segunda-feira, junho 24, 2013

Apanhou um papel e ... comeu-o



Um dos assuntos mais caricatos destes últimos dias foi o facto de Luís Carito (na fotografia), o vice-presidente da Câmara de Portimão, ter tirado um papel das mãos de um inspector da Polícia Judiciária e o ter engolido, durante uma busca realizada à sua residência. O episódio foi interpretado pelo Ministério Público como uma perturbação do inquérito e, por isso, prendeu-o preventivamente. A validade do documento em termos de prova estava a ser analisada pelos inspectores quando Luís Carito o agarrou e o engoliu.

Pensava que cenas destas só aconteciam em filmes de espionagem.

No cerne desta investigação há toda uma alegada teia de influências, de ajustes directos e favorecimentos a "empresas amigas", incluindo uma pertencente à companheira de Luís Carito. A Câmara (a de maior endividamento per capita do país) - através de empresas municipais, nomeadamente a Úrbis - foi lesada em vários milhões de euros. Consultorias várias, o projecto de uma Cidade do Cinema que nunca saiu do papel, o pagamento de fogos de artifício, várias transferências duvidosas para o Portimonense e outras artimanhas supostamente ilegais fez voar, sem justificação aparente, muito dinheiro dos cofres da CMP para outras empresas. A investigação indicia suspeitas de corrupção, branqueamento, administração danosa e participação económica em negócio. Crimes, em suma.

Quanto ao aspecto marginal da coisa - o homem ter roubado o papel ao polícia e o ter engolido (ao papel) - se não foi uma manifestação de desespero por se julgar vítima de injustiça, então foi a prova que o documento era altamente comprometedor para ele. E isso não o vai ajudar. Mas, confesso, quando li a notícia, não pude deixar de pensar na canção do Zeca: "Eles comem tudo, eles comem tudo ..."

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