Há vários anos que seguia com deleite as crónicas gastronómicas que José Quitério escrevia no Expresso. Dava-me a conhecer restaurantes, orientava-me com as suas opiniões de conhecedor exímio (e honesto) na matéria e, para além disso, deliciava-me com expressões que não eram habituais em artigos da especialidade como: "amesendação sem mácula", "manducantes", "rol de comestíveis", "mastigantes" e outros que criaram um estilo único. Infelizmente José Quitério deixou de escrever "devido tão-somente à alta traição dos meus olhos ..." como deu a conhecer em entrevista ao Expresso nas últimas semanas.
Não posso deixar de transcrever algumas respostas (curiosas) dadas na citada entrevista. Por exemplo:
- "... há terras que se auto intitulam capitais de isto e de aquilo (a mais ridícula, cujo nome nem digo, por vergonha, é a capital do ovo) ... o ovo, o alimento primordial ... estão a brincar com a macacada)";
- "... os chefes querem ser considerados artistas, se lhes chamam artesãos ficam lixados. Mas depois o que fazem é, sobretudo, negócio";
- "que me interessa que o restaurante número um do mundo seja em Copenhaga? Nos países nórdicos não se come bem, mas quem vai à Dinamarca por causa do Norma? Meia dúzia ... uma vez levaram-me ao melhor restaurante de Oslo, caríssimo, e o que era aquilo? Comida francesa!";
- "... a cozinha foi capturada pela sociedade de espectáculo e os cozinheiros transformados em grandes vedetas, com tudo o que isso implica. Cozinheiros que não querem ser tratados por cozinheiros, nem sequer por chefes, mas por chefs ... chega a ser ridículo ouvir miúdos da escola de hotelaria a dizerem que estão a estudar para chefs".
Tenho muita pena que tenha acabado a deambulação semanal de José Quitério pelos restaurantes do país. Ele é uma referência da gastronomia portuguesa de quem vou sentir saudades.