segunda-feira, fevereiro 07, 2011

“Parva Que Sou”


Já ninguém tem dúvidas sobre o poder das redes sociais. A sua força é de tal modo avassaladora que a divulgação de determinada causa ou acção pode ter resultados inesperados. O caso dos “Deolinda” é exemplar. O efeito mediático conseguido com a canção “Parva Que Sou” fez com que um simples trabalho musical se tornasse num hino de várias gerações de jovens, que nele vêem espelhadas as frustrações perante uma vida a que faltam horizontes e esperança.

Feliz ou infelizmente já passei por várias gerações onde a contestação dos jovens se fazia sentir também através das chamadas canções de protesto. Ouvi e cantei Bob Dylan como o fiz também com José Afonso e Sérgio Godinho. E já era a hora de aparecerem novos trovadores que corporizem todas as ansiedades e angústias dos jovens de agora que vivem de mãos dadas com o desemprego, com a precariedade e com a insegurança de uma vida que não conseguem estruturar.

Daí frases da canção como “Sou da geração sem remuneração”, “Porque isto está mal e vai continuar/já é uma sorte eu poder estagiar” ou “Para ser escravo é preciso estudar”.

Pese embora a letra me pareça um pouco frágil e dando o necessário desconto a alguma demagogia que este tipo de versos sempre acarreta, proponho-me, eu que já sou um “jovem menos jovem” voltar a juntar a minha voz aos “Deolinda” para cantar a nova canção-hino da juventude. Uma “canção de protesto” ou uma “canção da crise” que, da net das redes sociais e dos blogues, se está a transformar rapidamente num movimento de massas.

3 comentários:

Fernando disse...

Demagogia na letra? A letra é um retrato fiel de muitas situações. A minha por exemplo. Até já pensei processar os Deolinda por plágio da minha actual situação. A letra é uma verdade, infelizmente. Não concordo nada contigo em relação à fragilidade e demagogia. abçs

demascarenhas disse...

Como sabemos, o facto de haver uma verdade não impede que essa verdade seja dita para manipular as paixões e os sentimentos. Aí reside a demagogia. Neste caso até pode ter sido de forma inocente mas em política usa-se frequentemente a verdade para se tirarem, apenas, dividendos políticos.

Outra coisa é a adequação da letra de uma canção, ipsis verbis, a uma certa realidade. E é aí que se vê a qualidade do artista. A imaginação e a estética é que tornam as canções fortes ou frágeis. Em contraponto à letra de “Parva Que Sou” que é, na minha opinião demasiada óbvia, recordo a “Tourada” do Ary ou “venham mais cinco” do Zeca. Mas, enfim, é apenas a minha opinião.

O mais grave, Amigo Fernando, é a questão do plágio. Eu também acho que o que aquele grupo merece é um grandessíssimo processo em cima.

Força nisso.

Um Abraço

Fernando Gomes disse...

Olá meu bom amigo,

Pois é verdade, aquilo que os “Deolinda” apresentam agora já não é novo, pois infelizmente é uma situação que muitos de nós assistimos há já demasiado tempo. Apesar dos esforços desenvolvidos por alguns investigadores sociais (José Machado Pais), sobre as questões da juventude e os problemas que a mesma atravessa, pouco ou nada se tem feito no sentido de resolver a situação. De há alguns anos para cá sinto que estamos nitidamente a atravessar aquilo que alguns chamam de “Niilismo”, e a questão está exactamente em saber quando é que tudo isto vai mudar. Teriam os “Sex Pistols” razão já quando nos anos 70, quando gritavam bem alto “NO FUTURE”, teriam os Pink Floyd razão ao afirmarem que somos todos peças de um puzzle, e que a educação escolar deveria ser reformulada? Milhares de Jovens se interrogam hoje em dia, se valerá a pena queimar tantos anos as pestanas para agora não conseguirem trabalho. Os estudos do desemprego estão camuflados e não reflectem de modo algum a realidade social. Se um Jovem deixa de procurar trabalho e investe agora na formação académica, como forma de valorização, é considerado nas estatísticas como estudante, se um jovem desempregado à espera de uma ou duas respostas de entrevistas realizadas, não é considerado desempregado, se um jovem arranjou um “biscate” num fim de semana para trabalhar, e se nesse dia cai na amostra do estudo, então não é considerado desempregado. Alguns estudos são realizados por encomenda e não reflectem a realidade social. Receio pelo que mais temo, o de termos todos ou quase todos andar ao sabor do vento, impotentes para traçar o nosso caminho. De facto, hoje ao olhar para a maioria dos jovens, apenas vejo miúdos completamente perdidos e sós, em que o único objectivo é viver um dia de cada vez. Para quem sempre foi muito “Cartesiano” como eu, que sempre delineou e traçou objectivos, e que ainda acredito que os sonhos comandam a vida, e é essa busca e realização que dá sentido à vida, deve ser muito difícil viver na pele dos jovens de hoje.