"Enlouqueceste?", "Passaste-te para o outro lado?", "Àquela hora em que estavas a escrever, estavas mesmo acordado?" ou "Aquilo foi escrito com ironia ... certo?" foram algumas das interrogações que recebi de Amigos que se mostraram preocupados com o que escrevi no meu post de ontem.
Sosseguem, Queridos Amigos, que eu estava bem acordado àquela hora (como poderia não estar?) e que, sim, para não entrar em profunda depressão resolvi empregar a ironia. Aliás, até ontem, eu julgava que havia três tipos de pessoas: as que gostaram das medidas severas do novo OE, as que não gostaram mesmo e as que não gostando ainda achavam que tanta austeridade, se calhar, era uma inevitabilidade. Pois bem, resolvi que eu passaria a estar integrado num outro grupo formado por pessoas que acharam as medidas tremendamente injustas (muitas delas estúpidas porque não vão passar no TC ou, se forem aplicadas, não vão resultar), e que por acreditarem que existem alternativas, podemos escolher uma das duas opções: ou atiramo-nos de uma ponte (eram uns quantos a menos a pesar nas contas do Estado) ou tentamos levar a coisa com alguma ironia (tanto quanto é possível, face às circunstâncias). Eu optei pela segunda hipótese.
Mas se ontem eu passei a ideia de estar feliz com o desastre que nos vai cair sobre as cabeças já em Janeiro próximo, hoje quero - à séria - mostrar a minha esperança por uma medida que o Governo lançou para nos fazer acreditar que nem tudo é tão ruim. De que falo? De uma notícia que foi posta a circular "Governo sorteia prémios com valor global anual até 10 milhões a quem pedir facturas". Um (novo) sorteio que abrange as pessoas que tenham pedido facturas e ajudado, com isso, a evitar a evasão fiscal.
Depois de, em 2013, o Governo (sempre a pensar no bem-estar dos cidadãos) ter criado um regime de dedução em sede de IRS, correspondente a 5% do IVA pago por cada contribuinte nas facturas de oficinas de automóveis, alojamentos, restauração e cabeleireiros e de, já em Maio deste ano, ter passado o incentivo de 5 para 15% do IVA pago (embora tenha mantido o limite máximo nos 250 euros. Convém não abusar), lançou agora este "sorteio" que, acho eu, ainda ninguém sabe em que consiste.
Diz-se que é “um sorteio específico para a atribuição de um prémio às pessoas singulares com um número de identificação fiscal associado a uma factura” que tenha sido comunicada à Autoridade Tributária. Mas, claro, que o que se percebe é que, mais uma vez, vamos ser promovidos a fiscais do Estado para tentar impedir a fraude e a evasão fiscais. Só que, como se trata de um sorteio (de que não se conhecem as regras, insisto), é preciso sorte para se ganhar o prémio. Prémio que poderá ser pago não sei se em dinheiro ou em géneros. Da minha parte, (embora agradecendo ao Governo o ter-se lembrado de mim uma vez mais ... sempre que precisa) e porque não tenho sorte ao jogo, não fico com grandes expectativas. Vamos ver. O que sei é que sorteios, promoções e brindes é tudo o que o meu povo gosta!