Ao que parece, e de acordo com o noticiado pela “Agência Lusa” e pelo “Semanário SOL” agora é que, finalmente, vai ser assinado o tão anunciado acordo ortográfico da língua portuguesa.
A partir de Janeiro de 2008, os países da CPLP – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste - terão a ortografia unificada. Ou seja, todos iremos escrever da mesma forma o português, que é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol.
Pelo que dizem, o facto de haver duas ortografias dificulta a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Pelo contrário, a sua unificação, facilitará a divulgação da língua. É o que dizem mas, cá para mim o argumento não me convence, muito embora eu saiba que os brasileiros não percebem lá muito bem o que dizemos e os livros de autores portugueses (os poucos que se vendem no Brasil) têm que ser traduzidos para português do ... Brasil. Mas adiante ...
Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário escrito em português de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas, note-se, todas estas alterações dizem respeito apenas a mudanças ortográficas e nada mais.
Cabe-me, porém, colocar algumas reticências quanto à forma como este acordo foi concertado. A pressão exercida pelo Brasil conseguiu levar o nosso país a aceitar um acordo que, provavelmente, nunca desejou e que nunca foi consensual. A língua mãe é portuguesa, nascida em Portugal e foi o Brasil, herdeiro dessa língua, que conseguiu um acordo à sua medida, com uma reduzida percentagem de alterações para eles. E pergunto, será que nestes anos todos em que discutiram o acordo, não tivemos capacidade nem firmeza para impor a nossa vontade? Se isto se tivesse passado com a língua inglesa, será que a Inglaterra se sujeitaria ao mesmo perante os Estados Unidos? Duvido.
O que vai, então, mudar na ortografia?
Vejamos alguns exemplos:
As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros (e os outros) terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".
Mudam-se as normas para o uso do hífen no meio das palavras; O hífen vai desaparecer do meio de palavras, com excepção daquelas em que o prefixo termina em “r”, casos de "hiper-", inter-" e "super-". Assim passaremos a ter "extraescolar", "aeroespascial" e "autoestrada".
Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do substantivo dos verbo "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correcta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem". Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e amámos" em oposição a "amamos".
O trema (brasileiro) desaparece completamente. Estará correcto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquénio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.
O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de "k", "w" e "y". O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição). No Brasil, haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia". O certo será “assembleia”, “ideia”, “heroica” e “jiboia”. Estas duas últimas palavras também levavam acento agudo no nosso país.
Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo será “ação”, “ato”, “adoção” e “batismo”;
Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser grafado como no Brasil: "úmido";
Portugal mantém o acento agudo no “e” e no “o” que antecedem o “m” ou o “n”, enquanto o Brasil continua a usar o circunflexo nessas palavras: académico/acadêmico, génio/gênio, fenómeno/fenômeno, bónus/bônus;
Muito embora o protocolo do “Novo Acordo” deva ser assinado até ao final deste ano, as alterações só produzirão efeito a partir de 2017. Temos, portanto, dez anos para nos acostumarmos à ideia, mas estou em crer que o caos linguístico está para chegar. Parece-me muito difícil que aqueles que, nos diferentes países escreveram o “nosso” português durante anos e anos, consigam agora aprender e redigir a nova grafia que aí vem.
Acredito que para as novas gerações, aquelas que nos próximos anos comecem a aprender a escrever, esta alteração profunda não constitua uma dificuldade mas, para todos os outros, a confusão vai ser enorme. E se hoje já nos queixamos dos frequentes erros ortográficos que vamos vendo por aí, daqui a algum tempo, essas queixas vão aumentar significativamente e todos nós ficaremos incluídos no enorme grupo daqueles que vão escrever mal a nossa língua.
Se calhar, é tempo de voltarmos aos tempos da nossa infância e começarmos, de novo, a fazer cópias e ditados.
Vai ser um verdadeiro “ato” de coragem!
2 comentários:
Vem a propósito a resposta daquele miúdo brasileiro quando a professora lhe perguntou: Qual a função do apóstrofo?
Resposta:
Apóstrofos são os amigos de Jesus, que se juntaram naquela jantinha que Michelângelo fotografou.
Valeu, cara !!!!!!!!!!!!
O escritor Mário de Andrade defendia, sabiamente, que o brasileiro falava uma linguagem própria. A língua brasileira é um misto de português, dialetos indígenas e palavras oriundas d'África e de outros povos europeus.
E, apesar da diferença que há n'alguns termos brasileiros em relação à língua mãe, falamos compreensivelmente bem, e entendemo-nos assim. Sou contra a unificação! As diferenças culturais existem e hão de ser respeitadas!
Abraços sinceros.
Ob: Sou radicalmente contra piadas de mau gosto, as quais descrevem pessoas de nacionalidade diferentes como imbecis. É como generalizar o insulto.
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