José Carlos Ary dos Santos (Lisboa, 1937 —1984) foi um poeta e declamador de poesia. Poeta de personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico e até panfletário. Um homem e artista fascinante.
Desespero
Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero
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