sexta-feira, maio 29, 2015

Inaceitável. A fome continua a grassar por aí ...



Quando na passada segunda-feira eu escrevia aqui que nem tudo vai bem "no Reino de ... Portugal" e criticava as profundas desigualdades existentes no nosso país, para além de alguns números que constavam no texto já conhecia as conclusões de um estudo levado a cabo pelo Banco Alimentar Contra a Fome e pela Entrajuda. Sabia, por exemplo, que mais de metade dos agregados familiares que recorrem a instituições (muitos deles idosos) têm um rendimento mensal de 400 euros ou menos. E que 20% dos 1.889 utentes de instituições sociais inquiridos afirmaram ter tido falta de alimentos ou sentido fome “alguns dias por semana” nos seis meses anteriores e 13% referiu que tal aconteceu “pelo menos um dia por semana”.

E se é verdade que, relativamente ao estudo anterior, em 2010, se regista um decréscimo do número de pessoas que disse ter passado um dia inteiro sem comer, por falta de dinheiro - portanto, uma ligeira melhoria da percepção das condições de vida - o que fere verdadeiramente é que estes não são, apenas, números de mais um estudo. Este é o espelho de uma realidade que não podemos, enquanto sociedade, continuar a aceitar.

segunda-feira, maio 25, 2015

Eleições à porta e a festa PSD/CDS anda pelo país



Bem sei que as eleições estão à porta e que chegou a hora de tentar entusiasmar os eleitores com as magníficas promessas de sempre, aquelas que - seguramente - irão melhorar a vida de todos. A campanha já começou e o folclore habitual aí está. Mas, porque a desilusão dos cidadãos já vem de longe (as promessas raramente são cumpridas) não se entende lá muito bem porque razão a coligação que tem estado no poder anda tão contentinha e em festa pelo país. Tanto mais que a percepção da generalidade dos portugueses é que a situação não está famosa.

E os sinais de que nem tudo vai bem "no Reino de ... Portugal" são muitos. Por exemplo, o Ministro da Economia, António Pires de Lima, afirmou que ler os relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) não está nas suas prioridades (?). Por exemplo, e segundo o recente relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico que analisa a desigualdade de rendimentos dos últimos anos, Portugal é dos países mais pobres e desiguais da OCDE. Por exemplo, as dívidas incobráveis - a fornecedores, instituições financeiras (banca e seguros), crédito ao consumo, arrendamentos ou a empresas de serviços públicos essenciais (água e luz) e telecomunicações - bateu o recorde de registos na lista que ultrapassa já os 132 mil incumpridores.

Pois apesar disto (e podería referir mais números, todos eles preocupantes) o Primeiro-Ministro diz que não tem pressa em apresentar programas, medidas e ideias. E a festa PSD/CDS continua alegremente pelo país. Porquê, pergunto eu? A não ser que seja por terem ouvido ao líder parlamentar do Partido Socialista, Ferro Rodrigues, no último debate quinzenal na AR, afirmações como: "com a troika era mau, sem a troika é péssimo" ou "estou aqui para defender os mesmos princípios e as mesmas políticas que defendia há 4 anos". Sim, se for por isso, têm razão para estarem satisfeitos. A festa pode continuar ...


quarta-feira, maio 20, 2015

Os malditos défices ...



Embora sabendo que muitos dos meus Amigos que lêem este blogue são especialistas em macroeconomia, ainda assim, vou lembrar (aos menos conhecedores) que a definição de défice (a malfadada palavra que tanto tem azucrinado os ouvidos e as nossas vidas), em traços muito gerais e dito de uma forma muito simplista pode resumir-se a isto: as receitas não são suficientes para pagar as despesas. Ou dito, ainda, de outra maneira, gasta-se mais do que se tem. E, já agora, dizer que quando falamos em défice público normalmente ele é expresso em percentagem sobre o PIB do país.
Mas esta nota prévia é para dizer o quê? Que há uns anos, uns tipos em Bruxelas, se lembraram de estabelecer que os países da União Europeia deveriam ter o seu défice abaixo dos 3%, sob pena de sofrerem sanções. No caso de Portugal, a coisa tem andado feia e este ano, finalmente, estamos numa posição, como dizer, "resvés Campo de Ourique", uma vez que a Comissão Europeia estima que, em 2015, o nosso défice seja de 3,1% e o Governo continua a dizer que ele será de 2,7%. Vamos ver quem tem razão ...

Independentemente dos esforços que temos feito, o curioso é que os tais tipos de Bruxelas quando decidiram os famigerados 3% certamente que quereriam (?) que isso se aplicasse a todos os países da União Europeia. E o curioso é que países com uma economia bem mais robusta do que a portuguesa ainda estão em pior situação do que nós. Entre outros, a Inglaterra tem um défice de 5,2%, tal como a França e, até a Finlândia que tanto nos criticou, está com um défice acima dos 3%. A Espanha terá um défice de 4,6% em 2015 e de 3,9% em 2016.

O que eu quero concluir é que, com jeitinho, ainda vamos ser apontados como um exemplo a seguir ...

terça-feira, maio 19, 2015

Uma VERGONHA !!!!



Sabem como o tema futebol tem sido tão poucas vezes autorizado a entrar neste espaço (apesar de eu gostar muito de futebol). Mas o que aconteceu no passado domingo em Guimarães e em Lisboa, para além do jogo que decidiu o título a favor do clube do meu coração, justifica a excepção. Contemos isto em dois capítulos.

O primeiro, em Guimarães, que se divide em duas partes: um polícia (um oficial, um graduado) que agrediu brutalmente à bastonada um homem de quarenta e poucos anos que se fazia acompanhar de dois filhos de 9 e 13 anos e do pai, um senhor com perto de 70 anos. Uma acção violenta, gratuita e desproporcionada contra um adepto que, segundo as suas palavras, só queria sair do túnel de acesso à rua porque os filhos estavam assustados pelo barulho e movimentação que se verificava no estádio. Pois, sem mais, levou um enxerto de pancada diante dos olhos dos filhos apavorados e do pai, também ele empurrado e agredido, por ter tentado socorrer o filho. Segundo o relatório da polícia, o homem terá faltado ao respeito às forças da ordem e terá cuspido ao polícia. Ainda que isso tivesse acontecido, continuava a não se justificar a violência a que assistimos (graças a uma câmara de televisão que estava no local). Quanto aos miúdos, eles viram o que nenhum miúdo pode ver e não sabemos sequer que sequelas poderão ficar marcadas nas suas cabeças.
Relativamente ao que se passou dentro do estádio provocado por alegados adeptos benfiquistas - destruição de cadeiras e de casas de banho, saque de bares e instalações do clube minhoto - também não há qualquer desculpa e merece uma total reprovação. Aí sim, a polícia deveria ter intervido e dispersado com a força necessária essa turba de vândalos que não são benfiquistas nem são de qualquer outro clube. São apenas, e só, selvagens que deviam ser presos.

O segundo capítulo tem a ver com o que se passou na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa. O Benfica tinha assegurado a conquista do Bi-Campeonato de futebol, coisa que já não acontecia há 31 anos. Muitos milhares de pessoas estavam nas ruas, gente que era do SLB (ou não), famílias inteiras a desfrutar o movimento, o entusiasmo, o colorido da alegria natural que os adeptos e simpatizantes de um clube sentem quando conquistam um campeonato, seja ele de que modalidade for, e ainda mais quando se trata de futebol. A festa estava bonita e o exotismo, a criatividade e a exuberância de muitos que por lá andavam faziam de uma noite já de si agradável, a noite perfeita para a festa. Só que ... uns quantos arruaceiros (e também uns quantos polícias que não souberam lidar com as provocações) resolveram estragar o momento. E o pior aconteceu. Pedras e garrafas foram atiradas pelo ar, houve cargas de polícia, insultos e ódios à solta à mistura com muito álcool consumido.

O que deveria ter sido uma noite para lembrar foi uma noite para esquecer. E é urgente que se reflicta sobre o que aconteceu. E, sobretudo, que se tirem as devidas ilações. A polícia tem que garantir a segurança dos cidadãos e os desordeiros têm que ser presos e condenados. O Benfica e os outros clubes merecem certamente que os seus adeptos possam assistir, vibrar, comemorar com os seus feitos (ou nos seus jogos) em paz e absoluta tranquilidade, com a família e os amigos. O que aconteceu no domingo foi uma VERGONHA !!!!



sexta-feira, maio 15, 2015

Uma certa forma de discriminação ...

                                                                  


Tudo o que tenha a ver com tratamentos desiguais ou injustos, com base em preconceitos de alguma ordem, arrepia-me. Ainda mais, em liberdade, "fazer distinções" pode ser muito perigoso.

Vem isto a propósito do anúncio de que os trabalhadores do fisco iriam receber um prémio por terem conseguido ultrapassar os objectivos de cobrança definidos, prática que, aliás, já vem de longe. E se, em princípio, concordo com a atribuição de prémios de produtividade - quem mais faz e com melhor qualidade deve ser recompensado (é justo atribuir-se um prémio ao empenho e à competência) - o que me causa mais dúvidas é saber porque carga de água só aos trabalhadores da máquina fiscal têm este tipo de benefício e são esquecidos os outros funcionários do Estado como sejam os da Segurança Social (onde também há cobrança coerciva de dívidas) ou aos enfermeiros dos hospitais públicos ou aos cantoneiros a trabalhar nas autarquias, por exemplo.

Será justo premiar-se a competência e a dedicação dos trabalhadores do fisco e ignorar-se todos os outros competentes e dedicados funcionários públicos? Não haverá aqui uma certa forma de discriminação?



quarta-feira, maio 13, 2015

Alguém para o Acordo Ortográfico? (sim, para é mesmo sem acento)



E "prontos" (esta não é ao abrigo do acordo nem sem o acordo) a partir de hoje, dia 13 de Maio de 2015, as regras do Acordo Ortográfico são mesmo obrigatórias. Terminou oficialmente (embora haja interpretações jurídicas que não acompanham a interpretação do Governo) o período de transição. A partir de agora a grafia antiga será considerada erro. Acabou-se.

Eu sei que o Acordo Ortográfico foi apresentado como um compromisso para a harmonização da língua portuguesa nos países lusófonos. Mas se o mesmo AO ainda nem sequer foi ratificado por todos os países e se até no Brasil, o país com mais falantes de português, continua a haver uma enorme polémica tendo a Presidente Dilma Rousseff alargado o período de transição até Janeiro do próximo ano, qual é a pressa de Portugal pôr isto em andamento? Será pela velha mania de parecermos o "bom aluno"? É até curioso que no Brasil esteja a ser estudada a possibilidade de aproximar ao máximo a escrita da pronúncia, simplificando a ortografia, o que poderá dar coisas como ‘xuva’ em lugar de chuva ou ‘omem’ em lugar de homem. Uma lindeza ...

E embora a percentagem de palavras alteradas seja apenas de uns meros 1,56%, ainda assim, e como sabem, estou em completo desacordo com o novo AO. Por isso, e correndo o risco que me chamem teimoso ou deixem de me ler, continuarei a escrever da mesma forma que sempre fiz. Antes isso de que me acusem do desaparecimento do acento na palavra 'cágado'. Fiz-me entender?


terça-feira, maio 12, 2015

Uma questão de memória ...



É curioso ouvir as mesmíssimas pessoas que não paravam de queixar-se do frio e da chuva, do Inverno que não acabava mais e que, agora, com sol e calor, dizem já estar fartas das temperaturas altas. Exactamente como aconteceu a António Costa que era acusado de não apresentar propostas para mudar o rumo do país e que, agora que começou a dizer ao que vinha, logo lhe caíram em cima afirmando que as medidas não são exequíveis (sob pena de mergulharmos de novo no mais fundo dos buracos) e que aí está a demagogia no seu máximo esplendor. Por outras palavras, preso por ter cão e preso por não ter.

Mas como sou uma pessoa bem intencionada, prefiro pensar, no que toca ao líder do PS, que a questão não passa da habitual trica partidária. Já no que respeita ao tempo, a única responsável é capaz de ser a falta de memória.

Falta de memória que, aliás, é muito comum cá pelo burgo. Como aconteceu, por exemplo, durante os trabalhos da recente comissão de inquérito ao caso BES/GES em que o país teve a ocasião de ver e ouvir como competentíssimos, consideradíssimos e premiadíssimos gestores, mostraram ter uma memória péssima quando confrontados pelos deputados. Não se lembravam dos factos, deles não tinham conhecimento ou não estavam em condições de assegurar se tinham alguma coisa a ver com as decisões tomadas. E certamente que se esperava uma memória mais consistente de quem mandava em tanta coisa ou era o dono disto tudo.

E o que dizer do desmemoriado Primeiro-Ministro Passos Coelho que depois de ter prometido mundos e fundos na campanha eleitoral de 2011 se esqueceu da maioria das promessas e fez precisamente o seu contrário?

Enfim, a minha memória também já não é o que era mas, para que conste, sinto-me bem com o tempo quente que se tem feito sentir.

quarta-feira, maio 06, 2015

TAP - a greve injusta



Depois dos primeiros cinco dias de greve dos pilotos da TAP, está confirmado que os prejuízos financeiros são enormes e que esta paralisação elitista é tremendamente impopular. É certo que as greves, de uma forma geral, prejudicam sempre alguém mas esta, sobretudo pela duração prevista e pelos impactos negativos que provoca não só na empresa como no turismo, no comércio e na economia em geral, conseguiu a condenação da maioria da população, dividir a classe dos pilotos e provocar uma clara divisão entre os pilotos e os restantes trabalhadores da empresa. Isto, claro está, para além de estar a causar danos irreparáveis na confiança que os passageiros - portugueses e não só - tinham na nossa companhia aérea. E como se o estrago não fosse já suficiente (ainda só vamos em metade dos dias previstos), o Sindicato já admite uma nova paralisação daqui a um mês, justamente na última semana de Maio ou mesmo nos feriados de Junho, uma altura forte em termos de transporte aéreo e turismo.

Não sei bem o que move (alguns) pilotos a fazerem esta greve. E as explicações do Sindicato são tão confusas que também não ajudam a esclarecer o que de facto pretendem. Aliás, com um processo de privatização em curso (goste-se, ou não, da ideia) é difícil perceber a posição dos pilotos.

Como li algures, "esta greve é legal mas é errada nos motivos, na proporção e até na moral". E o constitucionalista Jorge Miranda foi mais longe: "Esta greve é das coisas mais injustas que já vi ... se houver nova paralisação, o Governo não deve hesitar: a requisição civil justifica-se inteiramente".

terça-feira, maio 05, 2015

Amigo Loureiro, venha de lá um Abraço ...



A não ser que a amizade (a AMIZADE a sério) tenha falado mais alto, parece inacreditável que o Primeiro-Ministro tenha feito um rasgado elogio público a Dias Loureiro. Mesmo atendendo a que Loureiro estava na sala daquela queijaria, em Aguiar da Beira, que Passos Coelho tinha ido inaugurar e que ele até é natural da terra, o encómio é demasiado estranho e fere-nos os ouvidos.

Disse Passos:

"conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos".

Concordarão que é esquisito ouvir tão vibrante elogio dirigido a Manuel Dias Loureiro, o mesmo que foi secretário-geral do PSD, Ministro, Conselheiro de Estado, Administrador do BPN e detentor de todo um historial que os portugueses bem conhecem. O mesmíssimo Loureiro que na sequência do escândalo BPN e de ter mentido ao Parlamento acabou por se demitir de Conselheiro de Estado e de se afastar da vida política.

E, como referi, ou isto foi um gesto de grande AMIZADE (escusado em público e tendo em conta que a amizade tem limites que certas funções não podem nem devem ignorar) ou Passos Coelho, influenciado pelos vapores do leite na cerimónia de inauguração da queijaria, meteu, uma vez mais, os pés pelas mãos. Bastava - digo eu - que, nos bastidores, tivesse dito "Oh Manel, venha de lá um abraço".