Há uns dias tive que ir a uma Repartição de Finanças. Eu sabia concretamente o que me levava lá, mas, o que querem, ir às Finanças, ou à Polícia ou ao Tribunal, ainda hoje tem muito de intimidatório. Dá-nos a impressão que, independentemente do que nos faz lá ir, logo à partida, já somos culpados de qualquer coisa, e que, na maioria das vezes, sabemos que não vamos conseguir arranjar uma boa desculpa que justifique a nossa falta.
Bem, de qualquer forma, ia tranquilo e entrei decididamente. Reparei que eram exactamente dez e meia da manhã.
A sala estava “à pinha”, cheia de tão cheia. A custo cheguei-me à zona onde estavam três maquinetas com senhas de vez. A que tinha o número 1 indicava que quem tirasse uma daquelas senhas poderia tratar de:
Contribuição Autárquica, Imposto de Selo, Avaliações, Sisa, Imposto sobre Sucessões e Doações e imposto Rodoviário.
A máquina que tinha o número 2 indicava:
Execuções Fiscais, Contra-Ordenações, Recursos, Reclamações Graciosas e Impugnações.
Finalmente, a máquina 3, mostrava a indicação:
Cadastro, IVA, IRS e IRC.
Já era alguma coisa. Havia organização e havia senhas de vez, o que facilitava a vida às pessoas.
Logo que pude fugir a uma espécie de abraço a que tinha ficado preso pela multidão, quando tirei a minha senha, comecei a fazer o reconhecimento da população que me cercava.
Muitas eram pessoas idosas, muitos eram africanos, e havia muita gente que, embora pudesse estar incluída na chamada população activa (dita trabalhadora), eu juraria que deveria ter a maior das dificuldades em saber fazer as perguntas necessárias e muito menos argumentar o que quer que fosse com os funcionários, caso houvesse necessidade. Parecia ser gente muito simples que, em última análise, nunca fariam qualquer pergunta. Por timidez ou, simplesmente, por vergonha.
Imaginei que muitos dos meus companheiros de circunstância, devem ter sofrido alguns calafrios quando pousaram os olhos na placa que indicava “Execuções Fiscais”, ou naquela outra que rezava “Impugnações”. Será que algum deles pensou perguntar a algum funcionário o que é que aquilo queria dizer? Ganhariam alguma coisa com isso? Ou teriam já a certeza de que receberiam uma resposta torta ou uma expressão de desdém, da parte de algum funcionário mais arrogante, para quem aquelas expressões técnicas eram tão óbvias, que fazia daquela gente que tinha tido a ousadia de lhes colocar tais perguntas, uns seres absolutamente desprezíveis?
As horas iam passando, os números de vez, nem tanto. Sentia-se a impaciência a crescer. A impaciência dos contribuintes, claro está. Havia donas de casa que, provavelmente, estavam preocupadas com o almoço que ainda tinham que preparar para os maridos, para os filhos e, quem sabe, se para os netos. Havia pessoas que tinham pedido para faltar ao serviço da parte da manhã mas que já sabiam que os patrões não iriam compreender quando elas só aparecessem ao fim da tarde. Havia diabéticos que necessitavam urgentemente de comer. Havia pessoas com problemas físicos, que não tinham sequer cadeiras para se sentar. Havia criancinhas que já tinham superado, em muito, as impaciências dos próprios pais e gritavam e choravam cada vez mais alto, tornando o ambiente ainda mais insuportável.
Tinha chegado por volta das dez e meia. Quando saí, cerca das três da tarde, estava completamente exausto.
E voltei a pensar nos meus companheiros de infortúnio que, muitos deles, poderiam ter evitado toda aquela incomodidade se a resolução dos seus problemas pudesse ser efectuada pela Internet. Sim, sem dúvida, se eles tivessem acesso à net, se os modelos fossem facilmente compreensíveis e se, principalmente, eles soubessem trabalhar minimamente com um computador.
Por isso, e para a próxima, só lhes resta uma coisa, voltar novamente às Finanças, e esperar, esperar e esperar, fiel àquele velho dito popular “Espera Galego”.
Bem, de qualquer forma, ia tranquilo e entrei decididamente. Reparei que eram exactamente dez e meia da manhã.
A sala estava “à pinha”, cheia de tão cheia. A custo cheguei-me à zona onde estavam três maquinetas com senhas de vez. A que tinha o número 1 indicava que quem tirasse uma daquelas senhas poderia tratar de:
Contribuição Autárquica, Imposto de Selo, Avaliações, Sisa, Imposto sobre Sucessões e Doações e imposto Rodoviário.
A máquina que tinha o número 2 indicava:
Execuções Fiscais, Contra-Ordenações, Recursos, Reclamações Graciosas e Impugnações.
Finalmente, a máquina 3, mostrava a indicação:
Cadastro, IVA, IRS e IRC.
Já era alguma coisa. Havia organização e havia senhas de vez, o que facilitava a vida às pessoas.
Logo que pude fugir a uma espécie de abraço a que tinha ficado preso pela multidão, quando tirei a minha senha, comecei a fazer o reconhecimento da população que me cercava.
Muitas eram pessoas idosas, muitos eram africanos, e havia muita gente que, embora pudesse estar incluída na chamada população activa (dita trabalhadora), eu juraria que deveria ter a maior das dificuldades em saber fazer as perguntas necessárias e muito menos argumentar o que quer que fosse com os funcionários, caso houvesse necessidade. Parecia ser gente muito simples que, em última análise, nunca fariam qualquer pergunta. Por timidez ou, simplesmente, por vergonha.
Imaginei que muitos dos meus companheiros de circunstância, devem ter sofrido alguns calafrios quando pousaram os olhos na placa que indicava “Execuções Fiscais”, ou naquela outra que rezava “Impugnações”. Será que algum deles pensou perguntar a algum funcionário o que é que aquilo queria dizer? Ganhariam alguma coisa com isso? Ou teriam já a certeza de que receberiam uma resposta torta ou uma expressão de desdém, da parte de algum funcionário mais arrogante, para quem aquelas expressões técnicas eram tão óbvias, que fazia daquela gente que tinha tido a ousadia de lhes colocar tais perguntas, uns seres absolutamente desprezíveis?
As horas iam passando, os números de vez, nem tanto. Sentia-se a impaciência a crescer. A impaciência dos contribuintes, claro está. Havia donas de casa que, provavelmente, estavam preocupadas com o almoço que ainda tinham que preparar para os maridos, para os filhos e, quem sabe, se para os netos. Havia pessoas que tinham pedido para faltar ao serviço da parte da manhã mas que já sabiam que os patrões não iriam compreender quando elas só aparecessem ao fim da tarde. Havia diabéticos que necessitavam urgentemente de comer. Havia pessoas com problemas físicos, que não tinham sequer cadeiras para se sentar. Havia criancinhas que já tinham superado, em muito, as impaciências dos próprios pais e gritavam e choravam cada vez mais alto, tornando o ambiente ainda mais insuportável.
Tinha chegado por volta das dez e meia. Quando saí, cerca das três da tarde, estava completamente exausto.
E voltei a pensar nos meus companheiros de infortúnio que, muitos deles, poderiam ter evitado toda aquela incomodidade se a resolução dos seus problemas pudesse ser efectuada pela Internet. Sim, sem dúvida, se eles tivessem acesso à net, se os modelos fossem facilmente compreensíveis e se, principalmente, eles soubessem trabalhar minimamente com um computador.
Por isso, e para a próxima, só lhes resta uma coisa, voltar novamente às Finanças, e esperar, esperar e esperar, fiel àquele velho dito popular “Espera Galego”.
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