domingo, maio 03, 2009

Mais respeito



Esta semana a comunicação social deu o devido destaque a um português - João André - que, com 85 anos, concluiu o 12º ano.

Ribatejano de fibra, este homem simples que não teve a oportunidade de estudar quando era novo, decidiu “vingar-se” agora e voltou à escola apenas com uma única finalidade: aprender.

A cerimónia da entrega do diploma teve a presença da Ministra da Educação e do Primeiro-Ministro que, já se vê, aproveitou as câmaras de televisão para dizer como estava orgulhoso de ver um português de têmpera conseguir um galardão que tinha sido possível alcançar justamente porque havia um programa “Novas Oportunidades” lançado pelo seu governo.

Percebia-se que Sócrates estava ali em campanha eleitoral e as suas palavras saíam-lhe da boca, a coberto de um sorriso vagamente hipócrita, frias e formais e nunca se notou qualquer sinceridade nem emoção no que dizia. Palavras, apenas palavras.

Mas, e era aqui que eu queria chegar, Sócrates foi mais longe ao dirigir-se por diversas vezes a João André de uma forma grosseira (no mínimo), tratando-o por você quando a idade do homenageado, a sua dignidade e dimensão humana exigiam um tratamento mais respeitoso.

No dia seguinte tivemos o prazer de voltar a ver João André na SIC Notícias numa entrevista que concedeu a Mário Crespo. Uma delícia. Como é habitual, Mário Crespo foi atencioso e delicado, deixou falar o entrevistado e, então, pudemos descobrir não só um “jovem” que conseguiu concluir o seu 12º ano aos 85 anos como o homem experiente que pinta telas e pratos, molda pedra, faz peças em ferro, cerâmica e vitral e escreve poesia popular. Um homem que gosta de viajar e que pedala 50 quilómetros por semana, um excelente conversador e uma experiência de vida que transmite e que encanta e que, apesar da idade, continua a sonhar. O truque é "nunca parar", afirmou. Uma entrevista excelente que deixou muita gente emocionada, incluindo o próprio entrevistador.

João André é bem o exemplo do querer. Estudou agora porque só agora pôde e porque sempre teve vontade de aprender. E dá gosto ver um ser humano tão tranquilo, tão humilde, que quer saber mais e que, ao mesmo tempo, consegue também ensinar aos mais jovens, incluindo os professores, os seus saberes acumulados durante a vida.

O que eu não gostei mesmo nada foi da forma como o primeiro-ministro se dirigiu ao Senhor João André. Seguramente ele merecia mais respeito.

1 comentário:

anocas disse...

Estou 100 % de acordo, porque também não gostei nada do tom em que o 1º Ministro se dirigiu ao Sr. João André. Para já não falar do ar indiferente da Ministra da Educação, enquanto assistia aos cumprimentos ao homenageado...