Quando entrei naquela enorme rotunda vi logo uns quantos GNR que faziam uma operação stop. Como não é costume mandarem-me parar, atacava confiante a rotunda quando um braço policial se ergueu, firme e hirto, mandando-me encostar. Depois da costumada e imponente continência e a saudação "Boa tarde senhor condutor" seguiu-se o habitual: a verificação de documentos e as voltinhas ao veículo para ver se tudo estava nos conformes. Finda a inspecção, pediu-me para sair do carro para fazer o teste do balão, o que me aconteceu pela primeira vez.
É curioso, e penso que isso acontece a quase todos, que sempre que polícias, finanças, segurança social ou tribunais nos contactam isso dá-nos uma sensação de insegurança que nos leva a pensar: "Mau, o que é que eu fiz de mal?".
Enquanto me dirigia à carrinha para soprar o balão, disse ao agente "também tenho aqui o comprovativo do pagamento do selo" ao que ele respondeu "não, isso nós não controlamos, eles (a Autoridade Tributária) fazem-no muito melhor do que nós.
A partir daí, foi ouvi-lo vociferar contra tudo e contra todos. Que estávamos num país de faz-de-conta onde todos pagavam e ninguém se revoltava, que eles (os da AT, os políticos e sei lá mais quem ...) eram corruptos e ninguém corria com eles que só queriam "roubar". Eu nem queria acreditar que estava a ouvir um agente da GNR devidamente uniformizado e em funções. Imaginei-me num café onde um (podia até ser aquele) comum cidadão desabafava as suas indignações. O agente só se interrompeu para me perguntar: "o senhor não é das Finanças, pois não?". Sosseguei-o dizendo que não e ele prosseguiu o desabafo.
Por acaso não sou das Finanças, nem sou um oficial superior da GNR, nem sou magistrado nem tenho qualquer poder. Pelo que, perante a verborreia inusitada (mas sentida, sentia-se) do GNR, eu não poderia, ainda que pretendesse, chamar-lhe a atenção ou até, eventualmente, aplicar-lhe qualquer procedimento disciplinar. É que quando se fala demais e, sobretudo, com quem não se conhece, por vezes colhem-se dissabores ... como diz o ditado "quem semeia ventos (pode) colhe(r) tempestades" ...
Depois de outra solene continência mandou-me seguir caminho com a frase do costume: "Boa viagem, senhor condutor".
Ainda mal refeito deste encontro vim andando devagarinho, sempre pensando na revolta não reprimida do agente. E perante tudo aquilo que ouvi da boca dele, não pude deixar de sorrir quando imaginei uma situação em que o agente seria eu e no (possível) resultado mostrado no aparelho se lhe pedisse que fizesse o teste do balão ...
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