Não quero comentar (nem serei a pessoa mais indicada para isso) o jogo de futebol entre as selecções de Portugal e da Sérvia.
Não porque o resultado tivesse terminado num empate que pode comprometer as nossas aspirações à qualificação para o Euro 2008. Muito menos porque a nossa equipa jogou demasiadamente mal, face aos objectivos que determinou e à qualidade dos jogadores, de quem se diz serem dos melhores do mundo e arredores.
O que me interessa comentar é a atitude irreflectida e a todos os títulos censurável que foi protagonizada pelo seleccionador nacional Luis Felipe Scolari.
Em tese, um treinador, é por natureza um condutor de homens e neste caso de homens jovens para quem, seguramente, as acções e atitudes do seu líder são tomadas como exemplo. Exige-se por isso, que para além das suas aptidões técnicas ele tenha igualmente uma forte componente de formador do carácter dos seus pupilos. Daí que tenha que ter cuidados acrescidos nas suas atitudes, por forma a que possa ser um modelo a seguir pelos seus jogadores.
Foi exactamente o contrário aquilo a que assistimos no final do jogo, quando Scolari agrediu o lateral sérvio Dragutinovic.
Nada justifica uma agressão (ou tentativa de), como alguns ainda tentam argumentar. Nem a grande tensão existente por causa dos resultados e exibições menos conseguidas (e até decepcionantes), nem as provocações supostamente feitas ao seleccionador, nem o aludido estatuto de Scolari que muitos continuam a recordar, pelos vários êxitos conseguidos, entre os quais o de campeão do mundo pelo Brasil e os segundo e quartos lugares alcançados por Portugal no Euro 2004 e no último mundial, respectivamente.
Como seres humanos, todos estamos sujeitos na vida a ter as reacções mais inesperadas ou censuráveis. Mas o nosso seleccionador nacional, pela idade que tem, pela longa experiência que possui, tinha a obrigação de conseguir controlar essas emoções. Mas não o conseguiu. Scolari excedeu todos os limites.
A UEFA e a FIFA vão analisar o caso e, tendo em conta a figura e o estatuto do senhor Scolari (e todos nós sabemos que o "peso" dos nomes altera muitas coisas), talvez venham a considerar uma série de atenuantes e a decisão acabe por ficar por uma pena leve. A Federação Portuguesa de Futebol certamente também irá proceder a um inquérito. E o Governo, o que é que fará, para além da censura pública do Secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias?
Scolari é um líder e, como tal, não poderia ter actuado daquela maneira. As desculpas que apresentou ontem, vieram tardias. Desculpas ao povo português, à selecção, aos seus jogadores e à UEFA. Mostrou-se arrependido pelo gesto mas, no fundo, procurou-o justificar com o pensamento na defesa dos seus atletas.
Francamente não gostei do que vi. Mas não alinho com os que exigem o afastamento imediato de Scolari, daquele que até há bem pouco tempo foi considerado como um herói (quando os resultados nos eram favoráveis) e agora se pretende crucificar por ter tido uma noite infeliz.
De qualquer forma, o futuro do seleccionador nacional vai decidir-se em vários tabuleiros. Pela análise e decisão dos processos abertos pela FPF (seu empregador), pela UEFA (que gere as competições europeias) e, eventualmente, pela FIFA (que dirige o futebol a nível mundial) e, ainda, pelo Governo por se tratar de uma representação nacional. E tudo pode acontecer.
Foi uma noite infeliz, já o disse. Mas, como português, gostaria que tudo isto não venha, porventura, e face a episódios infelizes já anteriormente ocorridos, dar a ideia que as selecções portuguesas de futebol, nos vários escalões, não passam de bandos de rapazotes indisciplinados e desordeiros, o que dá uma péssima imagem do país e dos portugueses.