quarta-feira, julho 22, 2015

Boas Férias



Apropriando-me do bom (e inteligente) humor de Woody Allen, aqui vos deixo - aos casados (ou em via de o serem), aos solteiros e aos assim-assim - uma das suas frases emblemáticas:


"Eu e minha mulher ficámos na dúvida entre tirar férias ou nos divorciarmos. Optámos pela segunda hipótese. Duas semanas no Caribe podem ser divertidas, mas um divórcio dura para sempre".


Pensem no assunto. Entretanto ...

Boas Férias para todos!

sexta-feira, julho 17, 2015

E agora, onde é que os críticos se esconderam?



Quando em Novembro de 2011, José Sócrates dizia a jovens universitários, numa conferência realizada em Poitiers, "Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei" não faltaram montanhas de comentadores a criticarem o ex-Primeiro-Ministro. Então o homem tinha levado o país ao estado em que se encontrava, praticamente em banca rota e ainda tinha o desplante de - "com toda a cara de pau" - dizer à rapaziada que essa coisa da dívida era uma ideia de criança. Ao que se tinha chegado ...

A semana passada a ex-Ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite, insuspeita de gostar de Sócrates ou de, minimamente, alinhar nas mesmas ideias do que ele, afirmou: "os países europeus - e não só a Grécia - não vão conseguir pagar as suas dívidas e esse problema deve ser pensado já pela União Europeia".

Pois é, entre "as dívidas dos Estados que são por definição eternas" de José Sócrates e "os países europeus não vão conseguir pagar as suas dívidas" de Ferreira Leite, parece-me que existe apenas uma pequeníssima passada de pardal. Só que não ouvi agora, como então, quaisquer comentários dos mesmíssimos e ilustres comentadores de serviço. Afinal, onde é que eles se esconderam?

terça-feira, julho 14, 2015

Desculpem lá, só quem pode falar mal dos nossos somos nós ...



Parece descabido (sobretudo num momento tão grave da História da Europa, em que tudo está posto em causa e não se sabe como é que vai terminar) escrever sobre um assunto como o que aqui vos trago hoje. Mas a verdade é que fiquei irritado com o que uma senhora espanhola disse sobre um clube português. É que é a tal história, por muito mau que seja um parente nosso, não gostamos que alguém de fora chame nomes ao nosso parente. Ou seja, só nós, que somos da casa, é que temos esse direito.

Pois foi a irritação que senti quando li as afirmações dos pais do super e "fabulástico" guarda-redes Iker Casillas, o mais premiado jogador de futebol em actividade no mundo, que agora foi contratado pelo Futebol Clube do Porto para defender as suas redes. "O fêcêpê é uma equipa da 3a Divisão ...", disse, convicta, a mãe de Casillas. Ora eu, que até sou benfiquista dos quatro costados, acho que isso não corresponde à verdade. Mais, é injusto. Ignorância ou má vontade porque a senhora talvez gostasse que o seu super guarda-redes fosse transferido para um clube ainda mais conhecido, talvez o Manchester United ou o PSG, eu entendo. Mas por muito "amor de mãe" que haja, achei que ela foi demasiado longe ...

Dizem as más-línguas que a mãe de Casillas (porque o ordenado do filho talvez não atinja tantos zeros como o que o Real Madrid lhe pagava) , teria receado de que os móveis "vintage" de sua casa pudessem ser trocados por outros bem mais modestos, tipo Ikea. Mas não será por isso, digo eu, já que, aparentemente, o filho não se dá com os pais há anos.

Enfim, foi um desabafo infeliz. E se a D. Mari Carmen, apesar dos seus 56 anos, não sabe onde o filho se vai meter, eu ajudo-a dizendo-lhe que "o Porto é uma Nação" e o F.C. Porto não é definitivamente uma equipa da 3ª Divisão, mas sim a quase a melhor de Portugal ...



quinta-feira, julho 09, 2015

Ou há moral ou ... o bacalhau também é penhorado ...



Quando a lei é cega e os automatismos imperam, podem acontecer coisas deste tipo. Infelizmente. Mas o caricato pode chegar a dimensões tais que até o empregado de um restaurante se pode juntar ao pitéu - “pãezinhos (couvert incluído)”,“gambas panadas com molho de laranja à parte”, “salada verde (alface e chicória)”, “bacalhau com espinafres gratinado” e “cheesecake com coulis de frutos vermelhos” - e serem todos penhorados pela simples razão de que o restaurante onde foi servido o repasto teria dívidas às Finanças. Vai daí, zás, que a lei é para se cumprir e é para todos, incluindo o coitado do funcionário que serviu os clientes.

Casos tão inusitados como este já têm acontecido (ainda não há muito o "Por Linhas Tortas" dava conta de uma penhora a bens que tinham sido doados) mas a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais jurou, então, ter tomado as necessárias medidas (em Abril deste ano) para que se acabasse de vez com esta paródia. Pelos vistos não foram as suficientes porque esta penhora é de Junho último e diz respeito a uma refeição de Fevereiro. Certamente que deve ter escapado ao "rigor" que as Finanças costumam ter com a generalidade dos cidadãos.

De referir, ainda, que a refeição em causa custou 192, 82 euros e que o restaurante foi nomeado “fiel depositário” dos alimentos consumidos quatro meses antes, bem como do empregado (!).

Penhorado ou não, devo confessar que fiquei de olho no “cheesecake com coulis de frutos vermelhos”. Devia estar delicioso ...

terça-feira, julho 07, 2015

As honras de Panteão ...



A resposta à magna questão de se saber que figuras públicas devem, ou não, ficarem no Panteão Nacional acaba por ser muito parecida com aquela outra questão das condecorações, a que me referi aqui há dias. Afinal, quais são os critérios para a atribuição de condecorações ou para que os restos mortais possam repousar no Panteão?

A discussão não é de agora mas a recente transladação do "Rei Eusébio" para o Panteão veio avivar dúvidas legítimas que "assaltam" muita gente. Então um futebolista ficar entre poetas, escritores e políticos? E porque não? Para mim, o problema não é saber se todos eles podem descansar em paz no mesmo espaço. O que gostaria de conhecer, repito, é quais são os critérios para a concessão de tais honrarias. Sabe-se que "o Panteão Nacional se destina a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ...". E eu que sou contra qualquer visão elitista da vida, pergunto: mas afinal, que méritos maiores possam ser atribuídos a Sophia de Mello Breyner Andresen (que eu adoro) que não caibam por inteiro a Eusébio, só por ele ter sido um "Rei" do chuto na bola? É que ambos foram muito grandes nas suas artes.

Mas sejamos realistas, o Panteão começa a ser pequeno para albergar, um dia, pessoas que tanto têm divulgado Portugal por esse mundo. Estou a pensar, por exemplo, em futebolistas como Cristiano Ronaldo ou Figo, em políticos como António Guterres ou Jorge Sampaio ou, ainda, em escritores como Lobo Antunes. E porque o espaço começa a escassear, o melhor é começar a pensar em construir outro Panteão. E, se assim for, é bom que comecem já porque o actual Panteão levou quase 300 anos a ser construído ...

quinta-feira, julho 02, 2015

Portugal, um país do caraças ...



Para não estragar a conversa, hoje não vou falar nem do Governo nem daquelas outras coisas que nos deixam irritados todos os dias e que nos levam à toma de tantos anseolíticos. Hoje quero pensar apenas em coisas agradáveis e dizer-vos como sinto orgulho do meu país e dos meus concidadãos.

Já pensaram como num pequeno espaço de terra plantado à beira do Atlântico, com uma área total que pouco passa os 92 mil quilómetros quadrados e uma população (cada vez menor) que não vai além dos 10 milhões e pouco de habitantes, como é que nasceu tanta gente que, nas suas áreas, consegue ter uma qualidade tão grande que os coloca nos primeiros lugares na Europa e no Mundo?

Além dos navegadores de antanho que descobriram novos mundos, tivemos (ou temos) um Papa, dois Prémios Nobel, cientistas de primeiríssima qualidade, músicos, atletas, actores e eu sei lá que mais, todos nascidos cá no burgo, e que levam (ou levaram) o nome do país aos mais recônditos cantos do mundo.

Ainda agora, na primeira edição dos Jogos Europeus que se realizaram em Baku, capital do Azerbeijão, os nossos atletas ganharam um ror de medalhas (nada menos que 10) e a nossa selecção de futebol de sub-21 é vice-campeã europeia.

Não acham isto fabuloso? Em tão pouco espaço, de onde é que surgem tantos talentos? Por isso digo que Portugal, um país do caraças ...

terça-feira, junho 30, 2015

"Acudam-nos" ...



"Acudam-nos": Não vejo expressão que traduza melhor a nossa (a do contribuinte) sensação de impotência e de desespero perante o que esta turma de jovens - mal-preparados - políticos está a fazer ao país e aos cidadãos. Talvez, para os crentes, haja outra: "Valha-nos Deus" ...

É que, segundo o que se soube há pouco, a auditoria do Tribunal de Contas às privatizações da EDP e da REN concluiu, entre outras coisas, que não foram tomadas as medidas necessárias para acautelar o interesse estratégico e nacional e que não houve transparência suficiente nos processos.

As privatizações, realizadas entre Setembro de 2011 e a primeira metade de 2012, foram feitas de uma forma esquisita, digamos assim. Por exemplo, as vendas foram precisamente efectuadas em momentos em que os activos estavam subavaliados (EDP e REN tinham-se desvalorizado na bolsa) e vivia-se um enquadramento económico muito negativo. E, apesar da troika exigir a venda, o Governo não soube (ou não quis) esperar por um momento mais favorável.

Diz, também, o Tribunal de Contas que a Parpública, a empresa que gere as participações empresariais do Estado, mostrou falta de transparência na contratação de assessores financeiros e não acautelou aquilo a que normalmente se chama "conflito de interesses", nos processos de privatização da EDP e da REN. Ou seja, a Parpública não assegurou que os consultores financeiros (seja para a avaliação prévia das empresas ou para a assessoria no decurso do respectivo processo de venda) ficassem impedidos de assessorar posteriormente os potenciais investidores. O que, como sabemos, veio a acontecer: o BESI (não esqueçamos que o seu Presidente, José Maria Ricciardi, é amigo do Primeiro-Ministro) foi o consultor (o avaliador) do Governo no processo de (re)privatização da EDP e da REN” e foi, mais tarde, o consultor financeiro dos compradores: a China Tree Gorges, no caso da EDP, e a State Grid, compradora da REN. Resumindo: ninguém cuidou de saber se havia, ou não, o tal conflito de interesses. Inacreditável! E o que dizer do quanto nos custou a assessoria financeira da Caixa BI que recebeu mais de 20 milhões de euros? Incrível ...

Há quem questione o trabalho das empresas de auditoria e do Tribunal de Contas, argumentando que de nada servem por só constatarem as ilegalidades à posteriori. Pois eu acho que, embora de facto as análises sejam feitas só depois dos actos praticados, esse trabalho serve fundamentalmente para duas coisas. A primeira, para acautelar situações futuras. A segunda, para, em caso de má-fé ou de ilícitos comprovados, a justiça possa actuar.

E, neste caso, embora Passos Coelho já tenha afirmado que "o Governo está de consciência tranquila em relação aos processos de privatização da REN e da EDP", continuo a pensar que se justifica inteiramente a chamada de atenção do Tribunal de Contas. De tal modo que continuo a implorar:"Acudam-nos ..."

quinta-feira, junho 25, 2015

O arrumador ...



Para mim, como para muita gente, a "figura" do arrumador é quase sempre incómoda. Mesmo quando ele está realmente a ajudar. Na maior parte das vezes, porém, irrita-me o facto de ele aparecer a correr, vindo do nada, depois de já termos arrumado o carro num espaço em que caberia pelo menos um autocarro dos grandes. E o que dizer - já numa súplica de pedinchice da moedinha - do "Está bom chefe ..."?

Mas o arrumador, até pela forma como quase sempre se apresenta, leva-me a imaginar que possa ser um provável malandro que não só não me vai guardar o carro (na verdade ele é um facilitador de estacionamento e não um guarda de um parque) como me deixa a incómoda dúvida de ver o carro riscado como represália de uma gratificação considerada insuficiente. Ou o receio que o carro tenha sido levado pela polícia quando, ficando estacionado de modo irregular, o arrumador tenha jurado a pés juntos que ali não iria haver qualquer problema. Só que, às vezes, o carro é mesmo rebocado ou, na melhor das hipóteses, está lá uma multa de todo o tamanho.

Se calhar estou a ser injusto para com a "classe" dos arrumadores. É sempre ingrato generalizar e a verdade é que conheço alguns que fogem ao estereotipo traçado. Tenho encontrado arrumadores simpáticos, discretos, que não usam o tradicional rolo (de jornal ou de outro qualquer papel) na mão e que ajudam efectivamente os condutores a arrumar os seus veículos. A maioria, contudo, obedece ao tal padrão que incomoda. Estarei a ser preconceituoso? Talvez, ou talvez gostasse dar de caras com um arrumador vestido de Armani, bem cheiroso e com o "Financial Times" na mão ...


terça-feira, junho 23, 2015

Mas ... eles foram condecorados porquê?



Não costumo opinar sobre o que não sei. Porém, há coisas que, embora não compreenda, me levam - ainda assim - "a pensar em voz alta". Como é o caso da atribuição de condecorações, nomeadamente aquelas que são concedidas pelo Presidente da República no 10 de Junho. Ignoro quais são os critérios seguidos mas, em alguns casos, ao olhar de um cidadão comum, fazem uma certa confusão.

É que, no meu fraco entender, estas homenagens estariam reservadas a quem tivesse prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores. Desculpem a minha ignorância ...

Este ano, por exemplo, entre um grande número de pessoas que não conheço (e, por isso, não me atrevo a comentar o que quer que seja), foi conferida ao Prof. Doutor José Mariano Gago (a título póstumo) a "Ordem Militar de Cristo (Grã-Cruz)". Nada mais justo a um homem que tanto fez pelo país.

Mas o que dizer da "Comenda" atribuída a António Zambujo - a "Ordem do Infante D. Henrique"? Por muito que aprecie o artista (e gosto verdadeiramente de o ouvir e tenho simpatia por ele), o que é que ele fez assim de tão relevante pelo país? Sobretudo quando não conheço que tenha havido idêntica atenção para artistas como Jorge Palma, Sérgio Godinho ou Rui Veloso, entre outros? Esses, há longos anos com méritos reconhecidos por todos.

E o que pensar sobre Carlos Gil, agraciado com a "Ordem do Infante D. Henrique"? Sabem, por acaso, que aptidões especiais foram postas ao serviço de Portugal pelo novel "Comendador"? Pois bem, eu digo-vos, Carlos Gil (que não conheço e contra o qual nada me move) é apenas, e só, o costureiro - o "designer" - da D. Maria Cavaco Silva, esposa do Presidente da República. Será o suficiente para tão alta distinção?

Como referi, não sei como são escolhidos os nomes. Mas que muitos deles são, no mínimo, polémicos, lá isso são ...

sexta-feira, junho 19, 2015

"Pequena Elegia Chamada Domingo"



"Pequena Elegia Chamada Domingo", de Eugénio de Andrade




O domingo era uma coisa pequena.
Uma coisa tão pequena
que cabia inteirinha nos teus olhos.
Nas tuas mãos
estavam os montes e os rios
e as nuvens.
Mas as rosas,
as rosas estavam na tua boca.

Hoje os montes e os rios
e as nuvens
não vêm nas tuas mãos.
(Se ao menos elas viessem
sem montes e sem nuvens
e sem rios...)
O domingo está apenas nos meus olhos
e é grande.
Os montes estão distantes e ocultam
os rios e as nuvens
e as rosas.

quinta-feira, junho 18, 2015

"Pastel de bacalhau com queijo da serra": o novo petisco?



Há coisas que me deixam arrepiado. E não estou a pensar na brisa fresca que tem soprado nestas últimas tardes de quase-verão. Estou a referir-me à já denominada "guerra do pastel de bacalhau" que tem sido tema obrigatório nas redes sociais e nos blogues.

E o caso não é para menos. Então não é que uns "iluminados criativos culinários" se lembraram de inventar o "pastel de bacalhau com queijo da serra"? Uma coisa que poderá lembrar o tradicional pastelinho de bacalhau a babar-se com queijo da serra. Ora, que eu me babe por um queijo da serra não é de estranhar, pois é um manjar dos céus. Agora, o pastel de bacalhau, uma das jóias mais perfeitas e mais queridas da nossa gastronomia popular, babar-se por um queijo (ainda que da Serra, e do bom), convenhamos que não lembra o diabo.

Não diria, como Maria de Lurdes Modesto (ela que é uma referência maior destas artes), que é uma "obscenidade". Não vou tão longe. Mas acho estranho, no mínimo, um "casamento" como este, que os seus criadores anunciam - entusiasticamente - como "Dois sabores tradicionais. Uma especialidade única". Tretas, obviamente que não estou de acordo.

Aliás, nem percebo a mania de querer ser inovador em matérias que foram descobertas há muito e são tão apreciadas tal como estão. Afinal, querem inventar o quê? Como li algures, "o que querem é achincalhar o património gastronómico nacional. Já temos o pastel de nata de kiwi e a alheira de bacalhau". A seguir, digo eu, é capaz de ser lançada a mais bela de todas as especialidades: morangos com maionese.

E como questionou Maria de Lourdes Modesto: "Ninguém com poder toma conta disto?”. Parece que não ...

terça-feira, junho 09, 2015

José Sócrates: "Amar ou odiar: ou tudo ou nada!"



Provavelmente - mais do que em qualquer outra altura - o poema de Fausto Guedes Teixeira faz agora o maior sentido:


"Amar ou odiar: ou tudo ou nada!
O meio termo é que não pode ser ...

... Metade dum prazer não é um prazer ...

... Que nenhum homem seja indiferente!
Amemos muito, como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos,
Porque é no sentimento que ela está"



Preso preventivamente há mais de seis meses, José Sócrates considera que "a prisão constituiu uma enorme e cruel injustiça. Seis meses sem acusação. Seis meses sem acesso aos autos. Seis meses de um furiosa campanha mediática de denegrimento e de difamação ...". Por isso decidiu “não dar consentimento” à proposta do Ministério Público para que deixe de estar em prisão preventiva e passe a estar em prisão domiciliária, com uma pulseira electrónica. Ou seja, "ou me libertam ou fico preso aqui mesmo". "Amar ou odiar: ou tudo ou nada! O meio termo é que não pode ser ...".

sexta-feira, junho 05, 2015

Ai, Jesus, tanta confusão na 2ª Circular ...



A prova de que os portugueses pouco ligaram à descida de umas décimas no número do desemprego é que ontem toda a gente falava num só assunto: a saída de Jorge Jesus do Benfica para o seu arqui-rival do outro lado da segunda circular, o Sporting. Aliás, não falavam no desemprego nem em qualquer outro assunto daqueles que têm mesmo a ver com as nossas vidas.

Para quem segue o que se passa nas redes sociais é muito curioso ler os comentários de benfiquistas e de sportinguistas. Os primeiros acusam Jesus de ser um traidor (chamam-lhe Judas e sentem que se passou do bicampeonato ao bicabornato), os segundos acham que o treinador não tem o perfil adequado para estar à frente do clube de Alvalade. Ou seja, estão todos contra Jorge Jesus.

Como contraponto a este enredo todo há também o despedimento (com justa causa, ao que dizem) do treinador leonino, Marco Silva, que muitos apontam já como futuro treinador do Benfica. Está armada uma teia em que nem sequer faltam elementos como a ética (ou falta dela), o reconhecimento ou a ingratidão (ou falta deles) e os grandes interesses de agentes, fundos de investimento e investidores de países africanos.

Uma completa salganhada - que já vimos idênticas no passado, mas esta tem um gostinho especial - que promete dar muito que falar nos próximos dias e semanas e da qual se pode tirar, para já, duas conclusões: a primeira, é que quem realmente se interessa pelos clubes não são os dirigentes, treinadores ou jogadores, são os adeptos. A segunda, é que percebo agora para que foi montada a passagem superior sobre a segunda circular, junto às Torres de Lisboa. Foi - acho eu de que ... - para facilitar o salto dos treinadores da Luz para Alvalade e vice-versa ... Será?

quarta-feira, junho 03, 2015

E "cadê" o pão com chouriço?



Se há coisas que aprendi nos meus tempos de estudante (e de boémia) é que beber à fartazana sem que isso seja acompanhado por algum tipo de alimento sólido (de preferência que tenha "sustância") pode não ser uma boa ideia e acabar mal. Quer eu dizer com isto que umas sandochas ou qualquer coisa do género sempre actuam como mata-borrão para absorver o álcool.

E porque é que me lembrei desse "antídoto maravilhoso" para combater os excessos da pinga? Porque tenho uma teoria quanto ao que se passou no Marquês de Pombal, aquando dos festejos do Bi do Benfica. Como sabem eu estive lá e vi, para além dos stands da Sagres, dezenas de vendedores de cerveja que estavam ao longo das ruas, com geleiras de campismo colocadas nas bagageiras abertas de automóveis ou simplesmente no chão, todos a vender cerveja fresquinha para ajudar à festa e ... ganhar uns cobres. E eram muitos os milhares de pessoas que afluíam ao Marquês, com muita alegria e, muitos deles, já com muita bebida. Nada mais natural do que brindar à saúde e à vitória do Glorioso.

E neste momento estarão a interrogar-se: mas afinal qual é a tua teoria sobre o que aconteceu? É fácil de explicar. Li no Expresso do último fim-de-semana que a Câmara Municipal de Lisboa chumbou um pedido de licenciamento para a venda ambulante de pão com chouriço, alegando "motivos de segurança e ordem pública" (?). E, já perceberam, é aqui que entra a minha teoria: Então a rapaziada bebeu que se fartou e não pôde atenuar os efeitos do álcool com uns pãezinhos com chouriço que fosse? É claro que deu no que deu ... embora se entenda bem a preocupação da CML: é que a venda de pão com chouriço podia constituir um perigo dos diabos ...

terça-feira, junho 02, 2015

A nomeação de Carlos Costa



A recente (re)nomeação de Carlos Costa para Governador do Banco de Portugal leva-nos a reflectir sobre a natureza da política e dos políticos. Se bem nos lembramos das declarações que foram proferidas durante os trabalhos da recente Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES/GES ele foi acusado de ter sido brando e de não ter actuado da melhor forma em relação a Ricardo Salgado e ao BES. O Coordenador do PSD nessa comissão, Carlos Abreu Amorim, não o poupou e disse que a sua actuação foi muito grave. O mesmo Amorim que (depois de ter recebido instruções do Passos Coelho) veio agora afirmar que o mandato de Carlos Costa foi exemplar. Em que ficamos? Que moral pode um indivíduo invocar quando trai a sua própria palavra?

Claro está que não é posta em causa a legitimidade do actual Governo em fazer a nomeação. Embora, convenhamos, seja muito estranho que a faça a poucos meses das eleições e sem ter conseguido o acordo do maior partido da oposição que, eventualmente, virá a comandar em breve os destinos do país. Tanto mais que o PSD tanto tem falado ultimamente na necessidade de consensos. Como não está em causa a honestidade nem a competência de Carlos Costa. Apenas se esperaria que houvesse bom-senso quanto à oportunidade da renovação do mandato, para que não restasse qualquer dúvida de que não houve (como dizer isto?) um pagamento de favores pelo facto do Governador ter "dado o peito às balas" no caso BES, deixando de fora as responsabilidades que caberiam ao Governo.

O convite de Passos não deveria ter sido feito e, tendo existido, não deveria ter sido aceite. É que para além das dúvidas legítimas dos cidadãos, quer o Banco de Portugal quer, especialmente, Carlos Costa, partem para mais um mandato (que não vai ser fácil) numa situação de grande fragilidade.

sexta-feira, maio 29, 2015

Inaceitável. A fome continua a grassar por aí ...



Quando na passada segunda-feira eu escrevia aqui que nem tudo vai bem "no Reino de ... Portugal" e criticava as profundas desigualdades existentes no nosso país, para além de alguns números que constavam no texto já conhecia as conclusões de um estudo levado a cabo pelo Banco Alimentar Contra a Fome e pela Entrajuda. Sabia, por exemplo, que mais de metade dos agregados familiares que recorrem a instituições (muitos deles idosos) têm um rendimento mensal de 400 euros ou menos. E que 20% dos 1.889 utentes de instituições sociais inquiridos afirmaram ter tido falta de alimentos ou sentido fome “alguns dias por semana” nos seis meses anteriores e 13% referiu que tal aconteceu “pelo menos um dia por semana”.

E se é verdade que, relativamente ao estudo anterior, em 2010, se regista um decréscimo do número de pessoas que disse ter passado um dia inteiro sem comer, por falta de dinheiro - portanto, uma ligeira melhoria da percepção das condições de vida - o que fere verdadeiramente é que estes não são, apenas, números de mais um estudo. Este é o espelho de uma realidade que não podemos, enquanto sociedade, continuar a aceitar.

segunda-feira, maio 25, 2015

Eleições à porta e a festa PSD/CDS anda pelo país



Bem sei que as eleições estão à porta e que chegou a hora de tentar entusiasmar os eleitores com as magníficas promessas de sempre, aquelas que - seguramente - irão melhorar a vida de todos. A campanha já começou e o folclore habitual aí está. Mas, porque a desilusão dos cidadãos já vem de longe (as promessas raramente são cumpridas) não se entende lá muito bem porque razão a coligação que tem estado no poder anda tão contentinha e em festa pelo país. Tanto mais que a percepção da generalidade dos portugueses é que a situação não está famosa.

E os sinais de que nem tudo vai bem "no Reino de ... Portugal" são muitos. Por exemplo, o Ministro da Economia, António Pires de Lima, afirmou que ler os relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) não está nas suas prioridades (?). Por exemplo, e segundo o recente relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico que analisa a desigualdade de rendimentos dos últimos anos, Portugal é dos países mais pobres e desiguais da OCDE. Por exemplo, as dívidas incobráveis - a fornecedores, instituições financeiras (banca e seguros), crédito ao consumo, arrendamentos ou a empresas de serviços públicos essenciais (água e luz) e telecomunicações - bateu o recorde de registos na lista que ultrapassa já os 132 mil incumpridores.

Pois apesar disto (e podería referir mais números, todos eles preocupantes) o Primeiro-Ministro diz que não tem pressa em apresentar programas, medidas e ideias. E a festa PSD/CDS continua alegremente pelo país. Porquê, pergunto eu? A não ser que seja por terem ouvido ao líder parlamentar do Partido Socialista, Ferro Rodrigues, no último debate quinzenal na AR, afirmações como: "com a troika era mau, sem a troika é péssimo" ou "estou aqui para defender os mesmos princípios e as mesmas políticas que defendia há 4 anos". Sim, se for por isso, têm razão para estarem satisfeitos. A festa pode continuar ...


quarta-feira, maio 20, 2015

Os malditos défices ...



Embora sabendo que muitos dos meus Amigos que lêem este blogue são especialistas em macroeconomia, ainda assim, vou lembrar (aos menos conhecedores) que a definição de défice (a malfadada palavra que tanto tem azucrinado os ouvidos e as nossas vidas), em traços muito gerais e dito de uma forma muito simplista pode resumir-se a isto: as receitas não são suficientes para pagar as despesas. Ou dito, ainda, de outra maneira, gasta-se mais do que se tem. E, já agora, dizer que quando falamos em défice público normalmente ele é expresso em percentagem sobre o PIB do país.
Mas esta nota prévia é para dizer o quê? Que há uns anos, uns tipos em Bruxelas, se lembraram de estabelecer que os países da União Europeia deveriam ter o seu défice abaixo dos 3%, sob pena de sofrerem sanções. No caso de Portugal, a coisa tem andado feia e este ano, finalmente, estamos numa posição, como dizer, "resvés Campo de Ourique", uma vez que a Comissão Europeia estima que, em 2015, o nosso défice seja de 3,1% e o Governo continua a dizer que ele será de 2,7%. Vamos ver quem tem razão ...

Independentemente dos esforços que temos feito, o curioso é que os tais tipos de Bruxelas quando decidiram os famigerados 3% certamente que quereriam (?) que isso se aplicasse a todos os países da União Europeia. E o curioso é que países com uma economia bem mais robusta do que a portuguesa ainda estão em pior situação do que nós. Entre outros, a Inglaterra tem um défice de 5,2%, tal como a França e, até a Finlândia que tanto nos criticou, está com um défice acima dos 3%. A Espanha terá um défice de 4,6% em 2015 e de 3,9% em 2016.

O que eu quero concluir é que, com jeitinho, ainda vamos ser apontados como um exemplo a seguir ...

terça-feira, maio 19, 2015

Uma VERGONHA !!!!



Sabem como o tema futebol tem sido tão poucas vezes autorizado a entrar neste espaço (apesar de eu gostar muito de futebol). Mas o que aconteceu no passado domingo em Guimarães e em Lisboa, para além do jogo que decidiu o título a favor do clube do meu coração, justifica a excepção. Contemos isto em dois capítulos.

O primeiro, em Guimarães, que se divide em duas partes: um polícia (um oficial, um graduado) que agrediu brutalmente à bastonada um homem de quarenta e poucos anos que se fazia acompanhar de dois filhos de 9 e 13 anos e do pai, um senhor com perto de 70 anos. Uma acção violenta, gratuita e desproporcionada contra um adepto que, segundo as suas palavras, só queria sair do túnel de acesso à rua porque os filhos estavam assustados pelo barulho e movimentação que se verificava no estádio. Pois, sem mais, levou um enxerto de pancada diante dos olhos dos filhos apavorados e do pai, também ele empurrado e agredido, por ter tentado socorrer o filho. Segundo o relatório da polícia, o homem terá faltado ao respeito às forças da ordem e terá cuspido ao polícia. Ainda que isso tivesse acontecido, continuava a não se justificar a violência a que assistimos (graças a uma câmara de televisão que estava no local). Quanto aos miúdos, eles viram o que nenhum miúdo pode ver e não sabemos sequer que sequelas poderão ficar marcadas nas suas cabeças.
Relativamente ao que se passou dentro do estádio provocado por alegados adeptos benfiquistas - destruição de cadeiras e de casas de banho, saque de bares e instalações do clube minhoto - também não há qualquer desculpa e merece uma total reprovação. Aí sim, a polícia deveria ter intervido e dispersado com a força necessária essa turba de vândalos que não são benfiquistas nem são de qualquer outro clube. São apenas, e só, selvagens que deviam ser presos.

O segundo capítulo tem a ver com o que se passou na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa. O Benfica tinha assegurado a conquista do Bi-Campeonato de futebol, coisa que já não acontecia há 31 anos. Muitos milhares de pessoas estavam nas ruas, gente que era do SLB (ou não), famílias inteiras a desfrutar o movimento, o entusiasmo, o colorido da alegria natural que os adeptos e simpatizantes de um clube sentem quando conquistam um campeonato, seja ele de que modalidade for, e ainda mais quando se trata de futebol. A festa estava bonita e o exotismo, a criatividade e a exuberância de muitos que por lá andavam faziam de uma noite já de si agradável, a noite perfeita para a festa. Só que ... uns quantos arruaceiros (e também uns quantos polícias que não souberam lidar com as provocações) resolveram estragar o momento. E o pior aconteceu. Pedras e garrafas foram atiradas pelo ar, houve cargas de polícia, insultos e ódios à solta à mistura com muito álcool consumido.

O que deveria ter sido uma noite para lembrar foi uma noite para esquecer. E é urgente que se reflicta sobre o que aconteceu. E, sobretudo, que se tirem as devidas ilações. A polícia tem que garantir a segurança dos cidadãos e os desordeiros têm que ser presos e condenados. O Benfica e os outros clubes merecem certamente que os seus adeptos possam assistir, vibrar, comemorar com os seus feitos (ou nos seus jogos) em paz e absoluta tranquilidade, com a família e os amigos. O que aconteceu no domingo foi uma VERGONHA !!!!



sexta-feira, maio 15, 2015

Uma certa forma de discriminação ...

                                                                  


Tudo o que tenha a ver com tratamentos desiguais ou injustos, com base em preconceitos de alguma ordem, arrepia-me. Ainda mais, em liberdade, "fazer distinções" pode ser muito perigoso.

Vem isto a propósito do anúncio de que os trabalhadores do fisco iriam receber um prémio por terem conseguido ultrapassar os objectivos de cobrança definidos, prática que, aliás, já vem de longe. E se, em princípio, concordo com a atribuição de prémios de produtividade - quem mais faz e com melhor qualidade deve ser recompensado (é justo atribuir-se um prémio ao empenho e à competência) - o que me causa mais dúvidas é saber porque carga de água só aos trabalhadores da máquina fiscal têm este tipo de benefício e são esquecidos os outros funcionários do Estado como sejam os da Segurança Social (onde também há cobrança coerciva de dívidas) ou aos enfermeiros dos hospitais públicos ou aos cantoneiros a trabalhar nas autarquias, por exemplo.

Será justo premiar-se a competência e a dedicação dos trabalhadores do fisco e ignorar-se todos os outros competentes e dedicados funcionários públicos? Não haverá aqui uma certa forma de discriminação?



quarta-feira, maio 13, 2015

Alguém para o Acordo Ortográfico? (sim, para é mesmo sem acento)



E "prontos" (esta não é ao abrigo do acordo nem sem o acordo) a partir de hoje, dia 13 de Maio de 2015, as regras do Acordo Ortográfico são mesmo obrigatórias. Terminou oficialmente (embora haja interpretações jurídicas que não acompanham a interpretação do Governo) o período de transição. A partir de agora a grafia antiga será considerada erro. Acabou-se.

Eu sei que o Acordo Ortográfico foi apresentado como um compromisso para a harmonização da língua portuguesa nos países lusófonos. Mas se o mesmo AO ainda nem sequer foi ratificado por todos os países e se até no Brasil, o país com mais falantes de português, continua a haver uma enorme polémica tendo a Presidente Dilma Rousseff alargado o período de transição até Janeiro do próximo ano, qual é a pressa de Portugal pôr isto em andamento? Será pela velha mania de parecermos o "bom aluno"? É até curioso que no Brasil esteja a ser estudada a possibilidade de aproximar ao máximo a escrita da pronúncia, simplificando a ortografia, o que poderá dar coisas como ‘xuva’ em lugar de chuva ou ‘omem’ em lugar de homem. Uma lindeza ...

E embora a percentagem de palavras alteradas seja apenas de uns meros 1,56%, ainda assim, e como sabem, estou em completo desacordo com o novo AO. Por isso, e correndo o risco que me chamem teimoso ou deixem de me ler, continuarei a escrever da mesma forma que sempre fiz. Antes isso de que me acusem do desaparecimento do acento na palavra 'cágado'. Fiz-me entender?


terça-feira, maio 12, 2015

Uma questão de memória ...



É curioso ouvir as mesmíssimas pessoas que não paravam de queixar-se do frio e da chuva, do Inverno que não acabava mais e que, agora, com sol e calor, dizem já estar fartas das temperaturas altas. Exactamente como aconteceu a António Costa que era acusado de não apresentar propostas para mudar o rumo do país e que, agora que começou a dizer ao que vinha, logo lhe caíram em cima afirmando que as medidas não são exequíveis (sob pena de mergulharmos de novo no mais fundo dos buracos) e que aí está a demagogia no seu máximo esplendor. Por outras palavras, preso por ter cão e preso por não ter.

Mas como sou uma pessoa bem intencionada, prefiro pensar, no que toca ao líder do PS, que a questão não passa da habitual trica partidária. Já no que respeita ao tempo, a única responsável é capaz de ser a falta de memória.

Falta de memória que, aliás, é muito comum cá pelo burgo. Como aconteceu, por exemplo, durante os trabalhos da recente comissão de inquérito ao caso BES/GES em que o país teve a ocasião de ver e ouvir como competentíssimos, consideradíssimos e premiadíssimos gestores, mostraram ter uma memória péssima quando confrontados pelos deputados. Não se lembravam dos factos, deles não tinham conhecimento ou não estavam em condições de assegurar se tinham alguma coisa a ver com as decisões tomadas. E certamente que se esperava uma memória mais consistente de quem mandava em tanta coisa ou era o dono disto tudo.

E o que dizer do desmemoriado Primeiro-Ministro Passos Coelho que depois de ter prometido mundos e fundos na campanha eleitoral de 2011 se esqueceu da maioria das promessas e fez precisamente o seu contrário?

Enfim, a minha memória também já não é o que era mas, para que conste, sinto-me bem com o tempo quente que se tem feito sentir.

quarta-feira, maio 06, 2015

TAP - a greve injusta



Depois dos primeiros cinco dias de greve dos pilotos da TAP, está confirmado que os prejuízos financeiros são enormes e que esta paralisação elitista é tremendamente impopular. É certo que as greves, de uma forma geral, prejudicam sempre alguém mas esta, sobretudo pela duração prevista e pelos impactos negativos que provoca não só na empresa como no turismo, no comércio e na economia em geral, conseguiu a condenação da maioria da população, dividir a classe dos pilotos e provocar uma clara divisão entre os pilotos e os restantes trabalhadores da empresa. Isto, claro está, para além de estar a causar danos irreparáveis na confiança que os passageiros - portugueses e não só - tinham na nossa companhia aérea. E como se o estrago não fosse já suficiente (ainda só vamos em metade dos dias previstos), o Sindicato já admite uma nova paralisação daqui a um mês, justamente na última semana de Maio ou mesmo nos feriados de Junho, uma altura forte em termos de transporte aéreo e turismo.

Não sei bem o que move (alguns) pilotos a fazerem esta greve. E as explicações do Sindicato são tão confusas que também não ajudam a esclarecer o que de facto pretendem. Aliás, com um processo de privatização em curso (goste-se, ou não, da ideia) é difícil perceber a posição dos pilotos.

Como li algures, "esta greve é legal mas é errada nos motivos, na proporção e até na moral". E o constitucionalista Jorge Miranda foi mais longe: "Esta greve é das coisas mais injustas que já vi ... se houver nova paralisação, o Governo não deve hesitar: a requisição civil justifica-se inteiramente".

terça-feira, maio 05, 2015

Amigo Loureiro, venha de lá um Abraço ...



A não ser que a amizade (a AMIZADE a sério) tenha falado mais alto, parece inacreditável que o Primeiro-Ministro tenha feito um rasgado elogio público a Dias Loureiro. Mesmo atendendo a que Loureiro estava na sala daquela queijaria, em Aguiar da Beira, que Passos Coelho tinha ido inaugurar e que ele até é natural da terra, o encómio é demasiado estranho e fere-nos os ouvidos.

Disse Passos:

"conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos".

Concordarão que é esquisito ouvir tão vibrante elogio dirigido a Manuel Dias Loureiro, o mesmo que foi secretário-geral do PSD, Ministro, Conselheiro de Estado, Administrador do BPN e detentor de todo um historial que os portugueses bem conhecem. O mesmíssimo Loureiro que na sequência do escândalo BPN e de ter mentido ao Parlamento acabou por se demitir de Conselheiro de Estado e de se afastar da vida política.

E, como referi, ou isto foi um gesto de grande AMIZADE (escusado em público e tendo em conta que a amizade tem limites que certas funções não podem nem devem ignorar) ou Passos Coelho, influenciado pelos vapores do leite na cerimónia de inauguração da queijaria, meteu, uma vez mais, os pés pelas mãos. Bastava - digo eu - que, nos bastidores, tivesse dito "Oh Manel, venha de lá um abraço".

quinta-feira, abril 30, 2015

"Soneto de Maio"



"Soneto de Maio" de Vinicius de Moraes



Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.

Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.

Raia a aurora tão tímida e tão frágil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto

Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto ...

terça-feira, abril 28, 2015

Um novo "exame prévio"?



Parecia que o inexplicável acordo entre o PSD/CDS e o PS (eles que há muito não se conseguem entender) sobre um diploma que pretendia estabelecer regras sobre a cobertura jornalística das eleições estava morto e enterrado. A reacção, melhor, a revolta violenta da generalidade dos jornalistas, dos comentadores e dos cidadãos mais atentos foi tal que os "iluminados pensadores" que deram à luz tamanha monstruosidade - que nos fazia recordar o famigerado "exame prévio"da Censura do regime anterior - desapareceu quase de imediato. Aliás, eles foram tão rápidos a imaginar a "grossa asneira" como a lavar as mãos e a empurrar a responsabilidade dessa asneira para os parceiros do lado.

Mas o tal documento previa, nomeadamente, que "os media que façam cobertura do período eleitoral entreguem, "antes do início do período de pré-campanha, o seu plano de cobertura dos procedimentos eleitorais, identificando, nomeadamente, o modelo de cobertura das ações de campanha das diversas candidaturas que se apresentem a sufrágio", a uma comissão mista, a qual é composta por representantes da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e da ERC. O plano de cobertura a ser enviado à comissão, a qual irá validar o mesmo, inclui ainda a realização de entrevistas e de debates, reportagens alargadas, emissões especiais ou de outros formatos informativos, com o objectivo de assegurar os "princípios orientadores da cobertura jornalística em período eleitoral".


Como referi, o documento parecia estar morto e enterrado. Mas se calhar não está. Ainda no último sábado na SIC-Notícias, António Barreto (homem inteligente e sensato, que eu muito admiro) dizia sobre o assunto: "... quem fez isto sabia o que estava a fazer ... aquilo é uma coisa séria, aquilo está calibrado, pensado e deliberado. Há quem queira em Portugal, nos partidos democráticos, há quem queira ordenar a informação, ordenar a informação política, ordenar o movimento e a criação dos órgãos de imprensa e é detestável que assim seja. Não estavam à espera que os chefes dos partidos tivessem uma reacção tão forte ... mas eles voltarão à carga. Assunto encerrado? Não, tal como a toupeira, voltarão daqui a seis meses ou um ano ...".

Concordo com António Barreto. E, por via das dúvidas, convém que estejamos atentos ...

sexta-feira, abril 24, 2015

"Sacrifícios" ...



Eu sei que as empresas privadas podem pagar aos seus colaboradores o que lhes der na real gana mas, mesmo assim, acho completamente descabido - porque estamos em Portugal, onde o ordenado médio não chega aos mil euros mensais - que se pague, por exemplo, ao Presidente da EDP, um montante que vai dos 600 mil a 1,9 milhões de euros por ano, o que quer dizer que, António Mexia ganha por dia, no mínimo, 1 644 euros. Um absurdo.

Nas empresas públicas, embora estejamos a falar de uma escala completamente diferente (mas em que já entra o dinheiro dos contribuintes), existem situações que me deixam igualmente perplexo. Todos se lembrarão de, há anos, Cavaco Silva ter declarado, naquele seu jeito provinciano, que o dinheiro que recebia "quase de certeza, não vai chegar para pagar as minhas despesas". Cavaco, recorde-se, prescindiu do seu vencimento de Presidente da República (6 523,93 euros) para acumular duas pensões: a de professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa e a de reformado do Banco de Portugal, que juntas, totalizam 10 042 euros por mês.

Volto a lembrar que neste país o ordenado médio não chega aos mil e o fisco considera ricos aqueles que têm ordenados acima dos mil e quinhentos euros. Pois neste mesmo país, um senhor chamado Gonçalo Reis foi há pouco nomeado para Presidente da Televisão pública, em troca do qual vai receber um ordenado “desvantajoso em termos financeiros”, segundo afirmou. E para poder ganhar os 10 mil euros mensais - mais do que o primeiro-ministro - o Governo teve que "encaixar" a situação no regime de excepção previsto no Estatuto do Gestor Público.

Dinheiros à parte (porque o homem é capaz de ser um génio e merecer cada cêntimo que vai receber), o que me incomodou mais foi a declaração de Gonçalo Reis que dizia “o convite que recebi é desafiante em termos de gestão, mas desvantajoso em termos económicos face à minha situação no sector privado, pois o tecto atribuído é bastante inferior à remuneração que vinha auferindo”. Que chatice, digo eu. Então e agora como é que ele vai viver com um salário tão reduzido? Ou será que alguém o obrigou a aceitar aquele cargo tão mal remunerado? Mas se aceitou, porque é que não ficou calado?

Uma nota final para referir que o seu antecessor, Alberto da Ponte, tinha abdicado do tal regime de excepção, muito embora ganhasse bastante mais no cargo de gestão internacional que detinha no grupo cervejeiro Heineken antes de ir para a RTP. Enfim, são os "sacrifícios" que se fazem em nome da Nação ...

quarta-feira, abril 22, 2015

O PS já mexe ... resta-nos esperar



Sempre acreditei naquela "teimosia" do António Costa que afirmava insistentemente que há um tempo para tudo e, a seu tempo, o programa económico com que o PS se apresentaria às legislativas, seria divulgado. Quando, perguntavam os jornalistas? A seu tempo, respondia Costa.

Pois foi ontem o tal dia. Um grupo de prestigiados economistas liderado por Mário Centeno, um economista muito respeitado no Banco de Portugal mas que é muito menos de esquerda do que muitos socialistas julgam, apresentou um conjunto de propostas económicas que correspondem a políticas bem diferentes das que temos tido nestes últimos anos. Aparentemente políticas de esquerda, anti-troika e centrada nos trabalhadores.

É uma proposta (em que os custos do Estado disparam, o PIB sobe e, como o PIB sobe, as receitas também sobem) que muitas pessoas têm defendido por acreditarem ser a chave da mudança. A fórmula parece simples:

"com mais PIB há mais transacções, logo cobra-se mais IVA. Há mais salários, logo há mais IRS. Há menos desempregados, logo há mais gente a descontar e menos gente a receber subsídios; etc.)"

Mas a grande dúvida é: irá resultar? Claro que não há certezas. Pelo menos por agora ficamos sem saber como se vai conseguir a desejada sustentabilidade da Segurança Social e como, na realidade, se vai estabelecer o balanço entre a subida (certa) da despesa e a subida (provável, mas incerta) da receita.

Estão, pois, definidos os princípios - a base - da política macro-económica do PS mas, como disse António Costa na apresentação deste trabalho, o relatório não é uma Bíblia nem os distintos economistas que integraram o grupo de trabalho os Apóstolos. Resta-nos esperar pelo programa de governo com que o Partido Socialista se apresentará a eleições. Para já, temos um projecto de política económica diferente da que tem sido aplicada, a esperança de que tudo isso resulte e a certeza de que o PSD/CDS começarão a dizer que com políticas como estas em breve estaremos de novo na bancarrota.

Mas esta apresentação mostrou-nos duas coisas: a primeira é que António Costa afinal está vivo e começa a dar sinais daquilo que pretende fazer. A segunda é que existe uma alternativa (boas ou más, em democracia há sempre alternativas) às políticas levadas a cabo por este Governo. Que até podem não resultar, que até podem irritar o Governo, a troika, a senhora Merkel e Bruxelas. Mas, pelo menos, os cidadãos vão ter a possibilidade de escolher e voltar a ter esperança.

terça-feira, abril 21, 2015

Uma caixa de porcelana para ... pasta de dentes




Uma graciosa peça da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (fundada em 1824) transportou-me a uma realidade na qual nunca tinha pensado. Julgava eu que a bonita caixinha que se vê na fotografia serviria como guarda-jóias ou qualquer coisa do género mas, olhando para as inscrições nela constantes, percebi que era uma "reprodução da decoração de uma embalagem de pasta dentífrica", algures por volta de 1880. Curioso! Tanto mais que sempre conheci as comuns "pastas de dentes" em formato de bisnaga.

E a verdade, segundo a wikipédia, é que "o dentífrico, gel dental, creme dental ou pasta de dente", teve uma evolução tremenda ao longo dos tempos. A mais antiga referência conhecida a um creme dental consta num manuscrito egípcio, do século IV a.C., que mais não era que uma mistura de sal de cozinha, pimenta, folhas de menta e flores de íris. Desde então, as fórmulas foram-se sucedendo até à composição e sabores que hoje conhecemos. Aliás, e já que referimos que várias fórmulas foram utilizadas, será bom acrescentar que elas foram muitas, variadas e algumas quase inacreditáveis. Por exemplo, houve composições que tinham por base a urina e outras ingredientes como o giz, o tijolo pulverizado e o sal. Muitas que faziam mais mal do que bem.

E, hoje, embora todas as marcas usem os tubos (ou embalagens) flexíveis, uma época houve em que era normal o uso de um creme dental - vendido precisamente em caixinhas do género daquela a que hoje fazemos alusão. O creme dental foi criado pelo dentista americano Washington Wentworth Sheffield, que em 1850 desenvolveu um pó para limpar os dentes que se tornou muito popular entre seus pacientes, mas que só teve realmente sucesso quando foi colocado em tubos de folha-de-flandres.

Para além da curiosidade, ficamos com a constatação de que a caixa da Vista Alegre é, de facto, uma gracinha. Não acham?