Só agora tenho a possibilidade de "dar uma resposta" a um artigo brilhantemente escrito por Eduardo Prado Coelho publicado, já há algum tempo, no Jornal Público. Ainda pensei transcrevê-lo aqui mas achei que tornaria o "post" de hoje demasiado extenso. De qualquer forma, considero que as questões que ele suscita, continuam a ter muito interesse e actualidade.
Não conheço pessoalmente o Prado Coelho mas, com alguma frequência, sentamo-nos em mesas próximas na esplanada do Picoas Plaza, normalmente nas manhãs de sábado, onde tomamos o pequeno-almoço e passamos os olhos pelo “Expresso”.
Talvez por timidez, nunca tive a coragem de o cumprimentar. Procuro, no entanto, não perder os textos que ele escreve, muito embora, não raras vezes, o considere demasiado pessimista nas análises que efectua.
No dia em que escreveu aquela crónica, quem sabe se na esplanada do Picoas Plaza, provavelmente estaria um dia mais ventoso e cinzento do que o costume, pelo que, Prado Coelho estaria, também, um pouco mais azedo, muito embora eu concorde com ele na maioria das coisas que aponta.
Como tenho dito por diversas vezes neste mesmo espaço, é perigoso generalizar e é necessário muito cuidado com as comparações. Em minha opinião, Santana não se pode comparar, obviamente, a Sócrates, por uma infinidade de razões. Bem como, comparar o trabalho e a acção de cada um deles seria muito injusto para Sócrates. É que, agora, sente-se pelo menos, e essa parece-me ser a sensação da maioria dos portugueses, de que há sinais claros de que se pretende fazer mudanças, que se querem reparar injustiças, que existe coragem para enfrentar poderes instalados. Sinais e coragem que nunca existiram nem com Santana nem com Cavaco, nem com Durão, nem mesmo com Guterres.
É verdade que a matéria-prima – nós, portugueses – não é de primeira qualidade, mas, ainda assim, têm sido ultimamente divulgados muitos casos de sucesso e há que reconhecer que existe muita gente séria e com valor que mostra uma grande determinação em ajudar a ultrapassar esta fase em que o país está a viver e a fazer dele um país melhor, de que possamos ter mais orgulho.
Não vale a pena, portanto, fustigarmo-nos como se fossemos os piores do mundo. Pelo contrário, temos que acreditar que podemos dar a volta a este estado de coisas e esforçarmo-nos mais, aplicarmo-nos mais, prepararmo-nos melhor.
A questão é que, mesmo quando as coisas mudam, os resultados são demasiado lentos a aparecer. As mentalidades para mudar, levam, por vezes, gerações. E enquanto isso não acontece vamos continuar a ter por mais algum tempo a “Chico-Espertisse Portuguesa”, como lhe chama Prado Coelho.
Repito, tenho que reconhecer que a maior parte das coisas que Eduardo Prado Coelho descreve é, infelizmente, verdade.
Tão cedo não desaparecerão os empregados que levam das suas empresas todo o material que lhe é necessário em casa, pelo menos até essas empresas não aplicarem as medidas de controlo adequadas. Continuaremos a tentar enganar o Fisco para pagar menos impostos, enquanto isso nos for possível. A pontualidade será sempre relegada para último plano, e não nos preocuparemos com ela até que os outros nos façam sentir o mesmo que nós fizemos com eles ou as salas dos cinemas e dos teatros comecem os seus espectáculos impreterivelmente à hora marcada, impedindo-nos de entrar depois dessa hora. Haverá quem continue a falsificar cartas de condução e atestados médicos. Continuará a haver montanhas de deputados a baldar-se às sessões da Assembleia e que, por isso, muitas votações não serão feitas por falta de quórum. Tudo isso vai continuar.
Mas eu acredito que melhores dias virão. Conheço muitos jovens que por educação e por formação, têm já uma outra visão da vida. São muito mais politizados, a maioria pratica desporto, preocupam-se com os problemas da ecologia, indignam-se com as injustiças e revoltam-se quando as oportunidades não são para todos. Estão atentos aos problemas dos mais velhos e, muitos, são voluntários em hospitais e noutras Instituições de Solidariedade Social. São jovens solidários, cultos, preparados do ponto de vista académico e, sobretudo, e sublinho isto, são jovens a quem lhes foram transmitidos valores que eles assimilaram e que, de facto, praticam no dia a dia.
Com material deste calibre, bem diferente da matéria-prima de que falávamos há pouco, temos todas as razões para acreditar que Portugal pode ser realmente melhor, que poderá vir a ter melhores políticos, gestores mais competentes, cidadãos mais sérios e espertos mas “sem espertezas”.
Por isso, meu caro Prado Coelho gostaria de olhar com esperança o nosso futuro. Não vamos mais ter necessidade de nos olharmos num espelho à procura do responsável de todos os males.
Apesar dos muitos escolhos que vamos ter que enfrentar, eu tenho confiança que os conseguiremos vencer. E sem sequer necessitarmos da ajuda dos tais “Messias”. É que, de Ditadores, já tivemos a nossa conta!