Provavelmente só uma pequena percentagem de miúdos não terá recorrido ao copianço em testes e exames em alguma fase dos seus estudos e numa ou outra matéria de maior dificuldade. Sempre foi assim ao longo de gerações e sempre se deu um “desconto” à batota que os jovens eram tentados a fazer, por vezes de forma muito engenhosa. Há até quem defenda que, de certo modo, a elaboração dessas cábulas eram, para alguns, a única altura em que estudavam.
Mas para tudo na vida há um tempo. E se existem certas atenuantes para tais artimanhas nos adolescentes, não podemos condescender da mesma forma quando o nível de exigência se encontra num patamar mais alto. Com a evolução dos tempos abandonaram-se as tais cábulas mais ou menos artesanais a que muitos professores faziam vista grossa, para se passar a um processo de copianço generalizado dos alunos, quando não ao plágio puro e duro. Situações que são completamente inaceitáveis.
Como a que foi ontem noticiada, dando a conhecer que alunos do curso de auditores de Justiça do Centro de Estudos Judiciários tiveram um teste em que se verificaram factos estranhos como “a existência de respostas coincidentes em vários grupos”, “respostas muito parecidas ou mesmo iguais” ou que “todos os alunos erraram em certas questões”. Aliás, ao que parece, numa das questões mais difíceis ninguém falhou. Ora aí está, ou houve uma coincidência rara ou registou-se um copianço descarado dos futuros magistrados.
É verdade que, perante tamanha escandaleira, a direcção do CEJ anulou o teste em causa mas … decidiu atribuir aos auditores de Justiça a classificação final de 10 valores em “Investigação Criminal e Gestão de Inquérito”. Isto é, anulou o teste mas passou-os. E passaram também como que uma borracha por cima da fraude que cometeram e ficou tudo bem.
Perante isto, pergunto: admite-se que pessoas que irão ser o garante da justiça nos tribunais sejam exactamente os primeiros a prevaricar e de forma tão soez? E o que dizer da atitude do CEJ? O mínimo que se exigiria é que o teste fosse anulado - e foi, e que o processo voltasse ao início para se proceder a uma correcta avaliação dos formandos - e não foi, por enquanto, embora haja uma proposta para que os magistrados que foram apanhados a copiar tenham que repetir o exame. Mas só para aqueles que foram apanhados em flagrante delito.
Em resumo, para além de termos uma justiça cara, não acessível a todos e lenta, corremos também o perigo de ter profissionais mal preparados. É injusto e é preocupante!
1 comentário:
O que se passou no CEJ foi uma autêntica vergonha, e mais escandalosa foi a decisão tomada pelos responsáveis daquela Instituição. Aquilo que me preocupa profundamente, é o facto de podermos estar nas mãos destes futuros magistrados. Não compreendo a atitude dos alunos e muito menos das pessoas que estão à frente do CEJ. Praticas como o “cabulanço” e o “plágio” sempre foram punidas com a anulação dos testes, não compreendo como no CEJ perante esta situação se decide pela passagem com 10 valores. Enfim, e parafraseando o tão agora conhecido Paulo Futre “Neste Pais vale tudo, vale tudo mesmo”.
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