Hoje sinto-me completamente à-vontade para reflectir em voz alta, que é como quem diz para escrever descontraidamente, porque sei que todo o mundo está entretido com o Carnaval e ninguém se lembra de vir até aqui espreitar.
E ainda bem. Tenho andado muito preocupado e não me admira que os meus últimos textos tenham reflectido a enorme confusão que me vai na (i)alma. E para além da confusão, estou apreensivo sobretudo o não saber se essa mesma confusão é a consequência de alguns acontecimentos que ocorreram na última semana ou se já é o efeito da minha já longa existência.
Primeiro foi o meu Benfica que depois de uma magnífica e retumbante vitória em Guimarães, que fez tremer o líder do campeonato, ficando a uns escassos e ameaçadores oito pontos do dragão, acabou por sucumbir neste fim-de-semana ao empatar na Luz perante o Nacional da Madeira que esteve até a um passo de vencer. Percebe-se a inquietação e o treinador Camacho não me dá respostas.
Depois foi o caso do ex-ministro da saúde, Correia de Campos, o inimigo público número um, porventura o homem mais odiado e perseguido deste país (sem falar no António Nunes da ASAE), o governante a quem se atribuíam todas as culpas da má saúde da saúde e a quem chegaram até a culpar pela morte de uma criança que já chegara sem vida à carrinha do INEM que a ia socorrer. Pois Correia de Campos ainda estava a transpor a porta de saída e já se ouvia, não o aplaudir de quem tanto o queria ver pelas costas, mas um coro de manifestações a seu favor, de todos os quadrantes políticos e laborais (até da área da saúde, pasme-se), atribuindo-lhe a coragem e a razão pelas reformas que estava a levar a cabo, dizendo mesmo que ele seria a pessoa que mais sabia de saúde em Portugal. Como não ficar confuso com posições tão antagónicas relativamente à mesma pessoa.
Por fim, o polémico e assertivo bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto (há quem lhe chame Márinho, vá lá saber-se porquê), que continua a sua cruzada de há pelo menos vinte anos na denúncia da injustiça e da justiça diferenciada entre pobres e poderosos e na luta contra a corrupção e contra os crimes de colarinho branco, delitos esses cujas condenações se contam pelos dedos. Agora que ele é o representante dos advogados e tem uma visibilidade acrescida, aproveita naturalmente para vociferar ainda mais alto que este estado de coisas tem que terminar, perante as críticas dos próprios advogados e do mundo político em geral que, hipocritamente, se escandaliza com a sua luta. Afinal, ouvem-se constantemente um pouco por todo o lado as mesmas preocupações e desabafos, só que em murmúrios sussurrados, e agora opõem-se àquele que tem a coragem, em nome da justiça e da equidade social, de dar voz aos que temem chamar os bois pelos nomes?
Perante isto, o que pensar? Acho que são demasiadas preocupações que me deixam muitos amargos de boca. Mas provavelmente, não só a mim como a muita boa gente. Não será?
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