sexta-feira, novembro 29, 2013

Hungria, a "Democracia no vermelho"



Em Junho de 2012, já lá vai mais de um ano, escrevi neste espaço um texto sobre a Hungria em que dizia, entre outras coisas:


"... a Hungria, que faz parte da União Europeia desde 2004, é um país muito bonito e Budapeste, a sua capital, que se estende por ambas as margens do Rio Danúbio, possui um património cultural e histórico muito rico. Para além disso, a Hungria é um país com grande tradição musical. A sua música popular serviu de inspiração a grandes compositores, desde Liszt a Bartók.

Mas nem a música nem a grandeza das belas pontes (a mais conhecida das quais é a magnífica Ponte das Correntes), nem os edifícios como o Castelo de Buda e o Parlamento e todos os demais cartões postais da capital magiar conseguem “apagar” aquilo em que a Hungria se está a transformar. Num Estado absolutista que tem como pano de fundo uma crise e a negociação de um resgate com o FMI, e a tornar-se num país onde a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa e política, a independência judicial e os direitos das minorias estão a ser varridos. A crise e as ameaças dos credores são, como sempre acontece, um terreno fértil para o populismo de políticos como o Primeiro-Ministro e líder do Fidesz, o partido conservador de centro-direita, Viktor Orbán"
 
Aquilo que já era verdade há ano e meio piorou de tal forma que foi agora aprovado pela Comissão Europeia um relatório elaborado pelo euro deputado português Rui Tavares em que a CE suspendeu todas as negociações com a Hungria até que o país reponha o Estado de Direito.

Pela primeira vez na história da União Europeia (UE), um Estado-membro é acusado de violar os valores europeus. Na verdade, o Governo húngaro impôs limitações à liberdade de expressão, nomeadamente na Comunicação Social, afastou juízes incómodos e enfraqueceu o Tribunal Constitucional. Criminalizou os sem-abrigo, que retirou das ruas mais frequentadas da Capital Húngara, e permite que organizações de extrema direita persigam, matem e destruam bens de judeus e ciganos. Acções iguais às que tiveram lugar no tempo de Hitler, a quem a Hungria se juntou.

E os horrores desses tempos levados a cabo pelos nazis húngaros são recordados, por exemplo, no "Monumento dos Sapatos" (foto acima), localizado na margem do rio Danúbio, em homenagem às vítimas do Holocausto judeu. Os sapatos eram um bem escasso e caro, e por isso antes de assassinarem os judeus e jogá-los no rio, os seus algozes tiravam os seus sapatos. Às vezes, amarravam casais de judeus e disparavam contra um deles, fazendo que o baleado acabasse por arrastar o outro para o fundo do rio, como uma âncora.

A Hungria, os seus cidadãos e a Europa não necessitavam, nem mereciam, a actual política húngara.


quinta-feira, novembro 28, 2013

Violências ...



Quando, na semana passada, na Aula Magna, Mário Soares, sem meias palavras, pediu a demissão do Governo e do Presidente da República, ele "avisou" também que “a violência está à porta”. Foi um "Deus que me acuda", com muita gente a gritar que o homem não estava bem, que andava a incitar à violência e que este tipo de incitamento é anti democrático.

Pois bem, esta terça-feira, o Papa Francisco disse que "a exclusão e a desigualdade social provocarão a explosão da violência".

Mário Soares e o Papa Francisco disseram exactamente o mesmo: “a violência está aí”. E eu creio que tanto um como o outro não estão certamente a incitar à violência. É que o desespero dos cidadãos perante as revoltantes desigualdades sociais e o avolumar da crise que nos está a "matar", podem suscitar reacções mais perigosas.

E, como sabemos, a violência gera violência.

segunda-feira, novembro 25, 2013

Dois consultórios ...




Há uma grande diferença entre os utentes dos consultórios da província e os dos consultórios das grandes cidades.

Na província - naquilo a que eu chamo a província propriamente dita, não às grandes cidades de província - a maior parte das pessoas entra na sala de espera, faz questão de dar os bons dias, as boas tardes, ou o que seja, a quem lá se encontra e uma boa parte dos presentes responde ao cumprimento. Depois, tudo é mais familiar. As pessoas, de uma forma geral, gostam de se inteirar sobre o tipo de doença que aflige quem está sentado mais próximo e, quase de seguida, não resistem à tentação de aconselhar o que acham mais adequado para combater esses males. Todos já tiveram um familiar ou um amigo que teve uma coisa parecida e, juram, que se não fossem aquelas inalações mentoladas e/ou uns determinados comprimidos de que, em regra, não recordam o nome, a doença não se teria ido embora tão depressa.

Não está ali em causa que cada caso é um caso nem que a dosagem dos tais comprimidos provavelmente não seria a indicada para aquela situação.

A simpatia e a boa fé, a sinceridade com que dão o conselho, é tocante. Tanto que a maioria desses conselhos já serão suficientes para dispensar a própria consulta ao médico, o que, afinal, os levara até ali.

Quando chega a vez de alguém ser chamado para a consulta, a pessoa que sai da sala, invariavelmente deseja “as melhoras a todos” e todos agradecem em uníssono.

Já nos consultórios das grandes cidades toda a gente está em silêncio. Enquanto que uns vão passando os olhos pelas revistas, outros, a maioria, vai observando disfarçadamente os seus companheiros de sala, na tentativa de perceber quem são eles e que é que fazem na vida. “Aquele engravatado ali deve ser um gajo importante, tem uns sapatos bonitos e bem engraxados e o fato é dos bons. Deve ser dos que manda …”.

Para além dos pensamentos mais ou menos enviesados, ninguém se incomoda em perguntar a quem está sentado ao lado do que é que se queixa. Ainda que esse alguém tenha um ar cansado e os olhos mortiços e meio fechados, quem é que se atreve a perguntar o que é que ele tem? Quem é que se arrisca a ter como resposta “Oh homem estou cansadíssimo e cheio de sono”?

Quando alguém entra na sala, não se lhe ouve um cumprimento que seja. Talvez porque vem distraído com os seus inúmeros problemas.

Às vezes, mas só se estivermos muito atentos, ainda se ouve um murmúrio que se pode assemelhar (levemente) a uma saudação. Mas a voz sai surda, imperceptível.

E o mesmo se passa quando alguém sai do consultório. Passa na sala pelos que esperam sentados a sua vez e, nem ai nem ui, vou à minha vida que tenho mais do que fazer.

A maioria de nós já passou por estas experiências. Mas, a menos que eu ande distraído, toda aquela gente – tanto nos consultórios da província como nos das cidades - são apenas pessoas. Só que, seguramente, são pessoas diferentes ...


sexta-feira, novembro 22, 2013

Poeminha Tentando Justificar Minha Incultura



De Millor Fernandes

"Poeminha Tentando Justificar Minha Incultura"


Ler na cama
É uma difícil operação
Me viro e reviro
E não encontro posição.
Mas se, afinal,
Consigo um cómodo abandono,
Pego no sono.


 

quinta-feira, novembro 21, 2013

Compromissos ...



Quando Passos Coelho pede aos parceiros sociais um compromisso mas, ele próprio, não se quer comprometer com coisa alguma ou quando pede um acordo urgente com o Partido Socialista depois de meses a fio ter ignorado ostensivamente o principal partido da oposição, porque carga de água é que, agora, eu devia ficar admirado com o facto do PSD estar a preparar o seu próprio guião da reforma do Estado?

Não foi já apresentado um guião pelo CDS, partido da coligação que suporta o Governo, para reformar o Estado ? O que fizeram ao "papel", perdão, ao documento que foi elaborado pelo Vice-Primeiro Ministro, Paulo Portas, líder do CDS?

Diz o porta-voz dos sociais-democratas, Marco António Costa, que o PSD está a recolher contributos dos parceiros sociais para elaborar um documento próprio sobre a reforma do Estado.

Já nem os partidos de coligação conseguem chegar a acordo.

Depois de tantos compromissos jogados fora, o PSD chegou finalmente à conclusão que, agora sim, está na hora de reunir "o máximo consenso possível e fará seguramente do ano de 2014 um ano crucial no diálogo social e no diálogo inter-partidário". Será que ainda vai a tempo? Será que ainda haverá interlocutores capazes de esquecer que, num passado recente, viram rasgados compromissos assumidos?

A não ser que a língua portuguesa não seja o forte dos partidos da coligação. Depois de manifestarem total desconhecimento do que quer dizer a palavra IRREVOGÁVEL, provavelmente também não sabem o que é um COMPROMISSO.

quarta-feira, novembro 20, 2013

Vergonha é o que não falta ...




O título do texto de hoje "roubei-o" a uma crónica escrita pelo jornalista Henrique Monteiro. Mas não lhe "roubei" a indignação que ele sentiu quando soube de mais uma pantominice vinda de um membro do Governo, porque eu (e provavelmente muitos mais portugueses) ficámos igualmente varados de indignação.

Então não é que Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura, contratou um jovem do PSD para o seu gabinete a quem vai pagar, como adjunto, mais de três mil euros mensais. Logo num Departamento que vai cortar nas verbas da cultura no próximo ano e vai reduzir 15 milhões de euros em custos com o pessoal?

Porém, ao ler-se o currículo do jovem adjunto de 24 anos - João Filipe Vintém Póvoas - compreende-se logo a mais-valia que vai acrescentar à Secretaria de Estado porque a sua qualificação esmaga qualquer um: três workshops no Centro de Formação de Jornalistas (Cenjor), um de Edição de Vídeo e Áudio Digital, outro em Apresentação de Directos em Televisão e o terceiro em Atelier de Programas Televisivos. A sua experiência profissional é igualmente relevante: fez o estágio de jornalismo na Rádio Renascença onde trabalhou oito meses e foi durante cinco meses consultor de comunicação do ... PSD!
 
 
Mais do que justa - e necessária (pela qualidade atrás descrita) - esta escolha do novo adjunto que se irá juntar à equipa da Secretaria de Estado da Cultura composta por mais três adjuntos, sete técnicos especialistas, duas secretárias pessoais, chefe de gabinete, dez técnicos administrativos, três técnicos auxiliares e três motoristas. Um mar de gente para administrar uma área que irá ter uma actividade muito mais reduzida no próximo ano pela redução do orçamento.

É obra, digo eu. Escasseia o dinheiro para a cultura e há que fazer cortes. No entanto, para a rapaziada amiga, faz-se um sacrifício. O rapaz promete e só vai ganhar três mil euros por mês. Mais do que ganha um director de serviços, mais que um juiz, o mesmo que um coronel, o dobro de um professor.

Falta o dinheiro mas vergonha é o que não falta ...


terça-feira, novembro 19, 2013

Imbecilidades ... com todo o respeito



Tentei não dar qualquer importância à entrevista que João César das Neves concedeu à TSF/DN. Da mesma forma que fugi à tentação de escrever sobre Margarida Rebelo Pinto que na outra semana também se lembrou de dizer umas palermices ...

Mas César das Neves tirou-me do sério. Apeteceu-me imediatamente chamar-lhe nomes, tal como já fizeram muitos milhares de frequentadores das redes sociais. Mas, porque sou educado, vou apenas destacar dois ou três aspectos que me incomodaram mais.

Os temas que ele escolheu para o debate foram a crise demográfica, o corporativismo e a orientação económica para Portugal num mundo em mudança. E não pondo em causa as suas convicções - são apenas e só as suas convicções - o que questiono é a sua falta de sensibilidade e a crueza de algumas afirmações que mostram bem a distância enorme que existe entre a classe social a que pertence e o comum dos cidadãos.

Afirma, por exemplo, que a quebra da natalidade deriva de razões culturais e não das financeiras ou económicas. "A ignorância é muito atrevida", como dizia o meu pai. O que leva a que a maioria dos casais não tenha filhos são justamente as dificuldades económicas. A falta ou a precariedade do emprego e os baixos salários são motivos mais do que suficientes para que se pense seriamente antes de ter filhos. Se para dois não dá, para mais um - em condições mínimas de conforto e dignidade - não dá mesmo.

Quando ele diz que o Tribunal Constitucional não tem estado a funcionar em termos jurídicos, mas políticos, não percebi se quem estava a falar era o economista vestido de político ou se o político de direita conservadora disfarçado de economista.

Mas onde as suas palavras me chocaram mais foi quando afirmou que a maior parte dos pobres não são pobres e estão a fingir que são pobres (embora não se saiba qual o seu critério de pobreza), que a maior parte dos pensionistas estão a fingir que são pobres (embora se ignore se se está a referir aos que auferem pensões milionárias, e que, obviamente, não são a maioria) ou que aumentar o salário mínimo é estragar a vida aos pobres (embora também não se conheça se ele estará a pensar que a um aumento de pensão possa corresponder um aumento de mais comida, de obesidade e falta de saúde).

João César das Neves não conhece as condições de vida da maioria dos portugueses. Vê que os bons restaurantes que frequenta estão cheios, que os carros continuam a circular em grande número pelas ruas e estradas e afere o bem-estar dos cidadãos apenas pelas pessoas que "habitam" à sua volta. César das Neves só vê metas e gráficos e por eles julga (mal) a corja que se diz pobre mas que não o é, e que ganha salários que são exagerados e deviam ser reduzidos.

Insensibilidade pura. Imbecilidades ... com todo o respeito

segunda-feira, novembro 18, 2013

O direito a viver com dignidade ...


Entendo os que defendem que é impossível continuar a sustentar todos os direitos sociais que fomos "ganhando" desde 1974. Compreendo e aceito os argumentos e, se formos honestos, admitimos claramente que a riqueza que produzimos não chega para cobrir todas as despesas inerentes ao universo gigantesco daquilo a que chamamos o "Estado Social". E os argumentos nada têm de ideológico. Dou três exemplos: hoje as pessoas vivem mais tempo do que antigamente, por isso se pagam durante bastante mais anos pensões de reforma; há menos gente a trabalhar e, daí, haver menos pessoas a descontar; as empresas são cada vez em menor número, donde, também não pagam impostos. Enfim, as ideologias não cabem nesta discussão. É uma questão matemática que só diz respeito ao "deve e haver".

Claro que neste ponto da narrativa invariavelmente se olha para as PPP e para as respectivas rendas. É verdade que se podia ir muito mais longe, seria infinitamente mais justo, mas isso não altera, por aí além, a realidade dos factos. E é aqui que nos viramos para o papel fundamental que nós achamos caber ao Estado: o da correcção das injustiças e o da protecção a quem, completamente desvalido, tem o direito de viver com dignidade. E também é para isso que pagamos impostos.

As palavras de D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa, vêm ao encontro exactamente desta perspectiva da protecção do factor humano: "Precisamos que as pessoas sejam justamente remuneradas". E diz que "não concorda com a sugestão do Fundo Monetário Internacional, para se baixar salários. Na actual situação de crise, o Governo deve apostar na promoção do trabalho".

Ao que eu acrescento, o que de facto está em causa são as pessoas. E, pelo seu trabalho, a possibilidade da economia poder reanimar.


sexta-feira, novembro 15, 2013

Enfim, uma boa notícia




No meio do imenso desânimo em que nos encontramos, é bom que haja, uma vez por outra, uma noticiazinha, por insignificante que seja, que nos levante a já pouca auto-estima que alguns teimam em eliminar de todo.

Mais do que a saída da recessão (ainda que de forma tão ténue), a notícia que hoje me deixou feliz foi a de saber que, quanto ao domínio da língua inglesa, num ranking de 60 países (em que os primeiros continuam a ser os escandinavos), Portugal ficou classificado num honroso 17.º lugar, à frente da França, da Espanha e da Itália.

E mais feliz fiquei porque sendo a língua inglesa verdadeiramente universal e um instrumento de trabalho e de expressão indispensável, Portugal apesar de dominar o inglês de forma invejável, continua a promover a aprendizagem e o aperfeiçoamento do inglês, o que põe o nosso país em sexto lugar, à frente da maior parte dos países europeus.

Mas atenção, apesar da minha satisfação por dominarmos a língua inglesa ao nível dos melhores, não esqueço o que sempre tenho dito. A nossa língua materna é o português e é absolutamente necessário que a aprendamos e a usemos bem. Melhor do que a todas as outras.


quinta-feira, novembro 14, 2013

Desemprego na Suécia?



A crise anda por todo o lado, até nos países considerados mais ricos como é o caso da Suécia. Enquanto que por essa Europa fora fecham lojas e empresas e há um número crescente de desempregados, na Suécia (onde também há desemprego) os que agora correm um risco iminente de perder o emprego são os guardas prisionais. Porquê? Porque o número de prisioneiros diminuiu tão drasticamente nos últimos dois anos que as autoridades decidiram fechar quatro prisões e um centro de detenção preventiva. Em suma, não há presos que cheguem para as estruturas existentes.

Um responsável de uma prisão afirmou que houve um declínio fora do comum no número de presos (embora não se saiba bem porquê), se bem que, desde 2004, já se registava uma diminuição de 1% ao ano. Em 2011 e 2012 essa queda foi de cerca de 6%, e a expectativa é que continue assim neste ano e no próximo.

Claro que a Suécia continua a ter presos (em 2012 havia 6.364 presos, qualquer coisa como 67 pessoas em cada 100 mil habitantes, embora 30% dos prisioneiros sejam estrangeiros), mas o encerramento das quatro prisões por falta de clientes deixa-nos preocupados. O que se estará a passar?

Mas nem tudo é mau. Se atendermos às boas relações que existem entre os dois países - e aqui não estou a considerar quem é que se vai apurar para ir à fase final do Campeonato do Mundo de Futebol no Brasil (as selecções de Portugal e da Suécia resolverão isso nos próximos dias) - considero que estamos em condições de pedir aos nossos amigos suecos que nos cedam algumas das instalações agora desactivadas. Teríamos, então, espaço para alojar por lá toda a canalha que, cá no burgo, anda metida em esquemas de corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influências ou quejandos. E são muitos. Assim a nossa justiça os condenasse ...


quarta-feira, novembro 13, 2013

A ira espanhola evidenciada nas notas de euro



É grande o descontentamento dos portugueses. Por todas as razões e mais uma. Uma que poderá ter a ver com o que o Governo anda a dizer: "que tudo está a correr melhor quando para nós tudo está pior". Descontentamento e revolta que se avolumam quando se sente que os caminhos (os erros) que nos levaram à actual situação jamais serão alterados. Por ideologia, por medo ou, simplesmente, por incompetência. E de que forma manifestamos a nossa indignação? Normalmente em greves e nas ruas em manifestações que, felizmente, são pacíficas e que, ao contrário de outros países, não apelam à destruição. Só queremos ser ouvidos o que, reconheça-se, de pouco nos tem servido. Mas atenção, é bom que não confundam o nosso "bom comportamento" com aquilo que muitas vezes se diz por aí, de sermos "um povo de brandos costumes". A nossa História mostra bem que não somos nada disso.

Aqui ao lado, os nossos vizinhos espanhóis, mais temperamentais do que nós, têm mostrado nas ruas um comportamento bem diferente do nosso. Mas agora, a sua revolta contra a austeridade ganhou uma nova forma de expressão. A sua contestação, que está a tomar uma dimensão enorme através das redes sociais, está a assumir uma forma específica: escrever mensagens nas notas de 5, 10, 20 e 50 euros.

Será que a moda vai pegar em Portugal? Ver, por exemplo, numa nota de 5 euros uma frase do tipo "Passos demite Machete. Já chega!". Espero que não. A acção é meramente simbólica e escrever expressões indignadas nas notas não vai resolver o que quer que seja. O que os portugueses querem realmente é mais ... notas e políticas que nos tirem deste fosso de que parece ser quase impossível sair.


terça-feira, novembro 12, 2013

Um erro caricato




Já se sabe que os erros acontecem. "Só não acontecem a quem não trabalha", como dantes se dizia para justificar quem errava. Mas, convenhamos, há erros e erros. E, sobretudo, há erros que, com os meios informáticos disponíveis, não são de todo aceitáveis.

Como aquele em que um homem foi notificado pelo Instituto da Segurança Social para devolver 41,10 euros devido a acertos de contas. Um homem que tinha uma "gravidez de risco", segundo rezava a carta da Segurança Social. Um caso que não podia ser mais caricato.

O homem, como é óbvio, nunca esteve grávido. Não podia (claro está), tal como não podia ter acontecido que a aplicação da Segurança Social admitisse que uma pessoa do sexo masculino pudesse estar grávida. Um erro de programação perfeitamente evitável.

O Sr. Albino Ribeiro, o pacato cidadão que se viu envolvido nesta embrulhada, embora tendo a certeza de que nunca estivera grávido, decidiu pagar imediatamente a importância reclamada e ficou à espera que a situação fosse esclarecida. E foi, o ISS assumiu o lapso, os ânimos ficaram apaziguados e o Sr. Ribeiro só não conseguiu ser ressarcido dos euros pagos porque, afinal, as contas por acertar diziam respeito a um subsídio de refeição pago indevidamente.

O assunto está resolvido e as desculpas foram apresentadas. Resta saber se a aplicação em causa foi alterada de imediato.


segunda-feira, novembro 11, 2013

E se dúvidas houvesse ...



Quando soube que as grande superfícies se recusavam a pagar uma certa taxa, não pude deixar de pensar na já velha (mas verdadeira) frase da nossa esquerda mais à esquerda: "o Governo é forte com os fracos e fraco com os fortes". E porquê?

Aos reformados, por exemplo, ninguém lhes perguntou se estavam interessados em pagar a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES), que constituiu uma forte machadada nas pensões e reformas e que era para ser paga, a título extraordinário, só em 2013 mas que já se adivinha que vai ser definitiva. Os pensionistas e reformados bem protestaram (através da sua associação, a APRe, ou noutros fóruns) e continuam a manifestar-se sem que alguém lhes ligue a mínima. São cada vez mais esquecidos e desrespeitados. Paguem e pronto.

Já em relação àqueles que têm poder, a questão é bem diferente. Quando foi aprovada uma taxa de segurança alimentar que seria paga pela distribuição às organizações de produtores pecuários pelos serviços prestados na área da sanidade animal, as grandes superfícies opuseram-se. Apenas os pequenos distribuidores pagaram enquanto os grandalhões deram instruções aos seus gabinetes de advogados para se encarregarem das competentes acções judiciais. Assim, do esperado encaixe financeiro de 17 a 18 milhões de euros com o pagamento desta taxa, em 2012 e 2013, o Estado só recebeu 3 milhões de euros. As grandes superfícies disseram não à lei.

Independentemente de sabermos se mais tarde as grandes superfícies virão, ou não, a pagar, o que constatamos uma vez mais é que quem não tem poder reivindicativo paga, quanto aos outros logo se vê o que acontece, sendo que o mais certo é levarem a sua avante, isto é, não pagarem. Não é por acaso que se diz que "há justiça para ricos e justiça para pobres" ou "educação para ricos e educação para pobres". Existe, de facto, na sociedade uma descriminação entre os que são mais débeis e os que têm maior poder económico. Ou estarei a exagerar?

quinta-feira, novembro 07, 2013

O Governo vai dar automóveis ... a quem pedir factura.



Finalmente o fisco vai dar alguma coisa aos Portugueses. Pois é, já a partir de Janeiro do próximo ano, o Governo vai sortear automóveis todas as semanas. Aliás, segundo li, o Ministério das Finanças está a ponderar a hipótese de sortear um carro de gama superior e outros dois de cilindrada mais modesta. Agora é que vai ser um fartote de carros novos a rolar por aí. Para ir renovando o parque automóvel que tende a envelhecer porque os portugueses não têm cheta para trocar de carro? Não, a ideia é incentivar os consumidores a pedirem facturas e, por esta via, minimizar os efeitos da economia paralela (em Portugal, em 2012, representava 26,74% do PIB). Por outras palavras, o Governo quer prevenir a fraude e a evasão fiscal, ou seja, quer obrigar os comerciantes que ainda fogem aos impostos, a pagar o IVA e todos os outros impostos devidos ao Estado.

Para ficarmos habilitados - cientes, embora, que, uma vez mais, estamos a assumir o importantíssimo (e mui digno) papel de fiscal por conta do Estado - é só pedir facturas de tudo aquilo que se compra, (não esquecer que a factura tem de ter o número fiscal) e pronto. Depois, resta aguardar pelo resultado do sorteio.

E a brilhante ideia vai ao ponto de não excluir quem já tenha ganho um carro em lotaria anterior. Se o cidadão consumidor tiver sorte pode ganhar carros e mais carros.

A partir de 2014 vai ser uma roda viva de pedinchice de facturas: do café, do jornal, do supermercado, do gasóleo, de tudo o que for compra, zás, peço uma factura. Por ora, estou a organizar-me. Já redigi um pedido à minha Câmara Municipal para me disponibilizar um espaço amplo perto da minha casa para poder albergar tanto carro que vou ganhar. E, quem sabe, se em tal número, que poderei vir a abrir um negócio de carros de aluguer.


quarta-feira, novembro 06, 2013

Ladrão sim ... insensível não




A história até parece ser um guião de uma má novela sul-americana. No entanto, e por incrível que pareça, é verdadeira e aconteceu na Indonésia.

Cinco ladrões assaltaram uma casa, munidos de facas, catanas e armas de fogo. Juntaram os adultos da casa, amarraram-nos e começaram o saque. Só que havia um bebé na casa que começou a chorar. O que fizeram os ladrões, limitaram-se a abandonar a residência com os bens roubados? Nada disso. Um deles, antes de acompanhar os seus comparsas, perguntou à mãe do bebé o que tinha de fazer para que ele parasse de chorar. A mãe (que estava amarrada) disse-lhe que o bebé tinha fome e queria o biberão - "duas colheres de leite e água quente". O ladrão pegou no bebé ao colo e deu-lhe o leite. Pouco depois, o bebé adormeceu e ele pô-lo na cama.

"Eu tenho um filho, por isso sei como adormecer um bebé” justificou mais tarde o ladrão.
 
Moral da história: "Ladrão sim ... insensível não".
 
 

terça-feira, novembro 05, 2013

Chefe da troika reformou-se ... e voltou a ser contratado



Nada tenho contra as pessoas que se reformam por opção (e dentro das condições legais previstas) e que continuam a querer trabalhar. Na maioria dos casos acham-se com capacidades para tal e, por que não, conseguem juntar a sua pensão de reforma a um novo vencimento.

Aliás, eu tive um colega que se aposentou (os amigos fizeram-lhe até um jantar de despedida) e logo no primeiro dia de reforma apresentou-se ao serviço, na mesma empresa, no mesmo local de trabalho, para fazer exactamente o que fazia há anos. Isto porque a sua entidade patronal o contratou por achar que ele era, não digo insubstituível (porque não há disso) mas fundamental para a continuidade de um trabalho de qualidade. E ele era, de facto, um excelente profissional. E assim continuou durante uns dois anos ou mais.

No entanto, parece-me que temos que olhar com outros olhos para a situação de Jurgen Kroger, que foi representante da Comissão Europeia na troika até Julho passado, que se reformou mas foi imediatamente contratado como consultor. E porquê? Porque o ex-troika, agora "conselheiro especial" da Comissão Europeia, reformou-se, aos 61 anos e foi imediatamente contratado pela mesma instituição a que pertencia para defender, entre outras coisas, a subida da idade da reforma, nomeadamente em Portugal.

E o que eu repudio neste caso é que Jurgen Kroger, que acumulará o novo vencimento com a generosa reforma a que tem direito, vai continuar a defender que a idade da reforma no nosso país deve passar para os 67 anos, enquanto ele, funcionário público europeu, se reformou aos 61. Uma coisa que nos faz recordar aquela história dos Gato Fedorento "queres que a idade da reforma seja aos 67? SIM! Mas só vais reformar-te nessa altura? NÃOooooooooooooo!".

"Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz.."


segunda-feira, novembro 04, 2013

Finalmente, o Guião de Portas ...




Valeu a pena esperar meses a fio para conhecermos o famoso "Guião para a reforma do Estado". Cento e poucas páginas (com corpo de letra excessivo e a dois espaços, para encher) com "orientações" para se atingir um Estado melhor. Pelo menos foi o que nos foi dito pelo Vice-Primeiro-Ministro Paulo Portas, autor e apresentador do documento.

Porém, a opinião da generalidade dos analistas sobre aquilo que lá se lê - quanto aos impostos, à saúde, justiça, economia, segurança social, etc. - é que se trata de um documento vazio, cheio de banalidades e que não aponta caminhos (como fazer, quem vai ser o responsável e de que maneira se vão atingir os objectivos) para se chegar à tal reforma que toda a gente reclama como absolutamente necessária.

Dentro da vacuidade do documento, achei curioso um dos enunciados que diz respeito à cultura:


"A função do Estado na cultura tem que sair da mera dicotomia entre a preservação do património e o apoio à criação artística. O Estado tem que ser cada vez mais facilitador na relação com a referência e a experiência cultural da fruição e o acesso de cada cidadão à cultura".
 
Que naco de prosa! Bonito mas inócuo, um palavreado que diz absolutamente nada.

Estamos, então, perante um guião, um manifesto eleitoral ou simplesmente o cumprimento de uma formalidade que se anunciava há muito? Pois bem, teremos que aguardar ...