segunda-feira, dezembro 13, 2010

Como se pode ficar insensível ao que se passa?

Muito se fala nas desigualdades que colocam Portugal no pódio dos países onde existem maiores diferenças entre os que mais ganham e os que menos recebem. Falamos mas a maior parte das vezes nem nos apercebemos bem da verdadeira dimensão dessas assimetrias. Os exemplos, porém, ajudam-nos a entendê-las um pouco melhor.

Com um desemprego que estará na casa dos 11,7% da população activa (cerca de 650 mil pessoas), em que 22% dos que têm emprego estão com contratos a prazo, com uma remuneração média que andará pelos 800 euros e com a maioria pensões que têm valores idênticos ao salário mínimo (475,00 €), não podemos ficar indiferentes quando constatamos que muitos gestores não executivos, aqueles que não têm funções de gestão, chegam a ganhar 7 400 euros por reunião.

Sem demagogias e sem pretender atacar pessoalmente quem quer que seja, dou-vos um exemplo (e poderia dar-vos bastantes mais) desses gestores de topo que são pagos principescamente. Não está em causa se o merecem ou não nem, tão-pouco, se pretende avaliar as suas capacidades e experiências. O que parece relevante sublinhar é o exagero do que alguns recebem, sobretudo quando enquadrados num país como o nosso onde há fome e a maioria das pessoas sentem grandes dificuldades para sobreviver.

E o exemplo que quero dar é o do Dr. Daniel Proença de Carvalho, por quem tenho o maior respeito, que é um dos responsáveis com mais cargos entre os administradores não executivos das empresas cotadas no PSI-20 e também o mais bem pago. É Presidente do Conselho de Administração da ZON, membro da comissão de remunerações do BES, Vice-Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da CGD, Presidente da Mesa da GALP Energia e desempenha funções semelhantes em mais 30 empresas. Recebeu em 2009 (só nas empresas cotadas em Bolsa) 252 mil euros por ter participado em 16 reuniões, ou seja, 15,8 mil euros por reunião.

Não acham escandaloso? Por muito e magnífico trabalho que tenha desenvolvido (e não tenho dúvidas que o fez) na preparação dessas reuniões, durante as mesmas e até mesmo depois, e ainda que tenha pago todos os impostos devidos, não acham excessivo que só nas tais 16 reuniões uma pessoa receba 252 mil euros, ou seja, o correspondente a 18 mil euros por mês, catorze meses por ano?

É chocante, não é? E isto passa-se em Portugal, precisamente o país que ainda esta semana foi noticiado como tendo o segundo valor mais alto no índice de desigualdade social da União Europeia.Como se pode ficar insensível a isto?

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