segunda-feira, outubro 14, 2013

"Se tivesse uma reforma um pouco maior, o que fazia?"



Foi, finalmente, explicada a forma como vai ser efectuado o anunciado corte das pensões de sobrevivência. Sabemos, agora, como e a quem vão ser feitos esses cortes, embora nem todas as situações tenham sido ainda esclarecidas. Só que (entre as fugas de informação e a descoordenação do Governo) essa explicação demorou demasiado tempo a ser dada. Quem sofreu com isso, claro está, foi a maioria dos viúvos que andava aterrorizada com a quase certa redução da sua (já pequena) pensão. Um terrorismo psicológico inaceitável.

No "Público" do último sábado li um excelente artigo da jornalista Andreia Sanches, intitulado "Viúvas, pensionistas, sobreviventes. Também me vão cortar a mim?". Nele se dão conta casos reais. De, por exemplo, várias viúvas que tendo baixas pensões de sobrevivência (e algumas, também, baixas reformas) ainda têm que sustentar filhos desempregados e respectivos agregados familiares. E todas elas estavam em pânico perante a catástrofe eminente de um novo corte nas pensões.

Lembro que em 2012 o valor médio das pensões de sobrevivência era de 216 euros. E, para além, de qualquer corte em pensões tão baixas fazer uma diferença dos diabos, conviria não esquecer que os mortos também têm direitos. É que, não esqueçamos, houve alguém que trabalhou e descontou e, nesse desconto, uma parte era já a contar com uma eventual pensão de sobrevivência. Porém, nestes tempos conturbados, parece valer tudo. Até a supressão, pura e simples, da pensão, em função da situação económica dos beneficiários. Mesmo que estes apenas tenham de rendimento umas escassas centenas de euros ...
 
Mas como se não chegasse já a tristeza de sentir o sofrimento de quem está em situação tão débil - pela idade, pelas doenças, pela solidão, pelas dificuldades em optar pelos remédios que vão comprar (sim, porque não há dinheiro para todos), pelas rendas de casa que subiram imenso com a nova lei, por não terem quem os defenda - impressionou-me, de sobremaneira, a forma como reagiu a maioria das pessoas ouvidas pela jornalista quando foi colocada a pergunta:

"Se tivesse uma reforma um pouco maior, o que fazia?"

E a resposta mais ouvida foi: "Comia melhor".

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