quarta-feira, dezembro 12, 2007

O "Tratado de Lisboa" e os acordos


É amanhã formalmente assinado na capital portuguesa o denominado “Tratado de Lisboa”. Para que fosse possível chegar a um consenso com os líderes europeus sobre o novo Tratado reformador, foi necessário um persistente e difícil trabalho diplomático da presidência portuguesa e da ajuda preciosa de alguns outros responsáveis europeus, nomeadamente a chanceler alemã Angela Merkel. Só com grande paciência e habilidade política foi possível ultrapassar todos os obstáculos e conseguir os acordos necessários para que se tornasse possível este objectivo da União Europeia e da Presidência Portuguesa em particular.


Mas não é deste “Tratado de Lisboa” que amanhã irá ter a presença dos 27 chefes de Estado e de Governo da União Europeia que vos quero falar hoje, pese embora a importância que ele efectivamente tem para a Europa comunitária.

Tão-pouco vos vou falar de um outro “Tratado de Lisboa”, este firmado entre as monarquias da Península Ibérica, em 1864, em que se fixaram definitivamente as fronteiras ainda hoje vigentes entre Portugal e Espanha, exceptuando Olivença que, neste momento, não vem ao caso.


Então do que é que eu pretendo falar hoje, perguntarão inquietos os meus amigos? Justamente dos acordos que estão subjacentes aos “Tratados”. E porquê dos acordos, o que é que eles me preocupam?

NADA, absolutamente NADA! A não ser ...


A não ser a forma como quase toda a gente pronuncia a palavra de uma forma errada, ou seja, dizem “acórdos” quando deveriam pronunciar “acordos” com o o fechado. A toda a hora políticos, membros do governo, jornalistas e pessoas anónimas incorrem nesta asneira crassa quer na Assembleia da República, nos telejornais, em entrevistas, em debates, em tudo o que é sítio. Para mais, muitas dessas pessoas tinham a obrigação e o dever de saber dizer correctamente o plural da palavra, já que, muitos deles, têm assessores que não estão lá apenas para ganhar dinheiro.

Claro está que já tenho ouvido pronunciar a palavra de forma correcta (mal seria que ninguém o soubesse), como o fazem, por exemplo, Pacheco Pereira, Judite de Sousa ou Rodrigo Guedes de Carvalho.


Mas, então, qual é a regra, como é que em português se deve pronunciar correctamente o plural de acordo?

Os substantivos e os adjectivos terminados em o átono, cuja tónica é o fechado, geralmente formam o plural com alteração do timbre da vogal tónica, ou seja, mudando o o fechado para o aberto.

Poder-se-ia, portanto, pensar que o plural de acordo seria acordos (leia-se acórdos). Mas não.

Na verdade, há um conjunto de palavras que mantêm no plural o o fechado característico do singular, como sejam por exemplo: acordos, adornos, bolos, bolsos, cachorros, cocos, consolos, encostos, molhos *, pescoços, etc., etc..

* atenção que os molhos com o fechado dizem respeito a condimentos, por exemplo os diversos molhos que podem acompanhar bifes. Se pronunciarmos molhos (mólhos), com o aberto, estamos, evidentemente, a falar de feixes de qualquer coisa, por exemplo, molhos de alecrim.

A este fenómeno que consiste na alteração do timbre da vogal tónica por influência da vogal átona final, dá-se o nome de metafonia.


Meus caros, esta abordagem àquilo a que poderíamos chamar “o bom português” tem uma finalidade clara. A de podermos todos alertar e ajudar os mais distraídos, recordando que o plural de acordo não é “acórdos”, mas sim acordos, com o fechado.

Estamos de acordo?

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