O texto que se segue – cujo título faz lembrar vagamente o de algum livro do escritor argentino Jorge Luís Borges - chegou-me através de mail e, presumivelmente, tratar-se-á de um relato verdadeiro. Mas, ainda que não o seja, eu sinto – e alguns de pensarão o mesmo – que há muito de verdade na “evolução” do que tem sido o ensino da matemática nestas últimas décadas no nosso país.
Culpa dos professores? Culpa dos estudantes? Culpa de quem pensa e elabora os programas? Se calhar de todos. A verdade, porém, é que existe um sentimento geral de que hoje se sabe menos das matérias incluídas nas disciplinas ditas fundamentais para o conhecimento, nomeadamente a matemática, o português, a geografia e outras.
A propósito, e sem querer atear ainda mais o já quente dossier dos professores, diria ainda, e de certo modo a este propósito, que se soube finalmente esta semana que o modelo de avaliação apresentado pelos sindicatos dos professores mais não é do que um processo de auto-avaliação, cujo resultado, na minha perspectiva, visa juntar num mesmo patamar os bons e os maus professores, os mais experientes e os aprendizes, isto é, pretende que, na prática, nada se altere para que tudo fique como antes.
Mas vamos lá, então, ao relato de uma professora de matemática:
“Na semana passada comprei um produto que custou 1,58€. Dei à empregada 2,00€ e da minha bolsa tirei mais 8 cêntimos, para evitar receber muitas moedas.A pequena pegou no dinheiro e ficou a olhar para a máquina registadora, aparentemente sem saber o que fazer.Tentei explicar que ela tinha que me dar 50 cêntimos de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la.Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender.
Por que estou a contar isto? Porque me dei conta da evolução do ensino da matemática desde 1950, que foi assim:
1. Ensino da matemática em 1950:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda .Qual é o lucro?
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2. Ensino de matemática em 1970:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda, ou seja, €80,00.Qual é o lucro?
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3. Ensino de matemática em 1980:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.Qual é o lucro?
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4. Ensino de matemática em 1990:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é €80,00.Escolha a resposta certa, que indica o lucro:( )€ 20,00 ( )€40,00 ( )€60,00 ( )€80,00 ( )€100,00.
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5. Ensino de matemática em 2000:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.O lucro é de € 20,00.Está certo?( )SIM ( ) NÃO _________________
6. Ensino de matemática em 2008:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção é € 80,00.Se você souber ler coloque um X no€ 20,00.( )€ 20,00 ( )€40,00 ( )€60,00 ( )€80,00 ( )€100,00
O desabafo da professora, para além da ironia implícita, constitui um lancinante grito de revolta e de desespero. Óbviamente, que o subscrevemos por inteiro.
2 comentários:
Efectivamente, e na minha opinião, o aproveitamento escolar nas disciplinas de Matemática e de Português tem vindo a piorar. Penso que todos temos um pouquinho de culpa nesta questão, pois estamos cada vez mais preguiçosos para desenvolver uma das melhores funções que temos, aquela que nos permite olhar para tudo o que nos rodeia de uma forma diferente, e não seguirmos em vão as opiniões dos outros. Como é que os mais jovens podem desenvolver essa capacidade de raciocinar, se desde a mais tenra idade já levam para a escola, essas máquinas que permitem realizar até as mais complicadas funções matemáticas? Pois é, é mais fácil perguntar ou fazer uma operação matemática do que utilizar aquilo que os Gregos chamavam de “logos” (razão). Segundo René Descartes, não existem pessoas inteligentes, nem pessoas burras, apenas umas conduzem melhor a razão do que outras. Concordo com este Filósofo Francês, pois cada vez mais, e num mundo onde o tempo é um bem precioso, as pessoas se recusam a perder “tempo” para pensar. De facto, e se olharmos em nosso redor, seremos levados a concordar com Damásio quando diz “Não é preciso pensar para existir” (erro de Descartes), pois cada vez mais e infelizmente, “existem” pessoas que não pensam.
"perder" tempo para pensar já é um sinal de burrice.
Portanto, e contrariando Descartes, existem pessoas burras.
Quanto ao que diz Damásio "Não é preciso pensar para existir", formularia a questão de uma outra maneira:
"existir sem pensar não é viver".
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