O Governo de Passos Coelho sempre fez ouvidos de mercador a quem se opôs às medidas drásticas impostas pela troika e, nomeadamente, à possibilidade de renegociar os prazos de pagamento da dívida. Vários entendidos na matéria, alguns deles da cor dos próprios partidos da coligação governamental, defenderam essa renegociação do programa, afirmando que austeridade em cima de austeridade só podia ter um resultado: a economia iria definhar e, consequentemente, o desemprego subiria e a falência das empresas e das famílias seria inevitável. Mas o Governo manteve-se firme e hirto, irredutível na submissão aos mercados e à Alemanha, sem querer perceber o rumo que o país seguia.
Ainda não há muito, o FMI já tinha admitido que, se calhar, tinha errado em tantas políticas de austeridade impostas aos países com programa. Até Olli Rehn, comissário europeu para os Assuntos Económicos afirmou que Portugal já empobreceu demasiado e que não vivemos acima das nossas possibilidades. Faltava a toda poderosa Directora-Geral do FMI, Christine Lagarde, fazer o "mea culpa". Reconheceu, enfim, que o "erro" em relação aos efeitos da austeridade obrigou Portugal e Grécia a aplicarem programas de ajustamento num espaço de tempo demasiado curto.
Levou tempo a estes "iluminados" reverterem a sua posição e considerarem que "é preciso dar tempo ao tempo". E de reconhecerem, também, os seus erros, nomeadamente que alguns temas não foram suficientemente abordados e explorados a fundo.
Mas o que fazer com tanto arrependimento? Sentimento que, ao que parece, não é assumido pelos técnicos da troika que estão no nosso país a efectuar mais uma avaliação. O que nós gostaríamos mesmo de saber é de que forma vamos ser ressarcidos dos efeitos provocados pelas medidas cegas que têm destruído o tecido económico e dado cabo - a todos os níveis - dos portugueses? Quem é que nos reembolsa?
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