Morre lentamente ...
Quem não viaja, quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente ...
Quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente ...
Quem evita uma paixão,
Quem prefere o “preto no branco” e os pontos nos “ii”,
A um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente ...
Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente ...
Quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço
Muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!
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Pablo Neruda, poeta chileno (1904/1973), de seu verdadeiro nome Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, foi um dos mais importantes poetas e escritores em língua castelhana do século XX.
Recebeu o Nóbel da Literatura em 1971.
1 comentário:
Eu nem aprecio particularmente poesia, mas este tem muito sumo.
É lindíssimo.
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