Ainda na quarta-feira passada eu escrevia aqui que Passos Coelho se mantém "firme e hirto" na linha que traçou quando se tornou Primeiro-Ministro e não se desvia um milímetro que seja dessa linha, mesmo estando a coisa a correr mal.
Certamente por isso é que no último debate quinzenal que se realizou na Assembleia da República, afirmou que "aumentar o salário mínimo nem pensar". Pelo contrário: "Quando um país enfrenta um nível elevado de desemprego, a medida mais sensata que se pode tomar é exactamente a oposta", concluiu. Ao ouvir isto pensei ter percebido mal. Estaria ele a insinuar que se deveria baixar o já baixo salário mínimo? Estava, porque logo a seguir afirmou: " ... foi isso que a Irlanda fez, ou seja, baixou o salário mínimo nacional".
O que ele não disse, mas toda a gente sabe, é que o salário mínimo em Portugal é de 485,00 euros (embora pago 14 vezes por ano corresponda a 565,63 €) e o da Irlanda é de 1 462 euros (mesmo depois de já terem feito a tal redução), portanto, bem mais alto do que o nosso. A não ser que Passos Coelho queira comparar o nosso salário mínimo aos que são praticados na Roménia (157 euros) ou na Letónia (287 euros).
Passos justifica a sua recusa em considerar qualquer aumento, no facto de uma eventual subida poder provocar mais desemprego. Contrárias, porém, são as opiniões de todos os parceiros sociais, incluindo os patrões (CIP e CCP) que admitem discutir o assunto.
É bem visível a linha ideológica defendida pelo actual Governo. E os seus gurus de serviço, à cabeça dos quais figura sempre o inefável António Borges, opinam, claro está, que o valor actual do salário mínimo (os "imensos" 485 euros) deve ser mantido como está, mas - acentuando a posição - refere que o combate ao desemprego podia ser mais eficaz se os vencimentos fossem reduzidos. A mesmíssima coisa que defende o Primeiro-Ministro.
Borges, o consultor do Governo pago generosamente pelos contribuintes, acaba por habilidosamente "dourar a pílula" ao dizer que "ninguém quer um país de gente pobre". Não sei é se ele não estará a pensar apenas em si próprio.
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