Neste final de verão quente mantém-se acesa a controvérsia sobre a destruição dos "papeis de trabalho" que serviram de base aos oito relatórios de auditoria sobre os swaps. Desde logo pela interpretação da portaria de 2002 que estabelece o prazo de arquivo destes "papeis". Para uns, 20 anos (3 anos na denominada "fase activa" e mais 17 num arquivo intermédio), para outros apenas 3 anos após o despacho do inspector-geral sobre os relatórios. Mas para além das diferenças de interpretação, o que muitos questionam são os porquês de terem sido destruídos apenas cinco dos oito conjuntos de "papeis de trabalho" das auditorias. Porquê só cinco e porque não todos? E qual o critério adoptado para serem destruídos precisamente aqueles cinco? Mas aí, veio a explicação - clara - da Inspecção-Geral de Finanças: o funcionário não tinha tido tempo para destruir tudo. Desculpa um tanto ou quanto esfarrapada, convenhamos.
Só mais uma coisinha sobre a destruição dos "papeis de trabalho" das auditorias aos swaps, quando estes, na altura, já suscitavam muitas dúvidas. É que segundo as boas práticas da auditoria, quer a externa quer a interna, os "papeis de trabalho" são fundamentais para justificar e perceber o que é escrito no corpo dos relatórios. Quer pelas anotações efectuadas pelos auditores quer pelas situações e interligações que possam vir a ocorrer no futuro. Qualquer pessoa que tenha trabalhado em auditoria sabe bem da importância que esses papéis de trabalho têm, razão pela qual devem ser guardados por prazos dilatados.
Já agora, e a terminar, conto-vos uma breve história que se passou na Instituição Financeira onde eu trabalhava. Numa auditoria, o responsável pela equipa, pessoa de grandes conhecimentos técnicos mas que apreciava uma boa graça, num dos tais papéis de trabalho onde se analisava uma situação "quente", fez os seus comentários mas de uma forma divertida e em verso. Uns tempos depois, no relatório de uma auditoria que o Banco de Portugal efectuou à nosso Departamento de Auditoria, pôde ler-se uma referência que dizia pouco mais ou menos isto: "Constatou-se nesta intervenção, que os auditores da Instituição XXXX revelaram grande competência e mostraram um elevado grau de boa-disposição e um conhecimento aprofundado de métrica poética".
Se um qualquer funcionário da minha Instituição tivesse destruído os ditos papéis de trabalho, ter-se-ia perdido esta "pérola" que demonstra bem, caso ainda houvesse dúvidas, que os auditores são pessoas que também têm sentido de humor.
1 comentário:
A ver se percebi bem... Sou obrigado a guardar pedir e a guardar factura de tudo e mais um par de botas, mas documentos com a importância e o impacto deste calibre podem ser destruídos?
Certo.
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