Se na minha primeira crónica deste ano manifestei um aberto optimismo pelo discurso natalício do Papa Francisco, o mesmo não posso dizer hoje sobre o que Passos Coelho disse na sua mensagem de Natal. Embora ele tenha reconhecido (pudera!) as dificuldades que alguns portugueses (só uns quantos milhões, nada de importância ...) enfrentam no seu dia-a-dia, afastou a possibilidade de um cenário negro para 2015. Com a convicção (!) estampada no rosto, o Primeiro-Ministro disse "Este será o primeiro Natal desde há muitos anos em que os portugueses não terão a acumulação de nuvens negras no seu horizonte. Será o primeiro Natal desde há muitos anos em que temos o futuro aberto diante de nós ...".
Pergunto-me como é que em consciência alguém pode fazer uma afirmação destas. Com eleições à porta no país (em que, seguramente, vão ser dados alguns "rebuçados" para nos adoçarem a boca na hora de votarmos) mas também em alguns outros na Europa, com a indefinição das relações entre a Rússia e a Europa e os Estados Unidos e com os problemas que nos estão já a bater à porta pela descida vertiginosa do crude (menos receitas dos países exportadores de petróleo e, portanto, menos exportações portuguesas para esses países), como é que alguém pode ter certezas seja do que for? Ao dizer que "2015 vai ser um ano de crescimento, de aumento do emprego (por acaso, em Novembro último a taxa de desemprego aumentou 3 décimas) e de recuperação dos rendimentos das famílias" e que o próximo ano trará "uma recuperação assinalável do poder de compra de muitos portugueses" não estará tão-somente a fazer campanha eleitoral?
Sabendo que o governo quer dispensar mais 12 mil funcionários públicos em 2015 e que haverá impactos na carteira dos portugueses com a fiscalidade verde e com o anunciado aumento de preços de bens e produtos, parece-me que, ao contrário do que diz o PM, os portugueses não só terão uma acumulação de nuvens negras como se adivinha que, no horizonte, vai desabar sobre nós uma valente borrasca.
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