Durante o pequeno-almoço do passado sábado, tive um daqueles desabafos que, penso, a maioria das pessoas costuma ter (não necessariamente ao pequeno-almoço), do género “este mês não sei que raio de despesas tive, que o dinheiro foi-se mais rapidamente do que o costume, e não faço sequer ideia para onde”. Apesar das sugestões avançadas pela família “não seria em ...?” ou “provavelmente gastaste no...” acabei por sair de casa sem fazer a mínima ideia de como o dinheiro foi gasto.
Eis senão quando, ao comprar o Semanário Expresso, logo na primeira página e com o devido destaque, vejo escarrapachada a notícia que os 26 maiores hospitais públicos do país não têm o registo dos laboratórios a quem pagaram 55,283 milhões de euros em medicamentos, um valor que corresponde a 11,1 por cento dos gastos totais com medicamentos no ano passado.
Eis senão quando, ao comprar o Semanário Expresso, logo na primeira página e com o devido destaque, vejo escarrapachada a notícia que os 26 maiores hospitais públicos do país não têm o registo dos laboratórios a quem pagaram 55,283 milhões de euros em medicamentos, um valor que corresponde a 11,1 por cento dos gastos totais com medicamentos no ano passado.
Espera aí, pensei, lá que eu não tenha ideia onde é que este mês gastei mais dinheiro do que contava, ainda vá. Mas relativamente aos hospitais, ainda por cima aos 26 dos maiores hospitais públicos como é que se admite que eles não saibam a quem é que pagaram os medicamentos, não, isso aí já é demais. É que estamos a falar de hospitais públicos, cujo accionista é o Estado, estamos a falar dos dinheiros dos contribuintes, instituições que deveriam ter contabilidades devidamente organizadas e actualizadas e sistematicamente auditadas. E não sabem a que laboratórios é que pagaram mais de 55 milhões de euros? Só pode ser brincadeira.
Ao que consta o estudo efectuado pelo Ministério da Saúde, indica que a informação recebida dos hospitais aponta para pagamentos efectuados "para os quais não foi possível identificar os laboratórios” mas, acrescenta, que “os valores estão todos contabilizados”.
Pudera, as verbas estarem contabilizadas é o mínimo que se poderia esperar. Mas isso não é o suficiente, com certeza de que não ficamos descansados só por esse facto.
Não sabemos, por exemplo, se esses pagamentos foram efectivamente feitos e a quem. Aos laboratórios que forneceram os medicamentos ou a terceiros que nada têm a ver com o caso? E, não havendo documentos que identifiquem esses pagamentos, não sabemos também se as verbas pagas foram as correctas ou se haverá por aí uma mãozinha marota que esteja sobre-valorizar a facturação e a respectiva contabilização e a retirar as diferenças para proveito próprio, sabe-se lá de quem.
Na verdade, não há nada mais conveniente do que fazer desaparecer documentos que impossibilitem identificar quando, a quem e por que verbas foram feitos esses pagamentos e se eles foram autorizados por alguém com poderes para tal.
E a responsabilidade, afinal, é de quem?
E estava eu tão preocupado por não me lembrar para onde é que se evaporou o meu dinheirinho...
3 comentários:
A Responsabilidade é de quem? Para não variar não é de ninguém! Até porque daqui a uns dias já ninguém fala nisso, como tudo neste país. Mais milhão menos milhão o que é que isso interessa?
Estas balbúrdias nas contas da saúde deixam-me doente.
Oh demascarenhas não achas que o Ministério da Saúde antes de contratar os gestores hospitalares devia assegurar-se que eles não sofriam de Alzheimer? Como é que os coitados, se vão lembrar a quem pagaram aqueles milhões todos... E ainda querem responsabilizá-los!
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