Acredito que muita gente terá ficado deveras chocada, quando veio a público que o ex-presidente da Comissão Executiva (CEO) do Banco Comercial Português (BCP), Paulo Teixeira Pinto, saiu há cinco meses do grupo com uma indemnização de 10 milhões de euros e com o compromisso de receber até final de vida uma pensão anual equivalente a 500 mil euros, ou seja, qualquer coisa como trinta e cinco mil euros por mês, catorze meses por ano.
Eu sei que o dinheiro não é tudo mas quando, neste início de ano, tanto se tem falado nas reformas dos pensionistas (das reformas extremamente baixas da esmagadora maioria dos pensionistas deste país), não posso deixar de ficar indignado com esta brutal discrepância entre as reformas de uns quantos privilegiados e as dos outros, a tal repugnante assimetria que eu tantas vezes aqui tenho condenado.
Claro está que não podemos comparar o incomparável. Mas a verdade é que enquanto que qualquer profissional reformado pode ir trabalhar se quiser e ... se arranjar emprego, o que eu duvido, Paulo Teixeira Pinto ao renunciar ao lugar, que ocupava há mais de dois anos, assinou um compromisso que o impede de voltar a exercer funções em instituições bancárias ... a troco de uma indemnização de 10 milhões de euros. Ainda que tenha constado nestes últimos tempos que ele já arranjou ocupação na administração de duas entidades não bancárias.
Dirão alguns, lá está ele a falar outra vez no dinheiro que os outros ganham ou, que se o homem ganhou este belo euromilhões é porque merece mesmo toda aquela fortuna ou, ainda, que são descabidas as comparações entre as reformas dos vários trabalhadores. Talvez sim ...
Porém, mesmo correndo o risco de desagradar a quem me leia e recordando para os que andam mais distraídos que o salário do Presidente da República em exercício anda pelos 7260,00 euros, ainda assim, afirmo que não calarei a minha voz perante tão provocatória discriminação salarial entre trabalhadores (reformados ou não) deste país, ainda que Teixeira Pinto até pudesse ser considerado o maior dos gestores portugueses.
E não me calo porque, como dizia Mário Soares e recordava esta semana o jornalista Fernando Madrinha, “todos temos o direito à indignação”!
3 comentários:
Assim se escreve direito por linhas tortas.
Então era por causa da enorme diferença entre o seu vencimento de trabalhador no activo e a pensão do ex-presidente do BCP que o Presidente Cavaco, no seu discurso de Natal, se referiu aos vencimentos demasiado crescidos dos altos gestores das empresas privadas e públicas? Seria mesmo por isso?
Meus caros, estamos perante uma lição básica, sobre o SABER e o seu VALOR.
Todos sabemos quão importante é o saber, quão importante é ter a formação e a informação necessária no momento adequado. De facto, e pela posição ocupada, o P.T.Pinto tinha-a.
Numa lógica de Mercado, a "coisa" vale não pelo seu aspecto intrínseco, mas pelo que está ou estão os outros disponíveis a pagar.
Agora sabemos quanto valia no momento e para o futuro o silêncio do sr.Pinto.
Venditio ad mensuram: (Venda de acordo com a medida)
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