Ao aproximar-se da mesa do restaurante onde almoçávamos não a reconheci de imediato, talvez porque não envergava aquele avental que lhe servia de farda quando trabalhava lá.
Com a chegada da crise, ela foi dispensada e fez-se à vida, trabalhando a espaços dentro da mesma área, sem contratos e, em muitos casos, só sabendo na véspera se, no dia seguinte, iria ser necessária. Agora, aos cinquenta e poucos anos, estava de novo desempregada.
"Mas tem subsídio de desemprego ...", arriscámos. Não, não tinha, nem nunca descontou. Ao princípio porque ninguém a tinha alertado para as vantagens de efectuar descontos que a protegessem no futuro e, quiçá, porque os salários eram muito baixos. Depois, porque só foi conseguindo trabalho na condição de não fazer qualquer desconto nem haver compromissos escritos.
Este é um dos aspectos negros da economia paralela (que provavelmente tem aumentado na nossa sociedade) que rouba a dignidade a quem quer trabalhar.
Contudo, apesar das dificuldades, percebi nela um olhar de esperança, uma resignação inconformada, uma vontade grande de viver e de continuar a superar os obstáculos que lhe apareçam pela frente. Mas para além da coragem vai precisar também de muita sorte ...
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