foco continue a incidir sobre Portugal quando, por exemplo, a França e a Itália, países muito maiores do que nós e com economias muito mais pujantes, já tenham afirmado que não só os respectivos défices vão continuar a ser excessivos como as reformas estruturais exigidas há muito vão permanecer à espera de melhores dias. E custa-me, sobretudo, porque há dois pesos e duas medidas. O que, entre países membros da Comunidade Europeia, é perfeitamente inaceitável.



sexta-feira, dezembro 05, 2014

Ou se mudam os nomes ou se alteram os formulários ...



Ainda na semana passada, aqui no "Por Linhas Tortas", chamei a atenção de que era urgente arranjar criativos. E a verdade é que decorrido tão pouco tempo volto a apelar à criatividade e, porque não, ao bom-senso. Então não é que - em alguns locais do país - a recente reorganização das freguesias, ao juntar várias das anteriores freguesias, agregou simplesmente o nome de todas elas? Como aconteceu, por exemplo, na mais populosa freguesia do Concelho de Vila Real que ficou com o pomposo nome de União de Freguesias de Vila Real - Nossa Senhora da Conceição, São Pedro e São Dinis. Assim como que a fazer lembrar certos nomes infindáveis da aristocracia. Vejam se reconhecem este: María del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa Victoria Eugenia Fernanda Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa Fausta Rita Castor Dorotea Santa Esperanza Fitz-James Stuart y de Silva Falcó y Gurtubay. Pois é, apenas o nome da Duquesa de Alba, falecida recentemente, e conhecida por todos - carinhosamente - apenas por "Cayetana.

Em vez de simplificarmos, a tendência é exactamente a oposta: complicarmos. E o pior ainda desta nova designação, com este novo nome oficial, é que os caracteres com que se escreve "União de Freguesias de Vila Real - Nossa Senhora da Conceição, São Pedro e São Dinis", nem sequer cabem em qualquer formulário, oficial ou não. Pelos vistos, as "cabecinhas pensadoras" que "imaginaram" este nome não conseguiram vislumbrar mais do que a designação anunciada e só agora, depois de constatarem a tolice que fizeram, é que a Junta vai consultar a população para ser escolhido o novo nome que poderá vir a ser Vila Real ou Dom Dinis.

Não havia alternativa: ou se mudava o nome da Freguesia ou os formulários ... Menos mal, escolheu-se a primeira hipótese.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Teremos em 2015 uma nova "Restauração"?



Mais importante (vá lá tão importante ...) do que saber se o Benfica vai revalidar o seu título de campeão nacional de futebol é ter a esperança que o dia 1º de Dezembro do próximo ano (e dos que se lhe seguem) volte a ser feriado. Tanto mais que no próximo ano o 1º de Dezembro calha a uma terça-feira e há em perspectiva um fim-de-semana mais longo. Mas isso são outras histórias ...

O que nos interessa mesmo é a data propriamente dita. É que o 1º. de Dezembro, aquele que até há pouco era feriado nacional, é o dia da celebração da Restauração da Independência. Aquele dia em que há 374 anos acabámos com o domínio dos Filipes de Espanha e voltámos a ser donos do nosso destino. No preciso dia em que aconteceu a defenestração (como eu gosto desta palavra ...) do traidor Miguel de Vasconcelos. Considero mesmo que o 1º de Dezembro é - a par do 10 de Junho e do 25 de Abril - o feriado civil mais significativo, muito embora à maioria dos portugueses passe por ser apenas mais um feriado. A verdade é que desde 1910, o 1º de Dezembro, por ter um significado especial, é devidamente lembrado e comemorado.

Mas não foi assim que pensaram a troika (que não tinha portugueses) nem o Governo (que tinha mas que ... depois falamos nisso) que decidiram dar-lhe sumiço em nome de um hipotético ganho de produtividade. Tretas!

Em 2015, porém, o 1º de Dezembro pode voltar a ser feriado. António Costa, candidato do PS a Primeiro-Ministro já prometeu publicamente que isso vai acontecer se ganhar as eleições. E até do lado da actual maioria Ribeiro e Castro (desde sempre contra a abolição deste feriado) do CDS e até Paulo Portas já se manifestaram no mesmo sentido.

Como já li algures "o 1º de Dezembro é património de Portugal e dos portugueses, pertence à comunidade e a ninguém é moralmente permitido dispor dele com ligeireza, mesmo que o faça invocando o nome do Estado". Por isso, digo eu, se alguém tiver o atrevimento de querer eliminar o feriado de novo, só há um caminho: a defenestração desse alguém.

terça-feira, dezembro 02, 2014

Coisas que acontecem quando "andamos" em cima da passadeira de um ginásio ...



Ontem, enquanto fazia exercício na passadeira do ginásio, ia pensando nas notícias dos últimos dias.

Lembrei-me, por exemplo, da Presidente da Câmara de Palmela que cumpre o terceiro e último mandato e que com 46 anos já pediu a reforma. Demasiado cedo, não?

Pensei no julgamento de Duarte Lima para quem o Ministério Público pediu 5 anos de prisão e a juíza condenou-o a 10. Uma invulgar duplicação de pena que deixou muita gente perplexa.

Claro que também pensei no "caso Sócrates" de que se sabe tão pouco mas sobre o qual se opina muito. Mas há factos que se vão conhecendo a conta gotas e que nos deixam ainda com mais dúvidas. Por exemplo, porque razão a casa onde mora o filho do ex-Primeiro-Ministro (cuja conexão com os alegados actos do pai parece não existir) foi invadida e ele viu levarem-lhe o computador pessoal? Será que isto é legal? Será que a lei permite a devassa do conteúdo de um computador pertencente a alguém só porque é familiar próximo de um eventual implicado em ilícitos?

E, a propósito deste caso, não pude deixar de pensar que José Sócrates foi detido - presumivelmente - para que não destruísse provas que o incriminassem na investigação em curso. Então o homem não faz outra coisas há meses que não seja viajar e só agora é que - mesmo sabendo que estavam à sua espera no aeroporto - vinha para destruir uma série de papéis comprometedores? Exactamente o mesmo que aconteceu a Ricardo Salgado que sabia estar a ser investigado há muito e só há dias se lembraram de fazer uma mega operação de busca para obterem documentos suspeitos. Não sejamos ingénuos, eles podem até ser culpados do que os acusam mas burros eles não são certamente. E se havia coisas para destruir, há muito que eles se devem ter encarregue disso.

Ao sentir um abanão no braço voltei à realidade. Um rapaz com uma braçadeira vermelha com um "C" e com a inscrição "Coach" na T-shirt perguntou se me sentia bem. A passadeira tinha parado há um bocado e eu estava com uma expressão muito carregada. Sosseguei-o e saí da sala. Antes, porém, ainda passei por uma jovem que ostentava no fato de treino a inscrição "Personal Trainer". "Estrangeirices", achei eu. Foi aí que desconfiei que a minha tensão arterial devia ter subido um bocado ...

sexta-feira, novembro 28, 2014

REQUINTE! Criativos procuram-se ...



Calculo que o imaginário dos publicitários seja infindável. Mas eu não sei se as "pérolas" que às vezes se vêm por aí são da autoria de publicitários ou se saem "orgulhosamente" das cabeças dos proprietários de certas empresas.

Nos arredores de Lisboa, em duas localidades diferentes, dei de caras com uma pastelaria que dá pelo nome de "REQUINTE E DOÇURA" e com um talho denominado "BRILHO E REQUINTE". Originais os nomes, não? Mas a ligação que estabeleci entre ambos foi a palavra REQUINTE que, como sabem, significa "apuro" ou "perfeição meticulosa e exagerada".

Em relação à "REQUINTE E DOÇURA", pastelaria e padaria com fabrico próprio, não tenho dúvidas que os seus bolos (com creme ou não) são doces, de magnífico aspecto e de um apuro doceiro (requinte) sem qualquer mácula. Já quanto ao "BRILHO E REQUINTE", o talho, que vende frangos, hambúrgueres, panados de perú, cabeças de borrego e de porco e, a não esquecer, a "fressura" (para quem não sabe, são vísceras comestíveis de rês, um pitéu apreciado por muitos), fiquei com algumas dúvidas. Tal como na pastelaria, não duvido que todos os produtos vendidos pelo talho sejam de primeiríssima qualidade (daí, talvez, o tal requinte). Onde receio não ter chegado é quanto ao brilho que o nome indica. A não ser que se refira aos belos exemplares de enchidos e de aves que chamam a atenção de quem lá entre.

Apesar de todo o REQUINTE (e da originalidade dos nomes), continuo a achar que "Criativos procuram-se" ...

quarta-feira, novembro 26, 2014

"Presságio"





De Fernando Pessoa, "Presságio"

 

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

terça-feira, novembro 25, 2014

De cabeça para baixo ...



De cabeça para baixo é como me sinto. De repente, a justiça de quem se dizia cobras e lagartos, começou a acelerar e até parece que alguma coisa está a mudar. Num curto espaço de tempo houve as condenações de Armando Vara e Maria de Lurdes Rodrigues (esta, convenhamos, uma condenação algo exagerada), os casos BES e GES, a detenção do director do SEF e de outros altos dirigentes do Estado e a detenção (ao tipo de hollywood) do ex-primeiro-ministro José Sócrates à chegada ao aeroporto de Lisboa. À chegada, não à partida, o que é relevante. Só não sabemos - porque o que sabemos, minuto a minuto, são as notícias da imprensa (em que se especula demais e se fazem afirmações ao sabor de interesses inconfessáveis) - se na Justiça haverá alguém que ande a exagerar, querendo protagonismo.

De qualquer forma o país anda sobressaltado. Quando governantes ao mais alto nível são detidos sob suspeita de ilícitos graves, quando parece estar a desmoronar-se a estrutura do Estado que nos dirige (ou dirigiu), claro que é legítimo que fiquemos muito preocupados. E não nos interessam os nomes mas os cargos que ocupam ou ocuparam.

Nós cidadãos temos o direito à verdade, seja ela qual for. E exige-se à justiça que seja rápida, imparcial e chegue a conclusões fundamentadas que levem à melhor justiça. Não nos basta que a justiça suspeite, que a comunicação social suspeite ou que o comum cidadão suspeite. Não queremos ficar pelas simples suspeições e por expedientes legais que não levam a lado algum. Queremos, e é-nos devido, decisões baseadas em factos. Uma justiça justa e não justiceira. Enquanto isso, ficamo-nos, como agora, de cabeça para baixo ...

sexta-feira, novembro 21, 2014

Chocolate? ... acabou!



O mundo vai de mal a pior, a Europa está como se sabe e de Portugal já nem se fala ... apesar de tudo, por cá, vai-se andando, aos tombos com deficits acima do permitido, com uma dívida pública que não pára de aumentar e com um desemprego que eles dizem ter caído mas que continua a afectar muitos milhares de cidadãos. E aguentaremos isto por muito mais tempo? "Ai aguentam, aguentam", como disse "sabiamente" o banqueiro Ulrich.

E talvez aguentemos mesmo, afinal tem sido essa a nossa sina desde sempre. Mas o que não aguentaremos, não sobreviveremos certamente, é ao anunciado alerta, agora conhecido, de que o cacau (com que se faz o chocolate) está a esgotar-se. É que desde há dois anos que o mundo consome muito mais cacau do que aquele que é produzido e os agricultores não conseguem dar vazão à procura. O chocolate está realmente a acabar.

Ainda por cima os chineses começaram a gostar deste delicioso hábito (e eles são taaaantos) e a preferência pelo chocolate negro, que contém uma percentagem mais elevada de cacau, deram uma ajudinha para que se verificasse o aumento desenfreado do consumo.

Hoje vi pelas ruas muitas pessoas cabisbaixas. No café e no ginásio não se falava de outra coisa que não fosse a calamidade que se perspectiva. "O drama, a tragédia, o horror", como diria Artur Albarran. O mundo está a desabar - não (mas também) pelos motivos de sempre - pela possibilidade (quase certa) de não podermos, em breve, comer chocolate. E não há comissões de inquérito que nos distraiam desta preocupação. Não é só a nossa saúde que poderá vir a ser afectada (prejuízos ao nível do fluxo arterial e da saúde cerebral, entre outros). É que corremos o risco de dizer definitivamente adeus ao bem-estar que uns quadradinhos de chocolate ou uma mousse conseguem transmitir. Sem chocolate - seguramente - não aguentaremos mesmo ...

quinta-feira, novembro 20, 2014

"Chamem a policia, queu num pago"



"Eram dez para uma no restaurante
Almoçava alarve mente
A meio do café um garçon pedante
Chegou-se e pôs-ma conta frente
Atao bebi o brande todo dum trago,
Berrei pró homem num pago, num pago;
O gaijo bronco chamou o gerente,
Saltei pa trás, saquei, saiu o pente...
Pra num andar cadeiras pru are,
Atao pus-ma gritar:

Chamem a policia, chamem a policia,
Chamem a policia Chamem a policia, queu num pago" ...



Era assim que começava a canção "Chamem a polícia" (que foi um grande sucesso popular na época) criada pelos Trabalhadores do Comércio, uma banda portuguesa formada na década de 80.

Pois foi exactamente do que eu me lembrei quando li que a GALP e a REN não pagaram (e continuam a não querer pagar) a contribuição extraordinária das empresas do sector energético. Convenhamos que é uma pipa de massa (como dizia o outro) que pode "sair-lhes dos bolsos", uns 35 milhões e 25 milhões de euros, respectivamente. E porque não querem pagar até admito que aleguem (e estão no seu direito) que esta contribuição constitui uma ilegalidade. Mas a verdade é que as leis são para se aplicar a toda a gente. Aos cidadãos (no activo e pensionistas) e às empresas. Quer se trate do IRS ou do IRC, do IMI ou de outras taxas e contribuições, algumas delas também duvidosamente legais. Como é o caso da contribuição audiovisual cobrada às escadas dos prédios ou uma mais recente que dá pelo nome Taxa Municipal de Protecção Civil que alguns municípios já começaram a cobrar.

E como nenhum de nós se pode dar ao luxo de ter estados de alma quando paga impostos, o melhor é adoptar o princípio: "Ai não pagam? Então, chamem a polícia ..."

terça-feira, novembro 18, 2014

Imaginação é tudo ...



Vi há tempos em Serralves uma interessante exposição sobre o escritor francês Raymond Roussel, um dos precursores do surrealismo, famoso pelo carácter excêntrico da sua obra. E achei curiosa uma afirmação do escritor: “a percepção da primazia é fundamental na concepção, já que nada colhe do real e a imaginação é tudo”.

Miguel Esteves Cardoso, em entrevista recente, dizia “Há ficção de quem escreve e transpõe para o papel coisas que aconteceram e há ficção totalmente imaginada. Só a imaginada é que é legítima. É uma terrível batota falar-se de coisas que aconteceram, a maior parte dos grandes escritores faz isso, mas é batota”.

Não sei se haverá a tal batota a que se refere o MEC. Assinalo, apenas, a convergência de opiniões entre Raymond Roussel e Miguel Esteves Cardoso. Enquanto modesto escrevinhador de crónicas, relato sobretudo coisas reais embora admita que sinto a maior admiração por quantos conseguem conceber histórias apenas e só fruto da sua imaginação.

sexta-feira, novembro 14, 2014

O ensino do português ...



Ana, obrigado por me lembrares que há um "Dia Nacional da Língua Portuguesa", que é "comemorado" em 5 de Novembro. Até eu - que tanto tenho lutado pela não subalternização da nossa língua - cansado que estou dos atropelos constantes vindos de todos os lados, deixava passar em claro tão importante dia. Importante mas que, infelizmente, não resolve absolutamente nada. Só um comprometimento diferente e empenhado de vários sectores faria com que o nosso português fosse indiscutivelmente a nossa língua.

E, provavelmente, por constatar que no dia-a-dia se trata tão mal a nossa língua, talvez não tivesse ficado demasiado espantado ao ler uma notícia que referia que - segundo o estudo “Os Tempos na Escola”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que analisou os 28 estados-membros da União Europeia, mais a Coreia, Singapura, Noruega e Turquia, - Portugal é um dos países com menos horas de ensino da língua materna nos primeiros quatro anos de escolaridade obrigatória.

Seria normal que tendo Portugal uma das maiores durações de escolaridade obrigatória (12 anos), também tivesse uma carga horária mais elevada dedicada ao estudo da língua materna. E assim não é. Repare-se que nos primeiros quatro anos de escolaridade, apenas 26,9% do tempo de aulas é dedicado ao ensino do português, menos do metade do que acontece, por exemplo, na Noruega (57,2%).

E depois admiramo-nos de quê?



quarta-feira, novembro 12, 2014

As viragens ...



No Jornal da Noite da SIC Notícias da última sexta-feira, Francisco Louçã dizia - com uma ironia fina - mais ou menos o seguinte:

"O Primeiro-Ministro tem demonstrado a sua versatilidade na apresentação das suas propostas. Por exemplo:

em 2011 disse que a sua política iria impor uma viragem em Portugal.

em 2012 voltou a dizer que as medidas que iriam pôr em prática provocariam uma viragem em Portugal.
Ou seja, haveria uma viragem da viragem.

em 2013 tornou a afirmar que a política do seu Governo iria no caminho de uma viragem no nosso país.
Ou seja, haveria uma viragem, da viragem, da viragem.

em 2014 teimou no discurso que em Portugal, graças às suas políticas, a economia teria uma viragem
Ou seja, haveria uma viragem, da viragem, da viragem, da viragem".

 
E com tantas viragens, viradelas e reviravoltas, os portugueses sentem-se completamente tontos, e pior, sem quaisquer esperanças de futuro.

terça-feira, novembro 11, 2014

Só à porrada ...



O jornalista José Manuel Rosendo ao comentar há dias no Facebook o escândalo protagonizado por Jean-Claude Juncker dizia "isto só lá vai com uma valente zaragata, e à bofetada …". Ainda que quisesse, não consigo ser tão benevolente como ele. Mesmo tendo em conta que em democracia as coisas não se resolvem desta forma, eu acho que isto só "à porrada" poderá entrar nos eixos.

Aos poucos vão-se conhecendo as podridões. De cá e de lá fora. Só no passado recente, descobriram-se em Portugal os escândalos do BPN, do BPP, do BES e da PT. Agora, foi revelado que o recém-eleito Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é protagonista de um escândalo de fuga ao fisco por parte de centenas de grandes empresas, que vem do tempo em que ele foi Primeiro-Ministro no Luxemburgo (1995-2013). Ao que se sabe, Juncker ajudou centenas de multinacionais a fugirem aos impostos nos seus países. Juncker era um facilitador da evasão fiscal em grande escala. Um "crime" (por cá, e sem grandes alaridos, Soares dos Santos mudou o domicílio fiscal para a Holanda) que contraria o discurso oficial da União Europeia em torno de questões como a responsabilidade e rigor e a necessidade do restabelecimento da confiança, tão invocados para fazer aprovar a União Bancária e para impor as medidas de austeridade contra os trabalhadores. Um discurso hipócrita e falacioso.

Poucos dias após ter tomado posse como Presidente da Comissão Europeia, Juncker deixou de ter condições políticas para continuar a exercer o cargo para que foi nomeado. Primeiro, porque aprovou, enquanto primeiro-ministro, os acordos secretos que permitiram a fraude fiscal que lesaram vários países. Agora, pela falta de ética demonstrada ao dizer que a cobrança de impostos eram responsabilidade da comissária que tem a seu cargo a pasta da Concorrência. Lamentável.

E voltamos ao início. Perante esta elite vigarista que tomou conta dos Estados, eu acho que a coisa só se pode resolver quando esta gente for corrida a murro, pontapé e o que mais for necessário. E o resto são cantigas ...

sexta-feira, novembro 07, 2014

Vendem-se mais carros. Será que a crise acabou?



Ele é a crise, é a crise mas os números, tal como o algodão, não mentem. E os números dizem que o mercado nacional registou grande dinamismo nas vendas de automóveis ligeiros de passageiros e cresceu 32,2% em Outubro. Ainda bem para todos aqueles que estão ligados ao ramo automóvel e ainda bem para quem tem possibilidade de comprar um pó-pó novo.

Porém, não deixa de ser curioso que seja exactamente nos países "pobres", "intervencionados" e "falidos" que tenha havido o maior crescimento da venda de automóveis. O que nos pode levar a acreditar que a crise económica já é coisa do passado. Mas não, a crise não acabou e, mesmo assim, nos três países com maior crescimento na vendas de viaturas novas - no espaço da Associação Europeia de Comércio Livre - estão duas economias que foram intervencionadas pela troika (Portugal e Irlanda) e um caso de falência (a Islândia). Exactamente o oposto do que aconteceu na chamada Europa rica onde, por exemplo, a Holanda, a Áustria e a Suíça registaram quebras de vendas em termos homólogos nos oito primeiros meses de 2014 e a Noruega, que é um dos países mais ricos do continente europeu, apenas registou um aumento de 2% na venda de carros novos.

Factos são factos mas podem e devem ser lidos com alguma prudência. No caso português, sabe-se que a maioria dos carros vendidos foi para empresas de aluguer de carros. Os outros foram para particulares, alguns dos quais (por que não especular?) talvez só agora tivessem hipótese de trocar de carro. Ainda assim, não deixa de ser curioso ...

quarta-feira, novembro 05, 2014

Só queria que me explicassem ...


Embora não concorde mesmo nada com a venda de empresas estratégicas para o nosso país (a EDP, os CTT, a PT e a ANA, por exemplo e para já), admito que outros valores mais altos se levantaram e ditaram, sem dó nem piedade, a alienação dessas empresas. No caso da EDP, 21,35% do capital foram vendidos à estatal China Three Gorges e três anos depois os dirigentes chineses dizem estar muito satisfeitos com o retorno do investimento feito na eléctrica portuguesa. Pudera!. Tem-se dito que é o casamento perfeito, junta-se o muito dinheiro que por lá abunda com o nosso conhecimento técnico, o saber fazer, o know-how como alguns dizem. Não admira, portanto, que os chineses estejam contentíssimos com esta "parceria estratégica".

   Pois bem, os chineses são os donos da EDP mas a energia em Portugal é vendida essencialmente a
  consumidores nacionais, particulares e empresas. Por isso, e tendo em atenção que estamos justamente em Portugal e, também, tendo em conta a concorrência do sector da energia, penso que todas as acções de marketing e toda a publicidade deveria ser dirigida aos portugueses e, já agora, em português. Então, porque carga de água é que as montras do edifício da EDP na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, ostentam toda a decoração em inglês? Só queria que me explicassem ...



terça-feira, novembro 04, 2014

Ora até qu'enfim que há alguém que me compr'enda ...



Disse repetidas vezes ao longo de anos que EU não era capaz de, simultaneamente, ouvir música (ainda que de fundo), ler e estar com atenção ao que se ia passando na televisão. Não tinha - e não tenho - essa capacidade (e duvidava até que alguém a tivesse) de estar atento a várias coisa ao mesmo tempo, porque pensava que, assim, não prestaria a devida atenção a uma só coisa que fosse. Disse-o aos mais novos (que estavam sempre ligados em tudo) e aos mais velhos que diziam acompanhar a rapaziada e juravam ter arcaboiço suficiente para estar em todas ao mesmo tempo. Eram capacíssimos de ter múltiplas aplicações abertas e de saltitar de umas para outras com uma perna às costas ou liam ou estudavam em companhia de um CD de rock da pesada. E quase todos gozavam com esta minha falta de predisposição assumida.

Então não é que ao ler um dos blogues que sigo habitualmente vi uma referência a um tal Daniel J. Levitin, psicólogo, neurocientista e escritor americano, um "velho" nascido em 1957, que sobre este assunto dizia coisas como:

... “saltar” constantemente de uma tarefa para outra exige um enorme dispêndio de energia mental e tem consequências extremamente negativas para o pensamento conceptual e crítico, ao mesmo tempo que reduz a criatividade e a tomada de decisões (…).todos nós gostamos de acreditar que conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo e que a nossa atenção é infinita, o que corresponde a um mito persistente. Aquilo que realmente fazemos é mudar o nosso estado de atenção de uma tarefa para outra, o que resulta no facto de não devotarmos uma verdadeira atenção a nada ou diminuirmos a qualidade da mesma aplicada a qualquer que seja a tarefa. Quando nos concentramos em fazer apenas uma tarefa de cada vez, ocorrem alterações benéficas no nosso cérebro ...

Ora até qu'enfim que há alguém que me compr'enda ...

sexta-feira, outubro 31, 2014

O sexo e a (c)idade



O "sexo e a cidade" é o título de uma série americana que passou com bastante êxito na TV e de que muitos se lembrarão. Mas o que de facto eu quero abordar hoje é "sexo e a idade" ou, melhor dizendo, uma decisão do Supremo Tribunal Administrativo (STA) que tem gerado uma enorme polémica nos últimos dias.

Há 19 anos uma mulher foi operada na Maternidade Alfredo da Costa a um problema ginecológico sem grande gravidade mas que lhe provocou uma incapacidade permanente de 73%. Como resultado de uma operação que correu mal a senhora, então com 50 anos e dois filhos, ficou a poder ter relações sexuais, mas com muita dificuldade, sentia embaraço em sentar-se e andar, passou a sofrer de incontinência urinária e fecal e tinha dores e mau estar constante.

Por se considerar que houve negligência médica a Maternidade foi condenada a pagar à mulher 172 mil euros mas o Supremo não concordou com a Primeira Instância e reduziu para 111 mil euros. Redução baseada em quê? Diz o acórdão: "a doente já tinha 50 anos e dois filhos, ou seja, uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança".

Só que esta decisão, não é apenas uma decisão polémica. É infeliz, atenta contra direitos constitucionais (direito a uma vida sexual activa, no caso) e, do ponto de vista científico, é falsa porque, segundo os peritos, em muitos casos aos 50 anos a sexualidade continua a ter enorme importância na vida das pessoas. Para mais, os juízes confundiram sexualidade com procriação. Porque carga de água é que uma mulher de 50 anos teria que prescindir da prática sexual só porque já tinha dois filhos? Brilhante!

Quase duas décadas depois estes distintos juízes, eles próprios com idades entre os 56 e os 64 anos, "pariram" esta magnífica decisão quando o que parecia estar em julgamento era se houve, ou não, erro médico. Associar sexualidade à maternidade é aberrante e fez-me lembrar o inesquecível poema "Truca-truca" de Natália Correia (que aqui publicámos em 18 de Setembro de 2009), uma resposta inteligente, espontânea e bem-humorada dada no Parlamento (em Março de 1982), ao deputado do CDS João Morgado. Essa sim, BRILHANTE e a recordar.

quarta-feira, outubro 29, 2014

Confesso, o sortudo que ganhou os 190 milhões do euromilhões sou eu!



Só para sossegar os mais atormentados por não saberem quem é o sortudo que ganhou uma pipa de massa na última semana, venho aqui publicamente declarar que os 190 milhões do euromilhões me saíram a mim. Bom, não foram bem os 190 milhões porque uma boa fatia - 38 milhões - vão direitinhos para os cofres do Estado. Tendo em conta a "divida portuguesa" que bom seria para o nosso país que os prémios chorudos do euromilhões saíssem em Portugal.

E tenho que me apressar em reclamar o prémio porque se o não fizer até Janeiro do próximo ano perco o direito a ele. Para já, e segundo as contas do Correio da Manhã, estou a perder em juros qualquer coisa como 9 700 euros por dia, o que, mesmo tendo em conta o dinheiro ganho, ainda é uma data de massa. Não julguem, porém, que me tenho escondido do país só para não ter que emprestar (ou dar) alguns milhares a uns quantos "amigos de infância" que me poderiam bater à porta. Precisamente porque estou a pensar nesses amigos e, em especial, no país, é que tenho estado em reflexão.

Então, já sabem que o feliz contemplado sou eu. E, a partir de agora, ficam também conhecer a minha intenção de beneficiar muita gente com parte do dinheiro ganho. Ora bem, nós somos 10 milhões pessoas. Uma vez que fico com 152 milhões pensei dar uma boa maquia a cada português. A todos? Não. Ainda não decidi quem fica de fora mas, para já, todos os políticos - no activo ou não - não terão direito ao bodo. Há também uns milhares de parasitas da nossa sociedade que não serão contemplados. Verei depois, com mais detalhe, quem serão. Digamos que dos 10 milhões ficarão de fora uns 2 milhões. Acham muito? Se calhar serão mais, digo eu ...

Com tanto dinheiro distribuído vai ser uma festança. Nem o Ministro da Economia poderia prever como a economia vai crescer. Serão os produtores e distribuidores de produtos alimentares a aumentar as vendas, bem como os vendedores de electrodomésticos, de automóveis, de casas (a construção civil vai outra vez estar em alta), de viagens. A economia estará sempre a crescer e os impostos destas transacções a caírem nos bolsos do Estado. O PIB tenderá a subir, a dívida a cair e as agências de rating terão que criar especialmente para Portugal mais um A porque o AAA já não vai chegar.

O plano parece-me bom, pelo menos no primeiro ano. Depois espera-se que outro ganhe um euromilhões chorudo e dê continuidade a este verdadeiro ovo de Colombo. Fico-me por aqui. Agora, tenho que ir procurar o talão premiado porque não o encontro em parte alguma ...

terça-feira, outubro 28, 2014

Cultura? Sim, claro, mas ...


Se aceitamos que para treinar uma equipa de futebol o treinador possa nunca ter jogado futebol (ou que tivesse sido, vamos dizer assim, um jogador fraquinho) ou que para Ministro da Saúde não seja obrigatório ser médico, por que carga de água é que iríamos exigir a uma pessoa que fosse culta (com alguma cultura, vá ...) só para estar à frente de um Ministério da Cultura? Felizmente, e para que não tivéssemos esse tipo de problema, acabou-se com o Ministério da Cultura. Basta-nos uma Secretaria de Estado. A este propósito, li algures o desabafo do Ministro da Cultura grego, Pavlos Geroulanos (certamente depois de uma noite mal dormida) "é uma "pena" e uma "loucura" Portugal não ter um Ministério dedicado à Cultura". Coisa de gregos ... não façam caso.

 

Mas, convenhamos, o problema não acontece apenas em Portugal. Veja-se o caso da Ministra francesa da Educação - Fleur Pellerin - que admitiu na televisão que não tinha lido qualquer livro do Nobel da Literatura de 2014, o francês Patrick Modiano, e que, no geral, lia "muito pouco". Numa entrevista ao Canal+ quando lhe foi perguntado qual o seu livro favorito de Modiano, a Ministra hesitou e acabou por dizer "Admito sem qualquer problema que não tenho tido de todo tempo para ler nos últimos dois anos. Leio muitas notas, muitos textos legislativos, as notícias, os despachos da AFP, mas leio muito pouco". O que levou alguns comentadores a questionar: "Leio muito pouco", assume portanto "sem qualquer problema" a Ministra da Cultura, e até agora ainda não se demitiu. Que lamentável".




Lá como cá. Cultura? Sim, claro, mas ...

sexta-feira, outubro 24, 2014

"Amo-te Sem Saber Como" de Pablo Neruda,



Pablo Neruda (1904 - 1973) foi um poeta chileno, um dos mais importantes poetas de língua castelhana.



 

"Amo-te Sem Saber Como" de Pablo Neruda,

 

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

quarta-feira, outubro 22, 2014

Quando a Banca fecha a torneira aos depósitos ...



Parece que foi há séculos mas não foi. Todos nós nos lembramos que até há bem pouco tempo os bancos se degladiavam entre si para atrair novos clientes ou não davam tréguas aos já fidelizados oferecendo as taxas mais atractivas para os depósitos a prazo ou outros produtos tentadores cuja complexidade poucos entendiam. Quantos de nós fomos "assaltados" pelos gestores de conta - às vezes com chamadas telefónicas para as nossas casas a horas impróprias - a aliciarem-nos com produtos "absolutamente garantidos" e de alta rendibilidade.

Pois parece que foi há muito tempo. E se nessa época eram os bancos que nos procuravam para lhes entregarmos o nosso dinheiro (as nossas poupanças) que se destinavam a financiar outros clientes, hoje são esses mesmos bancos que fecham a torneira dos depósitos por que têm onde se financiar mais em conta. É que, para além de poderem recorrer ao Banco Central Europeu (BCE) onde os juros são mais baixos dos que teriam que pagar aos depositantes, factores como as taxas Euribor estarem excepcionalmente baixas ou mesmo negativas ou o chamado rácio de transformação (depósitos sobre créditos) estar já à volta dos 120% tornam pouco interessantes as taxas de mercado oferecidas pelas instituições bancárias. E (creio) os juros vão continuar baixos pelos menos até ver ...

Por isso (e até ver, repito) os aforradores têm que pensar em alternativas. O imobiliário é uma delas mas há outras. No meu caso já comprei uns quantos porquinhos-mealheiro ... dos tradicionais. Na verdade, as poupanças depositadas nos porcos podem render ainda menos do que se estivessem em depósitos a prazo mas tenho a certeza que me vai dar um prazer dos diabos assentar o martelo em cima dos porcos, parti-los aos bocados e tirar as notas e moedinhas que, com sacrifício, tenha colocado na ranhura dos ditos. É o regresso às origens, que é como quem diz, o retorno aos anos da minha meninice.

terça-feira, outubro 21, 2014

O adeus aos sacos de plástico?



Quando se esperava (tudo indicava que) o OE para 2015 contemplasse a descida de 1% sobre a sobretaxa de IRS, o Governo não inscreveu essa medida na proposta e anunciou apenas (aliás imposto pelo Tribunal Constitucional) o fim da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) e de cortes menos radicais na despesa. Ainda assim, o próximo ano vai continuar a ser muito duro para os portugueses. A título de exemplo, a factura do IMI vai aumentar significativamente no próximo ano, embora este facto não advenha especificamente do OE 2015 mas sim do fim da cláusula de salvaguarda previsto para 2014. Portanto, o IMI vai ser mais uma dor de cabeça para os cidadãos.

Mas onde o Governo foi, de facto, criativo foi na proposta aprovada na última quinta-feira em Conselho de Ministros que contempla uma taxa de oito cêntimos sobre cada saco de plástico de compras. Ou seja, o saco será vendido a oito cêntimos mas ainda haverá lugar à cobrança do IVA. Na prática, cada saco sairá por cerca de dez cêntimos. Tudo isto disfarçado pela anunciada medida (emblemática para o Governo) da "fiscalidade verde" que parece ser toda a favor do ambiente, mas que, ao certo, serve para o Governo ir arrecadar mais uns 40 milhões de euros em 2015.

Não fico, pois, nada descansado, embora o Governo garanta que ao lançar esta e outras medidas (aumentos, em suma) não estão a pensar em aumentar a receita mas sim em reorientar os comportamentos. Tretas, digo eu, mesmo que dos 460 sacos por ano e por consumidor se espere atingir um tolerável gasto de 50 sacos por consumidor. Se não mudarmos de hábitos (isto é, se não reorientarmos os nossos comportamentos, como eles dizem) cabe-nos desembolsar qualquer coisa como mais 50 euros por ano. Agora, quem não deve ter gostado mesmo nada da ideia são todos aqueles que estão na cadeia de fabrico dos sacos de plástico ... E devem ser muitos.

sexta-feira, outubro 17, 2014

Quem semeia ventos (pode) colhe(r) tempestades ...



Quando entrei naquela enorme rotunda vi logo uns quantos GNR que faziam uma operação stop. Como não é costume mandarem-me parar, atacava confiante a rotunda quando um braço policial se ergueu, firme e hirto, mandando-me encostar. Depois da costumada e imponente continência e a saudação "Boa tarde senhor condutor" seguiu-se o habitual: a verificação de documentos e as voltinhas ao veículo para ver se tudo estava nos conformes. Finda a inspecção, pediu-me para sair do carro para fazer o teste do balão, o que me aconteceu pela primeira vez.

É curioso, e penso que isso acontece a quase todos, que sempre que polícias, finanças, segurança social ou tribunais nos contactam isso dá-nos uma sensação de insegurança que nos leva a pensar: "Mau, o que é que eu fiz de mal?".

Enquanto me dirigia à carrinha para soprar o balão, disse ao agente "também tenho aqui o comprovativo do pagamento do selo" ao que ele respondeu "não, isso nós não controlamos, eles (a Autoridade Tributária) fazem-no muito melhor do que nós.

A partir daí, foi ouvi-lo vociferar contra tudo e contra todos. Que estávamos num país de faz-de-conta onde todos pagavam e ninguém se revoltava, que eles (os da AT, os políticos e sei lá mais quem ...) eram corruptos e ninguém corria com eles que só queriam "roubar". Eu nem queria acreditar que estava a ouvir um agente da GNR devidamente uniformizado e em funções. Imaginei-me num café onde um (podia até ser aquele) comum cidadão desabafava as suas indignações. O agente só se interrompeu para me perguntar: "o senhor não é das Finanças, pois não?". Sosseguei-o dizendo que não e ele prosseguiu o desabafo.

Por acaso não sou das Finanças, nem sou um oficial superior da GNR, nem sou magistrado nem tenho qualquer poder. Pelo que, perante a verborreia inusitada (mas sentida, sentia-se) do GNR, eu não poderia, ainda que pretendesse, chamar-lhe a atenção ou até, eventualmente, aplicar-lhe qualquer procedimento disciplinar. É que quando se fala demais e, sobretudo, com quem não se conhece, por vezes colhem-se dissabores ... como diz o ditado "quem semeia ventos (pode) colhe(r) tempestades" ...

Depois de outra solene continência mandou-me seguir caminho com a frase do costume: "Boa viagem, senhor condutor".

Ainda mal refeito deste encontro vim andando devagarinho, sempre pensando na revolta não reprimida do agente. E perante tudo aquilo que ouvi da boca dele, não pude deixar de sorrir quando imaginei uma situação em que o agente seria eu e no (possível) resultado mostrado no aparelho se lhe pedisse que fizesse o teste do balão ...

quarta-feira, outubro 15, 2014

Não há fome que não dê em fartura ...



Ainda há oito dias eu contava aqui no "Por Linhas Tortas" as desventuras de uma professora de Bragança em busca de uma escola onde tivesse vaga e eis que leio uma outra história de um outro professor que ficou colocado em 75 escolas, mesmo depois de ele ter desistido do concurso. Leram bem, dos 3216 horários que o Ministério da Educação atribuiu a sexta-feira passada, 75 ficaram para ele, que não vai aceitar qualquer um. Isso significa que, por causa de um erro, mais de 1000 crianças, no mínimo, ficarão pelo menos mais uns dias sem aulas.

Lá diz o ditado "Não há fome que não dê em fartura ...". Ou, digo eu, a incompetência continua.