Hoje trago-vos um inédito de Cesário Verde, de Agosto de 1874, que vi publicado no “Expresso” há uns tempos.
Dizia o semanário: “Aqui se transcreve, ipsis verbis (apesar de arrepios ortográficos, sobretudo no derradeiro e cínico verso, em resposta à mulher de fogo):
Escândalos
Fallava-lhe ella assim:
Não sei porque me odeia,
Não sei porque despreza a luz dos meus olhares,
Se o adoro com fervor, se não me julgo feia,
E o meu olhar eguala as chammas singulares
Do incêndio de Pompeia!
Instiga-me o aguilhão do vício fatigante,
E crava-me o capricho os vigorosos dentes,
Não quero o doce amor platónico de Dante
E sinto vir a febre as pulsações frequentes
Ao vel-o, ó meu amante!
As ancias, as paixões, os fogos, os ardores,
Allucinada e louca, eu vejo que abomina,
E ignoro com que fim, em tempos anteriores,
Enchia-me de gosto a bôca purpurina,
E o seio de calores!
E elle ao vel-a excitante, hysterica, exaltada,
Volveu lhe glacial, britannico, insolente:
“A tua exaltação decerto não me agrada,
E, ó minha libertina! eu quero-te somente
Para mecher salada!”
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