segunda-feira, outubro 31, 2011

A noite de Halloween



Estamos em 31 de Outubro. Esta vai ser a noite do Halloween. E o que é que é isso ao certo, perguntarão alguns dos meus Amigos. Dei-me ao trabalho de ir à Wikipédia e lá diz que “O Dia das Bruxas (Halloween é o nome original na língua inglesa de um evento tradicional e cultural, que ocorre nos países anglo-saxónicos, com especial relevância nos Estados Unidos, Canadá, Irlanda e Reino Unido, tendo como base e origem as celebrações dos antigos povos. Não existem referências de onde surgiram essas celebrações)”.


Apesar de Portugal não se encaixar nos países anglo-saxónicos, o que temos constatado é que parece haver uma certa adesão à noite do Halloween. Mas, digam-me lá, se não é uma tradição portuguesa por que carga de água é que se comemora? Digamos que – e esta é a minha opinião - por moda e, especialmente, por razões comerciais, como que um aquecimento para outra época também ela muito comercial que é o Natal. Ou seja, antes das árvores de Natal, dos pais natais, das estrelinhas, brinquedos e doces vários, vá de começar a “época de caça às bolsas” com abóboras, morcegos e máscaras. Ao fim e ao cabo, o 31 de Outubro é o ponto de partida para os 55 dias de uma época marcadamente comercial.


O que nos leva a reflectir se não deveríamos, sobretudo em tempos tão difíceis como os que vivemos, pensar nos dias 31 de Outubro como sendo o Dia Mundial da Poupança. Deu para entender?


sexta-feira, outubro 28, 2011

Ser Poeta

Da poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894 – 1930)

“Ser Poeta”


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além-Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

quinta-feira, outubro 27, 2011

Havaianas, sandálias & Cª. Lda.



Desculpem-me a franqueza mas tenho que dizer que já estava farto de ver tanto pé (des)calçado com havaianas, sandálias & Cª. Lda. Felizmente o tempo está mais frio, já chove e as havaianazitas vão ter que ficar arrumadas até à próxima primavera.

Provavelmente a culpa nem será das próprias havaianas ou de quem as inventou, mas a verdade é que eu tenho um sério problema com a fixação do olhar em certos pontos-chave das pessoas que passam por mim. Saltam-me imediatamente aos olhos, os olhos, os lábios, as mãos e, desnecessariamente, os pés.

Quanto aos olhos, lábios e mãos eles são como um cartão-de-visita e definem muitas vezes que tipo de pessoa é que temos pela frente. E o calçado também. Os pés não, olhar para esses desgraçados não dará seguramente para penetrar no íntimo das pessoas. Mas, na minha modesta opinião, dará para avaliar o grau de estética e elegância de uma criatura.

Se os pés são bonitos e bem-feitos todas as sandálias, havaianas e “pés descalços” ficam bem. Dá gosto olhar para eles.

O pior é quando eles são feios, deformados, com dedos encarquilhados e sobrepostos e tortos, as unhas demasiado compridas ou curtas ou sujas ou com o verniz a cair ou negras de pisadas, os joanetes e as calosidades nos dedos e nos calcanhares, a sujidade espalhada por tudo quanto é sítio. E quando o barulho incessante e incomodativo do bater das chinelas aperta, então, é o descalabro total.

E se em tempo de praia, enfim, são desculpáveis os maus gostos de cada um, noutras estações e nas cidades as chineladas são perfeitamente intoleráveis. Chegou-se mesmo ao ponto em que se usam havaianas com smoking ou fato de noite. Vejam só!

Eu sei que a comodidade do pé à-vontade supera em muito a estética da coisa. Mas, que querem? Um pé mal-amanhado completamente à mostra faz-me lembrar um corpo anafado vestido de lycra em que as gorduras teimam em fazer pregas.

Perguntarão, mas o que é que os outros têm a ver com o que cada um veste ou calça? Os outros não sei mas, no que me diz respeito, não gosto e não acho elegante, apesar de considerar que as pessoas que os usam (e que têm os pés feios) têm todo o direito de o fazer.

Nestas modas de Verão, eu já não gostava das “mules” e dos “shocks”. Começou-se a usar e zás, poucos escaparam à tentação de entrar também na procissão. Mas ficavam-lhes bem, condiziam com o seu tipo de corpo e de pé? Não, usavam por que era moda e isso bastava-lhes.

Felizmente a chuva e o frio trouxeram de volta os sapatos fechados e as botas, o calçado mais elegante e democrático que servem, igualmente, os pés bonitos e os outros. Como vêm o mau tempo não nos trás apenas desconforto.


quarta-feira, outubro 26, 2011

“Isto só acontece em Portugal”



Não sei se alguma vez vos falei do Sr. Rodrigues, um dos donos de um café que frequentei durante vários anos. O Sr. Rodrigues, um homem a atirar para o obeso e de bigode farfalhudo, é o típico português do bota a baixo, um ás do queixume, que sempre acaba qualquer tentativa de conversa com um “isto só acontece em Portugal”. Mais um cidadão que fundamenta as suas doutas opiniões na ignorância do que se passa lá fora.


Não vejo o Sr. Rodrigues há algum tempo mas, certo de que não terá mudado, quase podia jurar que o corte dos subsídios de férias e de Natal dos próximos dois anos lhe poderia sugerir o tal “isto só acontece em Portugal”, dito de forma inflamada e absolutamente inquestionável.


Enganar-se-ia, porém, mais uma vez.


De facto, nem todos os países têm essa prática. Se é verdade que países como a Espanha, a Itália, a França e a Holanda têm esses subsídios, se bem que os valores não sejam em todos os casos do mesmo montante dos ordenados mensais, outros há que esse tipo de benesses não existem. É o caso, por exemplo, dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da Irlanda. Já na Alemanha existe uma gratificação - que não é um direito – cujos montantes não são fixos. Ainda há casos como a Hungria, em que nunca houve um 14º mês mas o 13º já existiu e foi retirado em 2009, precisamente quando o país foi “ajudado” pelo FMI. Isto para já não falar dos inúmeros países que nunca ouviram falar em vencimentos adicionais.


Esta é a realidade do que se passa lá fora e que mostra que, afinal, não estamos tão mal como isso. O que não invalida que sintamos um mal-estar pelo corte parcial do subsídio de Natal deste ano e com o corte dos dois, nos dois próximos anos (pelo menos). Mal-estar, desolação, incomodidade, o que lhe queiram chamar. Mas o fundamental da questão nem é, na minha perspectiva, retirarem-nos dois meses de salário em cada ano. O que nos deve preocupar mesmo é o baixo nível salarial da maioria dos portugueses e o desemprego. Mas isso levar-nos-ia a outras reflexões …


terça-feira, outubro 25, 2011

Tolerâncias

Uma das (más) características dos portugueses é a de raramente cumprirem horários. Ao contrário do que acontece com outros povos, para nós existe sempre uma margem para o atraso. A prova disso está – recordam-se? – na tolerância oficial de quinze minutos que antigamente (penso que hoje já não é assim) era uma prática dos funcionários públicos. Em vez de entrarem às 9 horas, chegavam até às nove e um quarto.

Aliás, ainda é frequente marcarem-se encontros, para as dez, dez e meia. Ora, isso não é uma combinação, ou se marca para as dez, ou para as dez e um quarto ou para as dez e meia. Entre as e as, é que não é nada. Ou antes, é falta de organização.

Há uns anos, quando a minha empresa foi reprivatizada, o presidente, homem do mundo e com outros hábitos, marcou a primeira reunião com todos os Directores para as oito da manhã. Claro que ficou esperando que as pessoas convocadas chegassem … a pouco e pouco e para além da hora agendada. Aqueles senhores estavam tão habituados às tais tolerâncias que não gostaram mesmo nada quando o presidente lhes disse, de uma forma firme e definitiva que, a partir daquele momento, as horas deveriam ser respeitadas. Segundo sei, nunca mais alguém chegou atrasado.

O mesmo se passou recentemente no dia da apresentação do Orçamento de Estado para 2012. O Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, no seu estilo pausado e rigoroso, começou a falar à hora aprazada. Quem não achou piada a esse “excesso de rigor” foram alguns jornalistas que iam cobrir o acontecimento e chegaram mais tarde.

Dir-me-ão: “Nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Pois sim, mas a condescendência para com os atrasados também tem limites.


segunda-feira, outubro 24, 2011

Precaução



Sigo com interesse as crónicas do jornalista/escritor/viajante Gonçalo Cadilhe. Especialmente aquelas que transmitem outras vivências e “cheiros” das regiões mais desconhecidas ou exóticas.

Numa que ouvi na rádio na semana passada, Gonçalo falava sobre a Indonésia, a sua dispersão geográfica e as suas religiões e companhias de aéreas.

A República da Indonésia é um grande país localizado entre o Sudoeste Asiático e a Austrália, composto pelo maior arquipélago do mundo, qualquer coisa como 18 mil ilhas. Daí que as deslocações inter-ilhas tenham que ser feitas por aviões pertencentes a uma das muitas companhias aéreas existentes. Porém, como quase todas são de tão má qualidade, os acidentes são constantes e quase sempre fatais para quem viaja. Aliás, quase todas essas companhias estão proibidas de operar no espaço europeu. Mas, internamente, e sem alternativas, a única solução é embarcar e ter fé em Deus.

E já que falamos em Deus, diga-se que a Indonésia, para além de grande, tem um leque de religiões bastante diverso. Mais de 80% do povo é muçulmano, 10% são cristãos e há uma miríade de outras religiões entre as quais o Budismo e o Hinduísmo.

Mas houve uma coisa que achei muito curiosa nesta crónica do Gonçalo Cadilhe. Devido à falta de segurança da maior parte dos aviões, as operadoras aéreas decidiram distribuir folhetos com orações (das várias religiões) aos passageiros.

Precaução? Talvez! À cautela, porém, os viajantes sempre vão lendo as orações enquanto não chegam ao seu destino.

Sintomático e preocupante, não acham?


sexta-feira, outubro 21, 2011

Discretamente ...



Sempre gostei de pessoas discretas. Admiro aqueles que, sendo bons naquilo que fazem, não se põem em bicos de pés, à espera dos aplausos. Como acontece com a Elvira Fortunato, a cientista portuguesa de micro-electrónica, uma das melhores do mundo. Ou com o arquitecto Souto Moura que recebeu há pouco o “Nobel” da Arquitectura. Percebem o quero dizer? Vêm de mansinho e são verdadeiras sumidades.

Mas também há dos outros. Os que – discretamente – tentam driblar as leis esquecendo-se que ainda existem auditorias independentes que, mais dia, menos dia, vão pôr a nu as irregularidades que cometeram.

Foi o que sucedeu com o Director-Nacional da PSP, três Directores-Adjuntos e o Inspector Nacional que decidiram aumentar as suas próprias remunerações. No ano passado estes directores de topo da PSP passaram a vencer pelo novo regime remuneratório da corporação enquanto que a esmagadora maioria dos efectivos desta força de segurança, passado mais de um ano, ainda não conseguiu transitar para a nova tabela. E, em segredo (não existe forma mais discreta), autorizaram a sua “promoção” que custou ao Estado mais uns míseros 24 mil euros.

A auditoria da Inspecção Geral de Finanças apurou ainda, para além destas apressadas promoções, outros procedimentos irregulares e ilegalidades relacionados com abonos salariais e contratações.

Não sei se, neste caso, podemos falar de desonestidade pura e dura. Mas houve, claramente, falta de ética. A não ser que estes quadros superiores da PSP tivessem querido demonstrar aos seus subordinados que as promoções – tal como os exemplos - começam por cima.


quinta-feira, outubro 20, 2011

O cavalo do inglês



Conta-se que dois amigos britânicos conversavam sobre a “experiência científica” que um deles estava a fazer com o seu cavalo, a quem, a cada dia, dava um pouco menos de ração, sem que se reflectisse no seu desempenho. Porém, um dia, ao lhe perguntarem como estavam os resultados da experiência, o dono do animal, lamentou-se: “Aconteceu uma infelicidade, justamente quando o cavalo já quase não comia, caiu pró lado e... morreu”!!!

Temo que ao país venha a acontecer o mesmo que ao cavalo. É que continuo sem perceber, com as medidas de austeridade que têm sido anunciadas, como vamos conseguir gerar riqueza. De uma forma muito simplista, pode-se dizer que os cortes dos rendimentos (de salários, subsídios, etc.) provocam dois efeitos: um, as pessoas não conseguem poupar, dois, há retracção no consumo. Ora se não se gasta nas lojas, nos restaurantes, se não compram equipamentos, se não vão a espectáculos, enfim, se não há consumo, esses estabelecimentos começam por reduzir o pessoal e, muitos deles, acabam por encerrar portas. Com mais falências e mais desempregados o Estado fica com dois problemas nas mãos: por um lado deixa de receber as receitas provenientes dos impostos (IVA, IRS, IRC) e os descontos dos trabalhadores e, por outro, fica com um acréscimo de encargos, nomeadamente com mais subsídios de desemprego.

Ou seja, o Estado vê a sua economia a definhar. As receitas caem drasticamente enquanto as despesas tendem a subir por via dos encargos sociais. A não ser que estes últimos venham, também, a ser progressivamente retirados.

Outra coisa que me faz confusão, e também ainda não vi isso explicado, é porque é que os bancos não querem recorrer aos 12 mil milhões de euros que faz parte do programa de assistência a Portugal. Em princípio, essa verba destinar-se-ia ao financiamento das empresas e, dessa forma, a dinamizar a economia. Que motivo será esse?

Por isso digo que a recessão que o Ministro das Finanças prevê que possa alcançar 2,8% no próximo ano faz lembrar a história do cavalo do inglês. De tanta austeridade, o mais provável é que o país – sem a economia a funcionar – enfraqueça gradualmente e venha a morrer.


quarta-feira, outubro 19, 2011

Preocupação e Desespero

Na passada segunda-feira assinalou-se o dia mundial contra a pobreza extrema e foram divulgados pelo Eurostat os seguintes dados: só na Europa existem cerca de 43 milhões de pessoas que não têm meios para pagar uma refeição diária, 79 milhões que vivem abaixo do limiar da pobreza e 30 milhões que sofrem de subnutrição.


Com o trabalho empenhado dos 240 Bancos Alimentares em 21 países europeus conseguiu-se distribuir no ano passado 360 mil toneladas de produtos alimentares a Instituições de Solidariedade Social. Mais de metade do total dos alimentos entregues vieram do Programa Europeu de Apoio Alimentar a Carenciados (PCAAC) que ajudou 18 milhões de pessoas consideradas mais necessitadas.


Mas a crise e os consequentes cortes de verbas estão a pôr em risco a continuidade do Programa e, assim, Portugal pode deixar de receber as 18 toneladas de alimentos que todos os anos nos chegam, ou seja, um quinto do que tem recebido. O que quer dizer que mais de 400 mil portugueses podem vir a ser afectados. Cidadãos que, na maioria dos casos, só sobrevivem porque têm este apoio alimentar.


Sabemos que a preocupação e desespero – de utentes e instituições - tem vindo a crescer e vai-se agravar nos próximos tempos. O número de pessoas carenciadas continua a aumentar e as soluções tardam em aparecer.


terça-feira, outubro 18, 2011

Provisórios



As coisas têm vindo a piorar. Todos os dias vamos sabendo de novos impostos, de perdas (que dizem ser temporárias mas que sabemos se irão prolongar sei lá até onde), algumas que julgávamos há muito serem um direito adquirido. As condições de vida estão a deteriorar-se significativamente e a angústia e o desespero está a atingir proporções preocupantes. A vida de todos nós está a ficar insuportável.


Nos últimos meses, então, sempre que alguém anuncia uma nova medida de austeridade, acrescenta-lhe que será provisória durante ou até uma data qualquer.


Este ano vamos ficar sem cerca de 50% do 13º mês. Um corte provisório. Já depois de termos digerido este anúncio, fizeram-nos saber que em 2012 e 2013 os nossos subsídios de férias e de Natal irão à vida. Mais um corte provisório que pode, no entanto, “eternizar-se” durante mais uns anos (embora o Ministro das Finanças tenha dito ontem, em entrevista à RTP, que estas medidas não poderão perpetuar-se por motivos legais. Só que as leis mudam). E temo (fico arrepiado só de imaginar) que a partir de dois mil e qualquer coisa, algum Governante pense na possibilidade de começarmos a pagar – não sei se de forma provisória ou já definitiva – ao Estado o correspondente aos subsídios que agora nos foram esbulhados. Entenderam bem, não é não irmos receber, é sermos nós a pagar. E certamente que o faremos sentindo, palavra por palavra, os versos do Sérgio Godinho “com uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes”.


É que, para mim, os “Provisórios” eram, até há uns anos, apenas uma marca de tabaco.


Bem que os pacotinhos de açúcar do Café Nicola já andavam a mentalizar-nos: “Um dia ficamos sem subsídios de férias e de Natal”. E não é que tinham razão?


segunda-feira, outubro 17, 2011

Afogar as mágoas



Na última sexta-feira o meu filho espantava-se comigo porque que estava à espera de encontrar aqui no blogue um texto que disparasse em todas as direcções por causa do corte dos subsídios de férias e de Natal do próximo ano. Segundo ele, dava a ideia de que eu – ao escrever sobre a Fada do Dente, coisa que neste momento não interessa a ninguém – estava-me perfeitamente nas tintas para o que se tinha passado.


Expliquei-lhe que não tinha sido bem assim. Na verdade, depois de ouvir a comunicação de Passos Coelho ao país, sobre as novas (e duríssimas) medidas de austeridade e enquanto todos nós lá em casa tentávamos assimilar e digerir tudo aquilo - calados, revoltados e assustados - eis que, em vez de espernear, fui ao frigorífico e surgi na sala (aparentemente com uma expressão descontraída) com uma garrafa de espumante acabada de abrir e umas quantas flutes.


Percebi a confusão que se instalara naquelas cabecinhas e a certeza de que as medidas anunciadas tinham conseguido acabar comigo de vez. E percebi, também, que se questionavam sobre o que iríamos comemorar se estávamos à beira de saltar para o precipício.


Nada mais simples. É que, penso eu, para além de se dever beber na comemoração das vitórias é importante que também o façamos quando queremos afogar as mágoas. E, perante a hecatombe …


sexta-feira, outubro 14, 2011

A Fada do Dente



Já que nos últimos dias tenho “viajado” um pouco pelo mundo da fantasia, do encantamento e das “modas”, aqui vai mais uma opinião pessoal (já começo a jogar à defesa) sobre uma moda que, nos últimos anos, tem tido mais visibilidade. Refiro-me à “Fada do Dente”, a tal que troca “dentes de leite” colocados por debaixo dos travesseiros das criancinhas por moedas ou presentes.

Embora ninguém saiba a data em que se descobriu que existia uma Fada tão boa, consta que a coisa já vem do tempo dos vikings, um povo nórdico que invadiu e colonizou grandes áreas do que é hoje a Europa, entre os séculos VIII e o XI. No entanto, são muitas as histórias que circulam desde o início do século XX e que criaram raízes – tradições – primeiro, curiosamente, nos Estados Unidos e no Canadá e, mais tarde, no Reino Unido e até em Portugal.

Mas se é uma tradição já tão antiga porque é que digo que virou moda? Apenas porque eu, já nascido em meados do século XX, nunca ouvi falar em “Fadas do Dente” nem, muito menos, tive qualquer presente quando os primeiros dentes começaram a cair. Fiquei apenas desdentado, acho que guardei por uns tempos “o primeiro” e esperei pacientemente a chegada dos dentes que estavam prontos a despontar.

Os tempos eram bem diferentes então. Para além da Fada do Dente, calculem que nem sequer sabíamos da existência do Pai Natal. Os presentes, para os que tinham a ventura de os receber, eram, tão-somente, uma graça do Menino Jesus. Outros tempos em que uma geração ficava realmente “à rasca” quando sofria com dores de ouvidos e nem tínhamos a mínima noção de que o nosso problema era uma otite.


quinta-feira, outubro 13, 2011

Olá Princesa – 2ª parte



A crónica de ontem suscitou alguma polémica entre muitas Amigas minhas que são mães de lindas princesinhas. Não creio, porém, que haja motivo para tanto. Escrevi apenas aquilo que sinto, ou seja, que esse tratamento mais não é que uma moda. E, acreditem, não estava a pensar em alguém em especial quando me referi às princesinhas e às suas reais mãezinhas. Ficamos, portanto, assim, a questão “das princesinhas” é, para mim, tão-somente, uma questão de moda, uma das tantas que sempre aparecem em cada geração. Mais nada.


Porém, não posso deixar de pensar nos perigos que, em minha opinião, podem surgir provocados por esse tratamento. A sua utilização continuada em detrimento de um nome próprio pode trazer às crianças uma espécie de trauma (chamemos-lhe assim), embora lhe reconheçamos toda a ternura que contém. Num nome há uma identidade própria, uma personalidade, sinais distintivos que qualquer outro tratamento – ainda que afectuoso e da moda - não possui.


Uma Amiga minha (eu sei que me estás a ler) confidenciou-me, certa vez, que muito raramente ouviu o seu pai tratá-la pelo nome. Ou era a “miúda”, ou a “pequena” ou a “minha filha”. E isto, como compreenderão, deixou-lhe pelo menos recordações (continuo a não querer chamar-lhe trauma) que permaneceram até hoje.


quarta-feira, outubro 12, 2011

Olá Princesa



Certamente que quando Clara Pinto Correia escreveu o “Adeus Princesa” e abordou os problemas vividos num Alentejo rural envolvido em conflitos políticos, económicos e sociais, não poderia supor que uns anos mais tarde, não no Alentejo mas em Portugal, iria nascer uma moda que alastrou, e de que maneira.


Tornou-se costume ouvir mãezinhas com filhas pequenas tratar os seus rebentos docemente por “Princesas”. Em cada sítio em que há meninas é um coro de chamamentos “Oh, Princesa, traz-me isto”, “Oh Princesa, vem aqui à mamã”, “Oh Princesa, dá um beijinho à tia”.


Mas, mais do que pensar que se trata apenas de uma moda, embora afectuosa, o que me preocupa – pela omissão – é a forma como os pais tratam os seus filhos homens. Será que lhes dizem simplesmente “Oh puto, anda cá” ou, projectando o seu maravilhoso futuro, chamam-lhes “Oh Cristiano (Ronaldo) vai dizer à tua mãe …”.


E é em coisas tão simples e tão vulgares como estas que se nota, desde cedo, a discriminação nas sociedades.


terça-feira, outubro 11, 2011

Uma excepção que se saúda



Fiel ao que prometeu nas eleições de 2008, Carlos César, Presidente do Governo Regional dos Açores, anunciou que não será candidato nas eleições que se realizarão no próximo ano. Assumiu em 2008 que não concorreria novamente e, portanto, vai cumprir. Tudo em nome da palavra política dada, em nome da ética.


Bem podem agora argumentar, como já vi escrito, que o número de eleitores dos Açores é “um pouco maiorzito do que a cidade do Cacém”. Para mim, o que conta é a credibilidade que se atribui à palavra dos políticos e isso é coisa que anda um pouco arredada da nossa vida democrática.


César é, portanto, uma excepção que se saúda.


segunda-feira, outubro 10, 2011

O apelo de Cavaco Silva aos portugueses: poupem mais e evitem gastos desmesurados



Na linha de muitos outros que já lhe ouvimos, Cavaco Silva no discurso do 5 de Outubro disse um conjunto de coisas já sabidas mas que, na prática, nada significam para os cidadãos. No entanto, houve passagens em que ele quis mesmo direccionar o discurso à maioria dos contribuintes e, aí, foi simplesmente lamentável. Como neste pequeno trecho:


"... Portugueses, vivemos tempos muito difíceis… Agora, estamos confrontados com uma situação que irá exigir grandes sacrifícios aos Portugueses, provavelmente os maiores sacrifícios que esta geração conheceu.

… A crise que atravessamos é uma oportunidade para que os Portugueses abandonem hábitos instalados de despesa supérflua, para que redescubram o valor republicano da austeridade digna, para que cultivem estilos de vida baseados na poupança e na contenção de gastos desmesurados…”

Hábitos instalados de despesa supérflua? A que população é que Cavaco se estava a dirigir? Em Portugal o salário mínimo não chega aos 500 euros e o médio anda na casa dos 700 euros. Seria nestes trabalhadores que o Presidente estava a pensar? Ou seria nos cerca de 3,5 milhões de pensionistas (6 em cada 10 trabalhadores no activo), a maior parte deles com débeis com pensões de reforma que mal dão para sobreviver?


Recuso-me a acreditar que a mensagem de Cavaco Silva se destinasse aos portugueses que, com muito sacrifício, conseguiram comprar casa própria e mudar de automóvel durante os últimos 30 anos, uma vez que a maioria estará, por causa disso, endividada até à raiz dos cabelos.


E, a não ser que ele estivesse a falar para uns quantos que puderam comprar carros de luxo (a compra de carros de luxo aumentou 50% em Portugal em 2010. A Porsche liderou com um crescimento de 88%) ou para aqueles que acumulam boas pensões de reforma – como ele próprio – parece-me completamente desajustado o apelo que fez à “poupança e à contenção de gastos desmesurados”. Só se estava a pensar em outros cidadãos de um outro país.


sexta-feira, outubro 07, 2011

Novo imposto?



Se calhar sou eu que tenho razões para desconfiar que algumas iniciativas governamentais são apresentadas sob a capa de uma boa causa e, ao fim e ao cabo, nem são assim tanto. O povo diz que “gato escaldado de água fria tem medo” e a verdade é que, muitas dessas boas intenções a favor de causas nobres, encobrem o verdadeiro propósito: arrecadar mais umas receitas para os cofres do Estado. E isso acontece em Portugal como na maioria dos outros países.


Não acredito, porém, que isso se verifique num país civilizado como a Dinamarca que acabou de se tornar o segundo país do mundo (a Hungria foi o primeiro) a introduzir uma taxa especial sobre a gordura. Ou seja, todos os alimentos que tenham mais de 2,3% de gordura saturada por quilo terão, a partir de Outubro, de pagar uma taxa adicional de 16 coroas (2,15 euros). Para dar um exemplo, um pacote de 250 gramas de manteiga passa a custar mais 25 cêntimos. Num país que tem menos de 10% de obesos clínicos, portanto abaixo da média europeia, esta pode ser apenas mais uma taxa. Só que os cidadãos dinamarqueses confiam que este dinheiro vai ser bem gerido.


A questão é que o aumento da carga fiscal sobre os alimentos menos saudáveis está a ganhar força por toda a Europa e não tarda que por cá o exemplo venha a ser seguido. E, perguntar-se-á, “isso é para defender a saúde pública?” Sim, também, mas, de imediato será, sobretudo, para obter mais receitas de que o Estado tanto necessita.


E a criatividade pode nunca mais parar, tudo em nome de razões perfeitamente entendíveis. Como por exemplo inventarem um imposto para quem tenha menos de dois filhos, ou um imposto para quem deixe as luzes acesas depois das duas da manhã ou, ainda, um imposto a aplicar a quem tenha mais de 60 anos.


Como também diz o povo, “No comer e no coçar o mal está em começar” …


quinta-feira, outubro 06, 2011

Porreiros, Pá



Poucos terão ouvido falar em George Potamianos. Pois digo-vos que o Sr. Potamianos é um armador grego que ficou tão apaixonado pelo paquete português “Funchal”, quando o viu em 1975, então fundeado no Mar da Palha e esquecido há anos pelo Governo, que decidiu fretá-lo e, mais tarde, conseguiu comprá-lo. Por causa deste navio o armador fixou-se em Portugal para onde transferiu a sede da sua companhia de cruzeiros.


Mas o que achei mais curioso nesta história é que quando ele quis fretar o Funchal em 1975, em plena época revolucionária em Portugal, necessitou da ajuda dos seus parceiros suecos. E a resposta foi, provavelmente, a mais lógica de quem nos olhava de fora: “Estás maluco? O país está em revolução”. A resposta do grego foi exemplar: “Venham ver como fazem a revolução aqui. As pessoas protestam na rua com tambores e bandeiras, às 2 horas da tarde param para almoçar e voltam depois. Se têm medo desta gente civilizada, estão errados”. Resultado: os suecos alinharam no negócio.


É a tradicional bonomia dos portugueses ou, simplesmente, “Portugueses? Porreiros, Pá!”


terça-feira, outubro 04, 2011

O que é a Finança?



Provavelmente a história que hoje vos trago já será conhecida de muitos de vós. No entanto, não resisti a publicá-la, especialmente numa altura em que o mundo se interroga sobre como sair do gravíssimo problema económico/financeiro em que se encontra. Tem que haver uma solução, só que tarda em chegar.


A história é esta:


“Imaginem que um casal chega a um hotel da vossa terra e pergunta quanto custa um quarto para o fim-de-semana.
O recepcionista responde: 100 euros pelos 2 dias.
Muito bem. Responde o cavalheiro. Mas gostaríamos de conhecer as vossas instalações antes de reservarmos. Os quartos, a piscina, o restaurante...
- Não há problema, responde o recepcionista. Os srs deixam uma caução de 100 euros e podem visitar as nossas instalações à vontade. Se não gostarem nós devolvemos o dinheiro.
- Combinado, disse o casal.
Deixaram os 100 euros e foram visitar o hotel.
Acontece que:
O recepcionista devia 100 euros à mercearia do lado e foi a correr pagar a dívida.
O merceeiro devia 100 euros na sapataria e foi a correr pagar a dívida.
O sapateiro devia 100 euros no talho e foi a correr pagar a dívida.
O talhante devia 100 euros à agência de viagens e foi a correr pagar a dívida.
O dono da agência devia 100 euros ao hotel e foi a correr pagar a dívida.
Nisto o casal completou a visita e informou que afinal não vão ficar no hotel.
- Não há problema. Tal como lhe disse, aqui tem o seu dinheiro, devolveu o recepcionista.
Conclusão:
Toda a gente pagou a quem devia... sem dinheiro nenhum.
O casal levou os 100 euros que pagaram todas as 5 dívidas no valor total de 500 euros.
Ponham aqui os olhos e percebam que todo o sistema financeiro, desde que inventaram os números negativos, se tornou uma fraude.
Zero euros pagaram 500 em dívida.
E podíamos continuar indefinidamente”.

A história parece dar razão ao Nobel da Economia de 1976, Milton Friedman, a quem se atribui a frase:
"Não perguntem onde está o dinheiro porque ele não está em lado nenhum!"


segunda-feira, outubro 03, 2011

No sítio errado



Considero que o programa da SIC, o “Peso Pesado”, que ontem começou a sua segunda série, para além de um concurso e do entretenimento que o mesmo suscita, constitui uma chamada de atenção para todos aqueles que têm consciência de ter excesso de peso e demasiado sedentarismo. Programas como este podem ser o alerta que pode fazer mudar alguma coisa na vida de cada um e da sociedade. Neste caso, poderá ser o sinónimo de mais saúde e melhor qualidade de vida.


Ficamos, agora, à espera que apareçam outros programas que “ensinem/transmitam” novas atitudes para uma melhor cidadania. Que levem as pessoas a que, por exemplo, não coloquem o lixo num bebedouro em vez de utilizarem um recipiente próprio. Porque, claro está, cada objecto urbano tem a sua função. O caixote do lixo para o lixo e o bebedouro para nos dar água.


É que na foto que se vê em cima, a rapaziada para não dar mais uns passinhos para pôr o lixo “em su sítio” (ao fundo, não muito longe, está um caixote do lixo) puseram-no mesmo na parte superior do bebedouro. Calculo que tivesse sido muito mais prático mas é extremamente inestético e, obviamente, muitíssimo menos higiénico.


Cidadania precisa-se. Já!