terça-feira, janeiro 31, 2012

O saneamento de um bom jornalista



Estava curioso para ver se os “Prós e Contras” da RTP 1 desta segunda-feira tinham já recuperado da (deprimente) emissão transmitida directamente de Luanda há duas semanas. O programa que tinha sido denominado “O Reencontro” foi, na minha opinião, demasiado mau e não sei se muitos tiveram estofo para aguentar até ao fim. Mas quem o conseguiu, assistiu a uma subserviência injustificável por parte dos portugueses convidados, por contrapartida de alguma sobranceria das personalidades angolanas presentes. Um programa em que as palavras dos portugueses foram convenientemente pensadas antes de serem proferidas não fosse o actual poder económico angolano pregar-nos alguma partida e ir assentar arraiais para outro lado.


Não gostei do que ouvi, não gostaram, porventura, muitos mais, mas isso não teve qualquer consequência. Quem também não gostou e teve a coragem de o dizer na crónica que assinava na Antena 1 foi o jornalista Pedro Rosa Mendes, um dos bons jornalistas que ainda existem em Portugal.


Mas as palavras que foram ditas por este jornalista (incómodo pela sua verticalidade, seriedade e talento) nessa sua (derradeira) crónica não devem ter agradado às elites portuguesa e angolana e o Pedro foi dispensado, ou melhor, foi saneado sem dó nem piedade ao jeito do autoritarismo de outros tempos, que a revolução ainda não conseguiu apagar.


Pode ter sido coincidência. Não acredito em bruxas, "pero que las hay..." .


segunda-feira, janeiro 30, 2012

A questão que mais nos preocupa neste momento: O que faz feliz uma galinha?



Antes que comecem a fazer juízos de valor, devo esclarecer que tenho o maior respeito pelos animais e penso – sinceramente – que os ditos têm todo o direito a terem as melhores condições de vida. Acho mesmo que devemos pugnar pelo bem-estar de todos os animais, mesmo por aqueles que servem apenas para serem abatidos para a alimentação humana.

Mas, às vezes, parece-me que se exagera um bocado. Não sei se sabiam mas desde o início do ano entrou em vigor uma directiva europeia que estabelece que cada galinha tem que ter, só para seu uso, um espaço mínimo de 750 cm² de superfície da gaiola, além de um ninho, uma cama, poleiros e dispositivos adequados para desgastar as garras, que lhes permitam satisfazer as suas necessidades biológicas e comportamentais. Sem qualquer cinismo, digo que me parece bem tanta preocupação com o seu bem-estar. As galinhas precisam de espaço e de tranquilidade para pôr ovos.

Porém, e desculpem lá o meu desabafo, parece que não existem outras preocupações, se calhar bem mais graves, que afectam os cidadãos. Sei lá, estou a pensar, por exemplo, na forma como resolver o desemprego crescente, na fome que grassa por aí ou na degradação da vida das pessoas por essa Europa fora. E para o combate a estes flagelos não vejo que a Comissão Europeia tenha tantas preocupações como aconteceu agora em relação a estes desvalidos 47 milhões de galinhas europeias.

Como costumo dizer, uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa. O pior é que, a acrescer aos milhões de problemas que já tínhamos, com esta questão das galinhas-VIP, ficámos “debaixo de olho” da Comissão Europeia porque os galinheiros portugueses não oferecem as condições desejadas e estamos em risco de sofrer uma pesada multa.

Já sabíamos que os cidadãos nacionais andam aflitíssimos para se conseguirem aguentar, mas isso é um problema nosso. Agora, as galinhas portuguesas não andarem a ser bem tratadas, alto lá e pára o baile, Bruxelas apressou-se a manifestar a sua preocupação.

O que faz feliz uma galinha? Esta é a grande questão do momento.


sexta-feira, janeiro 27, 2012

E se Portugal pulasse por cima de dois anos?



Certamente que já ouviram falar da Samoa. Claro que sim, toda a gente sabe que a Samoa é um estado independente, um arquipélago que fica no Oceano Pacífico entre o Havai e a Nova Zelândia e que tem uma população à volta de 180 mil pessoas.


Mas o que talvez desconheçam é que há anos que os seus governantes andavam incomodados por causa das horas, por motivos meramente comerciais. Tinham as mesmas horas que a Costa Leste dos Estados Unidos mas estavam dessincronizados com o fuso horário da Austrália e da Nova Zelândia, os seus principais parceiros económicos. E vai daí, independente que é, fez uma coisa nunca vista: adiantou o calendário do dia 29 de Dezembro de 2011 para o dia 31. Ou seja, adiantou o relógio 24 horas e adormeceu numa quinta-feira para acordar directamente no sábado. Pura e simplesmente apagou do mapa a sexta-feira, dia 30 de Dezembro do ano que terminou há pouco.


E foi aí que me deu uma ideia. Lembrei-me que o Álvaro Santos Pereira, o Ministro da Economia, garantiu recentemente que “2012 marcará o fim da crise e será o ano da retoma para o crescimento de 2013 e 2014”. E pensei, se a Samoa pulou 24 horas para ajustar o seu horário com o dos países com quem tem maior volume de negócios, por que não Portugal dar um pulo de dois anos para contornar a crise? Se conseguíssemos deixar para trás 2011 e acordássemos directamente em 2014, esquecendo “os anos horribiles” de 2012 e 2013, ficaríamos todos a ganhar, não é?


Bem, esqueçam, foi só uma ideia …


quinta-feira, janeiro 26, 2012

Poupem, Amigos



Têm-se ouvido ultimamente apelos para que os portugueses poupem mais. Dizem que é a única forma de assegurarem uma velhice tranquila pois, no futuro, as pensões de reforma não passarão de pensões de miséria. Mas, meus Amigos, esses apelos dirigem-se concretamente a quem? Os ricos não necessitam desse conselho. Para isso contam com consultores e gestores de conta e de fortunas, eles sabem sempre onde colocar o dinheiro e em que altura. Quanto aos pobres é melhor passar à frente, mal conseguem sobreviver às dificuldades crescentes e a palavra poupar é, para eles, um sonho longínquo, quando não uma provocação. Resta-nos a classe média, ou melhor, o que dela sobra. Desgastada por ser chamada a suportar sucessivos aumentos e insistentes impostos, mal se consegue aguentar à tona com o mínimo de dignidade e de esperança. E é com esses sentimentos que ainda vai conseguindo aforrar o pouco que lhe resta. E já lhe sobra muito pouco.


Ainda por cima, e para ajudar, o Estado não se cansa de aumentar os seus proventos sobre aquilo que conseguimos aforrar. Entre 2010 e 2011 a taxa liberatória sobre os depósitos a prazo e sobre outros produtos de poupança subiu de 20% para 21,5% e, mais recentemente, passou para os 25%. Por exemplo, quem constituiu um depósito a prazo em 2011 com vencimento este ano, terá que contar que um quarto do que possam render as suas poupanças será arrecadado pelo Estado.

Assim sendo, resta-me dizer-vos: vamos poupar Amigos. O Estado agradece.



quarta-feira, janeiro 25, 2012

“O penalty para a bancada”



Continua em marcha o movimento de indignação originado pelas palavras de Cavaco Silva sobre a “mísera” pensão de reforma que aufere. E a população irritou-se de tal maneira que muitos milhares de pessoas assinaram já uma petição online a pedir a demissão do Presidente da República uma vez que consideram as suas declarações como “uma falta de senso e de respeito para com os portugueses”.


Demissão? Penso que não será caso para tanto. Não é a primeira vez que Cavaco tem sido infeliz com os discursos que faz. E não será a última, por certo. Cavaco, sendo um político (que o é, embora insista que não) tem frequentemente comportamentos demasiado simplórios (não confundir com simples) e que muito têm a ver com as suas origens. Ele é, genuinamente, um provinciano (no pior dos sentidos) e, por isso, em muitas das coisas que diz, as ideias e a forma de se expressar não estão devidamente trabalhadas.


Perante a “revolta do povo”, Cavaco Silva veio a terreiro justificar-se. Diz que foi mal interpretado, que não quis dizer exactamente o que disse e que, de facto, o que pretendia era mostrar que está ao lado dos portugueses com quem compartilha as dificuldades. Pior a emenda do que o soneto. Por um lado, Cavaco disse rigorosamente aquilo que entendeu dizer e, por outro, ele não está (nem pode estar) ao lado dos portugueses porque os portugueses não têm o mesmo nível salarial do Presidente e as dificuldades duns e doutro são certamente muito diferentes. Até acredito que os dez mil euros que ele recebe não sejam suficientes para pagar as despesas e que, por isso, tenha que recorrer às suas poupanças, mas a verdade é que a esmagadora maioria dos cidadãos tem pensões de verdadeira miséria e quanto a poupanças, pura e simplesmente, elas não existem.


O Presidente Cavaco Silva foi, uma vez mais, inábil no discurso. Tal como quando se referiu às vacas que se sentiam deliciadas na ordenha ou quando afirmou que a sua mulher dependia dele porque só tinha 800 euros de reforma. Cavaco Silva esquece frequentemente de que é o Presidente da República e que, por isso, as suas palavras deveriam ser devidamente pensadas quando ditas. Se agora quis mostrar toda a solidariedade pelos portugueses afectados pelas medidas de austeridade e pelos sacrifícios, o certo é que não conseguiu atingir esse desiderato. Ficou-se pela intenção, quando muito. Foi aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa designou por “querer marcar um penalty para a baliza e a bola ter saído para a bancada”.


terça-feira, janeiro 24, 2012

As desigualdades acentuam-se



No passado dia 3 de Janeiro, o Jornal Económico On-line publicou uma notícia que dá conta que, de acordo com um estudo efectuado pela Comissão Europeia, entre os seis países da União Europeia mais afectados pela crise, Portugal foi aquele onde as medidas de austeridade exigiram um esforço financeiro aos pobres superior ao que foi pedido aos ricos. Mais, Portugal é também o país (deste lote de 6) que regista um dos maiores riscos de pobreza devido às medidas de consolidação orçamental, ultrapassando a barreira dos 20% da população em risco. E, sublinhe-se, este estudo não levou em consideração as medidas adoptadas pelo Governo PSD/CDS, pelo que a situação deverá ter-se agravado entretanto.


Esmiuçando mais os resultados das medidas de austeridade, chega-se à seguinte conclusão: Os 20% dos cidadãos mais pobres perderam 4,5% a 6% (até 9% para famílias com filhos) do rendimento, enquanto que os 20% com rendimentos mais elevados apenas perderam cerca de 3%. Isto são factos.


Perante a dureza e a injustiça de tamanha constatação, que dizer?


segunda-feira, janeiro 23, 2012

As falhas da nossa democracia



Quero crer que entre a questão suscitada em tempos pela Dra. Manuela Ferreira Leite – “não seria bom haver seis meses sem democracia?” – e a perda efectiva da democracia nada há em comum. Porém, a simples admissão da possibilidade de tal acontecer, assusta-me.


E se calhar tenho alguma razão para ficar apreensivo. É que, de acordo com a edição 2011 do Índice de Democracia da revista do “The Economist” – Portugal deixou de ser uma democracia plena. O nosso país baixou para o 27º lugar, numa lista liderada pela Noruega, seguida da Islândia, Dinamarca e Suécia e imediatamente atrás de Cabo Verde, a mais perfeita das Democracias com Falhas.


Seria bom reflectirmos seriamente sobre o assunto. É que as democracias e as suas regras têm que ser continuamente melhoradas e sustentadas para que não tenham que vir a ser suspensas e, muito menos, substituídas por outros regimes muitíssimo menos favoráveis ao povo. E nós temos memória de uma realidade ainda recente e do que isso representa.


quarta-feira, janeiro 18, 2012

Troque papel por alimentos



A marca “Banco Alimentar” é hoje reconhecida por todos pela sua credibilidade e pela acção sustentada que tem desenvolvido ao longo de mais de duas décadas a favor dos mais carenciados. Ainda na edição do Expresso de23 de Dezembro último, das personalidades conhecidas e respeitadas que constituem “O Conselho dos Doze”, à pergunta “Qual a instituição de Apoio Social a Apoiar”, cinco apontaram o Banco Alimentar e um a Entrajuda (Instituição da esfera do BA).


Mas para que tudo funcione bem é necessário que haja muito trabalho, dedicação e uma grande dose de criatividade. Assim, e face às grandes dificuldades que se prevêem para este ano, nomeadamente a escassez de alimentos doados ao BA, a Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome lançou mais uma campanha: a “troca de papel por alimentos”. A população em geral, a administração pública e local e as instituições de solidariedade são convidadas a entregar papel (jornais, revistas, folhetos, cartão, etc.) nos bancos alimentares. Por cada tonelada recebida, a Quima – empresa de recolha e recuperação de desperdícios – vai entregar ao Banco Alimentar 100 euros em alimentos indicados pela Federação dos Bancos Alimentares.


O slogan desta campanha é claro “O seu papel é essencial na luta contra a fome”. Vamos ajudar?


terça-feira, janeiro 17, 2012

Os Pastéis (de Belém) do Álvaro



A ideia do Ministro da Economia foi brilhante. Finalmente apareceu alguém que pensou “mas que raio de coisa é que nós podemos fazer para vender lá fora e que toda a rapaziada goste?” E a resposta foi: “Pastéis de Belém”.
E vai daí, como bom exemplo da internacionalização da economia nacional, Álvaro Santos Pereira logo afirmou que o Pastel de Belém poderia ser a salvação do país. Só não referiu, mas o “Por Linhas Tortas” sabe, que para eliminar o défice externo, a fábrica de Belém teria que exportar só este ano 2,6 mil milhões de pastéis.

Bem, a ideia foi lançada (o que já é um começo) mas conhece-se já a reacção da Fábrica dos Pastéis de Belém à ideia do Ministro. Não, por ora não está para aí virada. Pensa em expandir-se mas lá mais para a frente. Portanto, e para já, o país não vai ser salvo por esta via.

Quem adorou esta decisão foi a minha sogra. É que com tanta produção que teria que levar a cabo para enviar os pastéis para o estrangeiro, ela receou que a Fábrica não conseguisse assegurar a venda por cá e eles começassem a faltar. Não sei se lhes disse, a minha sogra gosta tanto de pastéis de Belém que até os seus olhos sorriem quando se fala neles.



segunda-feira, janeiro 16, 2012

“As acções ficam com quem as pratica”













Se calhar vão achar que estou a embirrar outra vez com o Dr. Eduardo Catroga mas não é, de todo, verdade. É certo que na última quarta-feira disse aqui que a proposta da sua nomeação para Presidente do Conselho Geral de Supervisão da EDP me pareceu o “pagamento” da sua dedicação ao PSD (ele que nem é filiado no partido), uma espécie de prémio de carreira. Mas o que me incomodou mesmo neste processo foi o facto de ele ir ganhar um ordenado mensal superior a 45 mil euros que acumula com uma pensão de mais de 9600 euros. E incomodou-me também – e principalmente - a arrogância que evidenciou ao defender que isso se deve ao seu valor de mercado e que, ganhando mais, pagará mais impostos. Conversa! Foi uma cena grotesca e triste.


Ao invés de Catroga, o banqueiro português António Horta Osório, presidente do colosso britânico Lloyds Bank, não quis ganhar ainda mais ao muito que já factura. Invocando a ausência a que foi obrigado por dois meses de doença, abdicou do bónus de 2,3 milhões de euros a que tinha direito. E podem até dizer que a Horta Osório nem lhe fazem falta aqueles trocos de 2,3 milhões e que não foi grande o sacrifício. Pois é, mas podia perfeitamente embolsá-los que ninguém lhe atiraria pedras.


As comparações são inevitáveis e, inevitavelmente, acabamos por pensar no velho adágio “as acções ficam com quem as pratica”. O pior, porém, é continuarmos a assistir ao despudor e ao clientelismo a que, infelizmente, os vários governos nos habituaram.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Para além dos aventais da Maçonaria

Acho ridículo que os políticos tenham que declarar se pertencem ou não à Maçonaria. Aliás, a discussão dos últimos dias sobre esta matéria apenas serviu, na minha opinião, para nos distrair dos assuntos que são verdadeiramente importantes para a vida do país e de todos nós.


Não se tratando de uma actividade ilegal nem, supostamente, de uma organização onde se traficam influências, não percebo porque carga de água é que os maçons têm que apresentar uma declaração de interesses da sua qualidade de maçons. E o que dizer em relação aos membros do Lions, aos sócios do Benfica, aos possuidores do Cartão Continente e aos dadores de sangue, entre outros? Os políticos também vão ser obrigados a declarar tais preferências e adesões?


Tirando as piadas que circulam por aí sobre a Maçonaria – os rituais, os aventais e outros que tais - acho completamente despropositada tanta agitação. E, sobre essa suposta obrigatoriedade, concordo em absoluto com o comentário que ouvi a Manuel Alegre: "Acho isso um atentado à Constituição e acho uma recidiva salazarenta muito triste para a nossa democracia".


E concordo com esta afirmação numa dupla qualidade: não sou maçom e, como cidadão, é-me absolutamente indiferente saber se determinada personagem faz ou não faz parte da Maçonaria. Preocupa-me muito mais que a Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, tenha dado a entender que pode vir a haver legislação que exija às pessoas a indicação da sua filiação maçónica. Legislação, aliás, que é bem capaz de vir a ser considerada inconstitucional por ferir o espírito do artigo 41 da Constituição Portuguesa.


E sabem o que essa eventual obrigatoriedade me lembra? A célebre “Declaração 27003”, nascida em 1936, que obrigava os candidatos à função pública a jurar: “Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933 com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas”. Ainda que os mesmos aspirantes a um emprego no Estado, fossem os comunistas mais convictos.


quinta-feira, janeiro 12, 2012

Acabe-se a hemodiálise para os septuagenários que não tenham dinheiro



Quando no programa “Contra Corrente”, transmitido na SIC Notícias da última terça-feira, Manuela Ferreira Leite defendeu que um doente com mais de 70 anos deve ter direito à hemodiálise “se pagar”, tenho a certeza que a maioria das pessoas ficou chocada.


No entanto, e tendo em conta que a Dr.ª. Manuela nem sempre é feliz quando fala, quero acreditar que o que ela queria realmente dizer é que os doentes com mais de 70 anos e que tenham rendimentos acima de um montante a determinar vão ter que pagar o tratamento de hemodiálise.


Ideologias e “economicisses” à parte, acho que ninguém pretende que os septuagenários (ou sexagenários ou quaisquer outros “genários”) com poucos recursos tenham que abdicar do tratamento de que necessitam. É que, recordo, um doente renal sem tratamento morre em poucos dias.


Não era isso que queria dizer, pois não Dr.ª?


quarta-feira, janeiro 11, 2012

Catroga e Cª.

É penoso voltar, ciclicamente, a factos que já vimos noutros ciclos políticos. É desinteressante, é cansativo e é injusto para as pessoas que, como eu, cidadãos comuns, estamos longe dos jogos de poder e não temos capacidade de intervir, a não ser pelo comentário de café ou pela crónica escrita num blogue. Resta-nos a resignação de poder exprimir as nossas razões de quatro em quatro anos, aquilo a que vulgarmente chamamos o charme da liberdade de opinião. Em suma, pode-se reclamar à vontade que ninguém vai preso, mas não serve rigorosamente para nada.

Desta vez, refiro-me à notícia veiculada por toda a imprensa sobre os nomes de Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Rocha Vieira, Braga de Macedo e Ilídio Pinho, propostos à Assembleia-Geral de accionistas para integrar o Conselho Geral de Supervisão da EDP. Todos estes nomes estão ligados aos partidos que estão neste momento no poder. Exactamente da mesma maneira como no passado outros, de outros quadrantes fizeram.


Embora saiba que este Conselho Geral da EDP é um órgão que, desde que foi criado, sempre se destinou à colocação dos “boys”, porque razão é que esta proposta me incomodou tanto, agora que a parte da EDP que era do Estado foi vendida? E a resposta é simples. A falta de ética mexe sempre comigo.


Acho inaceitável esta contínua dança de cadeiras. Pois é, dirão, mas são os accionistas que decidem a gestão da sua empresa e os nomes que querem ver nomeados para os representar. Têm toda a razão. Mas, mesmo assim, existem aspectos que não consigo admitir. Nomeadamente o facto de Eduardo Catroga que até já era conselheiro e que vai ser promovido a conselheiro-mor, ir auferir um ordenado mensal superior a 45 mil euros que irá acumular com uma pensão de mais de 9600 euros. É escandaloso! Sobretudo neste país em risco de ir ao fundo e onde a esmagadora maioria dos portugueses mal consegue sobreviver. Parece uma afronta.


Mas se são os accionistas que devem tomar essas decisões, seria bom não esquecer que somos nós, consumidores, que pagamos – e de que maneira – a factura da Companhia. O que nos leva a questionar se – tirando o valor do consumo da electricidade propriamente dita – não estaremos também a contribuir para tantos vencimentos milionários.


Mas há ainda um pequeno detalhe que me incomodou muito. É que Catroga – e é aqui que a ética entra em acção – esteve envolvido nas negociações com a troika, de que resultou a venda da participação do Estado na EDP aos chineses. Portanto …


Pensava eu que os clientelismos partidários nestas matérias se tinham quedado pelos tempos de Ferreira do Amaral e de Jorge Coelho. Puro engano. Acho que tive mais um ataque de ingenuidade.

terça-feira, janeiro 10, 2012

As Iluminações de Natal



Para quem escreve regularmente, as férias, por pequenas que sejam, fazem com que, muitas vezes, haja a necessidade de voltarmos a assuntos que deveríamos ter tratado justamente nesses dias de férias. Pois bem, acabados que estão os votos de Feliz Natal mas não os de Bom Ano (que continuam por mais uns dias), gostaria, ainda, de abordar o tema da polémica falta de iluminação de Natal em Lisboa, mas não só. Sobretudo para constatar o facto de que algumas autarquias decidiram não gastar o dinheirão que habitualmente alimenta as iluminações da quadra natalícia, coisa que não agradou a toda a gente. Na capital, houve pessoas que reclamaram, por exemplo, que para pouparem uns míseros 700 mil euros acabaram com a única alegria que era acessível aos mais pobres. Para eles, sem iluminação não havia Natal.

Lembram-se da história do velho, do rapaz e do burro? Pois é, faça-se o que se fizer, há-de sempre haver quem critique.

E se é verdade que o colorido das luzes alegra a alma de muita gente, também é verdade que a crise impõe cortes nas despesas, a começar naquelas que não são de todo fundamentais. Cortes que foram parciais nalguns casos mas totais noutros, sendo as verbas poupadas deslocalizadas para suprir necessidades mais urgentes e dar apoio aos mais necessitados. Câmaras como as de Évora ou Portalegre, por exemplo, canalizaram as verbas destinadas às luzes para ajudar famílias carenciadas. E há mais autarquias a fazer o mesmo.

Faltaram as iluminações, é verdade, e pôde até parecer que nem estávamos no Natal. Mas a poupança foi significativa e, acho eu, necessária. Enquanto em 2010 as 18 capitais de Distrito do Continente gastaram cerca de milhão e meio de euros nas luzinhas, em 2011 os enfeites natalícios custaram “apenas” 466 mil euros. Só o Município de Lisboa poupou à volta de 80% relativamente ao ano anterior.

Hoje vivem-se novos tempos e os hábitos enraizados tendem a alterar-se. Mas isso não é um drama. Como dizia o António Vitorino “Habituem-se …”


segunda-feira, janeiro 09, 2012

Indignação



Volto ao trabalho da pior forma - REVOLTADO. E não há nada que me aborreça mais do que começar um novo ano com este sentimento. Para que conste, o caso de tamanha revolta nem sequer me atinge, nem aos meus mais chegados. Mesmo assim, quero manifestar publicamente a minha indignação.


Vai haver corte nas pensões. A ser verdade (e parece que é) e a ir para a frente (e parece que vai) esta medida aprovada pelo Governo vai penalizar seriamente os cerca de 15 mil pensionistas que receberam carta da Segurança Social a informá-los que vão cortar parte das suas pensões já a partir deste mês. Trata-se de pessoas que acumulam pensões da Caixa Geral de Aposentações e da Segurança Social ou provenientes de trabalho realizado no Estrangeiro, mas cuja soma, em muitos casos, não chega aos 600 euros.


Repito e sublinho que se trata de pessoas e que estas pessoas, mesmo acumulando várias reformas, não conseguem ganhar mais de 600 euros mensais. E, já agora, acrescento que para conseguirem estas “reformas milionárias” ao fim de muitos anos de trabalho, estes pensionistas fizeram descontos nos (magros) salários que foram auferindo.


Ouvi há dias o Ministro Pedro Mota Soares explicar que só agora conseguiram cruzar os dados dos vários sistemas e que, por isso, só agora podem aplicar uma lei que foi aprovada em 2007. Claro que não me convenceu. Se a lei aprovada na Assembleia da República por uma maioria absoluta é, agora, considerada injusta porque vai atingir milhares de desfavorecidos, precisamente aqueles que não têm possibilidade de reivindicar o que quer que seja, a maioria absoluta agora no poder tem toda a legitimidade para voltar atrás e fazer justiça.


A desculpa de que apenas estão a dar cumprimento a uma lei já aprovada é demasiado simplória. A ser assim, teríamos que pensar em iniciar rapidamente as obras do TGV e do novo aeroporto de Lisboa. E ninguém acredita que isso aconteça.


O mais certo é que na base desta decisão haja critérios justificadíssimos que desconheço e que não foram explicados. Mas ainda que a eles assista alguma razão de natureza financeira (ou outra), continuo a estar indignado por saber que, uma vez mais, o castigo vai desabar em cima desta franja da população que já está tão debilitada.