terça-feira, abril 14, 2015

Desperdício alimentar



Arrepiam-se-me as entranhas sempre que oiço falar em desperdício alimentar. Resultado (provavelmente) da forma como fui educado e do facto dos meus pais me terem ensinado a dar valor à comida. Talvez porque se recordavam ainda dos efeitos da escassez de alimentos que a Grande Guerra provocara, a política lá de casa regia-se por dois princípios fundamentais impostos pelo Pai e que nunca se questionavam: o primeiro era "aqui gosta-se de tudo" e, o segundo, "come-se tudo o que está no prato" (e ai de quem não comesse, gostássemos ou não).

Os anos passaram, vieram épocas de vacas gordas e o consumismo chegou. E, com ele, o desperdício. Hoje, apesar das dificuldades provocadas pela austeridade (as vacas emagreceram muito), continuamos a desperdiçar muitos alimentos. A começar nas nossas casas onde se deita fora (por má gestão doméstica) uma quantidade enorme de alimentos já cozinhados ou passados de prazo. Mas também nos restaurantes onde é frequente verem-se pratos de comida quase cheios serem despejados directamente para o lixo. Ainda há dias foi noticiado que nas Cantinas de Coimbra foram registadas oito toneladas de desperdício alimentar por mês. Tudo isto enquanto milhares de portugueses não têm que comer.

Mas o desperdício alimentar tem uma outra vertente que reflecte uma profunda desigualdade entre a parte desenvolvida do mundo e a outra parte mais desfavorecida. Segundo a FAO, Organismo das Nações Unidas para a Alimentação, no tal mundo desenvolvido (de que fazemos parte) todos os anos são deitados para o lixo um terço dos alimentos que não consome (um terço dos 4 mil milhões de toneladas de alimentos produzidos), enquanto na outra parte (sobretudo em África) há 805 milhões de pessoas com fome. Por ano morrem 2,5 milhões de crianças devido à má nutrição. É tremendamente injusto. E não acham que é de nos arrepiarmos?

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