De António Botto (1897 - 1959), grande poeta e dramaturgo português, um dos mais originais e polémicos do seu tempo, "Canção".
"Canção"
Venham ver a maravilha
Do seu corpo juvenil!
O sol encharca-o de luz,
E o mar, de rojo, tem rasgos
De luxúria provocante.
Avanço. Procuro olhá-lo
Mais de perto... A luz é tanta
Que tudo em volta cintila
Num clarão largo e difuso...
Anda nu - saltando e indo,
E sobre a areia da praia
Parece um astro fulgindo.
Procuro olhá-lo; - e os seus olhos
Amedrontados, recusam
Fixar os meus... - Entristeço...
Mas nesse olhar fugidio -
Pude ver a eternidade
Do beijo que eu não mereço...
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