Ao reler a minha última crónica, vieram-me à memória algumas das frases que, de tempos a tempos, são "inventadas" geralmente por um qualquer programa de televisão, que se propagam como epidemia e faz com que toda a minha gente as empregue, sempre que abrem a boca.
Ainda não há muito tempo ouvia-se a quase toda a hora o “Tás a ber?”, dita e redita por aquele moço trigueiro, o Mário, do primeiro Big Brother, lembram-se? ou aquela outra, mais recente, “vai lá vai…até a barraca abana”, de uma das cenas dos Malucos do Riso.
A propósito do que quer que seja, o povão nem pensa duas vezes e encaixa às mil maravilhas estas preciosidades linguísticas que quase sempre significam nada, e nada acrescentam nem ao que querem dizer, se é que querem dizer alguma coisa, nem à qualidade da linguagem.
Mas se a maioria delas tem o condão de me irritar, esta moda de começar as frases por “Então é assim…” dá-me uma brotoeja dos diabos.
À simples pergunta “então Joana, como vai ser o teu dia amanhã?” seguramente que a Joana vai responder “Então é assim…”, seguido de uma série de generalidades que não irão responder minimamente ao que foi perguntado. Por acaso não lhe bastaria dizer que estava a pensar ir às compras, ou que gostaria mais de ficar em casa a descansar? O que é que ela acrescentou realmente com aquela introdução? Nada, absolutamente nada.
Eu penso que ao dizer-se “Então é assim…” está-se, sobretudo, a tentar esconder uma enorme hesitação sobre o que realmente se pretende fazer ou dizer. Que, no caso da Joana, se poderia traduzir num “sei lá, tinha pensado ir almoçar fora mas, não sei, a vida está p’ra hora da morte, portanto, talvez vá sair com a Sofia ou comer pasteis a Belém”.
E esta mania de empregar o “Então é assim…” generalizou-se de uma tal maneira que há pessoas que, num conjunto de três ou quatro frases, repetem-na mais do que uma vez.
Outra expressão que agora se usa muito, e que também me dá muita comichão, é o “isto está complicado”.
Não se consegue sair a horas dos empregos porque “isto está complicado”. É melhor não se combinar nada para o próximo fim-de-semana porque “isto está complicado, temos que ir com o Pedrinho à …”. Então, aí em casa como estão? “Olha, isto está complicado, a avó …”.
Ao fim de tantos anos, só agora descobri como tudo isto anda complicado. Dantes, havia alguns problemas, algumas dificuldades, alguns contratempos mas, complicado, complicado, nós não dávamos por isso.
Bom, “isto é assim”, o que vos quero dizer é que, vocês sabem, isto está complicado mas, apesar disso, com um pouco de boa vontade, talvez volte a escrever qualquer coisinha amanhã… claramente que sim (claramente, que é outra expressão que, agora, está muito em voga).
3 comentários:
Mas há mais. Muito mais. Aliás, deixo aqui mais umas que também são profundamente irritantes:
- "Não há condições."
- "Que é mesmo assim" (diferente de "isto é assim". Como em "eu disse-lhe das boas, que é mesmo assim, e o gajo teve que ouvir").
- "Tipo," (como em "oh pá, tipo como quem vai em frente mas vira à esquerda, tás a ver?", ou "é um filme, tipo, para rir").
- "É que é já... a seguir."
Tinha outra que entretanto já me esqueci.
Falamos de expressões que não só não fazem lá nada, como ainda se tornam mais insuportáveis pelo facto entrarem de mansinho no nosso dia-a-dia, instalarem-se e propagarem-se rapidamente, e depois darmos por nós a fraquejar e a utilizar tais termos em conversa.
Isto está complicado … o que é isso da brotoeja?
Santa ignorância, minha cara. Então é assim, segundo o dicionário prático ilustrado da Lello e Irmão - Editores, a brotoeja é uma espécie de erupção cutânea. Valeu?
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