Manuel António Pina é jornalista e autor do texto que se segue, que publicou no Jornal de Notícias há umas duas semanas. É visível o sarcasmo que pôs na sua crónica, a que chamou “A Nova Pobreza”. Porém, para os cidadãos, que lidam diariamente com a precariedade de emprego ou mesmo com o desemprego, com os salários demasiado baixos e com as assimetrias tão chocantemente injustas, o texto poderá, evidentemente, provocar-lhes um sorriso mas dificilmente os fará esquecer o desânimo e a depressão em que se encontram.
Ora vejam,
“A crise quando chega toca a todos, e eu já não sei se hei-de ter pena dos milhares de homens e mulheres que, por esse país, fora, todos os dias ficam sem emprego se dos infelizes gestores do BCP que, por iniciativa de alguns accionistas, poderão vir a ter o seu ganha-pão drasticamente reduzido em 50%, ou mesmo a ver extintos os por assim dizer postos de trabalho.
A triste notícia vem no DN: o presidente do Conselho Geral e de Supervisão daquele banco arrisca-se a deixar de cobrar 90 000 euros por cada reunião a que se digna estar presente e passar a receber só 45 000; por sua vez, o vice-presidente, que ganha 290 000 anuais, poderá ter que contentar-se com 145 000; e os nove vogais verão o seu salário de miséria (150 000 euros, fora as alcavalas) reduzido a 25% do do presidente.
Ou seja, o BCP prepara-se para gerar 11 novos pobres, atirando ainda para o desemprego com um número indeterminado de membros do seu distinto Conselho Superior.
Aconselha a prudência que o Banco Alimentar contra a Fome comece a reforçar os "stocks" de caviar e Veuve Clicquot, pois esta gente está habituada a comer bem”.
A coisa está a ficar difícil para estes gestores. Tanto mais que para estes 11 “novos pobres” não há sindicatos que os protejam nem manifestações do 1º. de Maio que defendam os seus direitos como trabalhadores. E com as reduções de salário previstas é bem provável que, pelo menos alguns deles, venham a passar dificuldades.
Quanto à sugestão de Manuel António Pina para que o Banco Alimentar Contra a Fome possa vir a apoiar mais estes “carenciados”, vou tentar mexer as minhas influências para que, pelo menos, não lhes falte um bom espumante português e um queijo da serra genuíno. Vamos a ver, não prometo.
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