Lembro-me, era eu ainda um garboso moçoilo, de ouvir o meu pai dizer que tinha concorrido por diversas vezes a bairros da Câmara de Lisboa e que por uma razão ou por outra nunca tinha conseguido casa alguma. Umas vezes por que ganhava de menos, outras por que ganhava demais, outras ainda por que não tinha filhos, finalmente, por que já tinha muitos filhos. Segundo ele, as casas eram sempre atribuídas a amigos e conhecidos dos poderes de então e, nem ele nem nenhum dos seus conhecidos que tentava a sua sorte, sabia ao certo a razão de serem invariavelmente excluídos. Isto, na década de 50 ou 60 do século passado, quando “mandava quem podia e obedecia quem ... não era burro”, não fosse o diabo tecê-las.
Passados tantos anos, e já em pleno regime democrático há mais de 30, sabe-se agora que a atribuição de casas (não estou a referir-me às habitações destinadas à reinserção de pessoas despejadas das barracas) pela Câmara Municipal de Lisboa continua a fazer-se sem regras e sem critérios conhecidos. Prosseguem as irregularidades, ilegalidades, cunhas, favoritismo, falta de transparência e corrupção, de mãos dadas com o sentimento de total impunidade e onde a ética e a pouca vergonha campeiam.
Mais do que uma gestão incompetente existe uma clara falta de transparência na tomada de decisões, uma ausência de controlo por parte das estruturas adequadas e um assumido abuso de poder.
Aliás, como poderia haver um controlo adequado, e necessário, se o universo do chamado “Património Disperso da Câmara” nem sequer é do conhecimento da própria Câmara. Parece mentira mas o proprietário de milhares de casas espalhadas pela cidade (a CML) não faz ideia do seu património.
E os casos, os muitos que foram sucedendo durante décadas, estão a saltar agora para os jornais e para as televisões para espanto e indignação de muita gente.
O Expresso do passado sábado dava conta da entrega de casas camarárias a vários funcionários, jornalistas, artistas e autarcas.
Por exemplo, a um Director de Departamento do Município que tem um T1 em Telheiras desde 1989, onde o seu filho agora habita. Paga 95 euros de renda.
Por exemplo, a uma Chefe de Gabinete do actual Vice-Presidente, antiga administradora da Gebalis (uma empresa municipal) a quem foi atribuído um T1 em Telheiras. Agora mora lá o seu filho e há uns anos propôs a compra do apartamento por 10 mil euros, transacção que não se chegou a concretizar por um triz.
Por exemplo, a uma responsável da Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo que teve direito a uma casa na Quinta dos Barros e que paga uma “renda técnica”.
Por exemplo, a um jornalista muito conhecido que, por causa das “dificuldades” que estaria a passar, foi-lhe atribuído um andar na Estrada da Luz, em Benfica, mas que fazia do restaurante “Solar dos Presuntos” o seu local de almoço.
Por exemplo, a um funcionário da Câmara (hoje Director de Departamento da CML) que, por estar em processo de divórcio, foi-lhe concedido um apartamento em Telheiras. Dezoito anos depois, esse senhor voltou a casar, comprou outra casa e na de Telheiras mora o filho. Justificação: não tem dinheiro para comprar casa ao filho e além disso aquela é a casa de reserva. Nunca se sabe se voltará a divorciar-se.
Os exemplos não acabam e a “sem-vergonhisse” também não.
E chegam ao ponto de proclamar que “não há nada de extraordinário nisto ... é uma realidade histórica”, como afirmou o eterno vereador (que está na Câmara desde o 25 de Abril), Pedro Feist.
Realidade histórica? Devem estar a gozar com o pagode! Então não sabem quantas habitações lhes pertencem e onde estão situadas, não definem regras claras, transparentes e públicas para a atribuição das casas, fazem o que querem, não são controlados e ainda acham que não há nada para questionar?
É verdade que em Portugal, o “favorzinho” e o “jeitinho” nunca foram crime. E, por isso mesmo, estas pessoas dormem descansadas, de consciência tranquila, sem que sejam responsabilizadas por tais desmandos
E só agora, e em virtude das denúncias feitas e da exposição dos casos na comunicação social, o actual Presidente da Câmara de Lisboa sai a terreiro para dizer que a coisa vai mudar e que vão ser avaliadas todas as mercês dadas até agora.
Só espero ir, ainda, a tempo de pedir ao senhor Presidente uma casita para o meu filho. Pode ser também em Telheiras. É que não tenho dinheiro para lhe comprar uma e ele já está em idade de morar sozinho.
Passados tantos anos, e já em pleno regime democrático há mais de 30, sabe-se agora que a atribuição de casas (não estou a referir-me às habitações destinadas à reinserção de pessoas despejadas das barracas) pela Câmara Municipal de Lisboa continua a fazer-se sem regras e sem critérios conhecidos. Prosseguem as irregularidades, ilegalidades, cunhas, favoritismo, falta de transparência e corrupção, de mãos dadas com o sentimento de total impunidade e onde a ética e a pouca vergonha campeiam.
Mais do que uma gestão incompetente existe uma clara falta de transparência na tomada de decisões, uma ausência de controlo por parte das estruturas adequadas e um assumido abuso de poder.
Aliás, como poderia haver um controlo adequado, e necessário, se o universo do chamado “Património Disperso da Câmara” nem sequer é do conhecimento da própria Câmara. Parece mentira mas o proprietário de milhares de casas espalhadas pela cidade (a CML) não faz ideia do seu património.
E os casos, os muitos que foram sucedendo durante décadas, estão a saltar agora para os jornais e para as televisões para espanto e indignação de muita gente.
O Expresso do passado sábado dava conta da entrega de casas camarárias a vários funcionários, jornalistas, artistas e autarcas.
Por exemplo, a um Director de Departamento do Município que tem um T1 em Telheiras desde 1989, onde o seu filho agora habita. Paga 95 euros de renda.
Por exemplo, a uma Chefe de Gabinete do actual Vice-Presidente, antiga administradora da Gebalis (uma empresa municipal) a quem foi atribuído um T1 em Telheiras. Agora mora lá o seu filho e há uns anos propôs a compra do apartamento por 10 mil euros, transacção que não se chegou a concretizar por um triz.
Por exemplo, a uma responsável da Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo que teve direito a uma casa na Quinta dos Barros e que paga uma “renda técnica”.
Por exemplo, a um jornalista muito conhecido que, por causa das “dificuldades” que estaria a passar, foi-lhe atribuído um andar na Estrada da Luz, em Benfica, mas que fazia do restaurante “Solar dos Presuntos” o seu local de almoço.
Por exemplo, a um funcionário da Câmara (hoje Director de Departamento da CML) que, por estar em processo de divórcio, foi-lhe concedido um apartamento em Telheiras. Dezoito anos depois, esse senhor voltou a casar, comprou outra casa e na de Telheiras mora o filho. Justificação: não tem dinheiro para comprar casa ao filho e além disso aquela é a casa de reserva. Nunca se sabe se voltará a divorciar-se.
Os exemplos não acabam e a “sem-vergonhisse” também não.
E chegam ao ponto de proclamar que “não há nada de extraordinário nisto ... é uma realidade histórica”, como afirmou o eterno vereador (que está na Câmara desde o 25 de Abril), Pedro Feist.
Realidade histórica? Devem estar a gozar com o pagode! Então não sabem quantas habitações lhes pertencem e onde estão situadas, não definem regras claras, transparentes e públicas para a atribuição das casas, fazem o que querem, não são controlados e ainda acham que não há nada para questionar?
É verdade que em Portugal, o “favorzinho” e o “jeitinho” nunca foram crime. E, por isso mesmo, estas pessoas dormem descansadas, de consciência tranquila, sem que sejam responsabilizadas por tais desmandos
E só agora, e em virtude das denúncias feitas e da exposição dos casos na comunicação social, o actual Presidente da Câmara de Lisboa sai a terreiro para dizer que a coisa vai mudar e que vão ser avaliadas todas as mercês dadas até agora.
Só espero ir, ainda, a tempo de pedir ao senhor Presidente uma casita para o meu filho. Pode ser também em Telheiras. É que não tenho dinheiro para lhe comprar uma e ele já está em idade de morar sozinho.