Conheci o Sr. Rocha por mero acaso. Tinha acabado de comprar torneiras para a casa-de-banho e cozinha e perguntei à senhora que me atendia se conhecia um canalizador que mas pudesse colocar. Quase ao mesmo tempo que recebi a resposta negativa da funcionária um senhor que estava atrás de mim disse:
"Boa tarde, sou o Rocha, se quiser posso fazer esse serviço".
Na ausência de outra alternativa mostrei-me interessado mas ainda questionei se ele daria conta do recado uma vez que o modelo daquelas torneiras era muito recente ...
"Não há problema, sou canalizador da Câmara e vai ver que vai ficar contente ..."
Acertámos a data e o preço (que foi extremamente alto mas, como referi, não conhecia mais especialistas) e fiquei à espera. Entretanto, e por causa das coisas, telefonei para os serviços da Câmara e indaguei se havia por lá um tal Rocha, canalizador. Havia, de facto, um Rocha que era canalizador, e mais, era fiscal de canalizadores. Fiquei mais descansado.
No dia aprazado, mas quase uma hora depois do combinado, o homem apareceu mas estranhei que não trouxesse qualquer material de trabalho. O meu olhar fê-lo responder:
"Hoje só venho ver o local da montagem das torneiras". Indiquei os locais e o Rocha saiu prometendo voltar dois dias depois.
Na nova data, voltou a chegar muito atrasado e, por indicação minha começou por colocar a torneira da cozinha. A operação foi rápida e passou de imediato à misturadora da banheira. Até aqui não houve problema e as duas foram postas "en su sítio" antes do meio-dia. Quando eu pensava que a manhã "ainda era uma criança", o bem-dito do Rocha disse-me que ia almoçar. E foi aí que começou o calvário. Tempo para um almoço de estadão, durante a tarde pausa para uma cervejola, pausa para um café e com tantas pausas o dia foi passando e o serviço não ficou concluído. Teria que voltar uns dias depois para a conclusão do trabalho.
Voltou, é certo (até porque ainda não tinha recebido o pagamento) e colocou as duas misturadoras que faltavam, a do lavatório e a do bidé. Só que - e isto é um pequeno pormenor - elas estavam de facto colocadas mas não deitavam água. Pior, a água saía por debaixo das loiças, sítios por onde, supostamente, ela não deveria sair.
E ali ficámos, eu a olhar (cada vez mais nervoso) e ele, o canalizador (o técnico), a olhar também como se um problema daqueles fosse impossível de resolver. Até que lhe perguntei "Então, Sr. Rocha, não consegue arranjar uma solução?" Ao que ele respondeu "As torneiras estão colocadas". "Sim", retorqui, "elas estão lá realmente mas a água não sai. E a casa de banho está inundada". Depois de um pequeno silêncio, ouvi de novo a frase "mas as torneiras estão colocadas". Foi então que me passei de vez. Tínhamos entrado num impasse. Cada vez mais nervoso, peguei-lhe num braço e disse para sair da minha casa. Ainda lhe dei umas notas (pela montagem das misturadoras da cozinha e da banheira, aquilo que eu achei justo), acompanhei-o à porta e disse para não voltar.
Só que fiquei com outro "pequeno problema" para resolver. Impedir que a água saísse por onde não devia e fazê-la correr pelo caminho certo, nas tais torneiras que o Sr. Rocha tinha realmente colocado. Comecei a fazer experiências, fui observando os resultados, e gastei um ror de tempo até chegar a bom termo. Afinal, mesmo sem ser especialista na matéria, tinha conseguido chegar lá.
Já passaram alguns anos mas ainda hoje me recordo bem quer da cara "do cara" dizendo num tom monocordicamente descontraído "mas as torneiras estão colocadas" quer da forma irritada como corri com ele. Ainda me lembro (depois de tudo estar a funcionar como devia e da calma ter voltado) como me ri por ter chegado à conclusão que o "faça você mesmo" às vezes até resulta ...
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