quinta-feira, dezembro 16, 2010

Tive sorte


A rua era larga e de passeios largos. O trânsito diminuto. Parei o carro em cima do passeio (largo) para ir à loja que ficava em frente. Questão de minutos, pensava eu. Ainda assim, com a preocupação de que pudesse causar algum incómodo aos transeuntes, assomava constantemente à porta para verificar que não havia problema.

Numa das vezes, não teriam passado mais de dez minutos, vi que me tinham bloqueado o carro e, para o tornar ainda mais bonito, tinham-lhe colocado uma fita multicor ao seu redor. Percebi que a multa já cá cantava.

A carrinha da Polícia Municipal estava a cerca de 20 metros. Tudo se tinha passado num ápice. Corri até eles. Para ser sincero nem sequer tive vontade de justificar a minha infracção, achei que não valia a pena. Só lhes disse, em tom de desabafo (ainda que com ironia), “foram eficazes”.

Explicaram-me que incorria em três “crimes”: estacionamento em cima do passeio, impedimento de passagem de peões e de cadeiras de rodas ou carrinhos de bebés e obstrução à saída dos veículos estacionados. Tudo junto eram 90 euros para resolver a situação. Porém, como se aperceberam (!!!) que eu tinha aparecido umas quantas vezes à porta da loja, só me penalizaram pelas duas primeiras infracções. Assim, “apenas” paguei 30 euros de coima e mais 30 por me bloquearem/desbloquearem o carro.

Tive sorte, apesar de tudo. “Poupei” os 30 euros da multa que me perdoaram e “poupei” o telefonema para virem desbloquear o automóvel. Ah, e ainda tive a sorte de ter pela frente um polícia simpático e conversador que fez questão de me dar todas as explicações.

Depois de ter apertado a mão ao polícia, entrei no carro (já sem a tal fitinha) e saí dali com o sentimento que o Natal é uma época de paz e compreensão.

2 comentários:

Fernando disse...

Olá meu bom amigo,

Pois é, o Natal de facto tem destas coisas, parece tudo tão perfeito e harmonioso. Apenas não compreendo é porquê que este espírito de fraternidade, de compreensão, compaixão e de amizade, que invade as pessoas nesta altura do ano, não se estende pelo ano todo. Confesso que já há muitos anos o Natal deixou de ter para mim, o encanto e a magia que outrora teve. Na verdade esta altura do ano causa-me algum nervoso miudinho, mau estar e até mesmo revolta. Como pode o ser Humano ser tão hipócrita e cínico nesta altura do ano? Porque razão não terão as pessoas umas com as outras este sentimento de amizade, de compreensão e de amor pelo próximo também noutras alturas do ano? Temos todos de facto uma memória muito curta, pois já Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917, é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É amplamente reconhecido como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social), falava que as pessoas são mais importantes que as coisas, apelando para uma consciencialização colectiva, permitindo assim ultrapassar todas as barreiras e obstáculos colocados à Sociedade. Apesar de todas as reflexões realizadas todos os anos por esta data, o ser Humano parece sofrer de uma amnésia crónica, pois passado este período de festas e de magia, acorda do seu sonho cor-de-rosa e volta ao seu “Palco de Feras”. Os abraços, as palmadinhas nas costas, os beijinhos, a oferta de presentes, o sorriso sempre estampado no rosto, a amizade, o amor e a compaixão pelo próximo, deverão ser atitudes e posturas assumidas por todos nós ao longo do ano. Mesmo assim, desejo um santo e feliz Natal a todos vós.
Um grande abraço
Fernando

olavretni disse...

Agora que já pagaste a multa à Policia Municipal nada mais há a fazer.

Mas vê o que Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso desta semana sobre a caça à multa:

“Andam à solta em Lisboa uns vampiros insaciáveis fardados de polícia municipal. Esta semana foi notícia nos jornais a sua disputa com a PSP para ficarem com o controlo do trânsito em Lisboa e Porto. Mas o que eles chamam controlo de trânsito é apenas uma caça despudorada à multa, em benefício de um Feliz Natal para eles próprios. Porque não perguntam aos munícipes quem é que eles preferem para a tarefa – polícias ou salteadores?”

Segundo percebi foi mesmo isso que te aconteceu. Foste “assaltado”!