Como, repetidamente, tenho afirmado, sou um grande admirador de Eça de Queirós. Acho-o um escritor intemporal e muitos dos seus livros e textos permanecem actuais, apesar de terem sido escritos no século dezanove.
Daí que, face aos impropérios, desconfianças, ofensas, desconsiderações, faltas de sensatez e de honestidade política que temos ouvido nos últimos tempos aos nossos políticos, por um lado e. por outro, ao estado a que o nosso país chegou, à beira ou a caminho do descalabro financeiro e das condições de vida da população, eu me tenha recordado de um texto publicado por Eça. Vejam lá se concordam comigo. O texto não poderia ter sido escrito hoje?
"O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha, A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo."
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