quinta-feira, abril 30, 2015

"Soneto de Maio"



"Soneto de Maio" de Vinicius de Moraes



Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.

Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.

Raia a aurora tão tímida e tão frágil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto

Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto ...

terça-feira, abril 28, 2015

Um novo "exame prévio"?



Parecia que o inexplicável acordo entre o PSD/CDS e o PS (eles que há muito não se conseguem entender) sobre um diploma que pretendia estabelecer regras sobre a cobertura jornalística das eleições estava morto e enterrado. A reacção, melhor, a revolta violenta da generalidade dos jornalistas, dos comentadores e dos cidadãos mais atentos foi tal que os "iluminados pensadores" que deram à luz tamanha monstruosidade - que nos fazia recordar o famigerado "exame prévio"da Censura do regime anterior - desapareceu quase de imediato. Aliás, eles foram tão rápidos a imaginar a "grossa asneira" como a lavar as mãos e a empurrar a responsabilidade dessa asneira para os parceiros do lado.

Mas o tal documento previa, nomeadamente, que "os media que façam cobertura do período eleitoral entreguem, "antes do início do período de pré-campanha, o seu plano de cobertura dos procedimentos eleitorais, identificando, nomeadamente, o modelo de cobertura das ações de campanha das diversas candidaturas que se apresentem a sufrágio", a uma comissão mista, a qual é composta por representantes da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e da ERC. O plano de cobertura a ser enviado à comissão, a qual irá validar o mesmo, inclui ainda a realização de entrevistas e de debates, reportagens alargadas, emissões especiais ou de outros formatos informativos, com o objectivo de assegurar os "princípios orientadores da cobertura jornalística em período eleitoral".


Como referi, o documento parecia estar morto e enterrado. Mas se calhar não está. Ainda no último sábado na SIC-Notícias, António Barreto (homem inteligente e sensato, que eu muito admiro) dizia sobre o assunto: "... quem fez isto sabia o que estava a fazer ... aquilo é uma coisa séria, aquilo está calibrado, pensado e deliberado. Há quem queira em Portugal, nos partidos democráticos, há quem queira ordenar a informação, ordenar a informação política, ordenar o movimento e a criação dos órgãos de imprensa e é detestável que assim seja. Não estavam à espera que os chefes dos partidos tivessem uma reacção tão forte ... mas eles voltarão à carga. Assunto encerrado? Não, tal como a toupeira, voltarão daqui a seis meses ou um ano ...".

Concordo com António Barreto. E, por via das dúvidas, convém que estejamos atentos ...

sexta-feira, abril 24, 2015

"Sacrifícios" ...



Eu sei que as empresas privadas podem pagar aos seus colaboradores o que lhes der na real gana mas, mesmo assim, acho completamente descabido - porque estamos em Portugal, onde o ordenado médio não chega aos mil euros mensais - que se pague, por exemplo, ao Presidente da EDP, um montante que vai dos 600 mil a 1,9 milhões de euros por ano, o que quer dizer que, António Mexia ganha por dia, no mínimo, 1 644 euros. Um absurdo.

Nas empresas públicas, embora estejamos a falar de uma escala completamente diferente (mas em que já entra o dinheiro dos contribuintes), existem situações que me deixam igualmente perplexo. Todos se lembrarão de, há anos, Cavaco Silva ter declarado, naquele seu jeito provinciano, que o dinheiro que recebia "quase de certeza, não vai chegar para pagar as minhas despesas". Cavaco, recorde-se, prescindiu do seu vencimento de Presidente da República (6 523,93 euros) para acumular duas pensões: a de professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa e a de reformado do Banco de Portugal, que juntas, totalizam 10 042 euros por mês.

Volto a lembrar que neste país o ordenado médio não chega aos mil e o fisco considera ricos aqueles que têm ordenados acima dos mil e quinhentos euros. Pois neste mesmo país, um senhor chamado Gonçalo Reis foi há pouco nomeado para Presidente da Televisão pública, em troca do qual vai receber um ordenado “desvantajoso em termos financeiros”, segundo afirmou. E para poder ganhar os 10 mil euros mensais - mais do que o primeiro-ministro - o Governo teve que "encaixar" a situação no regime de excepção previsto no Estatuto do Gestor Público.

Dinheiros à parte (porque o homem é capaz de ser um génio e merecer cada cêntimo que vai receber), o que me incomodou mais foi a declaração de Gonçalo Reis que dizia “o convite que recebi é desafiante em termos de gestão, mas desvantajoso em termos económicos face à minha situação no sector privado, pois o tecto atribuído é bastante inferior à remuneração que vinha auferindo”. Que chatice, digo eu. Então e agora como é que ele vai viver com um salário tão reduzido? Ou será que alguém o obrigou a aceitar aquele cargo tão mal remunerado? Mas se aceitou, porque é que não ficou calado?

Uma nota final para referir que o seu antecessor, Alberto da Ponte, tinha abdicado do tal regime de excepção, muito embora ganhasse bastante mais no cargo de gestão internacional que detinha no grupo cervejeiro Heineken antes de ir para a RTP. Enfim, são os "sacrifícios" que se fazem em nome da Nação ...

quarta-feira, abril 22, 2015

O PS já mexe ... resta-nos esperar



Sempre acreditei naquela "teimosia" do António Costa que afirmava insistentemente que há um tempo para tudo e, a seu tempo, o programa económico com que o PS se apresentaria às legislativas, seria divulgado. Quando, perguntavam os jornalistas? A seu tempo, respondia Costa.

Pois foi ontem o tal dia. Um grupo de prestigiados economistas liderado por Mário Centeno, um economista muito respeitado no Banco de Portugal mas que é muito menos de esquerda do que muitos socialistas julgam, apresentou um conjunto de propostas económicas que correspondem a políticas bem diferentes das que temos tido nestes últimos anos. Aparentemente políticas de esquerda, anti-troika e centrada nos trabalhadores.

É uma proposta (em que os custos do Estado disparam, o PIB sobe e, como o PIB sobe, as receitas também sobem) que muitas pessoas têm defendido por acreditarem ser a chave da mudança. A fórmula parece simples:

"com mais PIB há mais transacções, logo cobra-se mais IVA. Há mais salários, logo há mais IRS. Há menos desempregados, logo há mais gente a descontar e menos gente a receber subsídios; etc.)"

Mas a grande dúvida é: irá resultar? Claro que não há certezas. Pelo menos por agora ficamos sem saber como se vai conseguir a desejada sustentabilidade da Segurança Social e como, na realidade, se vai estabelecer o balanço entre a subida (certa) da despesa e a subida (provável, mas incerta) da receita.

Estão, pois, definidos os princípios - a base - da política macro-económica do PS mas, como disse António Costa na apresentação deste trabalho, o relatório não é uma Bíblia nem os distintos economistas que integraram o grupo de trabalho os Apóstolos. Resta-nos esperar pelo programa de governo com que o Partido Socialista se apresentará a eleições. Para já, temos um projecto de política económica diferente da que tem sido aplicada, a esperança de que tudo isso resulte e a certeza de que o PSD/CDS começarão a dizer que com políticas como estas em breve estaremos de novo na bancarrota.

Mas esta apresentação mostrou-nos duas coisas: a primeira é que António Costa afinal está vivo e começa a dar sinais daquilo que pretende fazer. A segunda é que existe uma alternativa (boas ou más, em democracia há sempre alternativas) às políticas levadas a cabo por este Governo. Que até podem não resultar, que até podem irritar o Governo, a troika, a senhora Merkel e Bruxelas. Mas, pelo menos, os cidadãos vão ter a possibilidade de escolher e voltar a ter esperança.

terça-feira, abril 21, 2015

Uma caixa de porcelana para ... pasta de dentes




Uma graciosa peça da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (fundada em 1824) transportou-me a uma realidade na qual nunca tinha pensado. Julgava eu que a bonita caixinha que se vê na fotografia serviria como guarda-jóias ou qualquer coisa do género mas, olhando para as inscrições nela constantes, percebi que era uma "reprodução da decoração de uma embalagem de pasta dentífrica", algures por volta de 1880. Curioso! Tanto mais que sempre conheci as comuns "pastas de dentes" em formato de bisnaga.

E a verdade, segundo a wikipédia, é que "o dentífrico, gel dental, creme dental ou pasta de dente", teve uma evolução tremenda ao longo dos tempos. A mais antiga referência conhecida a um creme dental consta num manuscrito egípcio, do século IV a.C., que mais não era que uma mistura de sal de cozinha, pimenta, folhas de menta e flores de íris. Desde então, as fórmulas foram-se sucedendo até à composição e sabores que hoje conhecemos. Aliás, e já que referimos que várias fórmulas foram utilizadas, será bom acrescentar que elas foram muitas, variadas e algumas quase inacreditáveis. Por exemplo, houve composições que tinham por base a urina e outras ingredientes como o giz, o tijolo pulverizado e o sal. Muitas que faziam mais mal do que bem.

E, hoje, embora todas as marcas usem os tubos (ou embalagens) flexíveis, uma época houve em que era normal o uso de um creme dental - vendido precisamente em caixinhas do género daquela a que hoje fazemos alusão. O creme dental foi criado pelo dentista americano Washington Wentworth Sheffield, que em 1850 desenvolveu um pó para limpar os dentes que se tornou muito popular entre seus pacientes, mas que só teve realmente sucesso quando foi colocado em tubos de folha-de-flandres.

Para além da curiosidade, ficamos com a constatação de que a caixa da Vista Alegre é, de facto, uma gracinha. Não acham?

sexta-feira, abril 17, 2015

Falando de Presidenciais ...



Quando eu julgava que o mais importante nesta altura era discutir qual seria o próximo Governo de Portugal, ou seja, o que poderíamos esperar dos partidos que vão concorrer às legislativas de Setembro ou Outubro, o que agora parece ser realmente importante é a eleição para Presidente da República, o que acontecerá só no próximo ano. É certo que tudo leva o seu tempo a organizar mas, que diabo, existem prioridades e, neste momento, deveríamos estar mais interessados em saber como e por quem a nossa vida vai ser gerida. Mas isto, sou eu a dizer ...

A comunicação social, os politólogos, os opinadores do costume e os comentadores em geral acham exactamente o contrário. O que, na verdade, interessa é saber quem vai ocupar a cadeira presidencial. Daí que, todos os dias, sejamos bombardeados com todo o tipo de programas em que se debate (à exaustão) tão candente matéria. E, pelos vistos têm muito que comentar.

Os candidatos a candidatos a PR têm aparecido, muitos deles atraídos apenas pelos seus "segundos de fama". Todos os dias chega mais um e, apenas um (António Guterres), já disse que não está para aí virado. Mas outros - e já são sete - anunciaram as candidaturas: Paulo Freitas do Amaral, Castanheira de Barros, Henrique Neto, Paulo Morais, Manuel João Vieira, Manuel Almeida e, agora, Orlando Cruz. E hão-de candidatar-se mais. Desde logo, Sampaio da Nóvoa, Marcelo Rebelo de Sousa e, provavelmente, Santana Lopes.

E se eu tenho uma especial predilecção pelo candidato Manuel João Vieira, por ser um artista multifacetado, com um humor inteligente e bizarro, porque sei ao que vem (em anterior candidatura anunciou que a primeira medida que tomaria, se ganhasse, era demitir-se), o agora apresentado Orlando Cruz merece-me um pequeno comentário. Vi há poucos dias a sua apresentação como candidato, tendo a seu lado três elementos da sua comissão de quem ele - lamentavelmente - nem sabia os nomes. É um bom começo ... Mas quem é este homem? É o que em 2013 decidiu desistir da candidatura à Câmara do Porto para concorrer a Matosinhos, onde chegou montado num burro. Agora, quer ir para Belém. O mesmíssimo homem que teve duas quase-candidaturas a Belém (que não chegaram a materializar-se), algumas a deputado, uma à Câmara de Gondomar e outra à presidência de uma junta de freguesia. Exactamente aquele que já se apresentou como “empresário falido”, depois de ter sido taxista, camionista, actor de novelas, dono de restaurantes e de supermercados sendo, agora, escritor.

É certo que Orlando Cruz nunca foi eleito para o que quer que fosse. Será desta vez? Como também é certo que eu critico os que agora tanto falam sobre Presidenciais e - eu próprio - acabei de fazê-lo. Acontece!

quarta-feira, abril 15, 2015

Ai se eu soubesse antes ...



Só uns tempos depois de eu decidir que tinha que perder uns quilitos é que soube que há uns quantos países que subsidiam os seus cidadãos para emagrecerem. Porém, cá pelo burgo, embora digam que a maioria da população tem excesso de peso, lá arranjar uma motivação (umas "massas") para a rapaziada a emagrecer é que já é uma outra conversa.

Pois na Grã-Bretanha - onde mais de dois terços dos adultos são obesos - o Serviço Nacional de Saúde decidiu, para evitar gastar 6 milhões de euros por ano no tratamento de doenças provocadas pelo excesso de peso, lançar um programa que oferecerá isenções fiscais e vales-compra a quem emagrecer.

No Dubai, o Estado oferece um grama de ouro (cerca de 25 euros) aos habitantes por cada quilo perdido.

Em Itália, numa cidade do norte do país, o município - também para combater a obesidade - ofereceu 50 euros a quem conseguisse emagrecer três quilos num mês (quatro quilos para os homens). Se após emagrecerem os cidadãos conseguirem manter o peso durante cinco meses consecutivos ganham mais 100 euros e se conseguirem durante um ano ganham 500 euros.

Claro que por cá, e embora se oiça recorrentemente que se gasta menos dinheiro na prevenção do que no combate às doenças provocadas pelo excesso de peso, continuamos como sempre. Prevenção só se - nós próprios - tivermos a coragem e a determinação suficientes para, estoicamente, fecharmos a boca (que é como quem diz, sabermos comer) e mexermos o corpinho, que o exercício só faz bem à saúde.

Imaginem se eu tivesse ido para o Dubai. Certamente que hoje estaria mais esbelto e com a carteira muito mais recheada ...

terça-feira, abril 14, 2015

Desperdício alimentar



Arrepiam-se-me as entranhas sempre que oiço falar em desperdício alimentar. Resultado (provavelmente) da forma como fui educado e do facto dos meus pais me terem ensinado a dar valor à comida. Talvez porque se recordavam ainda dos efeitos da escassez de alimentos que a Grande Guerra provocara, a política lá de casa regia-se por dois princípios fundamentais impostos pelo Pai e que nunca se questionavam: o primeiro era "aqui gosta-se de tudo" e, o segundo, "come-se tudo o que está no prato" (e ai de quem não comesse, gostássemos ou não).

Os anos passaram, vieram épocas de vacas gordas e o consumismo chegou. E, com ele, o desperdício. Hoje, apesar das dificuldades provocadas pela austeridade (as vacas emagreceram muito), continuamos a desperdiçar muitos alimentos. A começar nas nossas casas onde se deita fora (por má gestão doméstica) uma quantidade enorme de alimentos já cozinhados ou passados de prazo. Mas também nos restaurantes onde é frequente verem-se pratos de comida quase cheios serem despejados directamente para o lixo. Ainda há dias foi noticiado que nas Cantinas de Coimbra foram registadas oito toneladas de desperdício alimentar por mês. Tudo isto enquanto milhares de portugueses não têm que comer.

Mas o desperdício alimentar tem uma outra vertente que reflecte uma profunda desigualdade entre a parte desenvolvida do mundo e a outra parte mais desfavorecida. Segundo a FAO, Organismo das Nações Unidas para a Alimentação, no tal mundo desenvolvido (de que fazemos parte) todos os anos são deitados para o lixo um terço dos alimentos que não consome (um terço dos 4 mil milhões de toneladas de alimentos produzidos), enquanto na outra parte (sobretudo em África) há 805 milhões de pessoas com fome. Por ano morrem 2,5 milhões de crianças devido à má nutrição. É tremendamente injusto. E não acham que é de nos arrepiarmos?

quarta-feira, abril 08, 2015

O "Absurdistão"



Li recentemente (já não sei onde) notícias que davam conta de uma série de "esquemas" - muito preocupantes, por sinal - que têm acontecido nos últimos tempos e que, depois do espanto inicial, parecem ter caído no esquecimento. Coisas como, por exemplo:

"- um antigo alto quadro das Polícias de Investigação Criminal, montou uma rede organizada de roubos, utilizando para o efeito rufias de uma claque de futebol e fardamentos da polícia. Esta gente especializou-se em roubar idosos solitários".

- "um Comandante de Polícia (SEF) e vários outros altos quadros do Governo Central criaram uma rede de corrupção e extorsão no sistema de atribuição dos chamados “Vistos Gold”.

- "um grupo de altos dirigentes da Segurança Social montaram um esquema de corrupção para a emissão de declarações falsas (lesando directamente o Estado e as contas públicas)".

- "um grupo de médicos, farmacêuticos e quadros superiores de empresas farmacêuticas e do Governo Central, montaram uma rede de falsificação de receitas para roubar o Estado".

- "um banqueiro e todos os administradores que o acompanharam ao longo de anos montaram um esquema fraudulento, com a conivência do regulador (Banco de Portugal), que arruinou várias centenas de cidadãos. Ao serem ouvidos por uma comissão parlamentar de inquérito todos afirmaram não saberem (ou não se lembrarem) dos casos em apreço".

- "existem constantes fugas ao segredo de justiça e o problema tende a eternizar-se sem que seja resolvido".

E nós que vamos assistindo a tudo isto (e a muitas outras coisas mais), limitamo-nos a comentar, a mostrar uma veemente indignação e a considerar que todos estes factos são um completo absurdo. Mas, "mansamente", deixamos que tudo continue a acontecer. Que os absurdos prossigam e que façam (naturalmente) parte do nosso dia-a-dia. O que já levou alguém a sugerir que se altere o nome do nosso país que, em vez de dar pelo nome de Portugal, passe a denominar-se ABSURDISTÃO. Vistas bem as coisas até talvez não fosse má ideia ...

segunda-feira, abril 06, 2015

Eu é mais bolos ...



Há menos de um mês escrevi aqui sobre uma penhora de alimentos que tinham sido doados a uma Instituição de Solidariedade Social para serem distribuídos a famílias carenciadas. Soube-se agora que um restaurante, por causa de uma dívida ao Estado no montante de 92 mil euros, viu o Fisco penhorar-lhe as contas bancárias e ... pasmem-se, quatro bolos que custam 30 cêntimos cada. Quanto às contas bancárias, compreende-se. Mas os bolos, o que dizer? No mínimo, que é uma situação insólita.

Ouvidos alguns fiscalistas, uma acção como esta apenas serve como coacção dos devedores ao pagamento, não tendo quaisquer efeitos práticos, tanto mais que estavam em causa bens perecíveis. Mas, parece que, tal como certos caçadores, o Fisco "está a atirar a tudo o que mexe".

Li algures que, afinal, talvez haja uma outra explicação: os bolos não foram realmente penhorados. Apenas terão servido para atenuar a gulodice dos agentes do Fisco. A ser verdade, ao que isto chegou ...

quarta-feira, abril 01, 2015

Hoje é o dia das mentiras ...



Hoje é dia 1 de Abril, também conhecido pelo "dia das mentiras". Independentemente das explicações mais ou menos históricas que dão conta dos porquês desta denominação, sem que, contudo, haja certezas absolutas da sua origem, as "comemorações" da data já tiveram melhores dias. Provavelmente porque perdemos a ingenuidade de outros tempos, se calhar porque nos habituámos a ouvir mentiras com frequência.

Ao longo de anos assisti às mentiras mais descaradas (e criativas) do 1º de Abril, sobretudo as veiculadas pela comunicação social (mas não só), que eram por vezes tão bem propaladas que eu caía que nem um patinho. Lembro-me especificamente de duas delas e, ambas, tiveram a ver com a televisão pública.

Por exemplo, a de um dia 31 de Março de um ano que já nem lembro, em que a RTP transmitiu o Festival da Eurovisão e a nossa canção ficou mal classificada. O programa eternizava-se e, às tantas, o saudoso Fialho Gouveia dá uma notícia de última hora. A canção vencedora tinha sido desclassificada (já não me recordo porquê) e as outras que lhe sucediam na classificação tinham abandonado o certame por solidariedade para com o país, os autores e os cantores desclassificados. Assim, a canção portuguesa tinha sido declarada a vencedora do Festival. O contentamento foi grande e deram-se vivas à "merecida" vitória alcançada. No dia seguinte, porém, o Telejornal anunciou que a notícia, já transmitida depois da meia-noite, era, afinal, a "mentira do 1º de Abril".

A segunda história, passada também há muitos anos (ainda a televisão era a preto e branco, calculem), tem a ver com uma notícia bombástica que dava conta que a RTP aderira a um projecto inovador na Europa, que permitia assistir a programas a cores. E foi tão bem dada que todos acreditámos que a partir das não sei quantas horas e por um período de uns poucos minutos, os portugueses teriam a oportunidade, pela primeira vez, de ver televisão a cores. Escusado será dizer que à hora indicada toda a minha famelga estava, ansiosa, à espera da última maravilha da tecnologia em Portugal. Pois bem, esperámos durante horas. Sentados e em vão. Aquela era a "mentira do 1º de Abril".

Hoje, muito mais maduro e bastante menos ingénuo, ainda continuo a acreditar em mentiras. Em mentiras (promessas) de políticos. Mas cada vez menos, confesso.