Para quem estava convencido que a solução apresentada pelo PSD/CDS para resolver a crise política ia ser aceite pelo Presidente da Republica, "sem mais nem porquês", o discurso de Cavaco Silva deve ter sido um balde de água fria.
Diria mesmo que (quase) todos tiveram uma surpresa colossal. Ainda o Presidente se despedia dos portugueses e logo os núcleos duros, os estados maiores, os conselheiros e consultores de todos os partidos se começaram a mexer para digerir a proposta, enquanto mandavam para a frente das câmaras de televisão os porta-vozes "encherem chouriços" na tentativa de ganhar algum tempo. Num primeiro momento mostraram disponibilidade para analisar a proposta do Presidente mas nenhum se quis comprometer.
E a solução (?) presidencial, que foi ao encontro da vontade de muitos portugueses, veio trazer mais uma crise a todas as outras que já eram difíceis de resolver. Ou seja, Cavaco conseguiu agravar ainda mais a crise. E tudo porquê? Porque Cavaco Silva não aceitou marcar eleições imediatamente, rejeitou a formulação de um novo Governo com base na actual coligação, marcou eleições antecipadas para 2014 (logo depois da troika se ir embora) e desafiou os partidos subscritores do memorando a trabalharem em conjunto, a firmarem um acordo de médio prazo - "um compromisso de salvação nacional" - enfim, a entenderem-se. O que me parece bem complicado.
Se os dois partidos que estão no Governo já não se entendem há muito, com um terceiro partido - que ainda por cima foi marginalizado pelos primeiros - a tarefa afigura-se inexequível. O que, de resto, Cavaco Silva até adivinhou. Por isso, pelas "dificuldades políticas em dialogar" sugeriu que recorressem a uma "personalidade de reconhecido prestígio" para promover o entendimento. E não haverá muitas que sejam consensuais.
Ouvi atentamente o discurso de Cavaco Silva. Pela primeira vez achei que Cavaco actuava como um Presidente. Ainda assim, achei o discurso algo ambíguo. Gostaria de ter ouvido que iria haver um Governo de iniciativa presidencial, gostaria de ter ouvido que a tal figura consensual (não sendo Jorge Jesus, treinador do Benfica) fosse ele próprio e acharia mais apropriado que não tivesse anunciado eleições antecipadas com data já marcada e tudo, fazendo do Governo arranjado por consenso (não estou bem a ver como se vai conseguir esse desiderato) um mero Governo de Gestão de um país onde, com estas condições, ninguém vai querer investir.
Mas em política tudo pode mudar a uma velocidade estonteante. Não diziam até há pouco que a proposta do PSD/CDS seria aprovada? Que eram "favas contadas"?
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