sexta-feira, dezembro 21, 2012

Boas Festas





                                                           Nesta época de festas,

                                                 Desejo-vos SAÚDE, PAZ e AMOR

                                                ... e que 2013 vos traga tudo de bom


                                                                 BOAS FESTAS!

                                                               BOM ANO NOVO!


 

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Baralhar para tornar a dar ...


Sempre admirei os "crânios" que, em conjunto com as suas equipas de assessores iluminados, "inventam" a roda quando ela, de facto, foi inventada há muito. No remanso dos seus gabinetes, gritam "eureka" sempre que surgem as "novas" ideias. Em muitos casos nada é mudado, quando muito registam-se ligeiras alterações sem qualquer inovação ou consequência. Como agora se diz, há um "rebranding" (que é uma palavra que eu não suporto) e tudo fica na mesma.

Quando se inventou o "made in Portugal" (que faz sentido, principalmente para os mercados externos) e o "compro o que é nosso" (virado para os portugueses) achei que as duas expressões faziam todo o sentido. Era (e é) uma indicação positiva para promover a marca Portugal.

Agora, quando os tais génios se lembraram da inovadora "Portugal sou eu" para substituir o "compro o que é nosso" fiquei abazurdido. Mas o que é que há de novo, como é que os consumidores vão ficar mais sensibilizados para a compra dos nossos produtos se apenas se reformulou uma frase e o conceito permanece inalterado?

Para mim, o "compro o que é nosso", lançado em 2006 pela Associação Empresarial de Portugal (AEP) continua a ser mais sugestivo. O resto é Baralhar para tornar a dar ...
 
 
 

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Pais Natal ou pais natais?


Alguns Amigos que leram a crónica que ontem publiquei e em que escrevia sobre os "pais natais", logo me "sussurraram" (gentilmente, como é hábito) que, provavelmente, em vez de "pais natais" a designação correcta seria "Pais Natal".

Apanhado em falta corri de pronto para o Google, meu amigo de todas as dúvidas, pesquisei e encontrei no "Clube de Jornalistas" esta explicação esclarecedora:

"Natal pode ser nome ou adjectivo. É nome quando se refere ao dia ou à época em que nasceu determinado ser humano: festejo sempre o natal da minha querida mãe, passo o Natal em família. Escreve-se com letra maiúscula quando se refere ao nascimento de Jesus. É adjectivo quando usado para caracterizar um nome: país natal, terra natal. Em ambos os casos, varia em número.

Pai Natal entrou recentemente na nossa língua a partir do francês Père Nöel e designa o original, o S. Nicolau da lenda. Neste caso, grafa-se com maiúscula. Há muita imitações: pessoas que se vestem como o Pai Natal, são os pais natais. Nesta expressão, natal é adjectivo e deve concordar em número com o nome – pais. Escreve-se com minúscula.

O correcto, portanto, é dizer: pais natais".

Pronto, a estar certa a convicção do Clube de Jornalistas, o assunto fica esclarecido. Bom Natal!

terça-feira, dezembro 18, 2012

Dia triste de Inverno


Está um dia triste de Inverno. Chove e faz um vento dos diabos. Pequenas enxurradas arrastam as folhas caídas das árvores. Desagradável é o mínimo que posso dizer do estado do tempo. Daqueles dias em que uma braseira e um copo de whisky nos fazem falta para dar algum calor e companhia.

Pelos vidros das janelas cobertos de grossas gotas de água, mal consigo ver o outro lado da rua. Ainda assim, o meu olhar fixa-se com insistência num Pai Natal pendurado na varanda em frente da minha casa. O desgraçado agarra-se desesperadamente à corda que o amarra aos ferros e tenta não sucumbir ao vendaval que tudo parece arrastar. Só a borla branca do barrete vermelho ondula sem descanso.

Triste sorte a destes pais natais dos tempos modernos em que se vêm assim expostos e agarrados a janelas ou varandas ou a subir (sem nunca subirem) por escadas de corda que os vão levar a sítio algum. Longe vai o tempo em que desciam pelas chaminés para deixarem os presentinhos que, tantos, tinham desejado.

Desgraçado tempo, pobres pais natais!
 
 

segunda-feira, dezembro 17, 2012

O regresso do Álvaro


Ainda há dias escrevi aqui sobre o ressuscitar de Miguel Relvas e, hoje, cá estou eu danadinho para falar no Ministro Álvaro Santos Pereira, o nosso Álvaro dos pasteis de nata, que tutela a pasta da Economia.

É que, há uns meses, o Álvaro, tal como o Relvas, esteve à beira de ficar desempregado. Coitado, percebíamos claramente como andava cabisbaixo, sempre à espera de uma remodelação ministerial que o atirasse para o fundo de desemprego. Pois bem, passado esse período mais cinzento da sua vida de governante, aí está ele, pujante e confiante como nunca, atrevido, preparadíssimo para cantar os amanhãs que hão-de chegar e fazendo parte de um escasso conjunto de Ministros de Economia da União Europeia (Espanha, Itália, França, Alemanha e ... Portugal, pois claro), já conhecido como os “amigos da industrialização".

O pior é que, levado pelo entusiasmo, o nosso Álvaro criticou as regras ambientais "fundamentalistas" que prejudicam o sector económico (nomeadamente a indústria), afirmando "que não podemos voltar ao século XIX". Ao que a Ministra do Ambiente ripostou: "Nesta matéria, como é evidente, há muitas práticas pelo mundo fora ... a solução, a meu ver, é continuar a puxar pela carroça, continuar a pôr na agenda um desenvolvimento sustentável (...) com a ambição de fazer um desenvolvimento económico de século XXI, diferente do que foi feito no século XIX ...".

Bela a troca de farpas - perdão, de galhardetes - entre os dois Ministros mas que deixou no ar duas questões:

- Será que Assunção Cristas acredita, como disse: "Reindustrializarmos, seguramente ... mas não é baixando a nossa ambição mas sim trazendo os outros para esta ambição ..."? A sério? Será que a China e a Índia, por exemplo, estarão disponíveis para - mesmo com prejuízo dos seus interesses industriais - aderirem às preocupações ambientalistas do Ocidente?

- Não deveria o Governo ter um porta-voz, sei lá, um Primeiro-Ministro que fosse, que comunicasse qual é, de facto, a posição oficial sobre esta matéria?

Enfim, enquanto espero pelas respostas, apraz-me registar o "regresso" de Álvaro Santos Pereira. Vemo-lo entusiasmado como já não estava há muito, pese embora Passos Coelho esteja a dificultar-lhe a vida ao contrariar a ideia do Ministro de reduzir o IRC de 25% para 10% para os novos investimentos, a fim de relançar a economia. Aliás, parece-me, que a relação entre os dois já teve melhores dias. Justamente numa altura em que, finalmente, o Ministro da Economia começou a conhecer o país real.

Força Álvaro!

 

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Exige-se um pouco mais de decência


Apesar da crise de que todos falam (e a maioria dos cidadãos sente nas suas vidas), neste último ano a abertura de lojas de luxo na Avenida da Liberdade, em Lisboa, não cessou. Gucci, Stivali, Boutique dos Relógios Plus e Officine Panerai, são apenas algumas das marcas que abriram nos últimos meses e, em breve, lá estarão também a Cartier, Miu Miu, Guess e Max Mara. Bom sinal para essas marcas e para a economia portuguesa.

Não estando presente na principal avenida da cidade (mas não anda por longe, está no C.C. Amoreiras), a Kookai foi muito falada esta semana, não pelo que vende, mas pelas piores razões.

E porquê? Na sua loja da zona comercial Fokas, em Atenas, muito próximo do lugar onde os pedintes estendem a mão à caridade e onde à noite os sem-abrigo encontram o "conforto" de nichos protegidos do vento, os crânios criativos da marca lembraram-se de colocar na montra um cartaz publicitário que diz:

"Esfomeados Mas Chiques"

É uma provocação injustificável. Um insulto que parece admitir que "os sem-abrigo ficam ali mais à frente e os sem-vergonha estão um pouco antes".

Como já tenho escrito (e eu sei que muitos não estão de acordo), em publicidade nem tudo é permitido. E, neste caso, deveria ter havido um pouco mais de decoro.


 

quinta-feira, dezembro 13, 2012

O ressuscitar de Miguel Relvas


Depois de uns tempos "desaparecido em combate", por motivos que bem conhecemos, o Ministro Miguel Relvas voltou à ribalta e não pára de prestar declarações à comunicação social, embora, na verdade, nada diga e remeta as respostas para outras entidades ou se enrede em enigmáticas desculpas de adolescente espertalhão. O caso do afastamento de Nuno Santos da RTP foi paradigmático. Nota-se que em toda aquela embrulhada houve mãozinha de Relvas e muita gente está convencida que o que ali se passou foi, de facto, um saneamento político. Vamos aguardar os próximos capítulos.

Mas Relvas, irrequieto e sedento de ribalta, veio esta semana manifestar publicamente o seu apoio a Fernando Seara à candidatura da Câmara de Lisboa. Apoio dado à revelia dos órgãos do partido que não oficializaram qualquer decisão, que deixou estupefacta a distrital do PSD que disse que o Ministro se meteu onde não devia e que não se sabe se foi ajudar o próprio Seara, que ainda não anunciou tal propósito. Uma forma de, segundo o actual Presidente António Costa, Miguel Relvas querer controlar Lisboa por interposta pessoa.

Tenho boa impressão de Fernando Seara (para além de ser benfiquista), mas este apoio vindo de uma pessoa com a credibilidade de Relvas não parece favorecer o actual autarca de Sintra. Pode ser mesmo, como afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, um "beijo da morte" e, como tal, voltar-se contra o próprio Seara, caso venha a concorrer à capital.

Pena é que entre entusiasmos e silêncios ninguém se indigne sobre o montante que as próximas eleições autárquicas vai custar ao bolso dos contribuintes . Já depois dos cortes efectuados ainda vão ser gastos 48,5 milhões de euros. Mas, como dizia alguém, não há democracia sem custos!

 

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Já não sei em que acreditar …


Depois de tantos anos a tentarem convencer-me que fazia melhor à saúde comer carne de aves e, especialmente, de frango do que uma boa carne de porco à portuguesa ou uma vitela barrosã e, ainda por cima, a um preço muito mais acessível, a minha cabecinha foi-se habituando à ideia e – sem radicalismos – aderi a um maior consumo de frango.

Eis senão quando, leio uma notícia que dá conta que perante a quebra na produção de cereais nos Estados-Unidos, os preços do trigo, milho e soja (que são a base da alimentação humana e animal) dispararam para mais 30% nas últimas semanas. Daí ao aumento dos preços no consumo – 3 a 4% - da carne, dos ovos e lacticínios foi um pulo. E já há analistas que afirmam que este efeito inflacionista irá chegar à Europa. E até avançam que “em breve comer frango vai ser considerado um luxo”.

Em que acreditar? Pelo sim pelo não, já tratei de arranjar um cofre (com congelador) num Banco para guardar tais tesouros de penas. Nunca se sabe …


 

terça-feira, dezembro 11, 2012

Como é possível haver tanto desperdício alimentar em Portugal?


Terminou há poucos dias mais uma recolha do Banco Alimentar Contra a Fome e a generosidade dos portugueses foi, de novo, tocante. As muitas dificuldades porque passamos e a carência de um número cada vez maior de famílias sensibilizou milhares de pessoas que quiseram colaborar no apoio a quem mais necessita.

Porém, e isto é chocante, a par desta solidariedade fantástica, sabe-se agora que, por ano, um milhão de toneladas de alimentos vai para o lixo. Isto é, quase um quinto da nossa alimentação vai directamente para o lixo.

É uma chamada de atenção a toda a sociedade, da produção à cozinha de todos nós. E precisamente nas nossas casas é onde mais se desperdiça alimentos (fora de prazo, restos, comida estragada).

Muito embora bastante abaixo da média europeia (30%), o desperdício que se verifica em Portugal representa 17% do que se produz no país. Ainda assim demasiado face às carências da população. Um desaproveitamento injustificado. A não ser (e é a única desculpa que ainda pode ter algum perdão) que se verifique uma gestão desadequada (que terá que ser rectificada rapidamente) quer nos vários organismos da cadeia alimentar quer nos nossos próprios lares. Ou será que há outras?


 

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Acordo Ortográfico. A esperança continua ...

 
Andamos tantos, há tanto tempo, a "lutar" contra o novo acordo ortográfico e contra todos aqueles que nunca viram qualquer inconveniente na alienação de um património tão importante como o da língua portuguesa. Acordo que, de resto, nunca deveria ter sido celebrado. E não se trata de uma questão de posse nem, tão-pouco, de conservadorismo. Apenas não conseguimos descortinar vantagens evidentes nestas alterações, nem, sobretudo, gostámos da forma como tudo aconteceu.

Porém, a resistência a escrever de uma maneira diferente, parece, finalmente, ter dado bons resultados e vislumbra-se já a possibilidade de que o "Acordo acordado" possa retroceder. O AO de 1990 foi ratificado por Portugal em 2008, mas nem todos os países da lusofonia o fizeram. Alguns porque não estão minimamente preocupados com isso e outros porque têm problemas em conseguir a sua implementação. O caso do Brasil, o que mais ganharia com o acordo, é sintomático ao reconhecer agora que "o acordo é uma manta de retalhos e que muitos professores não sabem como aplicá-lo porque está muito confuso". De tal forma, que o Governo brasileiro prepara um decreto presidencial para adiar a vigência obrigatória do Novo Acordo Ortográfico para Janeiro de 2016.

Como se costuma dizer "enquanto há vida há esperança" e como "enquanto o pau vai e vem folgam as costas" pode ser que se chegue à conclusão que "um fato e um facto" são coisas absolutamente diferentes.

Não é por cada país ter especificidades próprias na escrita que deixamos de nos entender, não é?
 
 
 

sexta-feira, dezembro 07, 2012

O Sapo



De António Fernando dos Santos - Tóssan - já aqui tinha publicado a "Ode ao futebol" em 14.11.2005.

Agora trago-vos um outro poema delicioso (e divertido).

 

De Tóssan, "O Sapo"
Um sapo de grande papo
Papou a papa do prato
Que era para o papo do gato.
E não só papou a papa
Como também papou o prato.
O prato quando chegou ao papo
Encontrou-se com a papa
Que já lá estava no papo.
E o sapo, da papa fez a digestão
Agora do prato é que não.

quinta-feira, dezembro 06, 2012

A aprovação de um certo Orçamento Geral do Estado


Num país longínquo de que não lembro o nome, governava uma maioria composta por dois partidos. Um maior e outro mais pequeno e ambos de direita e com uma visão neoliberal, cujas políticas afundavam ainda mais o país e punham os seus cidadãos à beira do colapso total. De princípio, e ainda durante um tempo, vociferavam contra os malandros do governo anterior, socialista e irresponsável, culpado da situação que estes partidos da maioria herdaram.

Aos poucos, a história da herança foi-se tornando cada vez menos aceitável e ninguém, nem os apoiantes dos dois partidos nem os da oposição, acreditava já nas políticas que iam sendo lançadas.

A crise financeira era uma evidência, inegável a económica, dramática a social e .... a política. Adivinhava-se a qualquer momento o estalar do acordo entre os dois partidos e a ruptura era uma questão de tempo.

A situação agudizou-se quando estava em preparação o Orçamento do Estado para o ano seguinte. Deputados de ambos os lados fizeram questão de manifestar publicamente as suas divergências. Ainda assim o Orçamento conseguiu ser aprovado com os votos (quase unânimes) da maioria. A contragosto, diga-se, porque um dos deputados do partido mais pequeno divergiu de todos os outros e houve um número (ainda grande) de deputados que disseram o sim mas fizeram-no sob "declaração de voto", que é assim como que um "não concordo mas tem que ser que a isso sou obrigado". Houve até um malandro de um partido da oposição que lhes lançou o remoque "então senhores deputados, depois de terem levantado o braço para aprovar a lei do Orçamento de Estado para 2013 não sentiram os braços pesados? As vossas consciências, não lhes pesaram? Enfim, feitios!

Mas tudo isto foi curioso. A rapaziada da coligação acabou por aprovar um documento fundamental para o país (mas com que muitos não concordam) e, logo de seguida, choveram críticas dos próprios deputados dessa maioria, com destaque para o porta-voz do partido mais pequeno que arrasou, sem contemplações, o Orçamento que tinha acabado de aprovar.

 

Continuo a não conseguir lembrar-me do nome do país onde isto se passou. Acho que começa por P mas não sei se é Paraguai, Panamá, Polónia ... enfim, há tantos que começam com P. O que sei é que se esta "coboiada" se tivesse passado em Portugal, cairia o Carmo e a Trindade. E com toda a razão.


 

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Oh! este ano não vamos participar no Festival da Eurovisão



Longe vão os tempos em que o Festival da Eurovisão parava, literalmente, o país. Eram épocas em que não havia muito mais coisas que nos distraíssem e, para além do mais, havia um sonho (que nunca se concretizou) que pudéssemos vir a conquistar um primeiro lugar. Esperávamos ter alguma "importância" num contexto europeu, já que da epopeia dos descobrimentos poucos se lembravam e ninguém queria saber de um país que se auto-proclamava "orgulhosamente só".

O Festival da Canção português e o Festival da Eurovisão eram, pois, atracções únicas que ninguém perdia, mesmo que, neste último, a nível de classificações, o melhor que conseguimos alcançar foi um sexto lugar, por Lúcia Moniz, em 1996.

Mas este ano, Portugal não estará presente em Malmo, na Suécia, devido a razões financeiras (aqui parece que anda o dedinho de Vítor Gaspar).

A verdade é que o certame, embora seja sempre uma montra em que os países tentam exibir o que de melhor têm em termos musicais, já não consegue suscitar o interesse e o entusiasmo de outrora. E, realmente, estando o país com grandes dificuldades financeiras, parece-me sensato desinvestir num festival que pouco nos dará. Existem muitos outros projectos ligados à cultura que anseiam desesperadamente por apoios oficiais para se concretizarem. A não ser que o "corte" seja apenas uma mera medida de diminuição de custos.

 

terça-feira, dezembro 04, 2012

À espera de uma atitude do Presidente da República



Os avisos vêm de todos os lados. Os mais conceituados economistas e comentadores da nossa praça afirmam que o Orçamento para 2013 não é exequível e - altamente preocupante - contem medidas que são certamente inconstitucionais.

Vejam, por exemplo, qual é a opinião de António Bagão Félix, economista e ex-Ministro das Finanças, sobre o aumento de impostos para os reformados:

"... a partir de 1350 euros mensais, os pensionistas vão passar a pagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante! Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar (art.º 104.º da Constituição), mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade (art.º 13.º da Constituição).

Por exemplo, um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045 € de impostos do que se a trabalhar com igual salário (já agora, em termos comparativos com 2009, este pensionista viu aumentado em 90% o montante dos seus impostos e taxas!).

Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada "contribuição extraordinária de solidariedade" (CES), que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%. Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. Da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações. Públicas e privadas. Obrigatórias ou resultantes de poupanças voluntárias ..."

 

Esta norma do OE para 2013 - que nem sequer estava prevista no memorando da troika - é apenas uma das medidas que serão inconstitucionais e, neste caso, traduz uma clara obsessão pelos reformados.

E a pergunta que se coloca é: "Perante isto, qual vai ser a atitude do Presidente da República? Será que vai ficar indiferente a este "assalto fiscal"?


 

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Descansado mas cada vez mais preocupado


Confesso que fiquei um tanto ou quanto descansado quando a NASA informou que o "fim do mundo", marcado para o próximo dia 21 de Dezembro, já não ia acontecer. Apesar de já ter passado por outros momentos em que também havia uma data marcada para a implosão do mundo (que, depois, não aconteceu), desta vez voltei a criar uma certa expectativa ... temerosa.

Afinal, e ao que dizem, tudo vai seguir o seu rumo normal, pelo que se vão manter as nossas frustrações e angústias de dias difíceis e de futuro incerto.

E como podemos andar tranquilos quando sabemos - e aqui, de forma egoísta, só falo do nosso país - que há crianças que chegam doentes aos hospitais por terem fome (os seus pais estão desempregados e não têm dinheiro para comida, nem para medicamentos) ou que o número de precários e de desempregados em Portugal ultrapassou a metade de toda a força de trabalho, atingindo 2,9 milhões?

Todavia, e apesar de eu parecer pessimista, na verdade sinto que mais uma vez conseguiremos ultrapassar as dificuldades presentes. Pelo que a única atitude que devo manter - para minha própria sanidade mental - é a de um "optimista céptico", como canta o Jorge Palma num dos seus temas.

E a provar que ainda tenho essa réstia de esperança, eis uma nota de (bom) humor que li algures na blogosfera:

"O fim do mundo anunciado para Dezembro de 2012 foi cancelado em Portugal pois o país já não tem capacidade financeira para receber o evento".
"Mai nada!"

 

sexta-feira, novembro 30, 2012

Afinal, vai (ou não) haver propinas no ensino secundário?



Na entrevista que concedeu na quarta-feira à TVI, o Primeiro-Ministro disse que "a Constituição trata o esforço da educação de forma diferente do da Saúde, existindo assim uma maior margem de liberdade na área da Educação, para poder ter um sistema de financiamento mais repartido entre cidadãos e a parte fiscal directa que é assegurada pelo Estado".

Houve quem interpretasse estas palavras (eu interpretei assim) como uma possível intenção do Governo de introduzir a cobrança de propinas no ensino secundário. Só que, para além das interpretações poderem não ser convergentes, existe um porém quando se olha para o Artigo 74º da Constituição, dedicado ao Ensino, que no seu número 2, alínea e) diz, de forma clara, que "incumbe ao Estado estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino".

Provavelmente o Ministro da Educação, Nuno Crato, esteve mais atento à Constituição e decidiu (ontem) emitir um comunicado a esclarecer que "nunca o Governo pôs em causa a gratuitidade da escolaridade obrigatória".

Ficamos, pois, na dúvida. E das duas ... três, ou Passos Coelho mostrou um optimismo desajustado em relação à alegada abertura constitucional, ou Nuno Crato esteve com mais atenção ao enunciado da Constituição ou no Governo ninguém se entende, o que, aliás, já vai sendo hábito.


 

quinta-feira, novembro 29, 2012

"Há cada vez mais ..."


No Expresso do último sábado, Nicolau Santos, na crónica que intitulou "O país onde há cada vez mais de tudo", escrevia:

"Há cada vez mais velhos abandonados nos hospitais. Há cada vez mais crianças abandonadas nos hospitais. Há cada vez mais animais abandonados. Há cada vez mais meninos que vão para a escola sem terem tomado o pequeno-almoço. Há cada vez mais pessoas a ter de entregar a casa ao banco por não conseguirem pagar a prestação. Há cada vez mais gente desempregada. Há cada vez mais gente a alimentar-se de papas. Há cada vez mais gente a levar um tupperware com comida para o emprego. Há cada vez mais restaurantes a fechar as portas. Há cada vez mais pessoas a fumar tabaco de enrolar. Há cada vez mais pessoas a pedir esmola nas ruas. Há cada vez mais pessoas a recorrer às Misericórdias e ao Banco Alimentar Contra a Fome. Há cada vez mais pessoas a não tratar dos dentes. Há cada vez mais pessoas a não ir ao médico. Há cada vez mais casos de tuberculose. Há cada vez mais casos de tosse convulsa. Há cada vez mais casos de dengue na Madeira. Há cada vez mais pessoas a deixar de comprar jornais e revistas. Há cada vez mais pessoas a andar de transportes públicos. Há cada vez mais pessoas a emigrar".

Um extenso rol ao qual bem poderíamos acrescentar outras situações. Perante isto e face a uma situação financeira muito preocupante em Portugal (a OCDE aponta para um défice de 5,2% este ano, em vez dos 5% previstos no programa de ajustamento, e 4,9% no próximo ano, contrariando os 4,5% acordados com a troika) espanta-me como a imagem internacional do nosso Ministro das Finanças tem tanta aceitação. Segundo o britânico "Financial Times" Vítor Gaspar encontra-se no 10º lugar entre os Ministros das Finanças das 19 maiores economias europeias.

Espanta-me e fico a pensar até onde ele chegaria se todas as suas previsões batessem certo (e não há uma em que acerte) e o país fosse um mar de rosas (o que, infelizmente, não acontece).


 

quarta-feira, novembro 28, 2012

Será que temos mesmo vivido acima das nossas possibilidades?


Já não tenho pachorra para ouvir que "temos vivido acima das nossas possibilidades". Chega de culpabilizar os portugueses por terem usufruído algumas das coisas que ao longo de anos os poderes e a banca foram "insinuando" como bons. Nesses tempos havia muito crédito acessível para a compra de casas, de carros, de viagens e dos mais diversos bens de consumo. Porque não "entrar na onda"? Afinal, todos ganhavam com isso.

Ainda por cima, muitos desses "ricos" que puderam trocar de carro algumas vezes ou que compraram habitação própria, ou mesmo uma segunda casa, conseguiram pagar integralmente os seus empréstimos dentro dos prazos ou mesmo antecipá-los, suportando todos os juros, comissões, spreads, seguros de vida e impostos para o Estado. Então esses também viveram acima das possibilidades. Também são "culpados"? É que a maioria dos que contraíram empréstimos bancários não foram irresponsáveis.

Tal como não podemos apelidar de irresponsáveis todas aquelas pessoas com mais de 60 anos (muitas já reformadas ou pensionistas) que se debatem com problemas de sobreendividamento, muitas delas que não tiveram outra alternativa senão pedir dinheiro aos Bancos ou a outras entidades para cuidar dos filhos (às vezes casados e com prole) desempregados que tiveram que regressar à casa paterna, ou para amparar familiares idosos. Tal como não podemos chamar irresponsáveis ou negligentes às famílias que tiveram que pedir ajuda financeira porque os seus elementos ficaram desempregados ou sofreram cortes salariais.
Admito que em muitos casos tivesse havido uma má gestão familiar ou mesmo alguma irresponsabilidade, mas não podem culpar a generalidade dos portugueses pelas políticas que foram implementadas ao longo de décadas, e por sucessivos Governos, e que induziram, naturalmente, os cidadãos a um certo consumismo. E não podem porque é injusto!


terça-feira, novembro 27, 2012

A "mea culpa" de Cavaco?


Desculpem lá voltar a Cavaco Silva mas é que, há uns dias, o Presidente defendeu que é necessário apostar em sectores esquecidos nas últimas décadas. Disse que é preciso ultrapassar o estigma que afastou Portugal do mar e da agricultura. Ou seja, temos que nos voltar de novo para a agricultura e as pescas.

Curiosa esta preocupação do Presidente da República que, quando foi Primeiro-Ministro "vendeu" à Europa, a troco de muito dinheiro, a liquidação das nossas explorações agrícolas e o abate dos nossos barcos de pesca. Bem sei que as circunstâncias eram outras e ele não foi o único responsável (mas foi o primeiro e o principal) mas ele contribuiu decisivamente para que Portugal se afastasse do mar, da agricultura e da indústria. Para além, é claro, do facto de muitos desses milhões entrarem nos bolsos de uns quantos amigos.

Interessante, pois, a crítica - o apontar do dedo - do Presidente Cavaco Silva aos anteriores Chefes de Governo e em especial a um Primeiro-Ministro chamado Aníbal - ele próprio. O mesmíssimo que decidiu na altura qual seria o modelo de desenvolvimento do país e, assim, o condenou definitivamente.

 

segunda-feira, novembro 26, 2012

As reflexões de Cavaco Silva


Não há volta a dar. Há pessoas que têm graça e outras que não o conseguem, ainda que se esforcem muito para lá chegar. Raul Solnado, por exemplo, aparecia em cena e, sem dizer uma palavra, punha toda a gente a rir. Ricardo Araújo Pereira é outro bom exemplo de alguém que é naturalmente engraçado. Quando aparece todos esperam rir ... e riem.

Cavaco Silva é exactamente o oposto. Não é um comediante e não tem graça natural. Mas isto não é trágico. O preocupante (e o que o torna ridículo) é que, não tendo esses atributos, ainda assim, teima em ser engraçado.

Ainda há dias, no habitual discurso da entrega de prémios de jornalismo, Cavaco Silva, numa espécie de "stand up", disse:

"Todos sabem que o silêncio do Presidente da República é de ouro, hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de Setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: "tê, ésse, u" (TSU)"

 
Falava, claro está, sobre o seu (ensurdecedor) silêncio sobre os vários assuntos graves que estão a acontecer na nossa sociedade E comentou:


"Até aqui, boa parte dos portugueses pensava que o Presidente da República estava a meditar, a reflectir sobre a próxima visita a Portugal da senhora já bem conhecida de todos, amada por muitos, a que carinhosamente os portugueses chamam de troika, outros estariam a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre se o aumento de impostos era enorme ou gigantesco, outros pensariam que o Presidente da República estava a reflectir sobre os novos apoios que a chanceler Merkel podia trazer para Portugal na sua próxima visita ao país e outros poderiam estar a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre o que fazer relativamente às pressões de vinte corporações e mais de cem individualidades para que ele enviasse o Orçamento do Estado para o Tribunal Constitucional, outros estariam a pensar que o Presidente estaria a reflectir sobre o consenso político que foi possível estabelecer entre as forças políticas do arco da governação sobre a forma de realizar a reforma das funções do Estado, outros podiam estar ainda a pensar que o Presidente estava a reflectir sobre se a transmissão televisiva dos jogos de futebol em canal aberto fazia ou não parte da definição de serviço público de televisão, mas agora, depois de ter quebrado o meu silêncio, os portugueses dirão que afinal ele estava apenas a reflectir sobre a forma de evitar a sua presença na cerimónia de atribuição dos prémios Gazeta do Clube de Jornalistas".

E a terminar: "peço-vos o favor de não relatarem a minha presença aqui e se forem inquiridos, digam que eu nada disse. Comprometo-me a não escrever sobre isto na minha página do Facebook".


Um discurso monótono, muitíssimo longo e num tom supostamente irónico. Mas nada teve de ironia, Cavaco foi simplesmente ridículo. Uma tristeza! Já ouvi dizer por aí que a forma que usou tende a imitar a do Presidente Americano que costuma dizer umas graças em alguns dos seus discursos. Só que Barack Obama tem graça e as suas piadas costumam surtir efeito. O que não é o caso de Cavaco Silva.


 

sexta-feira, novembro 23, 2012

Falhas ... embaraçosas


Eu acho que poucas pessoas terão uma ideia, ainda que pálida, das muitas confusões que acontecem por aí, mesmo em grandes acontecimentos onde os organizadores têm todas as condições para não errar. Mas, como se costuma dizer, só não se engana quem não faz.

Pois há poucos meses, na Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, no Brasil, quando se preparavam para jogar as equipas de basquetebol do Brasil e da Espanha, todos se perfilavam para ouvir o hino de Espanha. Porém ... o que tocou foi o nosso hino. A Portuguesa fez-se escutar durante alguns minutos até conseguirem corrigir o erro.

Na semana passada, como que a virar-se o feitiço contra o feiticeiro, quando o português António Félix da Costa subiu ao primeiro lugar do pódio por ter vencido a Taça Intercontinental da FIA em fórmula 3, que se realizou em Macau, se preparava para ver a bandeira portuguesa a subir bem alto no mastro e ouvir o nosso hino, ficou perplexo porque o que tocou foi o hino da Suécia.

Confusões, incompetências ou culpas atribuídas às novas tecnologias (que são sempre uma desculpa conveniente)? Não sei, mas que são situações embaraçosas, lá isso são.
 
 
 

quinta-feira, novembro 22, 2012

A "epidemia"


Já não são só os países do sul (aqueles que têm fama de ter cidadãos mandriões) que são afectados pelas "sábias" opiniões das agências de notação financeira internacionais. Mas a falta de sustentabilidade da dívidas de outros países até agora imunes, não é a única razão que leva essas empresas, de credibilidade muito duvidosa, a baixarem sucessivamente os seus "ratings" até que entrem num estado algo parecido com o que se está a passar com os países já intervencionados. O problema principal é político. Neste momento, os mercados (mais uma vez os famigerados mercados) consideram que a moeda única foi um embuste e que a maioria dos países do euro não tem capacidade para, isoladamente, pagar as dívidas que contraiu.

Depois da reportagem da "The Economist" (cujo capa acima se mostra), veio lesta a Moody's iniciar o processo da descida do rating da França. Pois é, chegou a vez da França sair do cada vez mais selecto grupo de países com a nota máxima AAA. A partir de agora a França desceu para Aa1 de ‘rating’ e a Moody's anunciou que as perspectivas se mantêm negativas, o que abre a porta a novos cortes.

Cresce, pois, a convicção de que o euro tem os dias contados, pelo menos na sua forma actual. E quando uma epidemia surge, é difícil fazer-lhe frente.


 

quarta-feira, novembro 21, 2012

Que raio de lógica é esta?

 
Quantas vezes temos assistido a iniciativas parlamentares de um qualquer partido que são recusadas pelos outros partidos apenas e só porque a ideia não partiu deles? Muitas! A inveja e a politiquice barata sobrepõem-se demasiado à razão, mesmo que se trate de propostas bem pensadas, sensatas e que deveriam - a bem de todos - serem aprovadas.

Por exemplo, há menos de 2 semanas o Bloco de Esquerda propôs a redução de 50% das despesas com a campanha eleitoral para as autárquicas. A ser aprovada, a iniciativa do BE significaria, no ano que vem, a poupança de 24 milhões de euros. Claro que PS, PSD e CDS/PP chumbaram a proposta.

Nos últimos dias, quando os partidos da coligação acertavam agulhas para as eventuais alterações da proposta de OE para 2013, o mesmo CDS/PP que tinha votado contra a iniciativa do Bloco, apresentou a mesmíssima proposta que recusara anteriormente. Ou seja, o CDS pretendia (e o PSD não aceitou) cortar para metade o financiamento do Estado na campanha eleitoral das autárquicas, de que resultaria a poupança de 24 milhões de euros. Então, não queria antes e depois pensou melhor?

Expliquem-me lá que raio de lógica é esta que permite que se vão gastar (desnecessariamente) mais 24 milhões de euros?
 
 

terça-feira, novembro 20, 2012

O "caso" Isabel Jonet


As declarações proferidas por Isabel Jonet num debate televisivo geraram uma enorme polémica. Nessa altura, achei por bem não tecer qualquer comentário. Para mim aquilo era um "não-assunto" e, portanto, não quis lançar mais achas numa fogueira de revolta e de impropérios sobre palavras que, mais tarde e com a devida ponderação, seriam analisadas de uma outra forma. Isabel Jonet não necessitava que eu a defendesse nem os assanhados críticos da Presidente do Banco Alimentar precisavam de mais um elemento nas suas hostes.

Porém, agora que passaram uns dias sobre a "tempestade", venho a terreiro para transcrever uma excelente crónica sobre este caso, assinada pelo jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, publicada ontem na TVMais. E devo dizer-vos que a subscrevo por completo.

Quero, no entanto, sublinhar uma coisa: é que quando se trabalha em prol de quem mais necessita, não faz qualquer sentido evocar ideologias. Posicionar-se à "esquerda" ou à "direita" (como se alguma das partes fosse a "dona" das acções sociais) é altamente redutor. E a obra de solidariedade levada a cabo pelo Banco Alimentar Contra a Fome, que tem mais de 20 anos de actividade, fala por si. Por fim, é justo enaltecer o papel determinante de Isabel Jonet como timoneira desta Instituição que apoia - diariamente - muitos milhares de cidadãos.

 
Dizia, então, o Rodrigo Guedes de Carvalho:

"Conheço mal Isabel Jonet. Cruzámo-nos e cumprimentámo-nos por duas ou três vezes. Não sou seu amigo, muito menos seu advogado. Mas estou siderado com “um movimento” que se diverte a arrastar o seu nome pela lama. Ouvi falar do caso já a polémica se arrastava, ou seja, já com muitos comentários jocosos ou simplesmente insultuosos a propósito do que teria dito “sobre os pobrezinhos”. Manda a mais básica cautela e a mais séria costela jornalística que não se fale do que não se conhece. Importava, pois, lidos os comentários à “afronta”, de ver e ouvir o que realmente tinha dito Jonet. Procurei a gravação do momento, transmitido pela SIC Notícias, e desde logo duas coisas ficaram absolutamente claras: Isabel Jonet não disse o que dizem que ela disse, e a maior parte dos comentários é, nitidamente, de pessoas que não ouviram o que ela disse e se limitam a reagir a comentários de amigalhaços. Vejamos. O que Isabel Jonet diz é, numa generalização simples, aquilo que milhares de pessoas atentas e com bom senso dirão ou pensarão. Que esta crise que veio para ficar vai, muito certamente, obrigar-nos, a todos, a encontrar um novo paradigma de vida no que diz respeito ao consumo, que vamos ter, todos, que nos habituar a viver com menos, a poupar mais, a pensar mais antes de fazermos despesas. Este “todos” faz toda a diferença. Porque em nenhum momento do que ouvi Jonet dizer ela se refere, única e especificamente, aos “pobrezinhos”. A sua presença numa televisão serviu, pois, a interminável e deslocada luta de classes e ideologias que nos tem reféns desde o 25 de abril. Ou seja, para quem é de esquerda, Jonet é mais uma representante da direita, dos braços longos e nunca adormecidos do fascismo. E porquê, pergunta-se? Parece-me óbvio que Jonet é vítima do seu nome de família. Vivemos, ainda, num país de visão curta, a que décadas de lutas políticas reforçaram as palas nos olhos. Um país onde a esquerda, sempre tão compreensiva e aberta ao mundo, pretende continuar a acantonar certas pessoas e apelidos, no mais básico racismo social, nascido e criado na raiva. Ou seja, pela “lógica” de certa ideologia, nada de bom pode vir de um Jonet, de um Champalimaud, de um Mello, de um Espírito Santo, de um Van Zeller, de qualquer apelido que traga consigo memórias, verdadeiras ou inventadas, de um antigo regime. A esquerda adora louvar quem entrega vida ao trabalho social, à ajuda aos outros. Mas se é uma Isabel Jonet a fazê-lo, é corrida como alguém que faz “caridadezinha”. Repito: não sei o que realmente pensa Isabel Jonet, mas sei o que ouvi. E o que ouvi não justifica esta perseguição assanhada que coloca uma mulher nas bocas do mundo, e que terá, infelizmente, recebido no seu dia-a-dia muitos olhares maliciosos e desprezíveis de gente que “ouviu dizer que ela disse não sei o quê”. Lamento ir contra a corrente, mas não, Isabel Jonet não teve uma frase de Maria Antonieta, rainha demente e cruel, que no auge dos protestos que precederam a Revolução Francesa, quando o povo pedia pão, sugeriu que “se não tinham pão que comessem brioche”. Jonet limitou-se a verbalizar aquilo que, repito, muitos portugueses já andam a conversar dentro das próprias famílias, a dura realidade de termos, eventualmente, de nos disciplinar nas despesas e nas rotinas de consumo. Até porque ela, como já o referiu tantas vezes (e isso ninguém parece ouvir) vai conhecendo cada vez mais casos angustiantes de famílias que pareciam bem na vida e de repente lhe batem à porta do Banco Alimentar. Num tempo de angústia terrível para todos, estava visto que não tardariam as tentativas de encontrar bodes expiatórios para a revolta".



segunda-feira, novembro 19, 2012

"Afinal, os gajos até que são porreiros!"



A técnica é sobejamente conhecida mas os Governos teimam em utilizá-la, sem o menor respeito pelo povo que julgam completamente estúpido. E qual é a técnica? Anunciar que vão ser lançadas medidas muito severas para depois, num gesto de grande magnanimidade, recuarem um poucochinho e dizer que, afinal, não vão ser tão graves como o previsto.

Tal e qual como aconteceu agora com a anunciada sobretaxa de IRS de 4% que acabou de passar para 3,5%, por proposta do PSD e do CDS/PP, após "duras negociações" com o Governo, segundo dizem os próprios. E aqui pergunto: mas não são aqueles partidos que suportam o Governo? Para que serviram tantas reuniões e sessões de esclarecimento sobre o OE para 2013, promovidas entre os Governantes e os Deputados da maioria? Por que é que só agora chegaram à conclusão que a sobretaxa poderia ser 0.5% mais baixa?

O novo recuo do Governo (situação que já começa a ser recorrente e não lhe fica lá muito bem) parece querer dizer que a descidazinha anunciada vai resolver alguma coisa. Mas não, não vai ... ou vai muito pouco. A carga fiscal das famílias vai continuar a ser brutal e, segundo a PricewaterhouseCoopers, a diminuição de 0,5 pontos percentuais na sobretaxa extraordinária levará a um ligeiríssimo decréscimo do valor anual de imposto a pagar na generalidade dos níveis de rendimentos.

Apesar disso, e como já estávamos mentalizados que iríamos pagar os 4% e agora declaram que não vai ser tanto, há muita gente que será levada a pensar "Afinal, os gajos até que são porreiros!"
 
 
 

sexta-feira, novembro 16, 2012

"Coisas que não há que há"



Manuel António Pina (1943 - 2012), recentemente falecido, foi um jornalista e escritor português. Licenciado em Direito, a sua obra, também publicada em França, Estados Unidos, Espanha, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária, incidiu principalmente na poesia e na literatura infanto-juvenil, embora tenha escrito também diversas peças de teatro e obras de ficção e crónica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e TV e editadas em disco.

Quando, em 2011, lhe foi atribuído o Prémio Camões pelo conjunto da sua obra - poesia, crónica, ensaio, literatura infantil e peças de teatro - Manuel Pina, homem de refinado humor (também patente na sua poesia, o que é raro na poesia portuguesa), afirmou: “É a coisa mais inesperada que podia esperar".

 

De Manuel António Pina, "Coisas que não há que há"


Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia...

 

quinta-feira, novembro 15, 2012

Que raio de país é este?



Num país que se diz civilizado, como é possível que haja 10 385 crianças que estão em situação de carência alimentar profunda (números oficiais mas que não traduzirão toda a realidade ... e não estamos a contabilizar os números dos muitos milhares de adultos nas mesmas circunstâncias) enquanto que um banqueiro (Jardim Gonçalves, do Millenium BCP, o mesmo Banco que vai rescindir com 600 trabalhadores) tenha uma reforma de - só ele - 160 mil euros por mês?

Que raio de país é este?

É que já não estamos só a falar de desigualdades sociais. Isto é uma pura ofensa aos portugueses. E não me venham dizer que estou a ser demagogo ...
 
 

terça-feira, novembro 13, 2012

A justiça tarda mas não falha


No dia de ontem, para além da visita de Angela Merkel a Lisboa houve outro acontecimento que teve um especial destaque: a extradição para Portugal de Vale e Azevedo.

Finalmente, depois de estar a residir (em grande estilo) em Londres desde 2009, de três pedidos de "habeas corpus" e de uns quantos recursos atrás de recursos, chegou ao fim da noite de ontem a Lisboa , o antigo presidente do Benfica para cumprir a pena de cinco anos e meio no estabelecimento prisional da Carregueira, não muito longe da sua residência de Sintra.

Useiro e vezeiro em truques que o mantiveram na capital inglesa apesar dos mandados de captura internacionais - e é bom sublinhar que ele nunca andou foragido porque sempre se soube onde estava - Vale e Azevedo foi preso este fim-de-semana pelas autoridades inglesas, versão que a sua advogada contesta, dizendo que o seu cliente se entregou. Certamente que esta novidade de se ter entregue quando a polícia o foi deter pretende ser uma atenuante para a pena que irá cumprir. Recorde-se que, inicialmente, tinha sido condenado a 11 anos e meio de prisão no âmbito dos casos "Dantas da Cunha" e "Ribafria", pena que o Supremo Tribunal de Justiça reduziu para cinco anos e meio. Mas Vale e Azevedo começou também a ser julgado pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e abuso de confiança, por ser acusado de apropriação indevida de quatro milhões de euros do Benfica, resultantes das transferências dos futebolistas Scott Minto, Gary Charles, Amaral e Tahar el Khalej. Em suma, um verdadeiro artista.

Como se costuma dizer "a justiça tarda mas não falha". Neste caso, porém, temos que admitir que tardou um pouco demais, embora reconheçamos que com muitas culpas da justiça inglesa.

Mas com João Vale e Azevedo, um burlão simpático e algo rocambolesco, nunca se sabe. Outros desenvolvimentos poderão acontecer ...


 

segunda-feira, novembro 12, 2012

A visita de Angela Merkel


Li algures que o presidente do BPI, Fernando Ulrich (mau, em pouco tempo já é a terceira vez que escrevo sobre este senhor), considerou que a visita de Angela Merkel vai provar que Portugal é um parceiro sério e onde vale a pena as empresas alemãs investirem. Lembro que a visita relâmpago da chanceler andará na casa da meia dúzia de horas. E apesar de Merkel (a líder da potência que é o motor económico e político da Europa) ser, evidentemente, muito inteligente, não creio que em tempo tão escasso possa concluir que afinal os portugueses são sérios e muito trabalhadores. A não ser que se arranje um esquema.

A propósito desta possibilidade (de se arranjar uma artimanha), lembrei-me do que se passou na minha empresa quando, há anos, uma consultora internacional foi contratada para reorganizá-la, ou seja, para mandar embora o maior número de trabalhadores possível. Foi então que alguém se lembrou de pedir aos colegas do Departamento que estavam a trabalhar em serviços externos que telefonassem de quarto em quarto de hora (fazendo-se passar por empregados de outros Departamentos da empresa) para pedir pareceres ou esclarecimentos técnicos (que faziam parte da nossa competência) previamente combinados. Escusado será dizer que a equipa da tal consultora ficou tão impressionada com o enorme volume de chamadas e com a qualidade das nossas intervenções (embora, do ponto de vista técnico, eles não percebessem lá muito bem o que se passava ali) que concluíram que no nosso Departamento, ao invés de reduzir o número de quadros deveria aumentar em duas unidades. "Voilá"!

Ainda temos umas horas para urdir um plano. Caso dê certo, a chanceler alemã pensará que, afinal, os portugueses não são mandriões como se dizia e que, tal como Ulrich adiantava, Portugal é o sítio ideal para as empresas alemãs investirem.

 

sexta-feira, novembro 09, 2012

Retrato



"Retrato" é um poema de Cecília Meireles (1901 - 1964), escritora e poetisa brasileira



Retrato


 
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha essas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha esse coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
em que espelho ficou perdida
a minha face?

quinta-feira, novembro 08, 2012

O Dilema



Parece que, finalmente, alguém (o Presidente da Comissão de Economia da AR, Luís Campos Ferreira) quer legislar no sentido de que os talões electrónicos de caixa passem a ter o mesmo valor de uma factura.

Demorou tempo a perceber que uma coisa tão simples e tão óbvia pudesse combater a evasão fiscal. É que ninguém entendia por que é que o talão electrónico de caixa que recebemos quando fazemos uma compra não é automaticamente uma factura?

Há muito que defendo o combate à economia paralela. Se todos pagássemos impostos, cada um de nós poderia pagar um pouco menos.

Começo, todavia, a condescender com alguns pequenos comerciantes - e aqui reside o meu dilema - nomeadamente da área da restauração, que em vez da factura, fazem a conta da refeição em cima do toalhete da mesa, em pequenos pedaços de papel ou, ainda, em folhinhas de bloco. É o caso do proprietário de um "snack-bera" onde almoço de vez em quando e que se limita a rabiscar os algarismos numa folha de bloco. Pago sem sequer pensar em pedir factura.

E por que é que eu, tão rigoroso que sou, não peço a factura? É que com o aumento do IVA para a taxa máxima e a reduzida capacidade económica de quem, até há pouco, ia comer uma refeição ao restaurante, o número de fregueses diminuiu drasticamente e acho que deve ser muito difícil manter o estabelecimento aberto. O homem já dispensou uma funcionária e está a pensar fechar em breve. Mesmo sabendo que é capaz de fornecer umas 20 refeições diárias e que só passará duas ou três facturas (se lhe forem pedidas), não entregando, portanto, o IVA devido ao Estado, finjo que não percebo a infracção. Em nome da sobrevivência do próprio dono do estabelecimento e da manutenção de mais 3 postos de trabalho.

 

quarta-feira, novembro 07, 2012

Sai uma "bica"!


Alguns Amigos, ao lerem a crónica de ontem, ficaram preocupados com o meu "estado de alma". É certo que o momento não está para optimismos mas reconheço que, às vezes, deveria aliviar os meus níveis de ansiedade, esquecer um pouco os problemas reais que nos afligem e valorizar aquilo que nos dá alguma satisfação. Afinal, seria preferível sorrir perante as aparentes (ou efectivas) contrariedades da vida.

Na verdade, de que me serve estar sempre a pensar que o empobrecimento do país e dos portugueses parece ser uma inevitabilidade, que os actuais (e muitos dos anteriores) políticos são fraquinhos e não têm (ou não tiveram) visão estratégica para o país, que Portugal já faliu seis vezes desde 1800 até hoje ou que a Segurança Social terá perdido mais de 1,5 mil milhões de euros na bolsa (todos sabem que não há investimento mais seguro do que a bolsa) e que terá dinheiro para pagar apenas oito meses e meio de reformas? Para quê preocupar-me com o facto da dívida portuguesa (a "famosa dívida") estar sem travão ou por que ninguém, nestes anos todos, aprendeu com os erros cometidos?

Por isso, para relaxar, decidi hoje - pelo menos hoje - virar-me para uma notícia que me dá mais gozo, embora não ganhemos absolutamente nada com isso. A capital portuguesa surge em quinto lugar num ranking do jornal norte-americano USA Today que elege as melhores cidade do mundo para se tomar um café.

A lista é liderada por Viena, seguindo-se Seattle, Havana, Melbourne, Lisboa, Portland, Oslo, São Paulo, Vancouver e Taipei.

Que mais me poderia agradar (hoje)? Adoro beber café e ao bebê-lo sinto-me claramente mais desinibido.

Sai uma "bica"!

 

terça-feira, novembro 06, 2012

Por estas e por outras é que ando revoltado e deprimido.



Reconheço que tenho andado um tanto ou quanto deprimido. Eu e, certamente, mais uns milhares de cidadãos. As trafulhices que se vão conhecendo também não têm ajudado. Pudera! Na última sexta-feira, no programa "5 para a Meia Noite" da RTP1 o convidado de Nilton foi José Gomes Ferreira, o conhecido jornalista da SIC.

Foi uma conversa muito interessante e, mais uma vez, Gomes Ferreira, sem subterfúgios, esclareceu algumas questões que têm a ver com a vida de todos nós. Disse, por exemplo:

"... ainda hoje estamos a ver o IRS a aumentar e diz-se que se vai negociar um corte de 30% nas rendas das parcerias. Negociar? Ninguém negoceia nada. Está lá o dinheiro, está-lhes a cair no bolso. Só há uma solução: cortem, a direito, ponto". E pode-se cortar? "Claro, só lhes falta é a coragem. Avancem, nós estamos cá para os apoiar".

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" ... nós estamos num país que abriu as portas a uma coisa chamada Mercado Único, que permite as importações sem taxas aduaneiras, mas nunca ninguém disse que era obrigatório deixar de controlar as entradas. Neste país faz-se uma coisa chamada importação porta a porta. O que eu estou a dizer toca muito em certos grupos económicos que não gostam nada de ouvir isto. A importação porta a porta é chegar à Alemanha, à Itália ou à França e contratar o carregamento. Vem o camião ou o comboio de camiões, chega cá, passou os controlos todos, nenhum polícia perguntou nada, telefona-se para lá e rasga-se lá os documentos e rasgam-se cá. Acontece todos os dias em Portugal. Essa mercadoria vai entrar no circuito económico e tem duas consequências gravíssimas para a nossa economia: vai concorrer com o produtor local, que tem que declarar a sua produção, portanto é concorrência desleal. E vai fugir aos impostos, sem entrar no circuito do IVA. Isto todos os dias se faz com muita importação. E os senhores que permitem isto são de Bruxelas. E permitem isto na União Europeia toda e em Portugal ainda é mais grave porque não há controlo nenhum ... e depois aumenta-se o IVA a quem vai comprar o pacote de arroz, a manteiga e outras coisas. E como não é obrigatório o consumidor final ter sempre uma factura, grande parte escapa ao controlo. Potencialmente grande parte foge aos impostos".


E embora eu não possa alterar este estado de coisas, é por estas e por outras que ando revoltado e deprimido. É que não deveriam ser sempre os mesmos a pagar.

segunda-feira, novembro 05, 2012

"Ai aguentam, aguentam"



Tradicionalmente, em Portugal, os banqueiros costumam ser discretos. Aparecerem pouco, falam pouco e, quando o fazem, são muito prudentes nas suas afirmações. Porém, Fernando Ulrich, o Presidente do BPI é exactamente o contrário. Opina com frequência, aparece muitas vezes em debates e conferências e não perde uma ocasião para dizer o que pensa (mesmo que isso o prejudique e à sua Instituição). Só que os portugueses começam a ficar fartos das suas ideias.

Ainda no passado dia 24 de Outubro aqui dávamos conta daquela ideia peregrina de Ulrich de acolher no seu Banco umas centenas de trabalhadores que seriam pagos pelo Estado e, agora, numa resposta à pergunta se os portugueses teriam capacidade para poderem aguentar mais austeridade, teve a desastrosa (no mínimo) expressão "ai aguentam, aguentam". Logo de seguida comparou a nossa situação com a que se está a viver na Grécia, dizendo "na Grécia o desemprego já está em 23,8% e chegará aos 25,4% no próximo ano. Apesar disso, os gregos estão vivos, protestam com um bocadinho de mais veemência do que nós, partem umas montras, mas eles estão lá, estão vivos”.

Fernando Ulrich não estava a ironizar. Ali notou-se pura insensibilidade.

Cada vez mais temos consciência (com excepção destes senhores que não conhecem bem a realidade deste país e dos seus cidadãos) que já não aguentamos mais. Saberá Fernando Ulrich que um trabalhador que ganha agora 1 000 euros de salário bruto mensal passará a receber 635 euros já a partir de Janeiro de 2013 (menos 39%)? Ou que a um "ricalhaço" que aufira agora 2 000 euros lhe será sacado 44,93% e passará a ganhar - ainda assim uma enorme quantia - 1 151,43 euros?

Do alto do pedestal com que nos mira, de tão longe que está de nós, por certo que não terá consciência disso.


 

quarta-feira, outubro 31, 2012

Tudo na mesma ...



Fiquei perplexo ao saber que o Governo vai manter os transportes gratuitos para juízes e procuradores. Mas não só para estes. As borlas vão também continuar para os militares, polícias, funcionários das transportadoras e membros dos gabinetes do Governo.

Mas o que é isto? Então, há bem pouco tempo este mesmo Governo pôs termo ao desconto de 50% nos passes sociais dos transportes públicos para jovens e idosos e vai manter - não o desconto de 50% mas a gratuitidade absoluta - tamanho privilégio para estes senhores que não serão, por certo, dos mais carenciados?

E ainda fiquei mais furioso ao conhecer o texto do e-mail enviado pelo Sindicato dos Magistrados aos seus associados quando referia, a determinado passo: "... será conveniente que não se discuta na comunicação social este episódio ...". Claro, obviamente que não é conveniente que a opinião pública saiba de mais este desmando que pode causar alguma agitação.

Uma vez mais me insurjo contra este tipo de regalias que podem até ter feito sentido em tempos idos mas que, hoje, são completamente inaceitáveis.

 

terça-feira, outubro 30, 2012

Mais vale dar uma queda ...



A questão não é recente, mas continua a originar polémica. E por isso mesmo, eu continuo a não perceber como é que num Estado de direito, num país ocidental, civilizado e democrático, um cidadão ferido pode pagar, por tratamento idêntico, montantes completamente diferentes. Basta estar ferido em resultado de uma agressão ou de uma queda. Vejamos um caso real:

Uma senhora idosa, vítima de assalto, recorreu ao hospital e teria que pagar pelo tratamento 108 euros, além da taxa moderadora. Se a mesma senhora, em vez de ter sido maltratada pelo assaltante tivesse caído na rua e apresentasse mais ou menos os mesmos ferimentos, teria que pagar apenas uma taxa de 17,5 euros.

Acham isto normal? Então o tratamento não é idêntico, não ocupa o mesmo tempo aos técnicos de saúde e utiliza os mesmíssimos medicamentos? Porque carga de água existem pagamentos tão diferentes?

A coisa parece resumir-se a um detalhe. É que em casos de agressão ou violência o Serviço Nacional de Saúde entende que o tratamento deverá ser pago pelo agressor. E a resolução deste enredo, parece ser tão simples ... caso houvesse vontade política. Há muito que deveria ter sido legislado que os meliantes que se dedicam a magoar as pessoas deveriam deixar um cartão com a sua identificação para, mais tarde, virem a suportar as despesas médicas. Fácil e exequível. Ou, utilizando o plano B, a vítima depois de ter sido agredida pelo assaltante, atirar-se-ia do cima de uma escada e o problema ficaria logo resolvido porque o diagnóstico médico só poderia ser um: queda.

Agora a sério, parece-me incrível que esta situação se mantenha. É injusta e dá azo a que se recorra sistematicamente à mentira. Segundo as estatísticas, as quedas são cada mais frequentes e as agressões têm uma expressão infinitamente menor. Certamente por acaso ...


 

segunda-feira, outubro 29, 2012

O Maratonista

 
Nas jornadas parlamentares conjuntas PSD/CDS-PP, realizadas nos últimos dias, Vítor Gaspar voltou a mostrar os seus dotes de "grande comunicador". Desta vez, usou uma metáfora para dizer que o processo de ajustamento por que estamos a passar é como uma corrida de maratona. O ministro de Estado e das Finanças considerou que "Portugal está a dois terços da maratona, ou seja, por volta do 27º quilómetro, aproximando-se da parte da corrida em que, para não se desistir, é preciso ter treino, é preciso ter disciplina, é preciso ter persistência, é preciso ter força de vontade, é preciso ter vontade de vencer".

Não se sabe bem se estamos, ou não, no tal quilómetro 27, mas sei que Gaspar se esqueceu de mencionar que numa maratona também é necessário ter resistência para aguentar.

 
Com o entusiasmo que se lhe conhece (e que nos entusiasma também, e de que maneira) afirmou "Como sabem, os corredores de maratona, em geral, não desistem ao 27º quilómetro, desistem entre o 30º e o 35º quilómetro. Uma maratona torna-se cada vez mais difícil e os atletas têm os seus maiores desafios na fase final da maratona. É isso exactamente que acontece com um programa de ajustamento".

Mais uma vez Vítor Gaspar se esqueceu de mencionar que nem sempre é assim. O nosso atleta Francisco Lázaro, em 1912 nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, sucumbiu precisamente ao quilómetro 29. Não desistiu no 27º nem entre o 30º e o 35º quilómetros. Foi no 29º quilómetro: não resistiu e faleceu.


E Portugal? Irá conseguir aguentar até ao fim da maratona do ajustamento ou cederá até lá? É que exauridos como estamos, está cada vez mais difícil - ainda que com treino, disciplina, persistência, força de vontade e vontade de vencer - aguentarmos tamanho esforço.

sexta-feira, outubro 26, 2012

Até quando poderemos viver com um mínimo de dignidade?


 
Ainda na última segunda-feira eu dizia aqui: "perturba-me não saber até quando poderemos viver com um mínimo de dignidade".

Pois bem, numa sessão realizada na Assembleia da República, a Deputada do PCP, Rita Rato, interpelava o ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, nestes termos:

"... o aumento das pensões mínimas, fazendo o arredondamento por cima, e pensando num aumento dos 8 euros (que não chegou, de facto, aos 8 euros), nós estamos a falar de 0,26 cêntimos por dia numa pensão na ordem dos 256 euros ..."

E é esta inquietação que me assalta. Para quem ganha pouco mais de 250 euros por mês, que significado tem um aumento de 8 euros, os tais 0,26 cts diários?

Será que já nem esse "mínimo de dignidade" devida às pessoas é respeitado? Não, não respondam, eu sei a resposta ...
 
 
 

quarta-feira, outubro 24, 2012

Ainda não sei se ele estava a falar a sério ...


Há uma semana, em directo na RTP1, no programa "De Caras", o jornalista Vítor Gonçalves entrevistava Fernando Ulrich, CEO do BPI.

Quando abordavam o problema do desemprego a conversa foi mais ou menos esta:

VG: "... mas estava à espera que o Estado negociasse consigo para aumentar o número de empregados do Banco? Se tivesse apoios do Estado poderia criar empregos no BPI? ..."

FU: " ... se pudesse haver 300 ou 500 pessoas que estivessem no BPI durante um ano ou dois, garanto que era melhor para elas porque aprendiam, valorizavam-se e era bom para a sua carreira ..."

VG: " ... e o que é que precisava que o Estado fizesse, que lhes pagasse uma parte do salário? ..."

FH: " ... ou até a totalidade. Era melhor do que pagar subsídios de desemprego. E isto é aplicável às grandes empresas, não às PME porque lá meter 2 empregados, mesmo pagos, perturbaria as empresas. Agora se eu tiver mais 500 pessoas no Banco não perturba o Banco .... "

 

Eu acho que é a isto a que se chama empreendedorismo. Meter nos quadros do Banco 500 funcionários, pagos pelo Estado e a trabalhar e a gerar riqueza para o Banco é uma ideia genial. Acompanhada, porventura, por uma outra medida: a de despedir umas centenas de bancários que já lá estavam e que deixariam de ser necessários.

Pois a mim não perturbaria mesmo nada - mesmo não sendo uma grande empresa nem sequer uma PME - que o Estado pagasse a uma desempregada para ir trabalhar lá em minha casa. Pegando nos argumentos do banqueiro, era melhor para o Estado pagar o ordenado da empregada doméstica do que pagar subsídio de desemprego e para a empregada também seria bom porque se valorizaria e faria curriculum.

Mesmo vendo com toda a atenção a entrevista, não consegui perceber se Ulrich estava realmente a falar a sério. Mas eu acho que estava ...

 

terça-feira, outubro 23, 2012

Mário, acabou a noz-moscada ...



O desemprego e o aumento de impostos disparam. Dizem que por causa da crise, a mesma que está a provocar uma austeridade cruel que acentua, e de que maneira, a desigualdade social. Os pobres mal conseguem sobreviver, a classe média definha e os ricos e muito ricos estão a uma distância cada vez maior da base da pirâmide social. Mas de tão alto que estão no seu vértice, nem os consigo ver com nitidez. Ralo-me muito mas não posso fazer grande coisa.

Quanto aos reformados, indefesos e envelhecidos, pensamos como ao longo de uma vida contributiva foram entregando ao Estado, supostamente protector e "pessoa de bem", os seus descontos que se destinavam a garantir, mais tarde, a merecida reforma. Mas o que estamos a assistir não corresponde às expectativas criadas ao longo dos anos. Por conveniência do Estado, as regras foram-se alterando e o contrato estabelecido no início do "casamento" entre os trabalhadores e o Estado não foi cumprido. Indigno-me muitíssimo mas não posso fazer grande coisa.

Depois de duras e prolongadíssimas reuniões, o Governo lá conseguiu apresentar a proposta do Orçamento de Estado para 2013 (para muitos um colossal embuste e completamente inexequível), com muitos avanços e recuos provocados, em parte, pela pressão da opinião pública. Finalmente aprovada pelo Conselho de Ministros a proposta do OE, ainda se vão conhecendo erros na inscrição de verbas de despesa atribuídas aos Ministérios da Defesa e da Economia. Preocupo-me com o que aí vem, fico "piurso" com a incompetência dos governantes mas não posso fazer grande coisa.

Agora, quando ouço reclamar que a noz-moscada acabou, justamente quando se está a preparar um souflé de peixe em que este ingrediente é absolutamente indispensável ... porque "pertence", embora não possa deixar de ficar ralado, indignado e preocupado (com o meu esquecimento) sempre posso fazer qualquer coisa. Dizer "sim querida, vou já comprar" e sair rapidamente em direcção a um supermercado.

 

segunda-feira, outubro 22, 2012

Eu já vi este filme ...


Há muitos anos, fui funcionário público. Nesses tempos em que ser empregado do Estado era sinónimo de estabilidade, arranjavam-se empregos com alguma facilidade (não esquecer que muitos portugueses combatiam em África) mas os ordenados eram baixos e não havia as mordomias que foram conquistadas com a revolução de Abril de 1974. Por exemplo, as horas extraordinárias e o trabalho aos domingos e feriados não tinham qualquer percentagem adicional ao custo de cada hora normal. Recordo-me que antes do 25 de Abril ganhava 0,04 euros por hora e o mesmo preço se aplicava quando fazia umas horas extraordinárias ou trabalhava aos domingos ou aos feriados. Sim, porque aos sábados trabalhava-se sempre, as oito horas da praxe. Só bastante mais tarde alcançámos a semana-inglesa e, depois de Abril de 1974, a semana de cinco dias.

Recordo isto numa altura em que se tem vindo a assistir a uma quebra acelerada de tudo quanto foi conquistado. Depois de se terem alcançado patamares de remuneração e de condições laborais muito aceitáveis, voltámos a assistir ao trabalho escravo, sem vínculos, sem segurança, sem carreira, quase a troco de um prato de comida. Isto quando se consegue um emprego, o que, nos dias de hoje, já é uma bênção.
É que perturba-me não saber até quando poderemos viver com um mínimo de dignidade.